Capítulo 37

Edward voltou para casa por volta das cinco da manhã, eu estava assistindo o noticiário da tevê, passava uma reportagem já ao vivo sobre a empresa; a fachada do prédio estava cheia de pessoas muitos curiosos, aparentemente a frente fora arrombada, as vidraças quebradas e as portas ao chão. Uma cena horrível e deprimente de se olhar.

Ele adentrou o quarto me fitando intensamente, seus olhos fundos e vermelhos sua roupa amarrotada, ele fitou a tevê com curiosidade, sua boca não emitiu nenhum som, ele suspirou.

— Por que está vendo isso? Deveria estar dormindo.

— Estava esperando você. — Engatinhei até ele nos pés da cama o abraçando pelas costas, minha barriga encostou-se a ele causando uma fricção estranha, sorri de canto sem emitir som. — Quer conversar?

— Perdemos muito dinheiro, algumas máquinas de recursos importantes. Muito prejuízo, nada de lucro e vou ter que repor do meu bolso. — Desabafou sem animo abaixando os olhos da tevê embutida na parede do quarto.

— Não fique assim querido, você vai conseguir tudo em dobro, verá...

— Acho que teremos que vender nossa casa... — Murmurou e eu silenciei.

— Onde estavam todos os seguranças da fortaleza?

A Torre Um era como um banco, ali continha todo o dinheiro que a empresa faturava, tanto de pagamentos como de recebimento, lucros e investimentos.

Edward estava totalmente arrasado por causa disso, não sabia ao certo o que fazer para reconstruir todo o fundo da Torre Um e nem sabia se ao certo conseguiria, estava falido. A Torre destruída, assim mostrava o jornal da manhã e ainda tinham muitas construções pendentes, a construtora de Edward passaria novamente por uma crise financeira. Como a do ano passado com a união de Tânia e Edward.

— Eu não sei Isabella... Não havia nem sinal da segurança particular nem publica. O prédio estava abandonado. Suponho que os meus empregados tenham me roubado.

— E Marcus? — Perguntei curiosa.

— Eu tenho 52% das ações Isabella, eu sou o responsável por tudo aquilo. Eu tenho que dar conta do dinheiro, eu assino todos os contratos, meu nome está envolvido em tudo isso Marcus é apenas... Outro empregado junto a todos, agora ele deve estar em sua casa, irritado e pensando em como eu vou devolver o dinheiro dele.

Edward me abraçou forte e soluçou por causa de um choro.

— Como assim... Devolver o dinheiro dele? — Perguntei sem entender.

— Ele quer me vender a parte dele, ou melhor, ele me empurrou a parte dele alegando que a ideia da Torre foi do meu pai, que por ele tínhamos que guardar o dinheiro em um banco, como todos fazem.

— E você é obrigado a comprar? — Perguntei confusa ainda.

— Não e sim... Se eu comprasse... A empresa seria só da nossa família amor. Marcus seria desvencilhado por completo.

— Tudo bem Edward... Daremos um jeito nisto. — O puxei para um abraço forte novamente, Edward aninhou-se perfeitamente em mim ainda despejando por alguns minutos lagrimas silenciosa.

— Agora tome um banho, vou lá embaixo preparar um café da manhã especial para você.

— Não! Por Deus Isabella... Volte para cama e vou buscar algo para você comer... Esqueceu? Repouso.

— Edward eu estou ótima! Temos problemas maiores no momento. — Protestei.

— Por favor, adorável esposa, deite-se.

— Não em trate como criança está bem? Não faça isso. — Resmunguei me levantando até alcançar seus braços. — Vamos fazer assim... Nós dois descemos e tomamos café da manhã juntos... E depois acharemos uma solução para isso.

Disse decidida abrindo a porta do quarto, caminhamos abraçados em silencio pelo longo corredor, apenas a respiração cansada de Edward era evidente, pensei sinceramente nas cosias que faria para resolvermos esses problemas... Casamento é mesmo uma coisa muito difícil de comandar.

Agora entendo porque Charlie dizia que sentia vontade de esganar Renée na maioria das vezes, esses conflitos de pensamentos e decisões. Mas Edward teria que me deixar participar dessas escolhas porque eu sou sua esposa e uma esposa apoia seu marido em todos os momentos, inclusive nos mais difíceis como este.

Descemos a escada sem pressa, nos direcionamos direto para a cozinha que estava vazia, nenhum empregado ou sinal de alguma alma viva no recinto.

— Sente-se. — Apontei para a cadeira alta do balcão de granito preto, Edward sentou-se sem protestar. Fitei seus olhos cansados, olheiras fundas sem contar o inchaço por toda a extensão dos cílios inferiores, as pálpebras pareciam pesar muito também. Sua íris estava tão perdida sem foco, sem cor. Edward em um todo estava perdido. — Panquecas? — Dei um sorriso de lado e ele assentiu.

