P.O.V Peg

Estávamos partindo hoje para a primeira incursão "em grupo". Isso porque depois que encontramos a família de Nate, era a primeira vez em que saíamos com um grupo diferente. Eu e Cal eramos agora um casal que viajava muito e que tinha uma família muito grande, por isso saíamos das lojas sempre carregados. Isso para as outras almas que nos viam durante as incursões, é claro.

Pretendíamos ficar aproximadamente 3 ou 4 semanas nessa incursão, pois tínhamos mais coisas para pegar, levando em conta que agora tínhamos mais 22 pessoas para alimentar.

Cal e eu havíamos nos tornado grandes amigos desde que nos encontramos pela primeira vez. Ele era a única alma (com exceção de Sunny) com quem eu podia e queria ter contato. Depois que eu me mudei para as cavernas, eu havia percebido o quão errado é o que minha espécie fazia, especialmente com os humanos, pois eles eram os seres com maiores sentimentos em comparação aos de outros planetas.

Mas essa minha amizade com Cal não deixava Ian nada feliz, principalmente porque tínhamos que fingir ser um casal para as outras almas.

Partimos primeiro em direção a Tucson, para escolher a primeira loja.

– Olhe aquela ali na esquina,parece grande... - disse para Cal, que estava ao meu lado dirigindo. Ian, Nate, Jared e Melanie vinham nos 2 carros de trás.

– Vamos parar naquela, faça um sinal avisando os outros - pediu Cal.

Coloquei a mão para fora da janela, discretamente apontando onde iríamos estacionar. Cal e eu descemos do carro e esperamos os outros pararem do outro lado da rua, um pouco longe um do outro, para não deixar pistas nem suspeitas.

– Ok, vamos - murmurei e peguei a mão de Cal, já desempenhando meu papel para as almas que passavam na rua. Ao fazer isso, senti Ian me fuzilando com o olhar, o rosto retorcido em ciúmes. Olhei para ele e lancei-lhe um sorriso amistoso, contendo a vontade de correr até lá e abraçá-lo com força e dizer que não precisava se sentir daquela maneira.

Entramos na loja e pouco tempo depois saímos com as compras - que não eram exatamente compras, já que não pagávamos - ainda de mãos dadas e senti novamente o olhar de Ian. Revirei os olhos.

(...)

O dia fora cheio e cansativo. Tínhamos avançado até uma pequena pousada no meio da estrada e pretendíamos ir até Phoenix no dia seguinte.

Depois que Cal e eu entramos no quarto, abrimos a janela para que os outros entrassem.

Havia duas camas de casal para mim, Ian, Jared e Mel, e um sofá-cama para Nate e Cal. Fui a última a tomar banho e logo depois já disse boa noite a todos, e fui me deitar com Ian. Assim que cheguei na cama, ele me puxou para seus braços e eu me aninhei em seu peito, inspirando seu cheiro e me aproximando mais. Era incrível como eu me sentia bem em seus braços, eles me tiravam toda e qualquer angústia e preocupação que eu tivesse, me transmitiam segurança, carinho e amor.

Eu ainda não entendia como ele podia me amar da forma que amava, levando em conta que, fora deste corpo, eu parecia mais com uma luzinha com tentáculos medonhos. Mas ele me amava. E eu também o amava, e muito. Tanto, que eu até chegava a me assustar. Eu nunca aguentaria perdê-lo.

– Boa noite - disse Ian, ao pé de meu ouvido, me causando arrepios.

– Boa noite - respondi num sussurro, minha voz saindo um pouco trêmula. - Eu te amo - Como se ele já não soubesse! Mas eu nunca me cansaria de repetir isso.

– Eu também te amo, Peg. Muito. - disse depois de um tempo, a voz num tom um tanto emocionado, e adormeci em seus braços, sentindo-me confortável e segura, como eu sempre me sentia com ele.

(...)

P.O.V Ian

Eu te amo

As palavras de Peg na noite passada não paravam de ecoar na minha cabeça. Eu te amo. Não que ela nunca tivesse me dito isso. Ela tinha. Mas a cada vez que essas palavras saiam de sua boca, cada vez que ela dizia isso para mim, era como se fosse a primeira vez. Meu coração martelava em meu peito e uma alegria desumana tomava conta de mim. Ela ainda estava adormecida em meus braços, mais parecia um anjo - seus cabelos loiros e volumosos, emoldurando o rosto delicado, seus braços finos delicadamente repousados em meu peito, enquanto ela dormia tranquilamente.

Mesmo sabendo que se ela estivesse em outro corpo, qualquer corpo, eu a amaria com a mesma intensidade, não conseguia parar de pensar em como esse corpo era perfeito para ela. Tão angelical, tão delicado. Me fazia lembrar da beleza que contemplei quando a peguei em minhas mãos pela primeira vez. Ela era tão linda, pequena e frágil. E esse corpo era simplesmente a personificação exata da alma que eu peguei em meus braços naquele dia.

Eu a amava tanto.

Seria capaz de qualquer coisa por ela.

(...)

Depois de todos levantarmos, tomarmos banho e comermos alguma coisa, voltamos para a estrada, seguindo em direção a Phoenix. Quando chegamos, lá pelas 10:30 da manhã, fomos à primeira loja para pegar alguns produtos de higiene. Seguiam Peg e Cal no primeiro carro, Mel e Jared no segundo e eu e Nate no terceiro, como no dia anterior.

Era tão bom poder sair em uma incursão sem Kyle... Viajar com Nate era sempre tão calmo. Se Kyle estivesse em seu lugar, já teria achado motivo para reclamar de tudo, até não poder mais. Mas como - graças aos céus! - ele não queria deixar Sunny sozinha e ela se recusava a sair em incursões, ele preferiu ficar nas cavernas.

Quando Peg e Cal saíram da loja com as sacolas, não deixei passar o fato de estarem de mãos dadas. Isso não deveria me incomodar, já que era tudo encenação para as almas não estranharem eles sempre cheios de sacolas, mas eu me incomodava, e muito, com a ideia de alguém que não fosse eu tocando a minha Peg. E como se não bastasse as mãos dadas, quando ela começou a pegar as sacolas para colocar dentro do carro, ele passou um braço em volta de sua cintura, enquanto pegava algumas sacolas com a mão livre. Bufei de irritação. Nate riu disso e Peg, mesmo estando do outro lado da rua, percebeu meu olhar e lançou-me um meio sorriso que me fez relaxar. Ela me conhecia bem, sabia ver quando eu estava com ciúmes, sentia isso mesmo estando a metros de distância. Voltei a pensar no que ela me dissera a noite e me senti melhor instantaneamente.

Ela me amava.