- Ei, - acordei, no outro dia, com Tori me cutucando. -, atende a bosta do seu celular da próxima vez que ele tocar.

- Que ano é hoje? - Perguntei, com a voz embriagada de sono. - Hoje é dia 7 de Junho, quinta-feira. - Tudo bem que eu perguntei o ano, não o dia. - Levaaanta. - Me deu um chacolhão e eu fui obrigada a me virar, coçando os olhos e a encarando com uma cara pouco amigável. - Você ficou ai com o Dougie o dia inteiro, ontem. Nem lembrou que eu existo. - Fingiu que estava realmente magoada. Eu tinha parado na ênfase que ela tinha dado em 'com o Dougie'. - Victoria Sandford, você sabe de algo que não deveria? - perguntei, me sentando na cama.

- Depende. Eu não deveria saber que vocês dois tiveram algo ontem? Por que se for isso, eu sei sim e estou puta com a senhorita porque acabei de saber que você não planejava me contar. - Cruzou os braços e eu olhei para ela, assustada. - E não eu não vou contar para a Frankie. - Sorriu. - Só que você tem que levantar essa bunda da cama e atender esse celular que já está tocando pela décima vez em meia-hora, senão eu vou jogar ele pela janela e não vai ser nada legal! - Victoria jogou o celular quase na minha cara e eu mostrei o dedo do meio. Eu gostava dela, era uma irmã mais velha legal.

- Posso escolher uma roupa para você? - Perguntou, acendendo a luz e entrando no closet. Pisquei várias vezes tentando me acostumar com a claridade e ouvi o celular tocar You Can Have It All do Kaiser Chiefs. - Alô. - Atendi, bocejando.

-Te acordei? - Dougie perguntou. - Tecnicamente, sim. - respondi. - Desculpe, - Ele provavelmente estava corando. - Você pode vir aqui? - Engoli em seco. - Nós precisamos conversar

- C-conversar sobre o que? - Gaguejei. - A filosofia do 'convença-me que a cadeira não existe'* não funciona assim comigo, Alice.

- Dougie, nós não temos o que conversar. A não quer que você esteja afim de discutir sobre o álbum mais recente do The Killers, o que eu duvido muito; você quer conversar sobre algo que não temos que conversar, aconteceu, não vai acontecer de novo. Foi um momento bobo de loucura. - Victoria ouvia atenta, da porta do closet. - Alice, você pode ou não vir aqui? - Tinha o deixado irritado. - Ok, eu posso!- Me assustei com o tom que ele tinha usado. Desliguei e Tori me olhou, esperando notícias. - Ele quer que eu vá na casa dele para a gente conversar - Revirei os olhos ao pronunciar 'conversar'. - Vai tomar banho que eu vou escolher sua roupa. - Piscou e eu fiz o que ela mandou. Quando saí do banheiro, Tori tinha separado uma camiseta com a estampa de um panda, uma calça skinny preta e uma Melissa vermelha.

- Você sabe a historia do panda? - Perguntei, assim que desci as escadas, pronta para sair. - Não. - Tori tirou a atenção da TV e olhou para mim, aprovando sua escolha. - Dougie me chama de panda. - E ai ela começou a surtar dizendo que era a coisa mais fofa do mundo. - TCHAU! - Saí, enquanto ela ainda falava sobre como nossos filhos deveriam chamar Pandora e Pandolino.

Apertei a campainha e no segundo seguinte Dougie já estava parado na porta, com uma camisa xadrez e uma batata frita na boca. - Eu ia te esperar para comer, mas a fome foi maior - Seus olhos pararam na minha camiseta e um sorriso se formou enquanto ele mastigava. - Você é oficialmente um panda? - Perguntou, depois de ter engolido, me dando passagem para entrar. - Você não estava irritado?

- Eu esqueci disso - Coçou a nuca e eu ri. Ele esqueceu que estava irritado. - Tem comida na cozinha, espero que você não tenha comido… Senão eu vou ficar bravo e o chef do McDonalds também. - Ele disse, me fazendo segui-lo até lá.

- E dês de quando o McDonalds tem chef de cozinha? - Perguntei, me sentando em uma das cadeiras do balcão, ao seu lado.

- Eles precisam de alguém que manipule as minhocas e faça essas maravilhas divinas que nós, humanos e mortais, chamamos de hambúrguer e batata frita. - Suspiramos, ao mesmo tempo.

- Fico triste quando encaro a realidade que são pobres vaquinhas que tem que morrer pra eu ser feliz comendo, não minhocas nojentas. - Enquanto nós estávamos comendo, os assuntos aleatórios que surgiam estavam ótimos. Até a última gota de Coca-Cola ser tomada e Dougie olhar nos meus olhos.

- Sobre o que aconteceu ontem, nós… - Ele acelerou a fala quando percebeu que eu ia interromper - Fica comigo, fica ao meu lado. É bom estar com você e eu não quero que as coisas fiquem estranhas. Que será, será.

E eu fiquei, fiquei o dia inteiro com ele. Era natural estar com Dougie, brincar com Dougie; eu nunca estive tão confortável nos braços de alguém. Seu sorriso tem algo mágico que faz todas as coisas do mundo desaparecerem e a Terra parecer só nossa. E eu me sinto uma boba falando assim, mas é a verdade, cara. Eu queria entrar no carro com ele e fugir para a Itália, provar seus beijos sem culpa, quase explodir de tanto comer macarrão e rir da besteira que a gente fez comendo tanto. Eu queria passar o resto da vida nos seus abraços e, bem velha, olhar para trás e rir mais ainda de como nós somos idiotas. No entanto, eu mesma estava me limitando á ficar perto dele; sem beijos e sem macarrão. Só eu, ele e uma confusão.

- Eu queria fazer uma tatuagem. - Disse, analisando seu braço repleto de desenhos. - E por que não faz?

- Tenho medo de agulhas. - Ri de leve e Dougie sorriu, pegando minha mão. - Eu seguro sua mão, se você quiser.

- Eu quero. - Sorri de volta. - Quer que eu segure sua mão enquanto você faz uma tatuagem? - Perguntou, só para confirmar. - Quero. - Sorri mais abertamente.