Cartas Para Quinn

Capítulo 23 — Mensagem para Santana


De: Brittany Pierce (brittpier@zwer.com)

Para: Rachel Berry (rachelberry@zwer.com)

Assunto: Mensagem para Santana



Olá, Rachel!

Primeiro de tudo, eu gostaria de agradecer imensamente por você estar fazendo isso por mim. Adorei conhecê-la no outro dia, você me parece ser uma pessoa realmente especial. Entendo porque você e Quinn sejam tão próximas uma da outra. Acho que são o casal mais fofo que já conheci :D

Eu escrevi uma mensagem para Santana, e estou a enviando em anexo, como nós combinamos. Você poderia me informar se conseguiu enviar para ela? Ficaria muito grata. Bem, na verdade, eu já estou. Obrigada mesmo por estar fazendo isso, Rachel. Imagino que você deva saber do que tenha acontecido entre nós duas. Mas, caso não saiba, Santana e eu tivemos um curto relacionamento durante o ensino médio. Apesar de breve, ele foi intenso. Amei Santana com todo o meu coração, e ela retribuiu aquele amor. Só que estávamos no Ensino Médio, e as coisas lá, como você bem sabe, nunca são simples.

Havia este garoto, Daniel, capitão do time de futebol da escola, que vivia tentando fazer com que eu ficasse com ele. Ele não sabia do meu relacionamento com a San; ninguém sabia, na verdade, porque eu tinha muito medo de me assumir. Olhando para trás, nem sei realmente de onde esse medo veio. Não era dos meus pais, porque eu sabia que eles me amariam incondicionalmente, não importa o que eu fizesse ou quem eu fosse. Não era das pessoas saberem que Santana e eu estávamos juntas, ou sequer de saberem que eu era lésbica.

O meu medo, o meu verdadeiro medo, era descobrir que o mundo não era como eu imaginava que fosse. Eu sei que isso não faz sentido, mas eu sentia que se as pessoas soubessem sobre San e eu, eu inevitavelmente a perderia. Naquela época eu via o mundo de maneira muito diferente. Acho que ainda vejo até hoje, só que a vida tem me mostrado que eu não preciso fechar os olhos para as coisas que não gosto para não perder minha inocência. Apesar de toda a crueldade que vemos todos os dias, e apesar de todas as coisas ruins que nos acontecem, nós ainda podemos manter a inocência dentro de nós. É uma escolha, você vê? Nós escolhemos a forma que queremos ver o mundo — seja ela otimista, pessimista, realista, sonhadora, ou qualquer que seja o jeito que gostemos de chamar. No final das contas, somos nós que escolhemos, através da nossa experiência de vida, se foram as coisas boas ou ruins que nos marcaram tanto a ponto que nos fazer enxergar o mundo de certa maneira.

No Ensino Médio, eu não sabia disso. Não sabia que era uma escolha. Eu vivia nesse mundo de fantasia, onde tudo era bonito e perfeito, e nada de ruim acontecia. Eu ignorava todas as provas que me mostravam que isso não era verdade, e fechava os olhos para cada coisa cruel que via acontecer. Por conta disso, quando as pessoas descobriram que Santana e eu estávamos juntas, e elas começaram a fazer minha vida um inferno, e eu quebrei. Quebrei, porque toda aquela ilusão em que eu vivia se desfez. Quebrei, porque o meu maior medo se tornou realidade. Quebrei, porque pela primeira vez em minha vida eu senti a crueldade dos seres humanos sendo direcionada a mim. Quebrei, porque por mais que eu estivesse em pedaços, Santana estava lá para fazer com que eu sentisse como se ainda estivesse inteira.

É por isso que acho Santana tão especial. Mesmo quando tudo estava desmoronando, ela estava lá por mim. Ela me defendia, ela me protegia, ela fazia de tudo para amenizar a situação, ainda que estivesse sofrendo tanto (ou mais) do que eu. E no final, apesar de termos perdido a luta, ela caiu me defendendo.

