CelleXty Saga

Osasco abaixo de zero!


Agosto de 2000.

Em uma gelada noite de agosto num dos poucos momentos de paz e repouso, todos domem tranquilos nos aposentos da EBX. Entretanto, a paz é momentânea. Basco Khassan sonha com uma sombra misteriosa, uma forma humana em meio a névoa e o oculto que relata ao jovem a chegada de um grande mal sobre São Paulo, mas que apesar das dificuldades que viriam a equipe mutante deveria prosseguir firme. Ao acordar, Basco acredita que aquilo tenha se tratado de um presságio. Sua experiência no campo da magia o ensinou a não ignorar tais sinais. O sonho precognitivo de Basco começa a ganhar forma semanas depois quando uma forte nevasca recai sobre a cidade de Osasco de uma maneira nunca vista antes no Brasil. Neve de verdade, mas em uma escala assombrosa e mortal. O fenômeno foi levado às telas dos principais meios de comunicação, não apenas por Osasco estar abaixo de zero, mas porque o restante do estado, apesar de estar na estação fria, não sofreu na mesma proporção climática. À medida que a neve aumentava e o frio atípico se espalhava, a notícia chegava a diversas partes do mundo. Neve em um país tropical como o Brasil era algo intrigante para não dizer perigoso e pelo menos por um tempo as questões envolvendo o Vírus Legado pareciam ter dado uma trégua, contudo, dezenas de relatos de mortes por conta do frio intenso começam a se espalhar pela grande São Paulo. O que os paulistanos não imaginavam é que a neve fora do comum prenunciava a vinda das criaturas mais medonhas que esta terra já havia conhecido: Os Sete!

Folkhen reúne a todos os CelleXtys. Alex também solicitou a presença de Venâncio e Simeão representando a comunidade vampírica paulista, pois o assunto também era do seu interesse. Venâncio olha com grande desprezo e inquietação quando cruza com Nevoeiro. O mutante teve um breve caso com a vampira Verônica há alguns anos. Verônica é filha de Venâncio e está desaparecida! O proprietário do Mascarade não ousaria se rebaixar solicitando ajuda à Basco para encontrar a filha, mas nos bastidores, colocou dezenas de membros do Clã Toreador nos quatro cantos do país em busca da jovem. Todos sentam-se em uma grande mesa de reuniões no interior da EBX. Para Folkhen a ida da Geração Vamp até a Escola também era o gatilho que possivelmente chegaria o momento que os CelleXtys iriam precisar buscar um novo lar. Para o mutante gaúcho, se os vampiros já tinham livre acesso, não demoraria até que outros inimigos invadissem o local.

Segundo informações que Folkhen colheu no litoral do Rio Grande do Sul, estudantes da UFRGS haviam descoberto uma antiga caravela naufragada no litoral. A embarcação, datada do século XVI, continha em seu interior uma grande caixa horizontal de prata, que após aberta, verificou-se com surpresa, que sete cadáveres repousavam no sarcófago marinho! Folkhen relata que apesar da ação do tempo na estrutura da embarcação os corpos sepultados no esquife de prata ainda estavam em decomposição e totalmente secos. Após a abertura da caixa na Universidade e os cadáveres começarem a se levantar é que os relatos sombrios tomaram conta de algumas cidades litorâneas. Um frio litorâneo maior que o habitual, a morte de animais domésticos e dos pequenos sítios. Pessoas relatando fantasmas e todo o tipo de manifestações sobrenaturais além de mortes sem explicação.

— Eu imagino de quem se tratam— Interrompe Venâncio. – Há muitos séculos um bando de vampiros portugueses recebeu poderes extraordinários em troca de uma alma traída. Eles viviam perto do Rio D’Ouro. Durante o dia, eram protegidos por um grupo de ciganos que viviam nos arredores do castelo. Em troca pela proteção dos ciganos dividiam as suas riquezas.

