Eu não estava alucinando... Era mesmo um vampiro!

Antes de me atacar, Castiel crava a estaca de madeira branca pelas costas do cara, que no mesmo instante para e recua. diz pra mim com um sorrisinho:

—Achamos... —Ele ainda consegue dizer, em seguida começa a rachar e logo vira, literalmente, cinzas.

Olhei pra Castiel. Eu estava zonza. Minhas pernas falharam e caí. Castiel me segurou. Ninguém falou nada por alguns segundos. Aquela sensação de estar nos braços dele, já senti aquilo antes. Enquanto recuperava fôlego, senti como se uma avalanche de lembranças estivesse caído sobre mim. Então me lembrei do ginásio, do lobo enorme e de Lysandre e Castiel. Tudo! Me afastei dele numa tentativa fracassada de me manter firme.

—O-o que você é?

Ele me lançou um olhar sério.

—Não é mais seguro pra você andar sozinha por ai. Vem comigo. —Ele segurou meu braço.

—Não! Você matou um cara! Me solta!

—Confia em mim, não era um cara.

—Castiel, por favor. Me deixa ir.

Ele bufou e me carregou à força, enquanto eu me debatia e o mandava me soltar. Foi tudo em vão, ele me levou até um prédio abandonado e me arrastou pelas escadas até um apartamento. Pegou as chaves e abriu a porta, me empurrou para dentro.

Havia um sofá e uma mesa de centro, também vi uma mesa encostada na parede e um monte de fotografias de rostos e papéis com endereços e números. Na outra parede tinha malas e mochilas. De um outro cômodo que, provavelmente dava para cozinha, saiu Lysandre com uma caneca e um papel. Quando me viu, parou, olhou pra Castiel que se sentava violentamente no sofá e depois retornou aolhar pra mim. Andou até a mesa na parede e colou a folha junto com as outras. Veio em minha direção. Meu coração doeu, meu estômago revirou. Estava assustada. Apavorada. Minha cabeça estava à mil. Lysandre chegou perto de mim e me entregou a caneca.

—Pode beber, é café puro. Eu não sei o que aconteceu, mas pode confiar em mim. Não vai se machucar aqui. —Ele falava calmamente.

—Juro que não vou contar a ninguém. Só quero ir embora. Vou fingir que nada aconteceu. —Procurei um jeito de sair dali.

—Você passou por muita coisa hoje, sente-se, por favor.

Ouvi Castiel resmungar alguma coisa. Dei um passo para trás ficando mais próxima da porta.

—Preste atenção, sei que está com medo mas se for embora assim irá correr perigo.

As últimas palavras daquele louco no beco vieram em minha mente. "Achamos". Aquilo já começou a me preocupar.

—O que são vocês? —Ousei perguntar.

Lysandre olhou Castiel que apenas concordou com a cabeça.

—Somos caçadores. Caçadores de mal sobrenatural.

—Não surta ainda. —O ruivo prontificou.

Era insano demais pra ser verdade, e ao mesmo tempo, real demais pra não ser. Eu estou enlouquecendo.

—Tudo bem. Acredito em vocês! Eu prometo ficar quieta e não interferir. —"Como se lida com malucos?" pensei.

Já sentia a maçaneta quando Castiel entra na minha frente com a mesma velocidade que usara no beco.

—Agora pode surtar. —Disse ele vindo em minha direção e me fazendo recuar. Ele chegou bem perto de mim e então vi... suas presas e seus olhos vermelho sangue...

Castiel é um vampiro!

Eu estava quase que sendo encurralada por ele mas Lysandre se colocou no meio da gente.

—Já avisei para você se controlar.

—Eu sei. Só queria saber se era ela mesmo. —Castiel se afastou.

—O que? —Tudo só ficava mais confuso.

—Aquele cara disse "Achamos" e quando eu bebi o seu sangue senti uma coisa diferente. —Castiel se recordou.

—Espera! Como assim você bebeu meu sangue? —Perguntei nervosa, então me lembrei do ginásio. A pressão, a dor, foi o Castiel.

—Fique calma, foi só para dar mais tempo pra você ter uma vida normal. Lysandre tentou argumentar.

—Isso não tá acontecendo! Isso não é real! —Cobri os olhos numa tentativa falha de fazer tudo desaparecer.

—Emanuelle... —Lysandre segurou minhas mãos e as abaixou.

—Ema... Me chame de Ema. —Levantei os olhos encontrando com seu olhar bicolor. —Me expliquem tudo isso, por favor.

