Cenas Inéditas Feliko

Sorria, você está sendo filmado.


Era ainda o início do relacionamento. Fazia apenas quinze dias desde que Félix decidiu ser o administrador do Gian.

No dia anterior (sábado):

O último cliente havia saído há quase uma hora e o dia chegava ao fim no restaurante japonês. Os funcionários também já haviam ido embora, menos um. Não demorou muito e Niko o mandou para casa.

– Pode deixar que termino de fechar, Edgar. O Félix me ajuda, pode ir, até amanhã.

Bastou Edgar trancar a porta do estabelecimento atrás de si, Niko chamou Félix para entrar dentro do escritório. Na verdade ele nem chamou, ele puxou Félix para lá com pressa, fechou a porta e começou a tirar a roupa dele.

– O que é isso, Carneirinho?!

– Félix não vou aguentar esperar até chegar em casa.

– Que fogo todo é esse, criatura?

Niko já havia tirado o paletó do namorado e desabotoava a blusa dele, mas parou diante da reação de Félix.

– Você não quer?

– Claro que quero, Niko. Estou adorando essa sua... volúpia!

– Então vem, anda!

O Carneirinho então prosseguiu. Tirou sua própria camisa e continuou despindo Félix, que não ajudava muito, estava reticente. Parecia surpreso com a atitude de Niko, apreensivo com alguma coisa ou talvez estivesse se fazendo de difícil só para apimentar o momento.

– É... Niko, eu posso te processar por assedio, sabia?

– Assédio?

– É! Você é o dono desse estabelecimento e eu presto serviços aqui... Isso configura assédio sexual.

– É mesmo? - Niko riu. - Então Félix, considere-se assediado - Niko falava enquanto desafivelava cintos, desabotoava calcas, chutava sapatos para longe..

– É, mas... mas Niko, eu posso te processar! - Félix fingia que falava sério.

E Niko, que já o havia deixado sem roupa, terminava de tirar a sua com rapidez enquanto dizia:

– Então me processa, Félix. Pode me processar. Você vai perder mesmo... você não tem provas!

Livre das roupas, Niko começou a beijar Félix no pescoço, no peito... foi descendo... beijou a barriga... E Félix continuava brincando, fazendo o papel de rapaz desprotegido e assediado.

– Eu posso estar filmando isso, e te levo aos tribunais!

– Me leva então... me leva... - Niko falava entre os beijos e lambidas que dava já na altura do baixo ventre de Félix. Parecia inebriado, pouco ligando para o que Félix dizia, mesmo se fosse verdade.

– Você não se importa se estiver sendo filmado, Carneirinho? Se houver uma câmera gravando essa sua ação?

Niko parou o que estava fazendo, olhou para cima com um sorriso safado e disse:

– Félix, a única coisa que me importa agora é a gravação que vou fazer. E depois, se você quiser me meter um processo... mete Félix, mete sim. Mas mete mesmo!

E logo partiu para a ação, que o impediu de dizer qualquer outra coisa pois tinha a boca muito bem ocupada.

Félix ainda conseguiu dizer algumas últimas palavras:

– Estou falando... falando sério. Eu po-posso... posso processaaaahhh ... Você pode estar... sen... sendo filmaaaa-aahh... Nikooo... Niiikooo.... ..... ....

E eles transaram dentro do pequeno escritório. Sairam minutos depois às pressas, quando o shopping já estava deserto e quase todo às escuras, sob olhares desconfiados dos seguranças.

Dia seguinte (domingo):

Félix chegava feliz da vida na casa de Niko à noite, após passar o dia todo em casa cuidado de seu pai e analisando dados em seu laptop. E anunciou com orgulho:

– Eu, Félix Khoury, resolvi o mistério dos guardanapos!

Logo que passou a administrar o restaurante do shopping, Félix ficou sabendo por Niko de um dos maiores problemas pelo qual passava o estabelecimento: os guardanapos de papel acabavam mais rápido que água no deserto.

O Carneirinho contou que comprava caixas extras, mas o estoque sempre esgotava antes do previsto. Era preciso cada vez mais encomendar uma quantidade maior de caixas de guardanapo. Ele até já tinha chegado ao cúmulo de ter que ir correndo comprar mais, no mercado mesmo, pois o estoque estava vazio.

Esse tipo de material é mantido dentro de uma pequena salinha, que o Gian possui, que Niko usa como escritório. Uma mesa com duas cadeiras e mais duas estantes de ferro ocupam o espaço. Nas estantes, Niko organiza a papelada, caixas do material descartável, como os hashis, guardanapos, etc, entre outras coisas.

Félix logo desconfiou do que poderia estar acontecendo e decidiu, ao seu modo, desvendar a charada.