— Sete amaldiçoados, sete vampiros condenados ao tormento eterno. Eram errantes, sem vínculo a um clã específico. Sem mestres...viviam apenas pela lei da caça. Por onde passaram só trouxeram morte e destruição, exterminando e se alimentando até mesmo de…outros vampiros! — Completou Simeão.

— E agora estão aqui no Brasil!— Exclamou Raial

— Mas vocês já sabiam não é mesmo, Venâncio?— Questiona Gregory.

— Suspeitávamos. Há aqueles dentre nós que veem a vinda dos Sete como um sinal de mudanças proféticas em todos os 13 clãs. Sempre existiu rumores que juntos levariam a Geração Vamp a um tempo de ascensão e sangue! Eu, particularmente, nunca dei muita importância a essas lendas. Conheci muitos vampiros do velho mundo, porém, poucos mencionavam estes errantes. Ao que parece, foram apagados do mapa português – Respondeu Venâncio

— Precisamos nos preparar! — Alerta Alex! — Se esses vampiros são assim, tão perigosos, não podemos nos dar ao luxo de brigas internas

— Concordo. Uma trégua? – Pergunta Venâncio

Após a reunião, Venâncio deixa a EBX com o compromisso de preparar os seus seguidores no Mascarade. Também permitiu que os mutantes tivessem livre acesso à boate caso precisassem. Prometeu que nenhum vampiro dos 13 clãs os atacaria. Já Basco pede para falar com Simeão em particular, longe da EBX e dos ouvidos de Venâncio ou dos próprios colegas de equipe. Ele convida Simeão para ir até o Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo, próximo ao Parque do Ibirapuera. O museu estava fechado para reformas e sua reabertura estava prevista para ocorrer apenas em dezembro. Longe dos olhares curiosos para interromper a conversa, basco convida o vampiro a sentar-se em uma antiga poltrona, próxima a alguns quadros e demais obras de arte ainda embalados ou preservados em suas caixas de madeira. Simeão é o líder atual dos Caitiff, tecnicamente, vampiros sem clã. Por outro lado, podem ser numerosos o suficiente para unirem-se em seu próprio clã. Não se sabe como surgem os Caitiffs ou quantos exatamente perambulam por São Paulo. Alguns dizem que se trata de um vampiro que é abraçado e abandonado pelo seu senhor e acaba tornando-se um sem clã, apenas por não ser corretamente iniciado nos meandros da sociedade vampírica. Justamente por não pertencerem a nenhuma linhagem, são rejeitados pelo demais vampiros. Numa sociedade pseudo-feudal tão fundamentada nos laços de parentesco, estar sozinho é a posição mais difícil e vulnerável que qualquer membro pode se colocar. Contudo, os Caitiff de Simeão que vivem no Cemitério da Consolação parecem ter uma aliança significativa com o Clã Toreador de Venâncio. Uma troca de favores. Simeão e o seu clã de párias possuem livre acesso ao Mascarade quando precisam de ajuda ou desejam apenas ter um lampejo de distração. Venâncio, por sua vez, solicita agentes Caitiff quando um assunto precisa ser tratado de maneira mais furtiva ou longe dos olhos de outros clãs vampíricos, como mais recentemente, solicitou apoio de um grupo de Caitiffs que estão procurando sua filha Verônica. Assim, Simeão e Venâncio possuem uma aliança de trégua e a Geração Vamp do Mascarade sabe que não devem invadir os limites do Cemitério da Consolação sem a autorização de Simeão. Basco conheceu Simeão há alguns meses em uma luta contra La’Vern quando este ainda era considerado um vilão!

— Creio que começamos com o pé esquerdo em nosso primeiro encontro! – Lamenta Simeão!

— Você sabia!— Inqueriu Basco ao vampiro à sua frente

— O que? — Respondeu Simeão “distraído”

— Lá no Cemitério da Consolação...quando nos enfrentamos. Você disse, que Os Sete estavam chegando! Você sabia.... E aparentemente, sabe mais do que o Venâncio

— De fato.... Eu já sabia! Meu antigo mestre era um vampiro criado na Ilha da Madeira em Portugal. Ele foi "abraçado" em 1893, pouco antes de embarcar para o Brasil. Acreditava nos relatos da época sobre um grupo de vampiros, talvez os primeiros em terras lusitanas.

