Cartas Do Passado

Primo Collins, George Wickham


"17 de Setembro de 2002.

– Querida, espero um visitante para o jantar desta noite.

– Quem é? Quem é? Um magnata da alta sociedade? Um novo rico europeu? - Os olhos da dama brilhavam. - Ah, se ele se interessar por uma das meninas...

O Sr. Bennet riu.

– Acalme-se, mulher! Recebi uma carta de meu sobrinho, William Collins.

– Não acredito que aquele playboyzinho metido a besta terá a coragem de pisar em nossa casa!

O marido revirou os olhos.

– É o herdeiro de todo o patrimônio comercial, já que as meninas não se interessam pelos negócios. Precisamos recebê-lo, é da família (embora seja um tanto demagogo demais para o meu gosto). Fique relaxada, meu bem, os imóveis e bens serão divididos igualmente entre as pequenas e você.

A Sra. Bennet bufou, mas acabou concordando em receber o sobrinho.

No horário combinado:

– William Collins a seu dispor, madame - e beijou as mãos da Sra. Bennet. - Devo acrescentar que suas filhas são todas belíssimas.

A mulher amoleceu um pouco diante do elogio:

– Espero que todos sempre as vejam como o senhor vê e que este seja o modo certo de os eventos se sucederem.

O homem, acostumado a Bolsas de Valores e negociações, percebeu logo a que aludia a senhora:

– Sra. Bennet, a herança dos meios de comércio de seu marido só foi concedida por livre e espontânea vontade do dono e pelas circunstâncias. Se depender de mim, todas as suas filhas serão muito bem amparadas em qualquer situação, embora acredite que nenhuma delas vá precisar. - E segredando-lhe ao pé do ouvido: - Quem sabe não me encante especialmente por uma delas? São todas tão bonitas. - E seu olhar se demorou um pouco mais em Jane, que, apesar do resfriado, continuava deslumbrante.

– Prossigamos com o jantar, sobrinho - chamou o Sr. Bennet.

Tudo foi minimamente elogiado e louvado pelo parente. Os demais ficaram no mais absorto silêncio ou responderam com alguns monossílabos.

Após o jantar, o tio resolveu tocar em assunto que sabia aprazível ao sobrinho: sua incentivadora e protetora nos negócios, "Lady" Catherine, um título derivado de suas origens inglesas. William Collins certamente apreciou o assunto, pois discorreu sobre a dama e suas virtudes durante quase uma hora. Morava próximo a ela na Califórnia, o que lhe conferia status e muita pompa.

– Possui uma filha talentosíssima e intelectual cheia de espírito, Anne. Várias vezes demonstrei meu total respeito e admiração pela moça, o que deixou Lady Catherine extremamente satisfeita. Quando se trata de elogios, não economizo palavras ou gestos para executá-los.

– Que talento excepcional, sobrinho! Diga-me: esses elogios são fruto do improviso ou há uma formulação prévia?

– A maioria decorre do improviso e, embora eu goste muito de formular tais gentilezas, prefiro conferir sensação de espontaneidade.

Elizabeth e seu pai, que possuíam mentes parecidas, não paravam de trocar olhares sarcásticos acerca do visitante.

Como o irmão de Collins, Nicholas, fosse artista plástico e também protegido de Lady Catherine, esta havia instruído o irmão mais velho que procurasse um assessor em mercado artístico para promover a carreira do caçula.

Jane trabalhava com moda e artes, não haveria melhor alternativa às necessidades do irmão. Todavia, ao mencionar o assunto com a mãe da moça, soube que um "arranjo" estava prestes a acontecer, muito embora isto não fosse verdade. Transferiu seu olhar para Elizabeth, que tencionava ser artista plástica e negociadora de arte. Não era sua primeira opção, mas servia bem à vaga.

No dia seguinte, foi convidado pelas moças (na verdade, foram forçadas a aceitar a presença do homem no passeio) a acompanhá-las ao Central Park. Os universitários já haviam chegado à cidade e Lydia e Kitty estavam pegando fogo.

As meninas logo encontraram um conhecido naquela massa de adolescentes: Denny, que vinha acompanhado de um grande amigo. Este causou grande sensação entre as moças do grupo.

– Apresento George Wickham, grande amigo e um de nossos melhores atletas.

– A seu dispor, madames - e beijou as mãos de Lydia.

O grupo sentou-se à grama e passou a conversar, pois o rapaz era completamente desinibido.

Em algum momento, Jane e Elizabeth perceberam que dois senhores se aproximavam: Charles Bingley e Fitzwilliam Darcy.

Uma descarga de raiva surgiu no sangue de Elizabeth, mas esta resolveu ignorar. Já a descarga causada no corpo de Jane se refere a sentimentos mais profundos.

– Passamos em sua casa e sua mãe nos informou de que estariam no Central Park. Depois de convivermos algum tempo juntos, é um prazer revê-la recuperada, Jane - e deu-lhe um beijo no rosto.

Darcy evitava olhar Elizabeth de propósito, já que havia percebido o perigo de tais sentimentos que nele afloravam, quando a presença de George Wickham chamou-lhe a atenção. Encararam-se por alguns minutos sem que desviassem o olhar. As feições de Darcy se endureceram.

Alguns minutos depois, Charles desculpou-se alegando um compromisso e, alheio a tudo o que se tinha passado entre o restante, partiu com o amigo."