Assim que se sentou uma mulher, de aproximadamente 30 anos saiu pela porta que dava acesso a cozinha. Ela tinha os cabelos castanhos e os olhos azuis, vestia uma regata preta e jeans gastos. Tinha um pano sobre o ombro esquerdo que deveria ter sido branco, mas agora estava um tanto encardido. A mulher se aproximou da forasteira desconfiada; não era comum haver gente de fora da cidade antes da época dos rodeios da cidade visinha.

--O que vai querer – perguntou ela ao apoiar as duas mãos sobre o balcão em frente à nova cliente.

--Uma boa cerveja e algo para comer. Alguma sugestão quanto ao ultimo? – respondeu a outra finalmente encarando a mulher a sua frente.

A voz da morena era grossa e pareceu arranhar um pouco, talvez pelo tempo passado sem dizer nada, mas era uma voz firme e imponente. Mas foram os olhos que impressionaram a mulher atrás do balcão, pois pareceram-lhe estranhamente familiares, apesar do olhar frio e incisivo que os acompanhava.

--Sugiro a especialidade da casa, se quiser conferir, é o primeiro no cardápio – respondeu a atendente pondo em frente à forasteira um papel plastificado com os dizeres “Cardápio” na parte superior.

A morena encarou a folha por um tempo antes de responder:

--Vou querer um – disse devolvendo o cardápio ao balcão.

--Jack! Um especial da casa! – gritou a mulher por sobre o ombro para a cozinha, logo depois pode-se ouvir o som dos utensílios sendo usados.

A mulher foi até a ponta do balcão e voltou com uma garrafa de Heineken que depositou em frente a morena que pegou a garrafa, abriu-a, bebeu um longo gole e devolveu-a ao mesmo lugar.

Das mesas só duas estavam ocupadas. Um casal de namorados e uma dupla de amigos que pareciam já terem bebido um pouco demais. Ambas eram mesas próximas à mesa de bilhar. A mulher saiu de trás do balcão e foi até a mesa do casal que pediu a conta, os dois amigos fizeram novos pedidos.

Enquanto ia até as mesas a outra foi observada pela forasteira que logo pareceu perder o interesse voltando a encarar um ponto qualquer sobre o balcão a sua frente. A mulher voltou ao balcão, entrou na cozinha, voltou com o pedido da forasteira que pôs em frente à mesma e depois pegou duas garrafas, levando-as aos dois amigos. O casal acabava de sair e foi a vez da forasteira ser observada.

Enquanto falava com os dois amigos a atendente observava, discretamente, a outra sentada no balcão e não conseguia se impedir de pensar que aqueles olhos eram familiares. Mas foi a postura da garota lhe chamou mais atenção. Cotovelos apoiados ao balcão, coluna mais reta do que o normal para a maioria das pessoas, as pontas dos pés apoiadas nas travessas das laterais do banco alto no qual ela se sentava bem na ponta. Tudo naquela postura indicava que a forasteira estava pronta para se levantar a qualquer momento. A mulher também notou um gesto que teria passado despercebido às outras pessoas: a desconhecida não tirava os olhos do espelho atrás da prateleira de bebidas, mesmo de cabeça baixa parecendo estar concentrada em sua comida. Tudo naquela garota parecia duvidoso, como se tudo pudesse acontecer na presença dela e ela estivesse preparada para isso. Mesmo assim a sensação de reconhecimento não deixava a mulher. Voltando ao balcão a atendente perguntou a forasteira:

--E então, o que achou?

--Talvez eu só esteja com muita fome – disse a garota com um meio sorriso – mas esse é um dos melhores sanduiches que já comi.

--Bom saber. Significa que não vou perder clientes por causa da comida – a mulher respondeu com um sorriso.

--Você é a dona, não é? – perguntou a forasteira deixando sua comida e olhando para a mulher a sua frente – Eliza é só o nome do bar ou faz referencia a você?

--Um pouco de cada. Meu pai deu o mesmo nome a mim e ao bar, mas fui eu quem nasceu primeiro – respondeu a mulher com um sorriso estendendo a mão – Sou Eliza Monteal, bem vinda à cidade.

