Não estava lá!

O colar que minha mãe biológica me deu quando eu fiz 5 anos. Contém uma foto dela e do meu pai. Foi a única coisa material que guardei deles e não estava lá. Como aquele rapaz poderia ter pego sem ao menos saber a senha do cofre? E não parecia que o guarda-roupa havia sido movido quando Castiel e eu chegamos.

Eu estava parada, de frente para o cofre vazio. Castiel andava de um lado para o outro, atrás de mim, parecia pensar em alguma solução. A presença do meu pai na porta nos chamou a atenção.

—O que está acontecendo aqui? Que barulho foi esse? —Meu pai estava ficando mais furioso pelo fato de ter um garoto estranho no meu quarto naquela hora da noite do que o meu guarda-roupa estar no meio do cômodo.

—Filha, o que está acontecendo? —Mamãe apareceu.

—Mãe, pai... Posso explicar.

Tentei convencê-los dizendo que Castiel estava passando perto de casa quando ouviu um barulho de móvel sendo arrastado, então eu o chamei para me ajudar pegar um brinco que eu tinha deixado cair. Foi o melhor que eu consegui naquela situação. O ruivo só ficava concordando. Papai claramente não engoliu aquela história e depois de ouvirmos um sermão dele, Castiel foi embora.

Depois de colocar o guarda-roupa de volta no lugar com meu pai, menti dizendo que estava muito cansada e iria dormir.

Fiquei pensando por que aquele colar era tão importante. O que meus pais biológicos tinham a ver com toda essa loucura de seres sobrenaturais? Afinal, eles já estão mortos...

No dia seguinte, ainda tive que ouvir meu pai falando daquela noite. Minha mãe já estava tranquila e me apoiou dizendo que eu não faria algo preocupante com o "suspeito garoto delinquente" como meu pai o chamou.

Mandei uma mensagem para o Ken dizendo que não precisava me buscar.

Andei pela calçada observando o céu. O dia estava lindo e agradável. Nem parecia que toda aquela confusão com e colar tinha acontecido na noite anterior. Pensei no colar, ns lobos que Castiel matou. Foi tudo tão rápido que eu nem consegui contar quantos foram.

Cheguei na escola e fui direto pra sala. Deitei a cabeça na mesa. Me distraí tanto com os pensamentos que quando vi, Nathaniel estava agachado do meu lado, olhando diretamente em meus olhos. Levei um susto e me endireitei na cadeira tão rápido que até ele se desequilibrou e quase caiu. Rimos e ele se sentou na carteira ao lado.

—Então, o que te fez ficar tão avoada? —Perguntou se apoiando com o cotovelo sobre a mesa e pondo o rosto sobre a mão.

—Ah, muita coisa aconteceu ontem. Tão rápido e sem explicação. —Falei meio que sem pensar.

Nath corou, foi quando me toquei que talvez ele estivesse pensando que eu me referia à nós quase nos beijarmos no festival. Lembrando disso corei também.

—P-pensei ter esclarecido tudo sobre aquilo... —Disse ainda envergonhado.

—Sim,sim você esclareceu, eu me referia à outra coisa.

—O que?

Como eu poderia explicar o que realmente me preocupava sem parecer ter problemas mentais? Eu mesma achei os rapazes loucos quando me contaram sobre caçadores, e estive cara a cara com um vampiro.

Antes que eu pudesse falar alguma coisa o sinal tocou e os alunos começaram a entrar na sala.Nath se virou e não quis saber da minha explicação. Dei graças a Deus.

Olhei em volta da sala e notei a ausência de Lysandre, Castiel e Kentin. Paralisei pensando se aqueles três estavam juntos. Talvez fosse coincidência. Kentin poderia ter dormido demais, não me lembro dele ter respondido minha mensagem. Castiel e Lysandre poderiam estar caçando ou apenas matando aula mesmo.

O horário acabou o que me pareceu depois de uma eternidade. Nathaniel não parava de pensar em algo e sempre boiava nas nossas conversas. Me despedi de todos e saí da escola.

Andei pela cidade um pouco e então me lembrei do apartamento onde Lysandre e Castiel moram. Eles podem estar lá. Fiz o caminho pelo que me lembrava e depois de me perder algumas vezes, achei o prédio abandonado. Subi a escadaria e fui até o apartamento deles, bati na porta e ouvi alguns barulhos de algo caindo. A porta abriu revelando um Lysandre de toalha.

Meu rosto explodiu em vermelhidão. Ver seu corpo era literalmente de tirar o fôlego. Meu coração parecia querer saltar da boca. Tentei desviar os olhos mas era muito difícil.

—Ah, Emanuelle. Perdão. —Se escondeu atrás da porta. —Pensei que fosse o Castiel. Aconteceu alguma coisa?

—E-eu que peço desculpas. —Falei rápido virando o rosto. —Volto mais tarde.

—Espera! —Ele tocou de leve meu pulso. —Vou me vestir apropriadamente. Entra, fique à vontade.

E assim fiz. Me guiei até o sofá olhando para qualquer área que Lysandre não fosse captado no meu campo de visão. Apenas vi seu vulto indo para a porta a direita. A ansiedade me fazia balançar a perna constantemente.

Alguns minutos depois, o mesmo voltou mas vindo da cozinha com duas latinhas de refrigerante. Explicou que há outra porta no banheiro que dá para o quarto que seguindo dá para a cozinha. Ele estava usando uma camiseta azul escura e uma calça tactel cinza, saindo do padrão de suas roupas estilo vitoriano.

Eu podia sentir o cheiro do cabelo dele, ainda úmido, com aroma doce de lavado. Também via mais a sua pele, apesar de ser só os braços. Lysandre é um rapaz muito bonito, isso nunca seria negado, mas acho que só agora prestei atenção na beleza que possui nos olhos bicolores.

—Então, o que a trouxe aqui?

Contei o que tinha acontecido sobre o colar e os lobos na noite anterior, Lysandre estava pensando qual a ligação de uma coisa com a outra. Confesso que me perdi em sua expressão. Seu olhar calmo em direção ao nada, seu polegar apoiando o queixo e apenas o dedo indicador curvado encostando os lábios, enfatizando ainda mais o ar de pensativo. A luz da tarde que entrava pela velha janela realçava seus olhos de cores diferentes abaixo do cabelo úmido de cor branca e da única longa franja mais escura em seu rosto. Aquela visão fez meu coração acelerar. O que estou fazendo? Pareço suspeitamente ridícula o encarando assim.

—Talvez tenha sido a imagem deles no colar que interessava. Você tem alguma outra foto?

—Não, aquela era a única foto deles. Por isso era tão especial pra mim.

—Sendo assim, o jeito é descobrir o esconderijo dos lobisomens e pegar o colar de volta.

—Lysandre, posso te fazer um pedido?

—Claro. —Ele estava virado de frente pra mim, com uma expressão meio séria.

—Poderia me ensinar a lutar ?