– Fica traquilo, criatura. Agora o Magnífico está aqui e não há problema que eu não consiga resolver. Confia em mim? - Félix disse na ocasião. Niko sorriu otimista e deu carta branca para o namorado, e admiistrador do Gian, agir.

Pouco mais de uma semana se passou e não se tocou no assunto. Até esta noite, quando Félix chegou anunciando que havia solucionado o enigma.

Depois que jantaram. e as crianças foram dormir, ele colocou seu laptop em cima da mesa, ligou o aparelho e um vídeo começou a ser exibido.

– Nem vou te contar, Carneirinho. Você vai ver com seus próprios olhinhos brilhantes. Senta aqui que a sessão vai começar.

O vídeo mostrava o interior do escritório do Gian. Félix havia instalado, na segunda-feira anterior, uma câmera, dessas que são ativadas pelo movimento. Toda vez que alguém entrava no ambiente, ela começava a filmar, quando a pessoa saía e tudo ficava quieto, ela parava. A câmera funcionou assim durante seis dias. No sábado à noite, antes de ir embora, ele levou a câmera para casa. No domingo à tarde, ele analisou parte das imagens que, naquele momento, ele exibia orgulhoso.

O filme no laptop mostrava Niko entrando e saindo várias vezes, para pegar um material qualquer. Bem como Edgar, os sushimen e um dos garçons. Félix deixou o vídeo passar bem acelerado. Até que se viu a imagem do tal garçom entrando no local. Ele pegou uma boa quantidade de pacotes de guardanapo, colocou tudo dentro do casaco que vestia e deixou o local. Niko ficou surpreso.

– O que? Mas... eu não acredito!

– Pois acredite! Ele fez isso sempre antes de ir embora Niko, todos os dias, de segunda à sexta.

Félix acelerou as imagens e Niko pode ver, com os próprios olhos, que o garçom fez a mesma coisa na terça, na quarta, na quinta...

– Ele parecia tão honesto... tão bom...

– Niko... você confia demais nas pessoas!

– Bem, mas é só guardanapo de papel, né... não é algo assim de valor.

– Niko...

– Vai ver ele precisa... na casa dele...

– Carneirinho!

– Tá, Félix... tá bom. Ele está agindo errado.

– Eu te disse uma vez que não pode ser assim, esse entra e sai naquele lugar. No máximo, além de nós dois, Edgar pode ter a chave, mais ninguém. Se todos entram e saem não temos como controlar se alguma coisa some.

– Você tem razão Félix... de novo. Antigamente só eu tinha a chave, mas daí precisavam de alguma coisa e eu não estava... dei a chave pra um...

– Depois deu para outro... já deu o que tinha que dar, né? Chega.

– Félix!

Eles continuaram conversando sobre mudar a fechadura do escritório e deixar uma cópia da chave apenas com Edgar. Sempre haveria alguém de posse da chave no restaurante e somente essa pessoa teria acesso ao local. Assim, nunca mais os guardanapos iriam acabar tão rápido nem correriam o risco de sumir quaquer outra coisa.

Conversaram ainda sobre despedir o tal garçom, opinião de Félix, ou dar uma segunda chance ao pobre rapaz, opinião de Niko.

– Nessa criatura aí já não dá pra confiar, Niko!

– Todos merecem uma segunda chance, Félix!

E não chegaram à nenhuma conclusão.

Enquanto falavam, eles olhavam as imagens da câmera que continuavam sendo exibidas. Naquele momento se via o que aconteceu na sexta-feira. Edgar, Niko e alguns funcionários, entre eles o garçom afanador de guardanapos, entravam e saíam do pequeno ambiente.

Até que algo inesperado começou a acontecer e chamou a atenção de Niko. Um dos funcionários entrou com uma moça e trancou a porta.

– Mas... mas o que é isso?

– É o Sandro, sushiman, com aquela moça da limpeza... a Juliajayne, Sharonlaine, Gislienne...

– Shirlayne, Félix!

– Isso... essa mesmo.

– Eu sei que são eles, mas o que eles estão fazendo?

– É óbvio o que eles estão fazendo né, Carneirinho... ou você não teve aula de educação sexual na escola?

– Eles estão se agarrando! Diminui a velocidade, deixa a imagem normal.

– Cruzes! Ah, não, Niko. É sexo hetero, uó. E eu já vi. Só se eu tivesse servido hot dog aos apóstolos pra ter que ver de novo.

– Eles... eles transam mesmo?

– Não. É só um amasso...quer dizer... rola uma mão naquilo, aquilo na mão... depois eles saem.

A imagem continuava na tela mostrando o casal em ação. Félix estava bem tranquilo enquanto Niko estava atônito, boquiaberto e disse a primeira coisa que veio à sua cabeça.

– Eu vou despedir o Sandro amanhã mesmo! E a Shirlayne não quero mais que venha fazer a limpeza.