A situação chegou a um ponto tão intolerável que a diretoria se viu na obrigação de fazer alguma coisa. O problema é que os pais de Daniel eram muito ricos, então, naturalmente, ele se safou. O diretor fez parecer que Santana e eu que éramos o problema; e aí foi quando ela inventou a história que tinha me forçado a ficar com ela através de chantagens. Ela quase foi expulsa por causa disso; acho que o único motivo para não ter sido, é porque o pai de Santana, apesar de não ser tão poderoso quanto o de Daniel, era um homem bastante conhecido, principalmente pelos seus atos de caridade nas partes mais pobres da cidade.

Eu fui embora pouco depois disso, mas as coisas mudaram drasticamente na escola. Fiquei por perto por tempo o suficiente para ver que toda a fúria que tinha sido dirigida a nós duas, passou a ser dirigida completamente a ela. As pessoas sabiam que não era verdade, mas, ainda assim, escolheram descontar tudo em Santana. Como se nosso relacionamento fosse da conta de alguém, ou como se algum deles fossem nossos donos para dizer o que poderíamos ou não fazer. A Brittany daquela época jamais teria aguentado viver em um ambiente assim. (Não que ninguém mereça viver desse jeito, mas algumas pessoas são fortes o suficiente para passarem pelo inferno de cabeça erguida, e eu não era uma delas).

É doloroso saber que alguém sofreu tanto por amar você. A culpa por ter abandonado Santana me segue até hoje, porque ela esteve lá por mim quando eu precisei. Entretanto, quando ela precisou, eu fugi. Escolhi a rota de fuga.

O motivo pelo qual estou lhe contando isso, Rachel, é porque sei que você não vai sentir pena de nenhuma de nós, e porque sei que você não é uma dessas pessoas. Você não foge. Sei que não a conheço direito, mas você está familiarizada com aquele ditado, não é? "Os olhos são a janela da alma". E os seus dizem muito ao seu respeito. Mais do que você imagina.

Então, sempre que você estiver tendo um momento ruim, lembre-se disso: você não está sozinha; fugir não vai fazer você se sentir melhor; você não é o que as pessoas acham de você; você pode fazer absolutamente tudo, e não deixe que ninguém te convença do contrário.

Bem… acho que é isso. Espero que esteja tudo bem com você, Rach. Você parecia muito cansada no outro dia (provavelmente por causa da faculdade, certo? Sei muito bem como é isso. Se as aulas de dança estiverem sendo um problema, e você precisar de ajuda, pode contar comigo. Terei o maior prazer em ajudá-la!).

Até mais, então! Por favor, mantenha contato! (E novamente, muito obrigada).

Atenciosamente,

Brittany.



De: Rachel Berry (rachelberry@zwer.com)

Para: Brittany Pierce (brittpier@zwer.com)

Assunto: RE: Mensagem para Santana



Oi!!

É bom falar com você de novo! Que fique registrado: o sentimento é recíproco! (risos). Também gostei muito de conhecer você. Você é quem me parece ser uma pessoa muito especial, e eu digo isso de coração. São poucas as pessoas que são tocadas pela dor e pela perda, e ainda conseguem optar ver o mundo de uma maneira positiva.

Sobre a mensagem, por favor, não precisa me agradecer! Faço com o maior prazer do mundo. Fico muito feliz que vocês tenham a oportunidade de se falar depois de todos esses anos. Espero que essa comunicação seja boa tanto para ela quanto para você!

