Celebrações

Lembranças e Sonhos


Muito aconteceu desde que Jack tornou-se um guardião. Celebrou os cernes de seus companheiros, decidiram um dia no qual Jack traria diversão a seus esconderijos, pode finalmente explorar a oficina de Norte, fez amizade com Coelhão, aproximou-se da Fada e Sandy, fez amigos humanos, passou a ter aqueles que acreditam nele, descobriu seu cerne, desvendou o motivo pelo qual o Homem da Lua o escolheu e recobrou suas lembranças. Todos acontecimentos que ele jamais esqueceria e, com os quais, daria o próximo passo em seu caminho como guardião.

Sentia que era hora de mudar, seguir em frente, e isso significava que deveria escolher seu lugar. Qual poderia ser um lugar adequado para viver dali em diante? Não podia depender de seu quarto na oficina para sempre e sabia que tinha a resposta já... Então qual era a grande dificuldade de ir a diante?

Uma retórica, claro. Sentia que deveria voltar para o lugar onde nasceu, mas ele era solitário tendo suas lembranças de volta e isso significaria estar longe dos outros guardiões. Pensava nisso por horas e dias, sem sucesso. Continuava com um vazio a preencher; um detalhe que estava faltando para ele.

No castelo da Fada dos Dentes, sua pintura na parede brilhava, uma imagem refletia na água e seu coração alertava: alguém precisava de suas lembranças de volta. Indo para o lago, viu a imagem de Jack refletida; mas ele já tinha suas lembranças de volta. Ela estranhou e foi checar os dentes do castelo.

As fadas ajudaram a encontrar o recipiente de Jack, que deveria estar brilhando. Porem encontraram dois recipientes brilhando: o dele e de uma menina chamada Enma. Vendo aquele recipiente soube imediatamente que se tratava da irmã de Jack, a qual ele salvou há 300 anos atrás. Ela então entendeu o que deveria fazer.

Voando rápida, a Fada alcançou a nuvem de Sandman em pouco tempo. Era uma pena ter de acordá-lo em uma de suas raras horas de descanso, mas aquilo era urgente.

— Sandman, acorde. – ela o chamava e viu despertar lentamente.

Criando suas esculturas de areia, disse a ela estar dormindo e perguntou o que queria.

— Precisarei da sua ajuda para entregar lembranças a uma criança. É uma missão muito importante! – ela foi objetiva em explicar.

Sandy já estava acordado e atento a ela, perguntando para quem seriam as lembranças.

— São para o Jack. – ela surpreendeu o guardião dos sonhos – Eu devo ajudar ele a encontrar suas mais antigas lembranças e dar a ele as de sua irmã mais nova.

Sandy nada respondeu. Ficou estático e pensativo por alguns minutos. Era de fato algo importante e que deveriam fazer cuidadosamente, pois os sentimentos de Jack eram delicados perante sua família. Ele confirmou que ajudaria e ambos foram se preparar para a noite.

Na oficina, Norte encontrou com ambos.

— O que está acontecendo? – ele tinha que saber.

— Precisamos entregar lembranças ao Jack. – ela confirmou seguida de Sandman com seus sinais de areia.

Ele entendeu e guiou ambos a seu quarto. Ali, Sandman pediu que Norte os deixasse sozinhos. Relutante em sair, Norte teve que ceder no final – era raro que os dois precisassem se unir e aquilo com certeza mexeria com Jack, mas os dois eram os únicos que poderiam estar lá na hora. Saiu lembrando-se de quando recebeu as lembranças de sua juventude, onde pela primeira vez viu o encanto em tudo que o cercava – seu precioso primeiro contato com seu futuro cerne.

No quarto, para que Jack recebesse as lembranças de sua irmã, Sandy precisaria transformá-las em um sonho e suas mais antigas viriam normalmente de seu recipiente, assemelhando-se a um sonho na hora. Os dois assim fizeram e saíram rapidamente, pois não gostariam de atrapalhar o progresso da ocasião.

{SONHO ON}

Jack se viu caminhando por uma fina estrada de gelo, onde uma luz veio guiá-lo as lembranças.

Viu que estava em uma casa, onde sua mãe e seu pai comemoravam o nascimento de um bebê – ele em sua primeira vez no mundo.