— Nunca comi panqueca doce... Novidade isso... — Disse Eddie.

— Especialidade da minha avó.

— Desculpe-me a indelicadeza e estou envergonhado pelo que vou perguntar, mas... Ainda tem avós vivos?

Eu sorri com a pergunta e respirei fundo pensando na resposta, coloquei as massas que fritei em uma tigela grande e levei até o balcão. Verifiquei se o café já estava pronto (direto da cafeteira.) apanhei o leite na geladeira junto com um suco, pelo cheiro era de melão.

Amontoei as coisas no balcão buscando o mel e a pasta de amendoim cremosa na geladeira, avistei também uma geleia de amora e a peguei. Já com tudo pronto me sentei de frente para Edward lhe encarando sua feição ansiosa pela resposta.

— Eu tenho avós por parte de pai... — Disse enquanto o servia colocando a massa da panqueca em um prato e deixando que o mesmo recheasse. Levantei para pegar copos e talheres, estava realmente desacostumada com essas coisas, mas algo me dizia que deveria voltar-me a acostumar. Uma voz persistente dizia que muita coisa mudaria. — Faz anos que não os vejo, a dona encrenca chamada Renée não os suportavam... — Disse lentamente me servindo.

— Por que não? — Curioso Edward perguntou.

— Sabe que eu não sei. — Sorri. Fiz uma mistura nojenta de pasta de amendoim, geleia de amora e mel. Eddie franziu o cenho. — A última vez que vivi vovó eu tinha quinze anos, foi exatamente na minha festa... Papai brigou com Renée e implorou para que deixassem que eles viessem. Muito contrariada ela permitiu.

— Conta mais...

— Meu aniversário fora um campo de guerra, minha mãe ficou em um lado oposto dos meus avós, Charlie dividiu-se em três para agradar a todos nós e eu também. Ao fim meus avós me abraçaram muito forte e disseram que nos veríamos em breve. Mas isso não ocorreu... Nunca mais os vi.

— Nossa... Já faz mais de três anos. Não sente vontade de vê-los de novo?

— Eu já acho que eles têm algum tipo de magoa em relação a mim por causa da minha mãe. Se você reparou no velório do meu pai foram apenas um único tio e sua filha, claro outros parentes distantes.

— Me recordo... Aquela moça parecia muito com você. Qual o nome dela? — Edward perguntou.

— Mônica. Você acredita que aquela era a segunda vez que eu tinha visto-a? — Edward enrijeceu o rosto com a surpresa, sorriu pasmo.

— Isabella... Se você quiser vê-los, falar com sua avó... Conhecer seus primos. Podemos ir visita-los, assim que as coisas melhorarem. — Edward sugeriu sorridente. — Não acredito que alguém tenha magoa em relação a você. Impossível.

— Eu não sei Edward... Nem sei se estão vivos. — Neguei levemente com a cabeça e ele sorriu assentindo.

— Olhe, seu pai era um homem de bem, forte, honesto. Queria que minha filha convivesse com pessoas assim... E minha família, bom. Não temos pessoas assim. — Ele disse um pouco tristonho elevando seu olhar para o prato. — E vovó Renée... O que podemos dizer? — Sorrimos alto. — Definitivamente não será um bom exemplo. Tia Esme pior ainda. — Ele finalizou rindo, me fazendo pensar a respeito.

— E o que te leva a crer que Mary Beth terá um bom exemplo com a família do meu pai?

— Na verdade eu não sei. Apenas sinto.

Minha filha não precisa de exemplos de outras pessoas para ter um bom coração ou saber o que é caráter. Ela teria a mim e ao Edward, uma mãe e um pai ansiosos por vê-la, tinha meus amigos e os amigos de Edward que formavam conosco uma família também. Por que eu teria que remexer no passado? E se eles não gostassem de mim? Céus... Não aceitaria uma rejeição, nunca fui boa em aceitar essas coisas. Tudo dói muito, é difícil encarar quando não se é bem-vinda, quando não te querem te rejeitam! Ainda mais estando grávida... Seria uma rejeição em dobro – ou, talvez não. – mas eu não iria pagar pra ver um “talvez” que não é um sim conclusivo e um não doloroso.

— Por que você não fala da tia Esme agora? Tanto rancor... — Mudei de assunto e Edward sentiu-se contrariado.

— Eu não gosto dela desde quando me entendo por gente Isabella...

— Ela é bem inoportuna na maioria das vezes, porém, consigo enxergar o afeto dela por você.

— Nós dois sabemos que é fingimento não é minha cara. — Edward disse depois de longos segundos rindo da minha ingenuidade. — Tia Esme é irmã do meu pai. Os meus avós morreram de uma forma muito trágica, um assunto pesado para o café da manhã... Quando meu pai assumiu os negócios da minha família e depois de um tempo casou-se com minha mãe, tia Esme fora contra desde o inicio, mas meu pai não lhe deu ouvidos. Ela fez questão de infernizar a vida dos meus pais até meu pai coloca-la para fora de casa e dar a sua parte na herança da família. Tia Esme continuou importunando de longe porque não tinha um contato direto com nossa família. Ela nunca se conformou com o casamento dos meus pais, com meu nascimento...