Depois de um longo suspiro, Lysandre iniciou.

—Há pessoas que estão atrás de algum ser sobrenatural. Seja por captura ou vingança.

—Praticamente, um cara manda a gente pegar alguém, nós pegamos e depois recebemos o nosso dinheiro. —O apressado interrompeu.

—Vocês caçam todo ser sobrenatural?

—Só os que machucam os humanos. —Lysandre respondeu.

—E quando Castiel entrou nisso? Digo, ele é um ser sobrenatural.

—Bem, é uma história meio complicada. —Lysandre tentou continuar mas Castiel se sentiu à vontade de interromper.

—Há 10 anos, uma bruxa atacou o vilarejo onde eu e meus pais morávamos. Eles tentaram proteger os moradores mas ela lançou algum feitiço maldito neles que os fez ficarem descontrolados, atacando todos em volta. As pessoas se revoltaram e tentaram me matar. Encontrei a bruxa primeiro, mas ela me lançou o mesmo feitiço. Não consegui me segurar e matei todos. —Castiel disse com o olhar fixo no chão.

—Eu estava com alguns caçadores patrulhando não muito longe dali. —Lysandre continuou. —Quando chegamos, todos estavam mortos. Castiel estava caído, desacordado, numa poça de sangue que não era só dele. Estava em estado de choque e seu cabelo mudava de cor, de preto para vermelho. —Lysandre contava ome encarando seriamente.

—Antes dele acordar pedi para um amigo do meu pai que também era bruxo tentar descobrir o que tinha acontecido e parece que realmente lhe foi lançado um feitiço. A partir daquela tragédia, Castiel e eu estávamos ligados por uma conexão em nossa alma. Desde o momento que decidi não matá-lo.

Houve um curto momento de silêncio.

—E essa bruxa... Não a encontraram depois? —Castiel ficou inquieto.

—Ela fugiu! Sumiu do mapa. Espero que tenha sido carbonizada! —Respondeu ele num tom agressivo.

—E agora você não está segura sozinha. É melhor ficar perto da gente ou sob a nossa visão. —Falou Lysandre.

—Eu tenho meus pais! E eu moro perto de um parque muito movimentado, não se preocupe. —Fui em direção a porta.

—Escuta, esses caras são perigosos e pelo o que Castiel falou estavam procurando por você. Não fique sozinha em momento algum. —Mesmo que seu tom fosse agradavelmente calmo, aquelas palavras só me preocuparam mais.

—Deixa que eu levo ela pra casa. —Anunciou Castiel.

—Ok, fique de olho em tudo. Tentarei descobrir por que estão atrás de você. —Lysandre se despediu.

Saímos do prédio e enquanto andávamos pela calçada eu ficava assustada com qualquer pessoa que passava perto da gente. Era quase hora da minha mãe chegar então eu só queria voltar o mais rápido possível pra casa.

O silêncio reinava entre mim e Castiel. Um grupo de garotos bêbados se aproximou da gente. Eles comentaram alguma coisa sobre mim e deram risadinhas. Estavam vindo na minha direção, quando Castiel passou o braço sobre meus ombros e os garotos passaram direto. Meu coração acelerou, eu não esperava por aquilo. Finalmente chegamos na minha casa e Castiel tirou seu braço dos meus ombros.

—Não entenda errado, eles poderiam não ser monstros mas ainda há humanos babacas que agem como tal.

—Eu entendi. Obrigada. —Meu coração ainda estava acelerado.

—E sobre a história de hoje... —Castiel começou a falar mas eu interrompi.

—Não irei olhar pra você desse jeito... não consigo. Você pode parecer um idiota muitas vezes, mas não acho que seja esse tipo de cara.

—Esse é o máximo que você consegue pra me fazer um elogio?! —Ele deu um sorrisinho de lado, que foi o suficiente já que eu não tinha o visto mostrar algum tipo de felicidade.

—Você também não é muito bom com as palavras. Que eu me lembre você me chamou de galinha mais cedo.

Rimos por alguns segundo.

—Boa noite.

—Boa noite, Castiel.

Ele foi embora e eu entrei em casa, alguns minutos depois meus pais chegaram. Aquelas poucas horas, durante o jantar, foram habitualmente normais.

No quarto, fiquei deitada na cama e pensando em tudo o que tinha acontecido e como seria no dia seguinte no colégio. No meio dos meus pensamentos acabei adormecendo.