Caçadora De Vingança

Capítulo 8 - Parte 2


–-Não – eu falei simplesmente – É pra minha segurança, não a sua.

Ela me olhou surpresa; não sei se pela minha resposta ou pela sinceridade. Aparentemente ela não tinha o que falar depois disso então tentei meio que concertar o que havia feito.

–-Conhece as histórias de Sherlock Holmes? – eu perguntei e ela me olhou confusa – Eu adoro o personagem. Doyle foi um gênio ao criá-lo. O que mais gosto nos livros é a forma do Holmes pensar; seu raciocínio lógico e associativo que junta todas as informações antes de presumir uma conclusão. Gosto de fazer a mesma coisa. Vi o rosto do seu pai uma única vez; mas tenho uma ótima memória.

–Não explica você saber quem eu era só por conhecer meu pai – ela retrucou desconfiada; e com motivos eu tinha que admitir.

–-Na verdade é bem simples. Eu só juntei as informações que tinha – eu disse calmamente – Eu jurei quando começamos essa conversa que não mentiria pra você e não estou mentindo. Quando a briga de agora a pouco começou você não se assustou; ao contrario, tentou usar isso para se afastar deles. Quando eu atirei você foi a única que não se encolheu com o som, como se já soubesse que independente de quem tivesse atirado você não estaria na mira de nenhum de nós. Quando pedi que passasse as armas pra mim você fez isso da forma correta, de um jeito que só alguém que conhece armas faria. Quando perguntei seu nome você não hesitou mesmo mentindo o que significa que já tinha uma historia pronta para usar se alguém perguntasse; não é qualquer um que consegue fazer isso. E quando te pressionei você quase não hesitou. Quando me contou a historia do motivo de ter fugido deixou também alguns detalhes. A policia nunca invadiria uma festinha de adolescentes, e isso seria o único jeito deles encontrarem os garotos com as drogas. Quando disse que seu pai começou com os exageros deu a entender que ele fez algo para te encontrar,o que significa que ele tem influencias sobre a policia. Juntando um fato ao outro não foi difícil descobrir quem você é.

–-Como você...eu não....não acredito q... – ela tentou falar, mas acho que ficou muito surpresa ou confusa com meu raciocínio. Fazer o que. Acho que quase ninguém conseguiria me acompanhar.

–-Você pode não acreditar, mas eh a verdade – eu falei sem esperança dela acreditar.

–-Como? – ela me perguntou ainda confusa.

–-Dedução – eu falei – Sherlock Holmes, lembra? – dei um meio sorriso e pisquei. Ela acabou soltando um pequeno riso – Não tem que se preocupar comigo, Crist. Não estou a mando do seu pai, mas também não estou interessada em você.

–-Porque?

–-Porque nem de um lado nem do outro.

–-Vocês já falaram e falaram e até agora eu não sei quem, diabos, é essa garota – falou Eliza irritada.

–-Você é muito apressada, Eliza – eu falei sorrindo.

–-Não – ela me respondeu ainda irritada – Sou curiosa mesmo.

–-Essa é Cristine Crowmson; a filha do chefe da CIA – eu disse encarando a garota que também não desviou os olhos de mim.

Ouvi os sons de surpresa dos três ao meu lado, mas ignorei. Eu e Crist estávamos no meio de uma batalha de olhares; ela tentando entender meus motivos, eu tentando fazê-la aceitá-los de uma vez.

–-Como conseguiu fugir do homem mais poderoso dentro da CIA por mais de três semanas? – eu perguntei pondo fim aquela troca de olhares.

–-Fiz ele pensar que estava tudo normal e quando tinha tudo pronto desliguei o rastreador do celular e tirei a bateria antes de sair do meu caminho comum – ela me respondeu normalmente desistindo de inventar desculpas.

–-Muito inteligente – eu disse – Mas você sabe que não é uma boa ideia ficar andando por aí sozinha e sem dinheiro, não sabe? O próximo que te reconhecer pode não ser tão neutro quanto eu.

–-É, eu sei – ela admitiu cansada – Mas eu tinha que provar pra ele que eu não sou uma criancinha mimada brincando por aí; que eu posso cuidar de mim mesma e decidir o que é melhor pra mim ou não.

–-E já provou – eu continuei calma quando vi que ela iria começar a se alterar – Confie em mim, três semanas é um longo tempo. Eu entendo seus motivos, mas, se quer um conselho, na minha opinião você deveria voltar agora. Volte antes dele te encontrar e diga a ele que não precisa de ajuda para se virar. Volte e diga que se quisesse poderia ficar sem a influencia dele por mais tempo. É claro que não precisa contar a ele o pequeno incidente de hoje, nem que ficou sem dinheiro – eu sorri pra ela.