Obrigada por compartilhar comigo sua história. Sinto muito que as coisas entre vocês duas tenham acabado desse jeito, mas, você sabe, tudo isso me faz admirar vocês duas ainda mais. Não conheço muito Santana — tudo o que sei a respeito dela é o que Quinn me diz —, mas sei o suficiente para perceber que ela é uma pessoa incrível. Sei que você ainda sente essa dor da culpa no seu peito, assim como ela também deve sentir; então talvez vocês devam se desapegar disso. Sei que é difícil, sei que é complicado, mas carregar esse sentimento no peito não é benéfico para ninguém. Tente deixá-lo ir. O passado nos marca com profundidade, mas quando um novo dia nasce, ele continua sendo apenas o passado. Nossa história nunca deve ser ignorada, porque se somos quem somos, é por conta das coisas que já nos aconteceram. Mas nossa história também começa a cada dia. Ela se renova. Nós nos renovamos. Então, a cada amanhecer, nós também temos que fazer uma escolha. Temos que escolher se vamos permitir que o passado influencie no hoje (de forma positiva ou negativa), ou se vamos viver o hoje como se ele existisse por causa do passado, mas não em função dele. Soou confuso? Às vezes não consigo me expressar direito. O que quero dizer é que podemos viver o hoje sem esquecer o ontem, mas também não precisamos fazer com que o ontem defina como vivemos cada segundo do hoje.

Não vou esquecer disso. Prometo.

Agradeço muito pela oferta! E acho que vou aceitar (risos). Estou melhorando bastante, mas tenho certeza que com sua ajuda, a senhorita July finalmente pararia de pegar no meu pé. Ou não. Honestamente, aquela mulher é um mistério para mim (risos).

Ah… Não, você entendeu errado! Quinn e eu não somos um casal! Ela gosta de rapazes… Não gosta?

Espero que esteja tudo bem com você, também! Já mandei a mensagem, então pode ficar tranquila. Só não sei quando Quinn vai poder lê-la, mas não tenho dúvidas de que ela a entregará a Santana.

Você tem meu número de celular, certo? Qualquer coisa, pode me ligar ou mandar mensagem!

Até logo!

Atenciosamente,

Rachel.



ANEXO.



Querida Santana,

Nem posso acreditar que isso está mesmo acontecendo. Alguns dias atrás, eu estava terminando de dar uma aula para um grupo de crianças, quando uma garota baixinha apareceu do nada, e se sentou afastada de todo mundo, os olhos fixos em mim. Eu sabia que ela não poderia ser parente de nenhuma das crianças, afinal eu conheço todas elas há bastante tempo, e eu tinha certeza absoluta que nunca a tinha visto antes (você sabe que tenho uma excelente memória para rostos), então fiquei bem intrigada.

Ao final da aula, a garota veio até mim. Olheiras debaixo dos olhos, aparência cansada, mas ombros retos, e uma expressão determinada em seu rosto. Ela se apresentou para mim como Rachel Berry, e disse que conhecia você. Ou pelo menos foi isso o que eu pensei que ela tinha dito, porque ela falava rápido demais, atropelando as palavras, e no final tudo o que eu consegui entender foi “eu”, “recado”, “Santana”. Foi o suficiente para chamar minha atenção.

Nunca pensei que depois de todos esses anos, o destino encontraria um jeito de colocar você novamente em minha vida. Eu procurei por você, Santy. Fui até Seattle, mas me disseram que você tinha se mudado; nenhum dos seus antigos vizinhos soube me informar onde você estava, ou para onde seus pais tinham se mudado. Pensei que nunca mais a veria novamente. Pensei que nunca mais ouviria sobre você novamente.

Até Rachel Berry aparecer.

E agora, eu tenho esperanças. Há tantas coisas que eu quero… Não, que eu preciso que você saiba. Eu quero me desculpar por aquele ano, San. Eu fui tão fraca, tão covarde, tão tola. Quando os meus pais me levaram para longe, em parte, eu estava aliviada. Aliviada por sair daquela escola, por fugir daquelas pessoas, por não precisar mais aguentar tudo aquilo. Só que havia essa outra parte. A parte que parecia que ia me destruir. A parte que todos os dias me fazia pensar em você, lembrar da sua voz, do seu sorriso, dos seus beijos. A parte que te amava com intensidade, com sinceridade, com desejo.

Rachel me contou que você está no exército agora. Você e Quinn. Ela não disse que a culpa era minha; não acho que ela veja as coisas dessa maneira, mas, ainda assim, eu sei que foi. Sei que quando fui embora, você perdeu o rumo. Sei que quando fui embora, levei um pedaço de você. Sei, porque o mesmo aconteceu comigo. Parte de mim ficou para trás. Parte de mim eu deixei em seus braços. Uma parte que nunca consegui recuperar de volta: meu coração.

