Cartas Anônimas

Capítulo 58 - Ele é o personagem principal dos meus sonhos


– Gente, não é por nada não, mas já são três horas da manhã. – Todos nós estávamos na sala de TV assistindo a um filme que deu muito trabalho para escolher.

– E daí? – Mateus ergueu uma sobrancelha.

– E que são três horas da manhã.

– Karina Duarte, você está nos expulsando? É isso?

– Claro que não Vicky.

– Que bom, porque nós vamos dormir aqui – Ela se jogou em cima de mim fazendo com que nós deitássemos no carpete.

– Nossa, eu não me lembro de ter convidado ninguém para dormir aqui.

– Su casa mi casa.

– Cara, desde pequena que você diz isso errado.

– Não posso fazer nada se essa frase se tornou popular estando errada – Vicky se ajeitou em cima de mim e espalhou beijos por toda minha bochecha fazendo com que eu sorrisse.

– Ai sua loca.

– Relaxa Kazinha, eu ainda não matei toda a saudade que eu tenho de você – Ela continuou a me beijar e eu estapeei sua bunda.

– I cara, sexo lésbico – Mateus disse fazendo com que todos rissem.

– Cara, fui trocado por uma mulher.

– Ah João, sabe como é né, eu sou irresistível.

– Quê competir comigo baranga? – Ele disse com uma voz afetada me fazendo rir.

– Caraca, to me sentindo a ultima bolacha do pacote, estou sendo disputada nessa bagaça.

– Você vale a pena latina, a final, você é um pedaço de mau caminho – João mordeu o lábio.

– Iiii pode ir parando com a putaria na minha casa.

– Você que começou.

– Que saudade – Vicky finalmente parou de me beijar e encostou sua bochecha na minha.

– De ficar deitada em cima de mim?

– Não sua boba – Riu fracamente – De nos reunirmos como anos atrás.

– Eu também estava com saudades, eu lembrava de vocês todos os dias.

– OWT que cena linda – Disse Bianca – Ai cara, MONTINHOO

Bianca se jogou em cima de Vicky que gritou, logo atrás estava Mateus e depois João. Começamos a gargalhar.

– Vem Pedro…

– Vem Pedro porra nenhuma, eu não quero essa bicha em cima de mim não, vai que um certo amiguinho dá sinal de vida – Pedro gargalhou alto.

– Fica tranquilo João, meu lance é o Mateus.

– Ai amor, eu também te amo – Mateus afetou a voz e gargalhamos.

– É meninas, perdi meu marido… E logo pra um homem.

– As coisas estão difíceis amigas, muito difíceis.

– Então né bonecas, tipo assim, eu ainda acho que sou muito jovem para morrer, que tal vocês saírem de cima de mim para eu poder respirar? – Eles gargalharam e voltaram-se a sentar. Ficamos jogando conversa fora e nem ligamos para o filme, até Pedro havia começado a falar e de vez em quando trocávamos olhares que eram muito bem desviados por ele.

– Ka, será que podemos dormir? A bela adormecida já tá caindo aqui – Bianca apontou para João que estava dormindo todo torto em cima de um puff e com baba escorrendo pelo queixo. Não aguentei e comecei a rir enquanto Bianca me sufocava com uma almofada – Sua má, não ri do meu bebê.

– Ok, ok, vamos mesmo dormir todos estão mais pra lá do que pra cá.

Levantamos-nos e ajudamos os outros, subimos para os segundo andar e paramos no corredor.

– Onde vamos dormir?

– Se virem, eu vou para o meu quarto – Caminhei até uma das portas e a abri – Ahh, logo avisando, não quero que meu sono seja interrompido por nenhum gemido entenderam?

– Querida, na situação que o João se encontra, você só ouviria um gemido se eu estivesse me satisfazendo sozinha.

– Sua porca – A olhei incrédula.

– Vem dizer que você não faz essas coisas?

– Não te interessa… Fui.

Entrei no meu quarto e encostei a porta, fui até o banheiro e escovei os dentes. O quarto estava à meia luz e o ar já estava ligado proporcionando um clima frio. Entrei de baixo das grossas cobertas e descansei minha cabeça em meu fofo travesseiro. Preferi deixar as janelas visíveis assim eu olharia para a incrível lua que iluminava todo céu e que estava logo a minha frente… Sorri. Tudo estava tão perfeito, ou quase perfeito. O fato de Pedro estar em minha casa não me incomodou em nada, na verdade eu adorei e não sei como consegui conter um sorriso. Sei que ele praticamente me humilhou á algumas horas atrás, mas ele não deixa de ter razão sobre tudo, eu mesma venho me xingando durante todo esse tempo. Respirei fundo e fechei os olhos, mas logo os abri ao senti alguém levantando a coberta e fazendo o cochão mover suavemente. Rapidamente me virei e fitei Pedro.