Mais uma mostrou sua jovem forma, animadamente olhando um berço onde sua recém nascida irmã estava – ele fazia de tudo para animá-la e se agitava em divertimento.

Em outra, assistiu festas que passaram juntos, fossem Natal, Páscoa, Ano Novo, estavam juntos e felizes.

Mais lembranças mostravam como divertia e protegia sua irmã, o amor que tinha em sua família e o grande dia em que recebeu seu cajado de pastor de seu pai.

Eram tocantes e belas lembranças! Todas que ele aproveitou passo a passo.

Outra veio e foi de arrepiar. Sua irmã estava ansiosa em ir patinar no gelo, como sua mãe não poderia leva-la no dia e seu pai estava fora, ele se ofereceu para ir com ela. Ela ficou muito feliz e assim foram. Naquela tarde ele a salvou e na noite se ergueu como um espírito do inverno. Mas não foi isto que viu.

Viu sua irmã chamar seu nome desesperada em prantos e depois correr para vila em busca de ajuda. Sua mãe veio depressa, alguém saiu para achar seu pai e outros adultos compareceram ao lago na esperança de ajudar. Sem sucesso. O gelo estava muito fino e ele já nas profundezas escuras e congelantes do lago.

Foi um grande choque para ele ver aquilo e ainda tinha mais. Os moradores voltaram abatidos por sua perda, sua família ficou abalada por muito tempo – em especial sua irmã. Ela não mais se divertia com os outros, não gostava de sair no inverno e culpava-se pelo que aconteceu – afinal, ele apenas foi ao lago por ela e caiu nele por ela.

Aquela lembrança estava forte, até reconhecer certos momentos. Haviam invernos em que ele passava neve naquela vila estranha e sempre focava em animar um menina em particular – sua irmã Enma. Mesmo sem suas memórias, seu coração ainda dizia “Quero que ela fique feliz!”. E assim ele fez até ela crescer.

Vendo o final daquele filme de lembranças, pode ouvir uma conclusão dela, enquanto de frente a pilha de pedras erguidas em sua homenagem frente ao lago, que o tocou imensamente: “Sempre que o inverno chegava, eu podia não entender antes, mas agora sei que sentia o vento me acolher como em um de seus abraços. Desde então passei a apreciar novamente o inverno, pois poderia ter você comigo. Você sempre estará em meu coração Jack.”

Ali acabou. Outras lembranças de sua família e seus grandes momentos voltavam, embalando seu sono.

{SONHO OFF}

Jack acordou surpreso e atordoado. Sentia que carregava as lembranças de sua irmã agora, que o sonho foi mais que um mero acontecimento e que sua decisão finalmente estava firmada.

“Todos estarão sempre em meu coração. A distância não fará com que esteja sozinho, viver lá significará estar junto dos preciosos momentos que tivemos e foi ali que com vocês o cerne da Diversão nasceu. Então está decidido, eu irei criar meu lugar no lago.”.

Jack avisou os guardiões de sua decisão e agradeceu Sandy e a Fada pelo sonho e as lembranças, eles foram de grande ajuda. Os companheiros celebraram ele ter encontrado o lugar onde se instalaria; além de recordarem algumas de suas antigas lembranças.

Norte novamente recordava seu primeiro contato com o encanto; Coelhão lembrava-se de seus jovens dias, quando ainda era um simples e diferente coelhinho pequeno; Sandman recordava de sua primeira vez protegendo os sonhos de uma criança no dia em que tornou-se um guardião; e a Fada relembrava seus dias humanos, em que mesmo muitos achando estranho, ela fazia questão de lembrar aqueles próximos a ela de seus passados e aprendizados.

Já no dia seguinte, Jack tinha suas poucas coisas arrumadas e ganhou uma carona no Trenó para sua futura casa.

Ali, onde sua casa original ficava, Jack se deu o tempo de criar seu lugar novo. Esculpindo do gelo uma casa, detalhando-a como se fosse de cristal, deixando diversas passagens e áreas para o vento, criando extensões de gelo para deslizar e divertir-se à-vontade e criou estantes onde organizou suas lembranças das celebrações que ele e os guardiões tiveram.

Seus cernes estariam juntos ali, a esperança pelo amanhã, o encanto da amizade, as lembranças do companheirismo e os sonhos de seus corações.

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.