O táxi parou em frente ao "Darcy & Associados - Escritório de Advocacia" e Elizabeth Bennet desceu.

Não pôde evitar que um riso incrédulo escapasse de sua garganta. Tinha 30 anos, mas seu estômago revirava como se estivesse cheio de borboletas.

Borboletas no estômago! Que coisa mais juvenil!

Uma garoa fina caía sobre Londres. A moça apressou-se a entrar, pois sabia que aquelas pequenas gotas geladas poderiam lhe trazer um resfriado indesejado.

Ao entrar no escritório, Lizzie não podia acreditar em quem havia encontrado.

Caroline Bingley!

Bom, pensando melhor, não era tão surpreendente assim, já que a moça Bingley nutria uma fervorosa paixão por Fitzwilliam. Ainda assim, Elizabeth não conseguiu reprimir uma onda de sentimentos conflitantes.

A moça logo a viu e veio conversar:

- Olá, Elizabeth. - Pela primeira vez na vida, Caroline parecia tratá-la com respeito.

- O-olá, Caroline. - Respondeu Lizzie. Estranhava muito este novo comportamento da outra, mas nada disse.

- Não entrarei em rodeios com você: foi extremamente rude com Fitzwilliam. Em alguns momentos teve razão, mas em outros... - A moça balançou a cabeça. - Outras pessoas dariam tudo para estar em seu lugar.

- Eu presumo que você seja uma delas.

Caroline não se chateou nem um pouco com a atitude de Elizabeth. Suspirou, abaixou os olhos por um momento e, levantando-os novamente, respondeu:

- Por muito tempo, mas não mais.

Nada o que Caroline dissesse a surpreenderia mais do que isso. A irmã de Bingley havia desistido de Darcy?

- Também preciso me desculpar com você, Elizabeth.

Antes que a outra terminasse de falar, porém, Fitzwilliam apareceu no recinto.

- Caroline, você esqueceu sua bolsa no escritório e... - Estacou ao ver Elizabeth, mas seu rosto não esboçou sequer uma reação.

Aquilo deixou Elizabeth amedrontada.

- Obrigada, Will. - Agradeceu e apertou as mãos do rapaz. - Deixarei que conversem. - Antes de sair, aproximou-se novamente de Elizabeth e sussurrou: - Desculpe-me pelo que fiz a Jane, Lizzie. Repararei meu erro assim que possível.

Agora Elizabeth estava estupefata. Por que tamanha mudança de atitude?

- Caroline se apaixonou por outro rapaz. - Comentou Darcy ao ler a surpresa em seus olhos. - Mas acho que seu jeito mesquinho acabou por afastá-lo.

Lizzie sabia que não devia a Caroline nenhum sentimento, porém não pôde deixar de torcer para que esta fosse feliz.

- Darcy, podemos conversar?

- Claro. - O tom era duro e frio.

Elizabeth novamente se arrepiou e o seguiu sem dizer uma palavra.

Ele abriu a porta de sua sala e deixou que ela entrasse.

- Quer beber alguma coisa?

- Não, obrigada. - Esperou que ele se sentasse. - Darcy, você está envolvido com a maluquice mais recente de Lydia?

Fitzwilliam a encarou longamente.

- Sim.

- Por quê? Você não tinha o direito. A carreira dela está em jogo e, além do mais, não sou uma donzela do século XIV. Eu não preciso ser salva.

- Nem Lydia o precisava ou precisa, Elizabeth. Seu sacrifício foi imenso, mas havia outros meios de poupá-la. Não precisava ter feito tudo sozinha.

A moça estava chocada.

- C-como pode dizer algo assim?

Darcy respirou fundo.

- Como você mesma disse, estamos em pleno século XXI. Apesar de alguns escândalos serem difíceis de reverter, este certamente não é um deles.

- Está dizendo que me casei com Wickham por que quis? Meu esforço foi em vão?

- Por Deus, Elizabeth, não! - A plácida camada de distanciamento começava a derreter. - Estou fazendo somente uma observação. Decidi tomar uma atitude porque Wickham também é minha responsabilidade.

- Não, Darcy, não. Depois de tudo o que ele fez à sua família...

- Sei que tentou nos proteger quando não dividiu o problema, Elizabeth, mas não precisava ter feito isso. Além disso, meu envolvimento foi mínimo: procurei Lydia, forneci consultoria sobre o caso e lhe indiquei um advogado excelente para levá-lo à Corte. Todo o resto foi decisão de sua irmã.

Aquilo deixava Elizabeth ainda mais orgulhosa.

- Eu realmente torço para que paremos de salvar os outros. - E se levantou.

Lizzie sabia que ele dava o assunto por encerrado e que queria que fosse embora, mas não poderia recuar agora.

- Não é tão simples assim, Darcy. Ainda tenho mais salvamentos a fazer.

Fitzwilliam caminhou até a porta, certamente fingindo que não a ouvira.

- Vim para nos salvar.

Ele se voltou como se um raio o tivesse atingido.

- Como?

- Não sei o que pensará de mim neste momento, mas tudo está desmoronando, sinto que a oportunidade é esta. Eu o amo, Fitzwilliam, e venho salvar seu coração.

O semblante do rapaz estava perturbado.

- É somente sua gratidão, Elizabeth. Não poderia amar alguém que tanto desprezou durante a vida.

Lizzie levantou-se e aproximou seu rosto do dele.

- E quem disse que eu o desprezei em todos esses anos? Dei-me conta de minha paixão por você quando visitei Pemberley. Mesmo que tenha me casado com Wickham, aqueles sentimentos jamais se foram (embora eu tenha tentado reprimi-los a todo custo). - A moça pegou em suas mãos. - E tenho de pedir desculpas por todas as mentiras que disse, em especial a última.

O rapaz retirou as mãos, mas não se afastou.

- Eu ainda a amo, Elizabeth, isto é fato. - A expressão dele era de completa desorientação. - Mas não posso simplesmente passar pelo que me disse.

Ela novamente pegou em suas mãos e dessa vez Darcy não as soltou.

- Não vim pedir que namore ou case comigo, Fitzwilliam, nem que ainda me ame. Vim pedir uma chance de redenção, uma oportunidade de recomeçar. - Apertou-lhe as mãos. - Fitzwilliam Darcy, quer recomeçar?

Trêmulo, ele assentiu. Elizabeth beijou-lhe uma das bochechas.

- Amanhã sairemos para assistir a um filme. Não se atrase. - E saiu, um sorriso maravilhoso nos lábios.

Darcy fechou a porta e encostou a cabeça no quadro que havia atrás desta. Felicidade e temor se mesclavam em um sorriso incrédulo.

Olhou bem para a pintura e riu. Gravar e colorir os traços de Elizabeth certamente lhe trouxera sorte.