A garota apertou a mão de Eliza, mas quando ia se apresentar a porta se abre chamando a atenção das duas. Por ela passam dois homens, um mais jovem talvez pouco mais velho que a forasteira, o outro parecia ser um pouco mais velho que Eliza.

POV Eliza: on

--Veja só quem temos aqui. Achei que vocês tinham me abandonado – eu disse em tom de brincadeira e os dois riram.

--Todo esse drama só porque ficamos dois dias sem aparecer? – perguntou-me Norton rindo. Ele era um cara alto; 1,90m; com cabelos escuros quase pretos, olhos azuis de mais ou menos 39 anos. Eu realmente não sabia ao certo porque ele nunca dizia.

--Não se preocupe Éli. Só tivemos muito trabalho nos últimos dias – disse Ford ignorando Norton e parecendo envergonhado com meu comentário. Ford tinha 24 anos; 1,82m de altura; cabelos castanhos escuros e olhos castanhos claros. Diferente de Norton que era abusado e adorava exibir seus músculos, Ford era, acho que posso dizer, até tímido. Mesmo com as feições e traços fortes herdados do pai, ele tinha sempre uma expressão suave e calma. Não que ele não tivesse músculos fortes como Norton, mas estes eram menores, apesar de bem definidos, e sempre escondidos ou disfarçados pelas roupas.

Eu também acabei notando e estranhando a reação da forasteira à entrada dos dois. Ao contrario da maioria das pessoas que teriam se virado para ver quem estava entrando ela simplesmente voltou sua atenção à comida ignorando os dois. Era como se ela tentasse passar despercebida, o que não seria fácil sendo tão bonita quanto era. Mas o que me deixou mesmo surpresa foi que, se ela não estivesse bem a minha frente, talvez tivesse conseguido.

--Ora essa, temos visitantes nesse fim de mundo – disse Norton notando a garota.

--Deixe-a quieta, idiota – eu disse quando ele começou a se aproximar do balcão, mas quem disse que aquela mula escuta alguém. Ele se sentou no banco ao lado dela e de costas para o balcão. Ele pôs os braços abertos sobre o mesmo tirando a garrafa de cerveja dela do lugar para apoiar a mão direita e analisou garota, aparentemente gostando do que via.

--Você parece ser do tipo aventureiro. Que tal se eu te levasse a uma aventura muito apreciada da região chamada “quarto do Norton”? Tenho certeza de que você iria adorar.

Ela nem se moveu, ignorando-o completamente e eu tive que rir baixinho.

--Qual é, gracinha, não sou tão feio assim – ele disse se virando de frente para ela – E uma garota tão bonita não pode ser deixada sozinha. Sou Norton Cordes – ele continuou estendendo a mão a ela – a seu dispor – a forasteira continuou calada – Não vai nem me dizer seu nome?

--Não – disse ela encarando-o com um olhar irritado – Primeiro porque não gosto de caras abusados. Segundo porque não gosto que me chamem de gracinha. Por ultimo, odeio quando mexem na minha bebida – disse a ultima frase pegando a garrafa e pondo-a de volta ao lugar inicial, depois se virou para frente outra vez.

--Mas que mau humor – ouvi Norton dizer e, pela visão periférica notei ele saindo dali e Ford balançando a cabeça desaprovando a atitude do besta do amigo.

Os dois foram para uma mesa perto da JunkerBox e se sentaram. Eu continuei encarando a forasteira, mas ela parecia ter desistido de qualquer dialogo depois do ultimo. Desviei os olhos a tempo de ver Ford se aproximar e apoiar os cotovelos sobre o balcão a um banco de distancia do lado esquerdo dela.

--Dois chop’s, Eli – ele pediu e eu fui pegar os copos, mas continuei a prestar atenção nos dois enquanto ouvia ele continuar se dirigindo a ela – Desculpe-me pelo meu amigo. Ele já bebeu um pouco e passou dos limites com você.