Basco acende algumas velas e as espalha pela sala. Poderia acender as luzes, mas as velas ajudavam a não chamar a atenção desnecessária dos vigilantes do museu. Simeão relata à Basco sobre a incrível história que ouvira do seu mestre. Em meados de 1520, um bando de vampiros começou a aterrorizar vilarejos por toda a Portugal. Muitos lhes atribuíram o surto de pestilência que assolava o país. O aumento de caçadores de recompensas, fizeram com que o bando formasse uma aliança entre si para que somente matassem para se manterem “vivos”. As sete criaturas conseguiram um certo equilíbrio entre suas presas e suas caças. Fixaram o seu “ninho” em um velho castelo às margens do Rio D’Ouro. Aos pés do castelo, um acampamento cigano os protegia e os alertava sobre possíveis invasores. Em troca os ciganos recebiam alimentos, proteção noturna e ouro. O acordo se manteve durante um tempo, porém, um dos sete vampiros, o mais novo e sanguinário, frequentemente colocava o grupo em perigo quando expunha as atrocidades que cometia. Conhecido como Sétimo, não matava apenas para se alimentar. O vampiro juvenil provocava verdadeiros massacres por onde passava, não poupando nem mesmo as crianças. Em 1546, o então Rei D. João III, enviou os guerreiros conhecidos como “Bentos”, para localizar e exterminar os Sete. Na verdade, mutantes similares aos CelleXtys, mas à serviço da Coroa. A fim de se salvarem dos erros de Sétimo, cinco dos vampiros decidem fazer um acordo macabro com uma criatura das trevas. Para surpresa de Basco que ouvia atentamente a cada palavra de Simeão, o quinteto barganha sua salvação com o próprio Belasco! O governante do Limbo lhes ofereceu poderes sinistros e extraordinários e em troca, pediu que um deles o servisse na dimensão infernal. Os vampiros precisavam do voto de Gentil, irmão de Sétimo, e após um ardiloso plano e engodo o enganam para conseguir a unanimidade na escolha do jovem vampiro como sentenciado servir a Belasco! Uma armadilha preparada pelos seis vampiros acaba por entregar Sétimo a Belasco que o envia para o Limbo imediatamente. Como prometido, em troca do servo escolhido, cada alma negra e vampírica recebeu dádivas assumindo novos nomes de acordo com os dons que lhes foram agraciados:

Inverno possui o dom sobre o frio infernal;

Acordador pode levantar e comandar os mortos recentes;

Espelho assume a forma da pessoa que olha diretamente nos olhos;

Tempestade, como o nome sugere, reina sobre o clima e as fortes chuvas torrenciais;

Lobo recebeu a graça de transmutar para um rápido e feroz lobisomem;

Gentil, capaz de reinar sobre o tempo;

— ...e o pior de todos...Sétimo!

Simão olhava pela pequena claraboia da janela do segundo andar do museu. A luz do poste na calçada em frente iluminava seu rosto e deixava seus olhos ainda mais brilhantes num vermelho intenso. Uma ou outro transeunte atravessava a passarela em frente ao museu, mas não percebiam que naquele momento, uma dupla de personagens intrigantes visitava o local. Basco prestava atenção em cada palavra do vampiro à sua frente. Simeão continua o relato revelando que, passado cerca de um ano do pacto feito entre os vampiros e Belasco, Sétimo havia retornado, porém, estava mais horripilante e sanguinário do que antes. Sua bestialidade era sanguinária e sua forma física era similar a uma criatura horrenda e monstruosa! Os vampiros do Rio D’Ouro descobrem que Sétimo havia passado cerca de 100 anos servindo a Belasco e agora buscava por vingança! No mesmo dia, os Bentos encontraram o esconderijo dos vampiros às margens do Rio D’Ouro. Eles exterminaram todo o acampamento cigano e invadiram o castelo. Encurralados, os sete vampiros são presos por um dos Bentos, graças a uma poderosa magia arcana. O servo da Coroa os encarcera em uma grande caixa de prata mística. Seus nomes foram gravados no “sarcófago” para impedir que fossem abertos por dentro. As ordens do rei D. João III eram claras: enviar a caravela contendo os demônios para uma das colônias portuguesas e afundá-la no mar. A colônia escolhida eram as terras brasileiras e assim foi feito. Quando o galeão se aproximou do litoral, a esquadra que o escoltava abriu fogo afundando o navio na costa. Para os Bentos, os vampiros do Rio D’Ouro jaz no fundo do oceano, onde deveriam permanecer por toda a eternidade!