– Jura? Porque eles se embolaram dentro do escritório?

– Félix... você não concorda? Aliás... você está calmo. Não acha um absurdo o que eles fizeram?

– Não acho nada. Eu acredito que se o escritório não fosse um território livre nada disso teria acontecido...

– Tá bom Félix, tá certo, já concordamos que não é qualquer um que vai poder entrar lá. Mas falemos sinceramente, isso que eles fizeram não pode passar em branco!

– Você não quer dar uma segunda chance ao casal?

– Félix, claro que não... definitivamente, não!

– Então o garçom larápio merece uma segunda chance, mas o sushiman tarado e a faxineira fogosa não, é isso?

Niko ficou calado, pensando. Félix colocava ele na parede e, enquanto o Carneirinho refletia, ele decidiu mostrar à Niko que, de certa forma, estava com razão. Se Niko queria dar uma chance ao afanador de guardanapos, deveria dar também ao casal, até porque havia um detalhe:

– Meu amado Carneirinho, acho que seus cachos loiros não te deixam lembrar direito, então vou refrescar sua memória. O que aconteceu lá dentro daquele escritório ontem à noite, hein?

No calor do momento, com o susto de assistir o sushiman e a faxineira se amassando dentro do escritório, Niko nem lembrou que ele mesmo já havia amassado Félix muitas vezes naquele local. Finalmente se deu conta e, inclusive, admitiu que aquilo que aconteceu no sábado à noite, entre ele e Félix, não tinha nem comparação com que o outro casal tinha feito.

Niko ficou vermelho, coçou a cabeça, Félix riu. Não precisavam falar mais nada sobre o assunto. A farra dentro do escritório ia acabar mesmo, pelo menos para os funcionários, então todos ganhariam uma segunda chance. Félix levantou-se da mesa.

– Vamos pro quarto? Vamos assistir o sábado! Eu não vi ainda, deixei pra ver com você. Vi o garçon dando a Elza nos guardanapos, aqueles dois se pegando e não vi mais nada.

Niko sobressaltou-se segundos depois de processar o que Félix disse.

– Oi? A câmera filmou no sábado também?

– Filmou. - Félix sorria maliciosamente.

– Félix... não acredito... jura?

– Eu te avisei lembra? Você estava pegando fogo, querendo me devorar inteiro, praticamente me implorando pra que eu te metesse... é... metesse um processo! Mas eu avisei.

Félix ria. Ele pensava no que aconteceu no sábado à noite. Ele sabia que foram filmados quando transaram e esperou até aquele momento para que assistissem juntos.

Mas Niko pensava no que aconteceu na parte da manhã, que Félix nem tinha visto. O Carneirinho ficou mesmo aturdido ao descobrir que o que ocorreu dentro do escritório no início do dia iria ser exibido na tela do laptop.

E era o que sucedia naquele exato momento. A imagem mostrava a manhã de sábado, Niko entrando no local com o celular na mão e trancando-se lá dentro. Félix voltou a sentar observando o vídeo curioso.

– Olha lá você, Niko... porque trancou a porta do escritório?

– Félix, desliga.

– Ué, por que?

– Sei lá... me vendo assim no vídeo, acho mesmo que preciso perder uns quilinhos. Não quero assistir.

– Bobagem, Carneirinho.

– Ahh desliga, Félix, por favor.

– Já disse que você está ótimo, stop!

– Não é isso... é... outra coisa...

– Vamos continuar lá no quarto?

– Não... desliga. Já sabemos porque os guardanapos somem, não precisa ver mais nada.

– Como não ver mais nada? Não acredito que você não quer ver nosso show! Hein?

– Sim, vamos ver. Mas avança até a parte da noite então.

Niko parecia apreensivo. Ele continuava olhando o vídeo que mostrava ele mesmo sentando na cadeira dentro do escritório enquanto mexia no celular. Niko sabia o que ia ser mostrado e não queria que Félix visse.

Então ele puxou o laptop para si, buscando desligar ou fazer a imagem avançar acelerada, mas Félix não deixou.

– Para, Niko. Tem o dia inteiro de gravação, quem sabe acontece algo mais interessante... vamos ver! Quando começar a parte hot a gente vai pro quarto.

Félix não havia assistido o que foi gravado no dia de sábado porque ele deixou para ver com o Carneirinho.

– Não, Félix... estou pedindo, desliga... ou avança... não vê esse pedaço...

Diante de toda insistência de Niko para desligar, avançar, não ver o que ia acontecer... Félix ficou hiper curioso.

– Que foi, criatura? Parece que você não quer ver... ou não quer que eu veja.

Niko ficou vermelho, ele sabia o que iria acontecer. E já estava acontecendo, o vídeo se desenrolava ali mesmo, sob o olhar admirado de Félix.

