Acordei com Lys fazendo uma espécie de massagem na minha barriga. Ele acompanhava uma revista que ilustrava os movimentos.
–Que que se tá fazendo? -Perguntei sonolenta.
–Desculpe te acordar. Isso parece fazer bem para o bebê. E aqui diz que a mãe precisa estar 100% relaxada... E dormir é a única coisa que te deixa assim. -Respondeu ele acompanhando a revista.
–Rosa te deu isso né ?
–Foi. Como sabe ?
Peguei a revista e reli o título:
–Para os Primeiros MESES! -Fechei a revista. -Não os primeiros dias...
Ele soltou uma risada gostosa, descontraída.
–Acabei me empolgando e nem prestei atenção... :p
Nos levantamos e tomamos café. Fui tomar banho na banheira. Temos a banheira e o chuveiro juntos. Sempre gostei de deixá-la com bastante espuma. Entrei e relaxei. Alguns minutos se passaram e eu ouvi um chiado próximo ao meu ouvido. Olhei em volta e não tinha nada. Fechei os olhos e tentei relaxar de novo. Um tempinho depois, ouvi a voz da minha tia dizendo: "Querida, cuidado!". Abri os olhos e toda a água da banheira, inclusive a espuma, tinham um tom vermelho. Vermelho sangue. Por impulso, tirei a tampa do ralo e esperei a banheira esvaziar. Olhei pelo meu corpo e não havia nenhum corte ou nada do tipo. Apenas vestígios de espuma branca. Aquilo foi uma ilusão? Me levantei e abri o chuveiro. Enquanto me lavava, senti como se uma agulha gigante e fina estivesse atravessando o meu crânio. Segurei minha cabeça e fechei os olhos, para tentar segurar a dor. De repente, vi uma imagem... apenas um sorriso. Senti um arrepio percorrer todo o meu corpo. Eu não reconheci a boca. A dor ficou tão forte que eu não aguentei e comecei a gritar. Senti que a minha cabeça fosse se partir ao meio. Apenas ouvi a porta do banheiro ser aberta bruscamente e depois fui enrolada na toalha e tirada dali. Assim que meus pés saíram do chão, a dor parou. Eu estava ofegante e com a garganta dolorida de tanta força que fiz pra gritar.
–Ema, tá tudo bem. Tudo bem, fique calma. O que foi aquilo? -Perguntou Lysandre.
–E-ele... ele...-Eu estava tremendo.
Afundei minha cabeça no peito dele e, enquanto chorava, voltei a dizer.
–Eu senti... A mesma sensação de quando eu o encontro... Eu senti de novo...
Eu não podia ver, mas de algum modo, notei a pele de Lys empalidecer.
–Vai ficar tudo bem. Vamos terminar esse pesadelo, juntos. -Disse ele me confortando.-Vamos nos preparar e enfrentar tudo isso.
Ele se levantou e pegou o celular. Enquanto isso, coloquei uma roupa e peguei uma mochila que tinha minhas armas e munições. Peguei o colar e pus no pescoço. Minutos depois, Lys e eu fomos pra casa da Rosa. Chegamos e Leigh estava digitando bem rápido em um notebook. Rosa andava pra lá e pra cá com um monte de livros.
–Ah, sentem-se. Nath vai chegar logo,logo. -Falou ela.
Nos sentamos e esperamos. Momentos depois, Nath chegou.
–Certo, vamos começar ?-Disse ele.
–Começar o que? -Lys perguntou.
–Tem uma possibilidade de Ema poder entrar em contato com o...-Falou Nath.
–Asmodeus? -Confirmei. -I-isso é possível mesmo ?
–É o que pensamos. -Disse Leigh. -Como ele sempre apareceu em sonhos, você talvez consiga controlar já que o sono é seu. Mas se não quiser, tudo bem.
Apertei a mão do Lys. Trocamos olhares.
–Tem certeza?
–Me sinto mais confiante com todos por perto.. -Falei sincera.
Fomos para o quarto da Rosa e me deitei na cama. Ela me deu metade de um remédio pra dormir. Respirei fundo e pensei em Asmodeus. Instantes depois, me vi em uma igreja abandonada. Me aproximei do altar, que tinha um crucifixo no centro e duas velas brancas nos lados. Senti um calafrio e percebi que não estava mais sozinha..
–Lugar dramático, não? -Falou ele. Sua voz parecia ferro raspando em outro.
Me virei e não conseguia identificar os detalhes. Ele era apenas um borrão preto do tamanho de um homem normal.
–Por que não me deixa em paz? Por que me atormenta desse jeito?-Eu estava muito nervosa, mas me esforçava para não demostrar na voz.
