''Love's not a trick, it's real.

I know now because of you''

>Evan

Para ajudar Cassie, eu não posso limitar-me a cuidar dela e ir com ela salvar o seu irmão. Se eu quero realmente ajudá-la eu tenho de a preparar e de uma certa forma treiná-la também, visto saber bem o que ela, ou melhor nós, vamos encontrar quando chegarmos à base de Wright Paterson.

Neste sentido, esta manhã acordei-a cedo, assim ela pode tomar um banho e agora vou ajudá-la a treinar a sua pontaria.

—Obrigada-murmura ela quando a seguro para ela não cair das escadas abaixo.

Sinto-me culpado sempre que toco nela por estar a mentir-lhe mas por outro lado não consigo evitar.

Descemos e comemos qualquer coisa.

—Vamos Cassie?

—Para onde?- pergunta-me confusa.

—Lá para fora, hoje vou ajudar-te a treinares a tua pontaria.

—E como sabes que eu tenho má pontaria?

A pergunta dela apanha-me desprevenido, não tinha pensado nisso, mas pelo que vi nos dias em que a segui antes de... disparar sobre ela, até parece que tem medo de disparar. Mas é claro que não lhe posso dizer isso.

—Na verdade, não sei. Mas que importa!? Nunca é demais praticar.

—Ok, mas eu admito que a minha pontaria é uma merda. Aviso desde já que vais gastar muitas munições comigo.

Seguimos para a rua e quando lá chegamos coloco três latas de tamanhos diferentes em cima do muro para fazerem de alvo.

Coloco a Cassie a uma certa distância e peço para ela disparar.

E ela dispara três vezes.

Escusado será dizer que não acertou em nenhuma lata, no fim olha para mim e ao ver a minha cara diz:

—Foi assim tão mau?

—Tu não só tens má pontaria, como tens medo de disparar e ainda por cima não sabes disparar!

—Aaa... pois...

—Bom quanto à pontaria nós vamos treinar e eu também te posso ensinar quanto ao resto, mas quanto ao medo Cassie! Tu tens de pensar que a arma faz parte de ti e quando ela dispara és tu que disparas.

—Eu sei, é só que...

Parece que está com medo e claramente está a esconder-me alguma coisa.

—Cassie, há alguma coisa que me queiras contar?

—Não, mas não é fácil saber que ao disparar vou estar a ferir ou até mesmo... matar alguém!

—Cassie- digo suavemente- As pessoas que tu vais ferir ou matar dizimaram a humanidade e com certeza não estão a fazer nada de bom com o teu irmão! Não podes ter pena deles quando eles não têm pena de nós! E não hesitam em matar-nos.

Exceto eu. Ainda gostava de entender porque não a consigo matar como fiz com outros humanos.

—Eu sei.

—Tu estás a fazer isto para salvar o teu irmão, lembra-te disso.

Tudo o que ela faz é pelo irmão, por amor. Será que o amor não é um truque como pensa a minha espécie? Então, se o amor é real é por isso que não consigo matá-la?

Ainda assim ela parece hesitante.

—Cassie...

Consigo sentir que ela me está a esconder algo.

—Vamos fazer uma pausa, anda daí.

Levei-a até ao alpendre, sentámo-nos nas escadas e esperei que ela falasse.

—Foi depois de o meu pai ter sido morto e o meu irmão ter sido levado, naqueles dias que eu andei sozinha por aí, eu parei numa área de serviço para ver o que podia aproveitar, mas estava lá um homem, ele apontou-me uma arma mas decidimos baixar ambos baixar as nossas armas, ele baixou a dele mas eu reparei que ele tinha uma mão por baixo do casaco apertada junto ao peito. Eu disse que precisava de ver as duas mãos ele resistiu mas acabou por ir retirando a mão, mas eu vi um reflexo de metal e com medo disparei. Eu simplesmente o matei. E o que ele tinha na mão era um crucifixo e estava a tentar estacar o sangue de um ferimento. E eu não acreditei nele! Eu matei-o!!

Isto foi como um murro no estômago para mim, isto era mais uma das coisas a juntar à lista das que eu já tinha feito, direto ou indiretamente, que contribuem para o sofrimento da Cassie.

—Oh, Cassie- murmurei puxando-a para mim, ela encostou a cabeça dela ao meu ombro e eu envolvia-a nos meus braços e assim ficámos por um tempo.

Eu só me consigo sentir cada vez mas desprezível por enganá-la desta maneira. Ela a sofrer por causa de tudo o que eu e a minha espécie fizemos e eu ainda tenho a lata de abraçá-la!

>Cassie

Como é possível? Porque raio é que eu estou novamente nos braços do Evan? Teria sido bem mais fácil concentrar-me se tivesse sido salva pelo rapaz mais feio do mundo!

Enfim, quando finalmente tomo vergonha na cara afasto-me dele, limpo as lágrimas e ele levanta-se estendendo-me a mão.

—Vamos continuar?-pergunta-me ele.

—Sim- digo aceitando a mão dele e pondo-me de pé.

Ele posiciona-se atrás de mim e começa-me a dar instruções.

—Abre as pernas-começa ele por dizer o que não soou nada mas mesmo nada bem, ele deve-se ter apercebido porque reformulou- Afasta-as assim- disse afastando ligeiramente as pernas e eu imitei-o para passar à frente aquele momento constrangedor.

Depois coloca os braços dele nos mãos continuando atrás de mim para me ajudar a posicionar como deve ser, depois disse-me como eu devia fazer pontaria e disse para eu disparar.

Parece fácil mas na verdade é bem difícil quando se tem um rapaz podre de bom atrás de ti, ou melhor, encostado a ti e a falar-me ao ouvido de tal maneira perto que eu consigo sentir a respiração dele no meu pescoço.

Mas tenho de disparar. Falho. Ele afasta-se, volta a colocar os alvos e desta vez não se aproxima e eu finalmente consigo certar num dos alvos! Treinamos durante mais um bocado e depois Evan diz que já chega por hoje.

Nos dias que se seguiram formámos uma espécie de rotina: de manhã tomamos juntos o pequeno almoço e depois fazemos algumas tarefas nas quais eu passei a ajudar nas mais fáceis como lavar e pendurar a roupa enquanto as restantes como rachar lenha e tratar da horta, porque sim ele tem uma mini horta para quando os enlatados e assim acabarem! Depois fazemos o almoço, comemos e arrumamos a cozinha. Da parte da tarde ele ajuda-me a treinar a minha pontaria, damos umas caminhadas para eu ganhar músculo e até tentámos luta corpo a corpo mas não deu muito certo e acabámos por assistir. Depois jantamos e ficamos a conversar até Evan ir para a caça, apesar da maior parte das vezes ele não caçar nada.

Quase, que levava uma vida normal, em paz e dava tudo para ter o meu irmão ali connosco. Cada vez que tentava falar com o Evan sobre isso ele dizia-me para ter calma que quando estivéssemos prontos iríamos salvá-lo. E eu deduzi que depois disso podíamos viver os três ali como uma família feliz. Maldita esperança como se isso fosse possível!