— O que você acha que despertou esse sentimento negativo de Esme por sua mãe? — Perguntei curiosa.

— Bom... Pelo que eu entendo da estória tia Esme zangou-se porque meu pai casou-se meses depois da morte dos pais deles e foi feliz... Continuou vivendo entende? Acho que para ela fora difícil ver que a vida continuava.

— E esse sentimento negativo passou para você depois da morte dos seus... Pais?

— Exato. Mas... Ela se afeiçoou a você, isso é um fato. Mas por você estar comigo ás vezes o que ela apronta para mim respinga em você. — Edward disse agora cauteloso. — Como nos jantares informais que ela dava e nos obrigava a ir... Como apresentar outro homem a você.

— Nossa. Isso faz tanto tempo Edward!

— Eu sei... Mas era um jeito de me atingir, ela sempre fazia essas coisas. Inclusive depois da nossa separação...

— Acho um exagero Edward! O que ela fizera de mal depois que nos separamos? — Perguntei sem entender a birra.

— Lembra que você a odiava? — Ele riu e eu ri também, realmente não a suportava. Não que hoje eu gosto dela, acho a muito invasiva. — Aquele jantar que ela deu e lhe convidou... Um golpe muito baixo. Quando eu a vi, tão linda naquele vestido... Preto, tão sexy e divino ao mesmo tempo. Quando vi os olhares famintos em sua direção, uma súbita raiva me atingiu. Ela fizera aquilo de proposito, queria me torturar por ter perdido você. Queria me provar que você não era linda porque era minha; você era linda porque era livre. — Edward tinha uma voz embargada por causa da lembrança, então eu puxei para minha mente também o tal dia.

— Agora eu entendo. — Murmurei quase inaudível. — Entendo o motivo de ela ter escolhido a casa dos seus pais como o local da festa.

Tudo se encaixou perfeitamente, a intenção de Tia Esme fora fazer o que ela realmente fez causar uma discussão onde Edward estava totalmente errado, onde ele tinha que contar seus segredos obscuros e como consequência eu iria chuta-lo como um cão sarnento.

Mas não fora isso que aconteceu por culpa de uma mente louca Edward fugiu de mim, uma estória recente e triste.

— Agora você percebe... — Edward falou um pouco irônico. — Falando na casa dos meus pais, o que vamos fazer? A respeito de qual casa venderemos?

— Esta. Não podemos nos desfazer da sua casa querido, que você viveu sua vida com seus pais... Que você gostaria de cuidar da nossa filha. — Eu disse e ele suspirou aliviado.

— Vou pedir para Susan movimentar as coisas.

Ele disse levantando-se do acento e saindo da cozinha. O segui com rapidez, ele entrou no escritório e abriu às janelas, o dia estava nublado e escuro, mas havia luminosidade.

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— Certo... E você acha que a venda da casa irá suprir o que perdemos? — Edward riu alto.

— Não precisa se preocupar com isso esposa nada lhe faltará.

— Por favor, se estamos falidos fale logo.

— Quase... — Disse baixo. Ele começou a abri as gavetas rapidamente tirando muitas pastas grossas e largas. — Na Torre Um tinha muito dinheiro Isabella, mas... Não todo “o dinheiro”.

— Eu também tenho... Dinheiro suficiente para ajuda-lo. — Eu o informei ele me olhou rapidamente zangado.

— Não! — Rosnou baixo. — Seu dinheiro é seu. Nada irá nos faltar já disse. Só preciso que confie em mim e me apoie, só isso já basta. — Sua voz embargou e eu suspirei.

Levantei-me com rapidez e contornei a mesa para abraça-lo.

— Confio em você, sei que cuidara de tudo. Cuidará de nós. Mas... Se por acaso... Precisar de um... Empréstimo. Até por que... Você tem muitas cosias para repor, e muito rápido. — Disse ainda o abraçando e depositando um beijo molhado em seu pescoço. — Se você não aceitar o empréstimo será mais doloroso... Terá que cortar gastos, demitir funcionários, catástrofe. Nada mais justo eu lhe devolver seus dez milhões. — Conclui e ele gelou. Parou inclusive de respirar, nem se quer mexia-se em estado de choque completo.

— Por favor... Isabella... Não jogue na minha cara isso... Não precisa dizer o que fiz.

— Não estou jogando nada na sua cara meu amor. — Disse girando sua cadeira e olhando em seus olhos sem vida. — Até porque o meu pai o investiu de uma maneira sabia, depois repôs porque ele tinha a intenção de lhe devolver. O dinheiro salvou minha família... E agora... Ele salvará a nossa.

— Você é realmente um anjo! — Me beijou.