–-Mas eu não tenho dinheiro nem para comprar uma passagem de ônibus pra fora do estado – ela falou contrariada – Como posso voltar sem ele me descobrir??

Eu enfiei a mão no bolso de dentro da jaqueta e puxei varias notas de valores altos e médios que eu mantinha fora da carteira e joguei na mesa a frente dela.

–-Isso deve ser o suficiente para você ir daqui a Washington mudando de ônibus varias vezes para não deixar rastro e se alimentar bem; provavelmente vai sobrar um pouco o que é bom pra você provar a ele que ainda podia ficar fora mais tempo.

–-E_eu...eu não posso aceitar – ela me encarou com os olhos arregalados e eu sorri.

–-Não tem que se preocupar. Aceite e faça o que eu falei e esta tudo bem – eu vi que ela ficou constrangida e duvidosa em aceitar, mas por fim pareceu decidir confiar em mim e aceitou o dinheiro. Eu sorri de novo – Norton, aquela pik-up velha lá fora é sua, certo?

–-Bem, é – ele me respondeu em duvida.

–-É da minha mãe, na verdade – disse Ford me encarando e eu o encarei por um tempo também.

–-Que bom – disse dando um sorriso – Você esta me devendo uma mesmo. Norton quero que você leve a Crist a rodoviária na próxima cidade.

–-Porque eu? – perguntou ele indignado – Leve-a você.

–-Eu não sei onde fica a próxima cidade, e nem onde fica a rodoviária – disse encarando-o séria e me levantando. Cheguei perto dele e entreguei 50 dólares – Isso com certeza é o bastante para o combustível. Vocês dois estão me devendo uma e você vai levar ela até a rodoviária pra mim.

Vi ele tremer quando eu cheguei perto e empurrei a nota contra seu peito. Ele ainda olhou para o lado, mas Ford acenou dizendo a ele para fazer o que eu pedia. Ele suspirou e pegou a nota.

–-Certo, certo. Já entendi. Levar a menina pra rodoviária, ok. Eu faço – disse Norton indo para a porta.

Cristine pegou sua mochila e a jogou sobre o ombro esquerdo antes de se aproximar de mim.

–-Me dá o seu celular – ela estendeu a mão em minha direção e eu a olhei em dúvida – Vamos lá, agora é você quem tem que confiar em mim – ela continuou com um meio sorriso.

Eu pequei meu i-phone, destravei a tela e entreguei a ela. Crist digitou um numero e o salvou na memória do telefone antes de me devolvê-lo sorrindo.

–-É meu numero, se precisar de qualquer coisa, qualquer coisa mesmo, e eu puder ajudar é só me ligar – ela falou colocando a mochila no chão – Estou te devendo uma agora. Prometo que vou fazer o que você falou; vou enfrentar meu pai e mostrar a ele que falei a verdade.

–-Que bom – eu disse sorrindo. Ela se aproximou de mim e me abraçou, eu retribui.

–-Obrigada, muito obrigada mesmo – ela falou antes de me apertar forte, depois sussurrou no meu ouvido antes de se afastar – Também gosto do Holmes. E agora eu sei o que você é, Caçadora.

Eu a encarei séria e apreensiva, talvez ela fosse mesmo mais esperta do que deveria.

–-Não se preocupe – ela me disse sorrindo ao ver pela minha reação que tinha acertado – Seu segredo esta mais seguro comigo do que os arquivos protegidos e sigilosos do computador do meu pai.

Agora sim; isso explica como ela sabe o que eu sou. Mas não consegui ficar nervosa a olhando; ela estava sendo sincera. Iria manter seguro meu segredo, ou melhor, a metade dele que ela descobriu. Eu acabei sorrindo pra ela.

–-Cuide-se, garota. Não quero te encontrar perdida por aí de novo.

–-Pode deixar – ela ergueu a mochila e caminhou até a porta, parou na frente da mesma e se virou pra mim sem sorrir – Eu nunca mais vou ver você, não é?

–-Não, Crist. Pra minha segurança e pra sua não há possibilidade de nos vermos outra vez – eu falei gentilmente. Ela moveu a cabeça absorvendo isso e depois sorriu pra mim.

–-Fique viva – disse saindo para alcançar Norton que buzinou a apressando.

Eu sai quando ela entrava no velho automóvel.

–-Faça algo a ela e vai querer não ter aceitado levá-la – eu gritei para Norton e vi ele engolir em seco e acenar a mão pra fora. Quando o carro saiu eu sussurrei pra mim mesma: “Sobreviver é o que eu faço de melhor, Crist. Já é assim a muuuito tempo”