Eu mudei bastante depois daquilo, embora, no fundo, eu ainda seja a mesma. A diferença é que aprendi a não ter mais medo. Aprendi a encarar qualquer situação de cabeça erguida, e a não me deixar abalar por coisas pequenas. Aprendi a não mais fugir quando estava assustada, ou ser mulher o suficiente para assumir meus erros.

Eu estou assumindo meu erro. Jamais deveria ter deixado você fazer aquilo. Dizer que tinha me forçado a ficar com você, só para me proteger daqueles idiotas. A expressão em seu rosto ainda me assombra, às vezes. Dói tanto, San. Dói tanto saber que eu te causei tanta dor. Dói tanto saber que nossos bons momentos foram ofuscados por um horrível. Dói tanto saber que eu permiti que aquelas coisas acontecessem só porque não fui corajosa o suficiente. Dói saber que não estive ao seu lado quando você precisou. Dói saber que você está arriscando sua vida em busca de algo que talvez você nunca encontre.

Seu coração ainda está em seu peito, San. Ele não está em Seattle, no exército, ou em qualquer parte do mundo que você esteja agora. Ele não está comigo, ou com qualquer outra pessoa. Ele está com você. Sempre esteve. Por favor, recupere-o. Reencontre-o. Permita que ele sinta novamente. Quando eu perdi você, eu fiquei tão sem rumo. Eu não sabia o que fazer, quem ser, que passo dar. O mundo inteiro parecia assustador, sem sentido. Mas a música me salvou. A dança me salvou. Então eu me joguei nisso. Eu permiti que minha vida se tornasse isso. E apesar de estar fazendo algo que amo, eu ainda me sentia vazia, incompleta. Sentia como se meu coração não me pertencesse.

Até que um dia eu descobri que pertence. Eu sinto tanto, tanto, pelo que aconteceu. Gostaria de poder voltar no tempo e mudar tudo aquilo. Gostaria de voltar no tempo e ter enfrentado aquelas pessoas. Gostaria de ter ficado firme e forte ao seu lado. Gostaria que não doesse tanto ter o coração partido. Eu te peço perdão. Eu te peço perdão por não ter cumprido o que te prometi no dia em que você me pediu em namoro. Eu disse que estaria sempre com você; disse que te protegeria; disse que te amaria. E consegui falhar em quase tudo.

Mas, de alguma forma, o tempo me ensinou a ser forte. Eu descobri como colocar meu coração no lugar, e a deixá-lo tão inteiro quanto ele pode ser. Eu aprendi que fugir nunca é a solução, e você está fugindo, Santana. Não de mim, mas de você mesma. Você está fugindo desse vazio no seu peito que você não sabe como preencher.

Não fuja. Não evite a dor. Sinta-a. E siga em frente.

Eu quero que você saiba que estou bem. Meus pais me apoiaram muito depois daquilo. Eles falavam sobre você, sabia? Eles sempre souberam que nada do que você disse era verdade, e sempre foram gratos por você ter me protegido. Meu pai infelizmente faleceu. Ataque cardíaco, há dois anos. Foi o que fez eu me mudar para Nova Iorque e recomeçar minha vida aqui.

Abri meu próprio estúdio de dança, e apesar de ser pequeno, ele ainda está de pé. Mamãe me ajuda bastante; você sabe que ela sempre teve um bom olho para negócios. Ela sabe administrar tudo muito bem, e apesar de que isso não vai nos deixar ricas, temos o suficiente para pagar as contas e viver razoavelmente bem. Tem sido o suficiente. E ensinar essas crianças a se apaixonar por alguma coisa tem sido uma experiência incrível. Eu nunca tinha reparado o quanto o amor é importante em nossas vidas. Ele define com quem nos casamos, com quem convivemos, e que tipo de área profissional escolhemos seguir. Claro que não é assim para todas as pessoas, mas é um mundo muito grande, e é impossível que todos pensem ou vivam do mesmo jeito.

