Cartas Do Passado

O sacrifício de Elizabeth (parte 6)


Elizabeth nem sequer pegou o avião para Nova York. Juntou as economias que tinha e viajou para Hollywood.

Precisava salvar a irmã!

Por sorte tinha uma foto de Lydia na carteira e vasculhou todos os lugares possíveis da cidade em busca dela; procurou e informou a polícia e até mesmo abordou muitas pessoas na rua durante uma semana, sem sucesso.

Estava ficando sem esperanças quando recebeu uma ligação da polícia.

– Elizabeth Bennet?

– Sim?

– Encontramos sua irmã. Ela está vivendo com um rapaz na Rua X, número Y.

– Muitíssimo obrigada!

Lizzie tomou um táxi e chegou ao local indicado. Bateu à porta.

– Quem está aí? – Era a voz da irmã.

– Lydia, querida! Abra a porta! Sou eu, Elizabeth!

A moça obedeceu e pulou nos braços da irmã.

– Lizzie, Lizzie! Que bom que está aqui! Tive tanto medo!

As duas choraram por alguns minutos, felicidade e tristeza mesclavam-se.

Lydia a convidou para entrar.

– Por que fez isso? – logo perguntou Elizabeth. – Sabe o quanto ficamos preocupados? Mamãe está doente, Lydia.

– Eu sei. – Abaixou os olhos. – Logo descobri que esta foi a pior ideia que já tive.

Elizabeth respirou aliviada. A irmã tinha recobrado o juízo!

– Fico feliz que saiba disso. Vamos voltar, eu tenho o dinheiro das passagens e...

– Não posso, Lizzie.

Elizabeth arregalou os olhos.

– E por que não?

– Wickham disse conhecer diversos produtores de cinema, Lizzie, o que eu acho que é verdade. Como estava apaixonada, fui cega e achei que ele realmente iria me ajudar a conquistar uma carreira. – Uma lágrima caiu dos olhos da irmã. – Ele me deu um contrato e eu assinei sem ler. – Foi até uma gaveta e apanhou um papel. – Leia.

Elizabeth ficou chocada com o que leu na cópia do contrato. Lydia teria de pagar 10000 dólares anuais a Wickham, além de entregar 80% dos lucros do próprio trabalho.

Lydia já tinha 18 anos, portanto o acordo era legítimo.

– Ele não pode fazer isso, é trabalho escravo! – Exclamou Lizzie, achando que encontrara a solução. – Arrumaremos um advogado e logo este larápio estará na cadeia!

A irmã começou a chorar novamente.

– E minha carreira, Lizzie? Se o fizer, estarei arruinada!

Elizabeth entendia que o sonho da irmã era importante, mas nada era mais vital que a liberdade.

Tentava convencê-la a não fazer mais nenhuma estupidez quando George Wickham chegou ao local.

Um sorriso de profundo desprezo tomou-lhe as faces.

– Ora, ora, se não é minha querida Elizabeth! – E beijou uma das mãos da moça. A outra mão logo o esbofeteou.

– Como se atreve a ser tão mesquinho? Tão cruel? Já não basta o que fez a Darcy e Georgiana, agora quer se vingar de minha irmã?

Ele riu.

– Então eles contaram a triste historinha de nossas vidas! Querida, entenda, eu nasci para ser um homem rico. Se Darcy e Georgiana não quiseram permitir que minha vocação natural se realizasse, encontrarei outros que permitam. – Abraçou Lydia, que chorava de vergonha. – Como a sua irmã. Ninguém a ensinou de que não se pode assinar nada sem ler?

– Seu... idiota! – Elizabeth estava fora de si. – Vou chamar a polícia e um advogado! Em três meses estará na cadeia!

Wickham limitou-se a desdenhar:

– É mesmo? Com tantos casos importantes a serem julgados, Elizabeth, você realmente acha que darão importância à história de uma garota tola? Lydia já tem 18 anos, sabe o que faz.

– Lizzie, eu estou bem – mas a voz tremia muito. – Minha carreira é essencial pra mim, não importa se estarei atrelada a este verme durante toda a vida. Não estrague meu sonho, por favor!

Lydia se arrependeria daquele pedido pelo resto da vida.

– Tenho uma proposta a fazer – disse Elizabeth com voz tranquila e controlada.

– É bom que seja uma ótima oferta. Sou um rapaz exigente.

Elizabeth pensou rápido e se decidiu:

– E é. Case-se comigo e tenha sua vingança de Darcy. Sabe, ele está apaixonado por mim. – Nada se comparava à dor que sentia ao propor algo tão vil, porém seguiu em frente. – Acabei de ser contratada para trabalhar com artes na Itália. Ganharei dez mil euros por mês e mais 5% das vendas. – O rapaz ia refutar, mas Elizabeth acrescentou rapidamente. – É um investimento seguro, Wickham. Lydia pode dar-lhe muito dinheiro a longo prazo, mas pode não deslanchar na carreira.

O olhar traído que a irmã lhe direcionou quase a fez desistir. Porém, manteve-se firme e arrematou:

– Poderá ter as mulheres que quiser em um dos países mais ricos em cultura do planeta. É pegar ou largar.

O rapaz colocou Lydia de lado e aproximou-se de Elizabeth. Estava a centímetros de seu rosto, todavia a moça permaneceu encarando-o.

– Fechado. Vou ligar para meu advogado para prepararmos o contrato.

Lizzie nem sabia como, mas havia convencido Wickham a assinar uma cláusula sobre contratos anteriores e posteriores com um Bennet.

Duas semanas depois, Elizabeth se tornou esposa de George Wickham e sua vida nunca mais teve o mesmo significado. Não se arrependia, porém, já que Lydia teria toda a liberdade assegurada para realizar seu maior sonho.

Em outro lugar do mundo, o coração de um rapaz orgulhoso se partia.