Após a dança, Darcy e Elizabeth decidiram assistir a um filme para dissipar a tensão. Escolheram "Wuthering Heights", mas adormeceram no sofá antes que chegasse à metade.

Lizzie acordou com o cheiro de café da manhã. Darcy deveria estar tomando o seu. A moça ficou com fome e decidiu preparar a refeição para si.

- Bom dia, eu fiz o café!

Elizabeth quase caiu para trás: por não esperar tamanha gentileza e por segurar a risada. O rapaz estava hilário com o avental!

Darcy leu seus pensamentos.

- Pode rir o quanto quiser, este avental é mesmo ridículo - e permitiram-se uma altas gargalhadas.

Sentaram-se após conseguirem parar. Fitzwilliam perguntou:

- Elizabeth, como vai Charlotte?

- Oh, vai muito bem. É uma profissional incrível, mãe de duas meninas e uma esposa muitíssimo amada.

- Mesmo? - o rapaz se surpreendeu. - Não sabia disso. No que ela trabalha?

- Com artes plásticas.

- Oh, sim, tudo entre amigas, certo? - e deu uma piscadela para a moça.

"Ele está flertando comigo?"

- E o marido?

- Também trabalha com artes. É irmão de meu primo Collins, Nicholas.

Darcy revirou os olhos.

- Aquele Collins? Família é tudo, eu sei, mas que primo irritante que vocês arranjaram!

Elizabeth riu.

- Realmente, mas está bem melhor agora, principalmente desde que saiu da proteção de Lady Catherine, se me permite dizer.

- Touché. - Limpou a boca. - Como os dois se conheceram?

- Senhor, esta é uma longa história!

"22 de Setembro de 2002.

Os Bennet estavam reunidos na sala. Jane e sua mãe bordavam, Elizabeth e seu pai liam, Mary tocava piano e Kitty e Lydia cochichavam.

Em seguida, chegou Collins.

- Gostaria de falar com Elizabeth Bennet a sós.

A mãe de Lizzie, que via nisto uma provável proposta de casamento e/ou trabalho, ficou radiante.

- Claro! Todos já para a cozinha, vamos!

- Inclusive eu? - perguntou o marido.

- Inclusive você, meu amor. William deve ter algo muito importante a falar.

- Mamãe, não é necessário...

- Quieta, Lizzie.

Elizabeth estava atônita, pois não conseguia imaginar qual a razão daquilo.

- Sua modéstia e talento só servem para criar uma imagem magnífica, Elizabeth - começou o rapaz assim que todos saíram. - Minha atenção a você tem sido evidente demais para que não notasse. Deve imaginar o significado de todo este pedido.

O ar faltou a Elizabeth. "Pedido? É pior do que eu imaginava!"

- Estou a procura de... - fez uma pausa. - Uma pessoa especialista em artes para trabalhar com meu irmão mais novo, Nicholas, sob recomendação de Lady Catherine.

A moça quase sorriu de alívio.

- É um jovem talentoso e de modos pouco extravagantes, não será difícil conviver com ele. Além disso, a remuneração é generosa. Fico muito feliz em saber que aceitará e...

- Espere um minuto! Como assim "aceitarei"? Collins, ainda não respondi. Se é um pedido, tem de saber se eu gostaria ou não de fazer parte disso, não supor um monte de coisas!

- Pare com a falsa modéstia, prima. Sei que não recusará esta magnífica oportunidade.

- Quanto absurdo! - A moça passou as mãos pelo rosto. - Sabe o quanto está errado? Minha resposta é e sempre será não. Quero trilhar caminhos mais ousados que este que me oferece. Lady Catherine, inclusive, me acharia totalmente incapacitada para o cargo.

- Se minha protetora o fizesse, eu saberia, Elizabeth. Fique tranquila quanto a este quesito.

E voltou a mimar a prima com palavras de admiração e respeito.

- Não adianta me elogiar, primo. Agradeço a oportunidade e desejo sucesso com quem a aceitar, mas minha resposta continua a ser um irredutível não.

E a moça foi para seu quarto.

- Elizabeth! - Gritava a mãe, desconsolada. - Collins, querido - virou-se para o rapaz. - Não se preocupe. Conversaremos e Lizzie entenderá a situação, fique sossegado.

- Com tamanho orgulho, acredito que a prima não seja mesmo a melhor opção para o cargo.

- Lizzie não é orgulhosa, não, não - teimava a mãe. - É só um pequeno mal-entendido. Querido, querido - gritou pelo marido. - Venha comigo!

Chegaram ao quarto da moça.

- Minha querida, - começou o pai - recusou a proposta de Collins?

- Sim.

- Sua mãe está furiosa.

- Estou mesmo! Se esta descarada não voltar atrás, nunca mais falarei com ela!

O Sr. Bennet suspirou.

- Eliza, está em uma situação delicada. Se não aceitar a proposta, perderá o contato com sua mãe. Se aceitar, eu jamais falarei com você novamente.

A fala surpreendeu ambas.

- Obrigada, papai. - A moça pegou seu casaco e saiu, deixando o casal a sós para uma das maiores brigas de suas vidas.

Collins repensou muito no ocorrido. Tinha-se em alta conta e não conseguia entender o porquê da recusa. Após algum tempo, porém, parou de pensar naquilo. Estava sempre certo de si e tinha convicção de que Elizabeth não era mesmo a melhor pessoa para aquela posição.

25 de Setembro de 2002.

- Lizzie, Lizzie! - Charlotte mal conseguia esconder a ansiedade. - Não vai acreditar no que aconteceu!

- Conte logo, Char!

- Collins me ofereceu um emprego! E eu aceitei!

O sorriso de Elizabeth esmoreceu.

- O quê? - A decepção estampada no olhar.

- Lizzie, não me olhe assim. Só porque o emprego não era bom o suficiente para você? Isto não quer dizer que não seja para os outros. Pare de ser arrogante!

A moça caiu em si.

- Desculpe. É que você é tão talentosa, poderia ter conseguido algo melhor!

- Não vou ficar escolhendo trabalho, Lizzie. Esta pode ser uma oportunidade única para mim!

Elizabeth entendeu e a apoiou, embora a contragosto."

- Char e Nicholas começaram a trabalhar juntos a partir de então. Conversa vai, conversa vem, veja o que aconteceu.

Darcy ficou muito contente.

- Minha tia finalmente fez algo para o bem! - e ambos caíram na risada.