Conseguimos sair do hospital sem chamar atenção das meninas. Poucas barracas sendo desmontadas nos davam uma iluminação fraca. Já era tarde da noite.

Lysandre segurava minha mão, guiando nossa corrida até chegarmos na casa da Rosalya.

Castiel estava sentado no sofá limpando o rosto sem ferimento e com um copo de sangue vazio do lado. Leigh estava cuidando de algum machucado na nuca de Rosa. Estávamos olhando pra ela, esperando que nos contasse o ocorrido.

—Depois que avise o Lys-fofo voltei pra cá ajudar Leigh e Castiel. No caminho esbarrei em um cara todo suado e com roupas terrivelmente rasgadas. Ele cambaleou e antes de cair o segurei. Percebi uma correntinha pendurada saindo do bolso. Por impulso peguei e era exatamente como a Ema descreveu. Ele se irritou bastante e a tirou da minha mão, me empurrou usando a droga da força canina e eu voei para o jardim de uma casa. Sabia que em minha forma humana eu não ia conseguir lutar com ele, então me transformei.

Rosa era capaz de aumentar todas as suas habilidades. Aparentemente apenas seus cabelos rosados passavam a ter um tom platino, mas se entrasse numa briga com ela, um soco seria o suficiente para nocauteá-lo.

—Nós lutamos por pouco tempo. —Continuou.—Ele estava fraco e foi fácil derrubá-lo. Mas ele assobiou e outros lobos apareceram, me encurralando. Enquanto eu estava ocupada ele escapou, desculpe.

—Aquele vira-lata usou a mesma estratégia covarde comigo, não se preocupe. —Falou Castiel.

—Verdade. E você ficará bem? —Perguntei referindo à nuca.

—Sim, obrigada. Minha regeneração não demora muito. Mas eu consegui pegar isso dele. —Estendeu a mão mostrando um pedaço de pano rasgado. —É da camisa. Podemos usar para achá-lo.

—Certo, li em algum lugar sobre feitiço de rastreamento. Fui até a estante de livros e peguei o que dizia sobre esse assunto.

Concentrei no tecido e repeti as palavras do livro. Mas fui interrompida por meu celular tocando. Era minha mãe pedindo pra que eu voltasse. Tinha passado muito da hora que combinei que chegaria em casa.

Me desculpei com todos e fui embora acompanhada de Lysandre.

A rua estava deserta, iluminada apenas pelos postes de luz. A madrugada era fria e Lys me aqueceu pondo o seu sobretudo em mim. Agradeci. Ficou aconchegantemente largo.

Seu cheiro agradável invadiu meu nariz e me senti obrigada a encostar na gola. Ele me flagrou e lançou um sorriso de lado. Um calor centralizado no meu rosto surgiu, acabamos rindo da situação.

Aquela noite estava tão longa, mas ficar do lado dele fazia cada segundo valer a pena. Lys conseguiu me distrair e não me fez pensar muito no possível fim trágico que eu teria.

Chegamos na minha rua. No final dela vi Ken correndo em nossa direção, em poucos segundos ele me abraçou.

—Ema, me desculpe! Eu não pude te ajudar, de novo. Está machucada? —Disse rápido, recuperando o fôlego.

—E-estou bem, não se preocupe. Você tá me sufocando.

Ele se afastou, permitindo que eu visse a preocupação estampada em seu rosto.

—Tá tudo bem. —Confirmei. —Temos uma maneira de encontrar o cara que roubou meu colar. Amanhã vemos tudo direito. Por curiosidade onde esteve?

—Fui treinar um pouco na floresta. Quando estava voltando, encontrei o Nathaniel saindo do hospital com a Melody e a Íris. Enquanto elas não estavam prestando atenção, ele me disse o que realmente aconteceu. Fiquei preocupado.

Sorri em resposta e logo chegamos em casa. Agradeci mais uma vez Lysandre e me despedi deles. Antes de dormir, ouvi uma linda bronca da minha mãe sobre o horário.