''I won't let you just fly away from me''

>Cassie

Meu Deus! Onde é que eu estava com a cabeça? Não que eu me arrependa porque foi bom, muito bom aliás. É só que isto é tão estranho! Toda esta situação e aquilo que eu sinto pelo Evan ainda é uma enorme confusão para mim. Ele é sempre tão calmo que é impossível eu não me sentir segura quando estou com ele, mais do que segura eu sinto-me atraída por ele e neste momento eu já não sei se conseguia suportar tudo isto sozinha e continuar sozinha, de certa maneira eu acho que nós nos salvamos um ao outro quando nos encontramos. Faz parte do ser humano agregar-se, não conseguimos passar muito tempo sozinhos. E isto assusta-me, porque este momento pareceu-me quase uma despedida, e a verdade é que nenhum de nós sabe o que se segue e podemos muito bem perder-nos um ao outro e ficarmos sozinhos… outra vez...

Estamos na cama do Evan, eu estou deitada sobre o seu peito e acaricio-lhe os seus músculos mega definidos enquanto ele passa a mão dele pelas minhas costas. Já estamos assim há um bom tempo apenas a refletir.

Quando dou por mim estou a rebobinar tudo o que passámos desde que eu acordei aqui na quinta dele. Do jantar que ele me preparou, da sua surpresa de Natal, daquela vez que nós saímos da quinta e deu para o torto... Ao pensar nisto sinto uma pontada no coração e cesso os meus movimentos.

O Evan não tem nenhuma ferida no abdómen, nem sequer uma cicatriz do tiro que ele levou! O abdómen dele está simplesmente perfeito! Isto é impossível, não pode ser, eu confiei nele e...

Agora que penso nisto ele sabe lutar bastante bem, tem uma pontaria exímia e ótimos reflexos. Antes mesmo de sermos atacados ele apercebeu-se de algo estranho e conseguiu dar cabo de meio dúzia de tipos armados sozinho!

Eu não sei o que isto significa mas não deve ser nada de bom...

Porque é que eu confiei nele? Pior, eu entreguei-me completamente a ele.

Os meus pensamentos são interrompidos pelo Evan, ou devo dizer pelo Outro?, que me dá um beijo na testa.

—Tudo bem, Efémera?- diz-me.

—Efémera!?- digo e levanto o rosto para o encarar. Má ideia pois assim que encaro os seus olhos cor de chocolate perco-me neles e o que quer que fosse que ele me dissesse a seguir eu acreditaria.

—Sim, é uma borboleta que apenas vive 24 horas. Acho que se enquadra na nossa situação, estamos aqui e quando damos conta já não estamos.

Abano a cabeça negativamente.

Isto quase que soa do género estás aqui mas amanhã já não estás porque, tipo, eu vou matar-te! É isso não é? Qual salvar o meu irmão, qual quê! Ele aproveitou-se de mim e agora vai matar-me, ele é um Outro! Ele consegue ler os meus pensamentos e agora está a tentar assustar-me, só pode! Porque é que ele diria aquilo?

Ok, Cassie, deixa mas é de ser paranoica. É o Evan, o rapaz do campo que te salvou e te beijou quando te sentias insegura, se ele te quisesse matar já o teria feito, ele teve milhões de oportunidades para isso, relaxa, está tudo bem.

Respirei fundo.

—Isso não faz o menor sentido, Evan!

—Talvez…- diz e logo de seguida beija-me.

E foi o quanto bastou para eu deixar de lado todas as minhas seguranças.

Uns minutos depois levantamo-nos e aprontamos o resto das coisas para o dia seguinte.

Depois de jantar vamos deitar-nos para descansar porque os próximos dias vão ser bem longos e cansativos.

E desta vez não ficamos no quarto da Val, mas sim no dele…

O dia seguinte amanhece frio e cinzento, já sem neve mas ainda assim com uma grossa camada de geada que deixa tudo branco à mesma.

Pegamos nas nossas coisas e partimos.

Sinto uma onda de nostalgia invadir-me, o momento em saímos da quinta faz-me lembrar o dia em que abandonei a minha casa, quando o meu pai ainda estava aqui e o meu irmão ainda estava comigo. E tal como naquele dia sinto que provavelmente nunca mais vou voltar àquele lugar o que não é bem o que nós planeamos mas ambos sabemos que é o mais provável…

...

Andámos durante todo o dia e à noite montámos uma tenda improvisada no meio da floresta, o Evan diz faltarem apenas algumas centenas de metros para chegarmos à estrada de alcatrão.

Estou exausta e cheia de dores nos pés e este ainda só foi o primeiro dia!

E até nem andámos muito, viemos devagar e paramos várias vezes para descansar e verificar se não tinha ninguém na floresta.

Também corremos o risco de caçar uma ave para comer, a qual o Evan conseguiu derrubar da árvore com o primeiro tiro que acertou exatamente na cabeça da ave. Enquanto isso eu só a consegui ver já em queda livre. Muito perspicaz este Evan não acham?

Por falar nele, neste preciso momento ele está a arranjar a ave para nós comermos, portanto para quê duvidar dele? Ele faz tudo por mim, está a arriscar a vida para salvar o meu irmão portanto está tudo bem. E caso as coisas comecem a dar para o torto é só dar-lhe um tiro naquela testa perfeita, o que nem vai ser tão difícil assim, ele até me ajudou com a minha pontaria!...