– AH, seu louco O que você faz aqui? – Perguntei um pouco assustada.

– Não gostei muito da cama daquele quarto não, a sua é mais confortável – Ele colocou os braços atrás da cabeça.

– Saia daqui agora!

– Nossa Karina, deixa de ser egoísta, essa cama é grande o bastante para caber dois corpos.

– Qual o seu problema hein? – Senti meus olhos arderem.

– Olha, até onde sei todos meus exames constaram que eu sou saudável como um cavalo.

– Sai daqui Pedro – abaixei o tom de voz derrotada.

– Nã, aqui tá perfeito.

– Tudo bem, eu saio – Me virei para o outro lado, mas assim que ia tirar o cobertor de cima de mim senti Pedro puxando meu braço, logo depois senti seu peito nu colocado em minhas costas e seus braços contornando minha cintura, sua respiração bateu contra minha orelha e eu fechei os olhos.

– Não vá – Pediu suplicante.

– Você não me tratará como uma vadia novamente.

– Eu sinto muito por aquilo, eu estava fora de mim, eu me senti fraco por estar em seus braços novamente, eu me senti um idiota por saber que ainda amo você – Senti meu corpo estremecer

– Vo… Você ainda… Me…

– Te amo? Sim, como há cinco anos atrás, talvez até mais por conta dessa distância toda. Eu juro que tentei te esquecer, juro que todos os dias me lembrava do que você fez, mas eu nunca consegui, nunca consegui criar um motivo concreto para deixar de te amar.

– Você é doido. Primeiro me dá patada, ai me agarra, ai me dá patadas de novo e agora está aqui.

– Isso me lembra o nosso começo e sabe, eu nunca vi uma história acabar sem fim.

– Mais ela teve um fim – suspirei. Ainda estávamos naquela posição, Pedro atrás e eu na frente. Cara isso soou estranho, mas vamos lá. Sua respiração batia contra meu pescoço e meus pelos se arrepiavam por inteiro, suas mãos estavam sobre minha barriga desnuda e as minhas estavam entrelaçadas sobre as dele – Quando eu o reneguei na frente de todos.

– Jura que teve? Que eu saiba uma história só acaba quando ambos dão o termino daquilo que viviam e nós não fizemos isso.

– O que você quer dizer?

– Nada, eu apenas disse um fato. Karina, vou confessar que ainda estou muito magoado, sei que cinco anos se passou e o escambau, mas aquela situação não foi nada fácil para mim, nunca pensei que você faria aquilo e eu não queria te ver mais, eu queria que tudo aquilo passasse, mas não passou.

– Eu sinto muito,de verdade, espero que um dia você me perdoe – Uma lágrima solitária escorreu por meu rosto.

– Já perdoei Ka, pode ter certeza, se eu não estivesse perdoado, eu não estaria aqui.

– Pê, você tem certeza que tudo que estava me dizendo não é enganação? Por que se for…

– Hey – Ele me virou de frente para ele e nossos olhos entraram em contato, novamente envolveu seus braços em minha cintura e aproximou nossos corpos – Claro que não é enganação Ka, você não sabe quantas vezes eu pensei antes de vim aqui, mas eu já tive cinco anos para me lastimar, cinco anos longe de você e eu sinceramente não queria perder mais tempo.

– Sempre sincero…

– Isso é meu maior defeito.

– Longe disso, sua sinceridade é tão perfeita que chega ser até mais linda que sua beleza exterior e olha que ela é grande. Você pode não saber, mas a sinceridade era uma das coisas que eu mais gostava e ainda gosto em você, ela sempre concertou tudo, pode parecer que não, mas sim, ela sempre concertou tudo.

– Eu…

– Shiu. Pra que palavras quando o momento fala por si só?

Nos olhamos e sorrimos e eu me senti como a cinco anos atrás, quando ficávamos deitados em sua cama de bobeira conversando sobre coisas sem sentindo e rindo em cumplicidade. Pedro passou seu nariz por minha bochecha e eu fechei os olhos, senti seus lábios no canto da minha boca e suspirei em quando acariciava sua nuca. Ele passou seu nariz pelo meu e mordeu minha bochecha lentamente, senti a eletricidade de seus lábios quase encostando-se aos meus e ele finalmente acabou com a distância. Nosso beijo estava extremamente calmo, nossas línguas se acariciavam deliciosamente e nossos narizes vez ou outra se roçavam. Fomos dormir quando o sol já estava nascendo, não fizemos nada mais além de nos beijar e sentir aquelas maravilhosas sensações. Dormi entre seus braços e me senti extremante segura e feliz e nem preciso dizer que o personagem principal dos meus sonhos tinha sido ele, não é?