Engraçado como os amigos podem ser irritantes e, ao mesmo tempo, divertidos.

Após uma risada nervosa, Darcy tomou a frente e abriu a caixa.

– Vários envelopes - e pegou um na mão. Neste se lia o número "1".

– O que será que eles estão tramando? Parece muito além de "fechar as feridas."

Ele suspirou, resignado.

– Se não tem remédio...

Lizzie tomou a frente e o abriu. Como sempre, mais uma instrução em seu interior:

"Não importa a ordem cronológica exata ou até mesmo o roteiro. O que vocês devem fazer é reencenar cada lembrança que está dentro dos pacotes, pois poderão entender a mente de cada um naquele momento. "

– Eu deveria imaginar! Uma irmã atriz, outra modelo, melhor amiga artista...

Lizzie despejou todo o conteúdo do envelope no chão (de forma cautelosa) e tomou consciência das fotos. Lizzie, Jane, Lydia, Mary, Kitty e Charlotte sorriam em frente a um grande salão de festas; as cinco (sorridentes), Darcy (sisudo), Caroline (enojada) e Bingley (feliz)... Olhou no verso para ter certeza de que dia se tratava: 29 de Julho de 2002.

– Não me recordo de todos os detalhes, mas creio ter sido o aniversário de uma das primas de Bingley, nossa amiga de escola.

– Exatamente - disse Darcy. - Acabávamos de chegar à cidade.

– Vocês eram tão engraçados! - Lizzie deu uma sonora gargalhada. - Dizem que os ingleses são charmosos, mas era tão estranho ouvi-los falar!

Darcy riu.

– Ainda sou inglês. Continuo a falar engraçado?

Ela sorriu.

– Uma vez inglês, inglês até morrer. - E voltou seus olhos ao retrato, tentando recordar e refazer todos os seus passos na festa...


29 de Julho de 2002, 20:45.


– Char, que maravilha! Adoro as festas deste século - e pôs-se a rir, um traço muito comum e admirado de sua personalidade. - Posso dançar se quiser! E nenhum cavalheiro ousará me oferecer uma valsinha, já que sou a criatura mais insuportável do universo.


Charlotte ria de modo mais contido.

– Lizzie - ralhava Jane em sua doçura. - Pare de se proclamar tão arrogante! Tudo isto é fachada, pois vejo em você a alma mais bondosa que existe.

– Ela deve ter um espelho no rosto - exclamou Charlotte e as três caíram na risada.

As seis - cinco irmãs Bennet e Charlotte - estavam sentadas perto de uma janela, já que o lugar estava extremamente abafado. Kitty e Lydia riam e cochichavam sem parar, ao ponto que Mary só meneava a cabeça, desgostosa de ter de participar de convenção social tão estúpida.

Lizzie, ao ver a aniversariante, Isadora, passar por perto, acenou-lhe:

– Que bom que vieram! - a moça exclamou. - Minha festa não estaria completa sem vocês!

Embora fosse uma balada e a moça na ocasião estivesse fazendo 23 anos, ainda havia um quê de festinha tradicional, com bolos e bexigas.

Todas a abraçaram em rodinha.

– Dora, querida, - começou Jane. - É verdade que alguns primos seus se mudaram para cá?

– Sim, meus adoráveis primos ingleses - e revirou os olhos. - Até parecem saídos de um livro antigo! Charles e Caroline são meu sangue, mas o melhor amigo, Fitzwilliam Darcy, é considerado da mesma forma por nós. Eles estão terminando a faculdade. - E segredou: - Fitzwilliam é tão hipster, me deixa até um pouco incomodada! - Puxou-as pela mão. - Vou apresentar-lhes! Quem sabe a América não os anime...

E pôs-se a rir.

O primeiro tinha estatura média, cabelos muito loiros e olhos bem verdes. Os modos lhe eram doces e o sorriso lhe alcançava os olhos: este era Charles Bingley.

A segunda possuía um ar de desdém, como que afirmando a superioridade inglesa. Seus cabelos eram tão loiros como os do irmão e estava deslumbrante: Caroline Bingley.

O último foi considerado, por algum tempo, o moço mais charmoso da festa. A combinação de altura, olhos e cabelos tão negros, a timidez e seu estilo alternativo logo lhe conferiram destaque... Apenas para ser descartado alguns momentos a seguir: poderia ser muito bonito, mas sua presumida timidez nada mais era que um desdém, um escárnio tão profundo em relação àquela gente que se divertia.

"Que esnobe.", pensou Lizzie.

– Queridos primos, estas são minhas mais queridas amigas: Jane, Lizzie, Mary, Kitty e Lydia, que são irmãs, e Charlotte.

Darcy as cumprimentou com um meneio de cabeça; Caroline deu-lhes efusivos beijinhos no rosto, todos completamente falsos; Charles, de coração bom e tolo, apertou a mão de cada uma delas, expressando atenção especial à mais velha dos Bennet, que era, sem sombra de dúvida, a beleza mais óbvia do salão.

Após as devidas apresentações, separaram-se. Bingley se divertiu à beça e até mesmo dançou com as garotas em uma roda afastada, enquanto os dois seres afetados se mantinham à margem da festa.

Isadora só levantava os ombros e suspirava. Gente mal educada!...

Em um dado momento, Darcy se aproximou de Bingley, que conversava com Elizabeth.

– Com licença, Lizzie. - E se virou para o amigo, sem, no entanto, excluí-la. - Darcy, meu bom amigo! Como pode não aproveitar tamanha diversão? Tantas pessoas bonitas e simpáticas! Nova York é mesmo a cidade que nunca dorme. Veja nossa amiga Elizabeth - e deu-lhe uma piscadela. - Não é, de fato, uma moça extremamente adorável?

Elizabeth sorriu agradecida.

– Sabe muito bem que odeio dançar com estranhos. Além disso, esta moça não é bela o suficiente para me tentar; volte suas atenções para a beldade mais velha e deixe-me em paz.

E saiu. O constrangimento de Bingley era palpável. Lizzie o dispensou da responsabilidade com um cumprimento caloroso, mas em seu íntimo fervia sensação nova: um desprezo tão grande por tamanho egoísmo e arrogância que quase a pôs doente. Rogou para que nascesse uma verruga no nariz daquele inglesinho.

Contou, com bom humor, o episódio às meninas. Estas riam, mas sua indignação contra ele era palpável. A única que quase não parava no grupo era Jane, já que Bingley expressara por ela um interesse especial.

A festa terminou e cada um seguiu seu caminho, mas novos sentimentos floresciam em cada um daqueles corações."

Após o flashback, Darcy estava chocado.

– Não me recordava de tamanha impertinência. Como pude ser tão rude? Não me admira que você me odiasse.

Ela lhe sorriu, penalizada.

– Confesso que essa ofensa intensificou a repulsa por você, mas meu ódio era fundamentado em razões bem mais profundas. - Ao ver Darcy corar, acrescentou, apaziguadora: - matéria para os próximos envelopes.

– Hora de abrir o número 2!