Eu estive em apenas um relacionamento sério desde que nós nos separamos. O nome dela era Allison. Ela me lembrava você. Era engraçada, protetora, inteligente, e estava sempre lá por mim. O negócio é que Allison tinha um grande problema. Ela era a Allison, e tudo o que eu queria era você. Então naturalmente esse relacionamento não durou muito. Mas continuamos amigas, o que é uma coisa boa. Na verdade, Allison se casou há alguns meses, e eu fui uma de suas madrinhas. Fiquei bem feliz por ela.

Às vezes eu ainda sinto sua falta. Eu deveria ter seguido em frente, não é? Deveria ter encontrado outras pessoas, ter entregado meu coração várias vezes, ter me permitido amar e ser amada. Não sei porque nunca o fiz. Acho que não me pareceu certo, porque sempre senti que você e eu tínhamos algo inacabado.

Eu preciso saber como você se sente, Santana. Preciso saber se você é ou não feliz. Se meu coração pode finalmente ficar leve, se posso amenizar essa dor que carrego em meu peito por saber o tanto que te fiz sofrer (amenizar apenas, porque acho que ela nunca realmente irá embora, apesar de uma amiga recentemente ter me lembrado que guardar essas dores dentro do peito não é saudável). Nunca foi o que quis dar a você. O que sempre quis te dar foi meu coração. Lamento muito que às vezes ele seja um presente de grego. Deveria trazer muitas alegrias; só que muitas vezes, tudo o que ele traz é tristezas, e deixa para trás cicatrizes que não podem ser curadas.

Tudo o que eu preciso saber é que eu não sou uma. Tudo o que eu preciso saber é que, mesmo que você não esteja bem agora, você pode ficar. Diga-me que vai ficar bem, San. Diga-me que vai ficar segura, inteira, viva. Não é justo que depois de todos esses anos eu ainda te peça alguma coisa, mas eu ouso a pedir. Peço que continue vivendo. Peço que continue tentando.

Da pessoa que nunca irá te esquecer,

Brittany Susan Pierce.



*



— Você está bem? — Quinn perguntou, lançando um olhar preocupado para a amiga.

Santana não respondeu de imediato. Ela estava sentada na poltrona mais afastada de todos os outros, um pedaço de papel em mãos, as lágrimas caindo lentamente pelo seu rosto. Quinn tinha a entregado a carta, e se levantado para lhe dar privacidade, mas Santana havia pedido, num fio de voz, para que Quinn ficasse. E ela ficou.

Enquanto Santana lia a carta enviada por Brittany, tudo o que Quinn fez foi observá-la em silêncio, vendo as emoções cruzarem o rosto de sua melhor amiga. Ela viu a sugestão de um sorriso em seus lábios, viu olhos brilhando, assim como viu dor, tristeza, frustração. Quinn queria poder consolá-la. Queria poder esticar a mão, apertar seu ombro, e dizer que ficaria tudo bem.

Exceto que fazer isso seria mentir para Santana, e elas tinham concordado em nunca mentir uma para a outra. Ela não sabia se ficaria tudo bem, porque ela não tinha a menor ideia do que Brittany havia escrito. Claro que Quinn sentiu bastante curiosidade em ler, mas respeitou a privacidade das duas, assim como ela sabia (ou quase) que Santana faria o mesmo se a situação fosse inversa.

Nem mesmo Quinn estava certa de como se sentia em relação a isso. Diversas vezes passou pelos seus pensamentos a ideia de procurar por Brittany, mas ela nunca soube realmente por onde começar — e, na verdade, ela sempre teve medo de dar o primeiro passo. Medo por não saber o que ia encontrar. E quando mencionou isso a Rachel, ela jamais imaginou que a garota ia fazer exatamente o que a própria Quinn nunca teve coragem.