— Os Bentos só não contavam com os estudantes da URGS!— Ironizou, Basco!

— De fato!— Respondeu Simeão enquanto se levanta e se prepara para retornar ao Cemitério da Consolação

— Você parece saber bem mais que Venâncio!

— Os Toreador não dão muita importância a velhas histórias, Basco. Venâncio vê Os Sete apenas como mais um grupo que ameaça o seu “pequeno reino paulista”. Além disso, ele está mais preocupado com um outro assunto que talvez seja do seu interesse.... Verônica!

— O que tem ela?— Questiona Basco

— A garota está sumida há meses. Me admira ele não ter vindo pedir a sua ajuda ou destroçá-lo!

— Verônica e eu... Alguma pista do paradeiro dela?

— Nada ainda! Some a isso o fato do Mascarade estar com o pavio prestes a ser aceso entre aqueles que veem a chegada dos Sete como um sinal apocalíptico e os mais interessados em destronar Venâncio e assumir um dos pontos de contato com a Camarilla! A Geração Vamp está em chamas!

— Camarilla? – Indaga a curiosidade de Basco

— A Camarilla é a maior das entidades vampíricas, uma organização ampla que, em tese, representa e protege todos os vampiros ao executar e promulgar a Geração Vamp e seus clãs. Ela é atualmente composta por seis dos treze clãs, embora oficialmente considere todos os membros sob seu alcance e receba qualquer um que obedeça suas leis. A boate Mascarade é um dos principais pontos de contato da Camarilla com os vampiros aqui no país. Agradeça à Corte da Camarilla pela sua espécie ainda não ter sido erradicada do Brasil, mas deixemos isso para outra conversa! Logo vai amanhecer e eu preciso retornar ao Consolação!

— Cá entre nós, Simeão... Por que vocês estão nos ajudando?

Um vampiro possui muitas habilidades naturais que são aprimoradas com o tempo, mas estes Sete.... Ainda possuem os dons concebidos por Belasco. Além disso, você dentre todos que conhecemos é o que possui mais experiência de campo em se tratando do Limbo então, creio que compreende o perigo de um vampiro ter esses dons! A maioria dos vampiros da Geração Vamp possuem menos de 100 anos. São imprevisíveis, fracos ou ansiosos demais. Alguns clãs têm perdido o controle sobre suas crias. Os Sete são perigosos tanto para os novatos quanto para o domínio vampírico na cidade. Se São Paulo cair, o Brasil também cairá.

— Do que você está falando? — Pergunta Basco

— Nós estamos em todos os lugares, Basco. Nas culturas, política e até nas religiões. Temos irmãos em cargos importantes que comandam esse país. Vocês mutantes, nunca se importaram muito com esse tipo de organização, mas guarde as minhas palavras, se Os Sete começarem uma onda de massacre até entre os da própria espécie, não sobrará muito do país para nenhum de nós!

— Entendo.... Simeão.... Quando tudo isso acabar, serei eu que precisarei da sua ajuda!

— Ahhh...agora chegamos ao real motivo do seu convite a este lugar peculiar. Pode me adiantar sobre o que se trata?

— Preciso que me ajude a encontrar uma pessoa... Meu pai!

...continua!