– O que foi, Niko?
– Nada.
– Nem vem...
– Nem vem o que?
– Porque está me olhando com essa cara?
– Estou te olhando, não posso?
– E está me seguindo?
Niko não fala nada, apenas segue Félix enquanto continua olhando para ele de maneira provocante.
– Onde você vai com essa cara, de carneiro tarado?
– Vou com você
– Eu vou deitar, Niko.
– Eu também.
– Mas vou deitar para descansar, que fique claro.
– Mas já?
– Como assim, já?
– Sei lá...
– Niko... não me olha com essa cara. Dá um tempo.
Félix se deita na cama, de barriga para cima, Niko deita ao lado dele. Félix fecha os olhos, respira fundo em ritmo lento, tentando relaxar. Niko o observa por alguns segundos, mas está inquieto; algo o queima por dentro, ele tenta mas não consegue ficar ali parado e decide interromper o descanso do parceiro:
– Féeeelix...
– Pelas contas do Rosário...
– Você quer descansar... mesmo?
– Carneirinho, nós estamos nesse quarto desde que as crianças saíram pra escola!
– Só no quarto não...
– Engraçadinho... tá bom, no quarto e no banheiro. O fato é que já é quase a hora do almoço e você... você ainda quer mais?
– Sim.
– Niko!
– Ai, Félix... eu...
– Você é um tarado!
– Tarado por você!
– Eu devo ter usado os óleos de Cleópatra em todo esse meu corpo, para exercer esse efeito nas pessoas, todos me querem!
– Que todos Félix?!
– Que todos, Niko... você, criatura.
– Félix... - O Carneirinho se aproxima e, cheio de segundas e terceiras intenções, corre sua mão pela perna de Félix.
– Nikooo... deixa eu descansar um pouco, pelo menos?
– Quanto tempo?
– Sei lá quanto tempo! Até eu ficar... ficar descansado. Estou moído!
– Moido, Félix?
– É! Moido, destruído, quebrado.
– Destruido... que exagero...
– Deixa eu relaxar, talvez fazer um alongamento.
– Alongamento... vai demorar?
– Sei lá... até eu me sentir recuperado. Pronto.
– Uns 15 minutos?
– Não sei, Niko! Respeita meus cabelos brancos, criatura!
– Ah, Félix, não me faça rir. Você sempre diz que não é assim tão mais velho do que eu, que sua idade biológica é 30 anos, agora vem falar de cabelos brancos...
– Tenha santa paciência, Carneirinho. Mesmo que eu tivesse 20 anos, preciso pelo menos tomar um fôlego, relaxar os músculos...
– Mas Félix... eu...
– Carneirinho... - Félix então olha pra ele com uma cara verdadeiramente triste - ...eu juro, preciso descansar. Vem, deita aqui abraçadinho, deita. Relaxa junto comigo, fecha os olhos só um pouquinho... vou fazer um carinho nos seus cabelos, tá... eu sei que você gosta... isso, assim... bem juntinho...
Niko então aconchega-se à Félix encostando o corpo no dele, fazendo-o sentir que uma parte sua não está, nem tão cedo vai ficar, nem um pouco relaxada. Niko faz isso enquanto olha para ele com o desejo estampado na cara.
– Socorro! Niko!
Félix ri. Acha graça ao mesmo tempo que está um tanto espantado. Niko ainda está com a mesma energia desde que começaram. Ele acha até interessante mas está verdadeiramente cansado ou, do contrário, continuaria naquele momento. Não lhe faltava ânimo, muito menos vontade, mas sobrava cansaço de verdade. Estavam ali desde que as crianças sairam com Adriana. Félix só queria mesmo descansar por alguns minutos, não é que não pretendesse continuar depois.
– Abaixa esse fogo, só um pouco! Sinceramente, criaturinha, eu não sou um ator pornô.
– Nem queria que você fosse!
– Eu só preciso de uns minutinhos.
– Pode descansar, Félix.
– Então tá.
– Tá bom... - Niko faz uma carinha triste.
– Ai... Nikooo
– Fazer o que... - O Carneirinho se mostra mais triste ainda, virando-se para o lado.
– Vai, deita e medita! Relaxa. E longe de mim, vira pra lá, pelas- contas do Rosário!
– Estou virando...
– Onde já se viu esse fogo todo... se controla!.
– Seu mandão!
– E não faz a geniosa.
– Maldosa!
– Stop, Niko! Desce do palco!
– Paraaaa!
– Para você. Que coisa... comeu ostras com pimenta? Comeu amendoim com gemada? Tomou uma pílula azul?
– Você é um chato, isso sim - Niko se afasta tanto que vai parar do outro lado da cama, quase caindo.
– Chato? Eu sou chato? Depois de horas aqui fazendo o serviço pesado, eu sou o chato?
– Como assim serviço pesado?
– Sinceramente Niko, quem deu duro aqui hoje desde cedo, exclusivamente e praticamente o tempo todo? Eu! As crianças mal saíram com Adriana e você me arrastou pra cá. Já foi uma rapidinha de pé e outra super, super longa aqui nessa cama em variadas posições! Depois mais uma no chuveiro... e tudo eu... enfim... sempre fui eu que... Bom, você sabe o que eu quero dizer...
– Ah, mas o problema é esse?
– Veja bem, não estou reclamando!
– Fala Félix, o problema é esse?
– Não estou reclamando, já disse. Mas... mas cansa mais... pronto falei.
– Félix...
– Que foi?
– Porque não falou antes? - Niko volta a aproximar-se do companheiro.
– Que cara é essa Niko?
– Cara de quem não aguenta esperar.
– Pelas contas do Rosário! Quem te ve fora desse quarto acha que você é um santo, um fofo, não imagina essa sua cara de tarado!
– Acabou o problema, Félix. Quem vai fazer o serviço pesado então sou eu
– Vai sim... vai mesmo....
– Vem cá! - Niko deita por cima de Félix, entre as pernas dele.
– Espera! Espera... vai? Agora?
– Vou.
– Ah, mas aí muda tudo!
– Era isso que você queria né, Félix?
– Você não percebeu antes porque é uma bicha burra.
– Para com isso...
– Desculpe, retiro o que eu disse. Você... você é... é meu carneirinho que dá duro!
Ambos riem.
– Você não tem jeito.
– Tenho sim, e você sabe como me fazer tomar jeito.
– Com muito prazer...
– Demorou! Mas calma! Sem violência.
– Tem certeza?
– Não... é... tá! Quero com violência, meu lutador de MMA!
– Félix, você vai ver e vai se espantar.
– Niko, tem mais de meia hora até as crianças voltarem da escola, o que eu quero é ver você aguentar até lá...
– Você duvida? Não tenho nenhum fio de cabelo branco ainda.
– Adoorooooo...
– Félix...
– Carneirinho... Carneirinho.... CARNEIRINHO!

...

Fim da cena