Quinn mordeu os lábios, pensando em Rachel. Não dava mais para negar que ela estava apaixonada. Cada mensagem que ela recebia da garota fazia seu coração pular no peito; e se Rachel continuasse fazendo coisas como aquela… Quinn precisou contar as lágrimas ela mesma quando leu o e-mail que recebeu. Ela sabia que Rachel se importava com ela. Ela sabia que elas tinham uma ligação. Ela sabia que estava apaixonada pela garota — mas nunca passou pela sua cabeça que Rachel pudesse se importar com ela o tanto que ela se importava com Rachel. Ela jamais imaginou que a garota poderia ir atrás de Brittany só porque ela sabia que Quinn amava Santana, e porque sabia que se Santana estava sofrendo, Quinn também estava.

E agora Quinn não sabia o que fazer com essa informação.

— Ela fez mesmo isso? — perguntou Santana, baixinho, erguendo a cabeça para encontrar o olhar de Quinn. — Rachel, a sua Rachel, ela realmente foi atrás da Brittany… Por mim?

— Ela sabe o quanto você é importante para mim — disse Quinn, dando de ombros. — E eu disse que já tinha considerado fazer isso eu mesma, mas…

Quinn olhou para as próprias mãos, envergonhada, mas Santana não registrou absolutamente nada disso. Ela se levantou abruptamente da cadeira, e jogou os braços ao redor do pescoço de Quinn, dando-lhe um abraço apertado. Quinn sabia que Santana estava chorando. Ela podia sentir seu corpo tremendo, as lágrimas manchando sua blusa, e os fungados da amiga em seu ouvido. Ela sabia que Santana estava chorando, mas não sabia se era de tristeza ou de felicidade. Quinn a abraçou de volta, apertado, tentando transmitir o máximo de segurança que conseguia.

Depois de alguns minutos, Santana se afastou. Seus olhos brilhavam, e Quinn sentiu como se um peso tivesse sido tirado de seus ombros. Santana parecia feliz. Parecia bem, inteira, forte. E ela estava sorrindo. Um sorriso grande, mostrando os dentes, muito embora as lágrimas ainda estivessem caindo pelo seu rosto. Ela nunca pareceu tão bonita. Quinn sentiu um aperto no peito, e um gosto salgado em seus lábios. Ela os tocou com as pontas dos dedos, e percebeu que estava chorando, também.

— Eu estou apaixonada por ela — Quinn disse, num suspiro.

Ela esperou o choque no rosto de Santana; esperou um “Que porra, Quinn!”, ou vários xingamentos em espanhol. Ela esperou um discurso de sua melhor amiga dizendo que ela era louca por se apaixonar por alguém que ela nunca tinha conhecido pessoalmente, ou que ela estava finalmente perdendo a cabeça depois de ficar tanto tempo sem estar com outra pessoa, ou perguntando se ela tinha batido a cabeça em algum canto, e estava com alguma concussão.

O que Quinn não esperava era que Santana fosse colocar a mão em seu ombro, e lhe lançar um olhar compreensivo antes de dizer:

— Eu sei.

— Você sabe? — Quinn arregalou os olhos, chocada.

— Há muito tempo — Santana revirou os olhos, e riu da expressão no rosto de Quinn. — É bem óbvio, Q. Você é louca por essa garota desde sempre. E eu meio que achei que fosse idiotice, que isso não poderia acabar bem de jeito nenhum, mas…

Santana apertou a carta em suas mãos com força.

— Ela se importa com você. Ela se importa muito com você. E como uma pessoa que sabe o que é sofrer por amor, eu te digo: conte a ela. Conte a Rachel que você está apaixonada por ela. Viva isso, Quinn. Viva isso, seja de qual forma for. Amar machuca — ela suspirou —, mas também pode nos curar quando já estamos machucados.

— Como ela está? — perguntou Quinn, indicando a carta com um aceno de cabeça.

— Bem. Ela está bem — Santana abriu outro largo sorriso. — E quer saber de uma coisa?

— O que?

— Eu também vou ficar.

Quinn retribuiu o sorriso, e se surpreendeu quando Santana a envolveu em outro abraço.

— Quinn — disse Santana, tão baixo que Quinn mal pode escutá-la. — Eu acho que está na hora de irmos pra casa.

Sim, Quinn pensou para si mesma, está na hora de ir pra casa.