Bocejei pela milésima vez naquela manhã.

- Supervisar não te tem deixado dormir nas últimas duas semanas.- replicou Yori.

Yori tinha razão- eu estava cansadíssima. Mas na verdade não podia desistir destas “saídas nocturnas”. Estava a gostar de ficar à conversa com os rapazes da turma da noite, que nunca cumpriam a hora do recolher (mesmo com Zero a gritar com eles, arranjavam sempre tempo para flirtar comigo). Tinha-me habituado às conversas de Aidou que sempre me colocavam um sorriso na cara. Habituara-me ao tempo com Zero…

- Não te preocupes, isto passa com o tempo.- disse eu a Yori.

No final das aulas, deu-me uma vontade indiscritível de percorrer os jardins do colégio.

- Queres vir comigo aos jardins?- perguntei a Yori.

- Não posso. Tenho de estudar para o teste de matemática de amanhã. O mesmo teste que tens de melhorar a nota…- respondeu-me ela.

O teste de matemática era amanhã? Não podia ser! Nem tinha pegado no caderno! Porque será que me esqueço sempre das coisas mais importantes?

Amuei.

- Se quiseres eu posso ajudar-te. Estudamos e visitamos os jardins ao mesmo tempo.- indicou Zero.

- Tu? Ajudar-me?- ri-me. Ele interrompeu o meu riso, com uma verdade que eu não podia contestar.

- Tu sabes que eu sou melhor que tu a matemática, não sabes Ayame?

Dei-lhe um murro no braço.

- Isso não se diz a uma dama!- gritei.

- Quando vires uma, avisa-me!- brincou.

O riso dele continuou até chegarmos à sombra de um grande carvalho.

A minha concentração (e interesse) na matemática era pouca (no máximo durou dez minutos). Procurei um assunto de conversa…

- Tens sorrido muito ultimamente…-disse-lhe.

- E então?- contestou ele, ainda menos interessado nesta conversa do que eu na matemática.

- Acentua-te melhor que o mau humor.- brinquei.- Gostava de saber porque mudaste tão rápido de atitude. Não me digas que foi a minha influência?

Comecei a rir-me.

- Mudei porque tinha razões para isso.- respondeu ele.- E mesmo se tivesse sido por tua causa, eu não to diria. Já és convencida assim, se te dissessem algo do género…

- Não sou nada!- rimos os dois.

- Concentra-te na matemática, vá!

Quando acertei (finalmente) o último exercício, começámos a reunir o nosso material.

- Ayame- chamou-me uma voz.- Que bom encontrar-te aqui!

Virei-me para encarar uma cabeça loira.

- Aidou?- fiquei surpreendida- Então, aquilo dos vampiros não poderem andar à luz do sol, sempre era um rumor?

Zero sempre andara comigo debaixo da luz solar, mas também não poderia considerar Zero como 100% vampiro, não é? Além disso, Kaname-senpai e Aidou eram os únicos que me falavam abertamente sobre este assunto.

- Não nos queima nem nada do género.- começou Aidou- Apenas é desconfortável nas horas de maior calor.

- Parece que não me posso fiar no Drácula.- confessei.

- Bram Stoker nunca conheceu um vampiro na vida, e por isso resolveu contar a história à sua maneira.- riu.- Mas depois pagou o preço…

Acho que nem quero saber o final da história. Mudei de assunto.

- Então Aidou, que fazes por aqui?

- Vim perguntar-te se amanhã querias acompanhar-me ao baile que se realizará no nosso dormitório.- sentou-se ao meu lado, ignorando Zero.

- Eu?- questionei-o.- Eu não sou realmente a rapariga indicada para esse tipo de coisas…

- Eu estou sem par, e além disso és a única que conhece o nosso segredo…

Percebi que não tinha opção.

- Tudo bem, eu acompanho-te.

Interrompi-o, antes que ele começasse a celebrar.

- Mas não esperes que eu vá com um vestido!

Ele riu-se.

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Eu tinha um bebé nos meus braços. Era o rapaz mais bonito que já tinha visto.

- A…ya…me- tentou chamar-me. Estava felicíssima. Era a primeira vez que tinha dito o meu nome.

Estava um dia coberto pela fria e branca neve. O papá estava lá fora, à procura da “árvore perfeita” para comemorar-mos o primeiro natal do António- o menino que tinha nos braços, o meu irmãozinho. A mamã estava a preparar o peru. Mas eu e o “Tobi” só queríamos saber das prendas. Nunca mais chega a meia-noite!

Ouvi algo vindo de fora da casa. Coloquei o bebé no berço e dirigi-me à porta. Algo horrível estava à minha espera, sem eu dar conta.

Depois de ver o papá deitado na neve, corri para a mamã:

- Mamã! O pai está a dormir na neve. -disse-lhe, com um sorriso na cara.- Dá-me um copo com água que eu vou acordá-lo. Ele vai apanhar cá um banho…!

Ao contrário do que eu pensara, a mamã não sorriu. Ao ver o pai gritou:

- Traz o Tobi. Temos de sair daqui!

Fiz o que ela me disse. Saíamos pela porta das traseiras, quando cinco homens encapuçados nos fizeram parar. Com armas apontadas na nossa direcção, agarraram no meu irmão:

- Não.- gritei.- Devolvam-me o meu irmãozinho.

Eles ignoraram-me. Tiraram algo do interior do pequeno ser humano. Um vermelho doentio cobriu toda a neve. O bebé continuava a chorar.

- A… ya…me.- gritara o bebé.

Alguém puxara-me dali. Não reparei quem era. Estava concentrada no choro do bebé, que não via fim. Tal como o meu.

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Acordei com lágrimas nos olhos. “Que sonho esquisito!”, pensei.

Olhei para o meu despertador. Já eram sete? Levantei-me de rompante. Tinha que me preparar para o baile sobrenatural.