Lá estava a imagem de Niko no escritório, sentado à mesa, olhando o celular atentamente, segurando-o com uma das mãos enquanto passava a outra mão no pescoço e respirava fundo. Logo a mão foi descendo pelo peito e a respiração ficando mais profunda ainda e lenta.

De repente Niko balançou a cabeça, se abanou com uma folha de papel, levantou, colocou o celular no bolso e foi em direção à porta... seja lá o que ele ia fazer, decidiu parar. Mas será que conseguiria? Então deteve-se, olhou novamente a imagem no celular e voltou. Não resistiu. Sentou-se, segurou o celular com uma das mãos e a outra foi parar na coxa. Enquanto olhava a imagem exibida, se tocava nas coxas, na barriga, no quadril... se remexia na cadeira... até que a mão foi parar em cima do zíper da calça.

Félix continuava assistindo tudo, interessadíssimo, com os olhos arregalados.

– Pelas contas do Rosário! - Disse, boquiaberto,

Lá no vídeo estava Niko, efervescendo, praticamente em chamas, respirando pela boca, se tocando por cima da calça. Quando parecia que ele abriria o zíper... escutou uma batida na porta. "Seu Niko, seu Niko!", era a voz de Edgar. Niko deu um pulo na cadeira, quase deixou o celular cair mas agarrou o aparelho com ambas as mãos enquanto gritava: "Já vou! Já vou!". Estava ofegante, se abanava, buscava acalmar-se. Levantou, arrumou a roupa e o cabelo, destrancou a porta e, antes de sair, pegou o celular, olhou e beijou. Quando Niko fez isso, ele estava bem de costas para a câmera e foi possível ver com nitidez que, na tela do celular, estava uma imagem de Félix.

Félix fez uma pausa no vídeo. Ele sorria olhando para o Carneirinho sem conseguir dizer nada.

Niko ria sem graça, suas bochechas pareciam em chamas de tão vermelhas.

– Ah, Félix... Você mandou aquelas fotos pelo WhatsApp... vamos combinar, que são fotos ousadas... eu recebi quando estava abrindo o restaurante. Daí corri lá pro escritório pra ver melhor...

Félix continuava sorrindo e encarando-o.

– Só pra ver?

– Sim... eu só estava vendo... assim... fiquei animado... mas... bom, o restaurante ainda estava fechado.... eu quis ver as fotos com calma...

– Ver com calma?

– É Félix...

– Niko... você ia...?

– Não...

– Sei... Ia ou não?

– Você esta me deixando sem graça... Félix...

– Carneirinho... você ia sim!

– Não, Félix! Lá dentro do escritório não...

Félix continuava olhando para ele sorrindo enquanto se aproximava, até que falou bem perto.

– Fala a verdade, criatura... você não sabe mentir.

– Félix... - Niko olhava para o chão, tímido.

– Você ia, não ia?

– Tá bom... quer saber, não sei mentir mesmo. - Niko o encarou sensualmente para confessar. - Se eu não tivesse sido interrompido... talvez. Quer dizer... sim! Pronto, falei.

– Niko...

– Eu não consegui ver aquelas imagens e não fazer nada, Félix... você me deixa louco.

– Adooooorooooo! Niko, adoro! Adoro que você me adora!

E lá estava Félix radiante de ver, mais uma vez, como Niko verdadeiramente o adorava, de diversas maneiras, inclusive daquela, o que o fazia sentir-se a mais feliz das criaturas.

– Vem cá... - Felix o puxou para um beijo. - Meu Carneirinho...

Entre um beijo e outro, se levantaram, pegaram o laptop e tomaram o rumo do quarto.

Lá dentro, enquanto tiravam a roupa, Félix comentou:

– Então o Edgar te interrompeu, né? Isso explica aquele fogo todo de noite dentro do escritório, Carneirinho voraz!

Pularam na cama, assistiram o vídeo deles transando e a noite foi longa.

Antes de pegar no sono, Niko fez Félix prometer que iria apagar tudo o que foi filmado no sábado. Félix tentou argumentar que guardaria em local seguro uma cópia, para que eles pudessem ver de novo, outro dia.

– Será que eu coloquei um quilo de sal na Santa Ceia para ter que apagar um filme digno de ser exibido em Hollywood?! Com atores que merecem o Oscar! Ah, Niko...

Niko disse que não achava uma boa idéia, alguém podia encontrar, podia cair na internet... implorou, insistiu, fez beicinho e olhar de Carneirinho pidão.

– Félix...

Sem saber como dizer não àquela criatura, Félix cedeu.

– Tá bom... Ok, vou apagar.

Niko tranquilizou-se com a promessa de Félix e aconchegou-se nele.

– Boa noite, amor.

– Boa noite, Carneirinho.

Mas se Félx apagou mesmo aquelas imagens... aí já é outro assunto.

... Fim da cena ...