–Ema, não entende? Simples....Porque é divertido! Soube que fizeram uma pesquisa sobre mim. Estou muito honrado... Mas talvez não seja 100% verdade.. Eles me descreveram muito severo e ranzinza. Sou mais moderno que isso! Preciso de uma boa personalidade pra poder me fortalecer. Você sabe como. Prazeres carnais. Tudo que se refere ao meu símbolo de poder, luxúria. Esse ato pode ter como consequência a geração de uma nova vida, sabia ?
Senti meu corpo congelar. Envolvi minha barriga com os braços.
–Você não vai encostar um dedo no meu filho! -O enfrentei.
–Não exagere, queridinha. Estou interessado em você..
–Por que ? Não tenho nada pra te oferecer..
–Seu corpo. Sua alma. Seu sangue. Preciso dessas ferramentas..
–Pra...? -Logo me arrependi de ter perguntado.
–Irei me erguer no mundo. Ficarei mais forte que qualquer outro ser no plano astral ou espiritual. Serei o rei e vou banir as concepções de Deus. Para isso, precisarei de todos os fatores que apenas você disponibiliza. Você é a chave para minha nova era...
A igreja começou a tremer. Pedaços das paredes caíam. O vulto de Asmodeus tremeluziu e mudou de tamanho. Ficou gigante e deformado, mesmo assim eu ainda não conseguia ver detalhes.
–No próximo eclipse lunar... -Sua voz metálica ecoava por todos os lados. -A batalha final será travada e o destino do mundo decidido.
Seu vulto gigante veio em minha direção. Tentei sair do caminho, mas meu corpo não obedeceu e continuou parado. Antes de me tocar, consegui acordar. Eu estava suada e ofegante. Depois de me recuperar, contei a todos o plano de Asmodeus e sobre a batalha final no próximo eclipse lunar.
–Anunciaram o eclipse lunar na TV hoje mais cedo.... é daqui a uma semana. -Falou Leigh.
Ficou um silêncio terrível no quarto. Ninguém estava preparado para daqui a 7 dias lutar contra o demônio.
–Vamos ter fé. -Disse Nath. -Irei conversar com meus superiores e pedirei conselhos à Deus.
–Tem razão. -Se motivou Rosa. -Não podemos desistir. Uma semana é tempo suficiente.
–A gente vai conseguir. -Lys segurou minha mão.
Nos levantamos e começamos a arrumar todas as coisas. Armas, espadas, munições.. tudo. Eu podia dizer que Rosalya tinha um verdadeiro arsenal na casa dela. Nath foi conversar com seus superiores. Rosa não parava de olhar o celular. Leigh digitava freneticamente. Lys e eu estudávamos feitiços de proteção e de ataque. Não percebi que o tempo voou. Deviam ser mais ou menos umas 20:00h. Não havíamos nem parado para almoçar. Resolvi sair para comprar alguma coisa. Fui até a loja de conveniências em frente ao parque. Assim que saí vi a pessoa que menos esperava que apareceria. Congelei. Fiquei feliz e com raiva ao mesmo tempo. Corri dando um abraço. Depois dei um tapa bem forte em seu rosto.
–Como pôde desaparecer assim?!- Falei.
–Você ficou mais forte... Parece que as coisas mudaram por aqui.-Disse Castiel passando a mão na bochecha.
–Ah, foi mais de 1 ano... o que você queria?-Olhei bem no fundo de seus olhos. Castiel não havia mudado na aparência, mas seu olhar parecia maduro. -O que aconteceu com você ?
–Muitas coisas... Ema, me desculpe por tudo que falei. Eu não quero que pense que- O interrompi segurando seu braço.
–Já faz muito tempo. Estamos num momento crítico agora.
–Eu sei. Rosalya me chamou. Ela enche o saco.
Voltamos pra casa. Foi uma surpresa para o Lys reencontrar o melhor amigo. Eles ficaram frente a frente e pareciam conversar com o olhar.
–Demorou todo esse tempo pra esfriar a cabeça... -Disse Lys.
–Você me conhece...
Por fim eles se abraçaram. Fizemos uma pausa para comer e depois retornamos à fazer mais pesquisas. Os dias iam passando e estávamos treinando mais do que nunca. Eu nunca parei pra pensar em como Leigh era um verdadeiro gênio. Ele fez um par de luvas que atiravam balas de rifle pra Rosa. Uma arma que podia se transformar em um par de facões e tinha uma longa fita preta no cabo pra mim. Tudo em uma semana. Lys conseguiu uma Katana que era de seu pai. Senti uma magia forte vindo da mesma, Leigh disse que era amaldiçoada e quem visse seu poder ficaria sob o controle dela. Nath ficou com uma espada de ouro celestial. Castiel confiou na velha Kukri.