Cartas Anônimas

Capítulo 22 - O que você sente pelo anonymous?


Eu e o Pê já havíamos passado na sorveteria, ela ficava de frente para uma pracinha e assim que saímos de lá nos encaminhamos para á praça, sentamos em baixo de uma árvore que fazia uma grande sombra e começamos á conversar.

– Então é só você e sua mãe? – Pedro perguntou.

– É, mas não nos damos muito bem,ou eu não me dou muito bem com ela.

– Por quê?

– Ela não é o tipo de mãe que eu gostaria de ter – dei de ombros.

– Karina, não fale dessa forma.

– Mais é a verdade – Dei uma colherada em meu sorvete.

– Olhe pra mim – Fiz o que ele pediu.

– Você me disse que sua mãe cuida de você sozinha desde que você tinha 4 anos não é?

– Aham.

– Então Karina, pense, pense como é difícil para uma mãe criar a filha sozinha, pense como é difícil educa-la, ensinar para ela como ser uma pessoa de bem, trabalhar todos os dias interminavelmente deixando á filha sozinha e com medo de que acontecesse algo á ela, trabalhando exaustivamente para dar o melhor para á filha.

– Eu sei, mas ela não é o tipo de mãe que eu esperava que ela fosse.

– E por acaso ela já te obrigou a fazer algo que não queria?

– Não.

– Ela já te proibiu de algo?

– Não.

– Serio Karina, eu não entendo, pelo que você me contou sua mãe é enfermeira, você mal a ver, pois ela muitas vezes fica de plantão e sai sempre cedo, ela te dar tudo que você pede e muito mais, ela não briga com você e não te proíbe de nada, serio mesmo, o que você quer? – Eu fiquei cala – Você ao menos já disse á ela um obrigada por tudo que ela já fez?

– Aii Pedro você não entende – Na verdade as palavras dele mexerem muito comigo, mas como eu era uma cabeça dura eu não aceitava nada daquilo.

– Karina pare e observe sua mãe, observe como ela deve chegar cansada, mas mesmo assim sempre deixa algo pronto pra você comer, como ela limpa á casa para você não fazer isso e se “cansada” – Fez aspas no ar – Como ela lava e guarda suas roupas direitinho, como ela deixa o dinheiro que você precisa e até mesmo muito mais, só repara nessas pequenas coisas e aposto que seu conceito sobre tudo irá mudar.

– Ok - revirei os olhos – Agora vamos falar sobre outras coisas.

– Vamos né – bufou – Então esse lance de admirador secreto é serio?

– É, eu achei que era apenas brincadeira, mas é serio, e nem pense em abrir á boca pra ninguém ouviu bem? Apenas meus amigos sabem disso.

– Ok – levantou os braços em forma de defensa – Por que você não quer que saibam?

– Por que se souberem vão zoar e meu anonymous pode deixar de me mandar as cartas.

– Seu anonymous?! – Ergueu uma sobrancelha.

– É assim que eu o chamo – sorri – Sinto que ele é só meu sabe, eu nunca soube de ninguém que recebeu tantas cartas assim durante tanto tempo, ainda mais com coisas tão lindas escritas nelas.

– Ka – ele sentou-se de frente para mim – O que você sente por esse… Anonymous?

– Hãn? Como assim?

– Você tem algum sentimento por ele? Você fala com uma ternura tão grande.

– Ahh eu não sei sabe, eu não sei lidar com isso e eu não faço á mínima ideia de quem ele seja, eu me apaixonei por suas palavras, cada coisa que ele diz em cada carta sobre mim expressa á forma de como ele se sente ao meu respeito, ele me conhece mais do que eu mesma, isso me assusta um pouco, mas eu gosto disso, gosto muito. Desde que eu comecei á receber as cartas dele meus dias tem sido diferentes.

– Então você está apaixonada por ele? – Arregalei meus olhos.

– Eu… Não, eu não, nunca me apaixonei por ninguém.

– Nunca? – Neguei – Pois acho que você acabou de se apaixonar.

– Eu não…

– Tudo bem Ka, eu aceito, eu sei que seu coração tem espaço para dois e as coisas ultimamente tem sido tão modernas né? – Eu gargalhei – É serio cara – Ele também riu.

– Você é um palhaço.

– Mais um ponto pra mim?

– Mais um, amo gente bem humorada.

– Humm, acho que me conformo com o fato de você está apaixonada por esse anonymous ai.

– Serio? – Sentei em seu colo com uma perna de cada lado do seu corpo.

– Uhum.

– E se eu realmente estiver? Você não tem medo?

– Não, eu estou aqui na sua frente, com você sentada em meu colo e prestes a me beijar, enquanto ele deve estar lá preparando mais uma de suas cartas românticas, quem está na vantagem? – Gargalhei.

– Você.

– Bingo… Você não me ouviu dizer que você está prestes á me beijar? – Revirei os olhos e colei meus lábios aos seus. Para constatar, nós já havíamos acabado o sorvete. Pedro deslizou sua língua gelada para dentro de mim boca e logo mergulhamos em um beijo delicioso e gelado. Beija-lo era sempre muito bom, e descobri que beija-lo gelado era deliciosamente gostoso.

– Motel existe pra essas coisas! – Ouvi uma voz e parti o beijo, olhei para trás e vi uma mulher morena fazendo caminhada.

– Você diz isso porque queria estar no meu lugar agora! – Disparei, á mulher me olhou incrédula e continuou a caminhar.

– Karina! – Pedro gargalhou.

– Falei á verdade.

– Você não tem jeito – balançou a cabeça negativamente – Vamos sair hoje á noite?

– Pra onde?

– Parque de diversões.

– Hãn?

– É legal.

– Pedro eu não sei, parques são cheios de gente, pode ter alguém conhecido…

– É na cidade ao lado, e estamos no meio da semana ninguém vai estar lá.

– Tudo bem.

– Sabe eu deveria me sentir bem ofendido por você não querer que nos vejam juntos, mas eu vou esperar seu tempo.

– Eu sinto muito por isso, mas ele logo virá te prometo.

– Tudo bem, só de beijar sua boca eu já me dou por satisfeito.

Ele encostou seus lábios nos meus e eu sorri.