Cartas

Parte II; Quarto Capítulo: Um envelope inesperado


O inicio da primavera havia ocorrido e a mudança de estação trazia as épocas dos testes e da disputa pela melhor nota na faculdade, em cada curso. Para o rapaz de cabelo mais escuro, não seria diferente. Andado com dois livros, emprestados da biblioteca, entre os braços e mais alguns na mochila, o rapaz perambulava pela campus em busca de encontrar algum amigo seu a vagar por ali, coisa que acabara por não ocorrer. Aproveitando o restante do tempo que ainda tinha, sentava-se sobre um banco vago e abria a mochila, retirando um livro de inglês e o abrindo na página onde seria a aula daquele dia, mas então ficou surpreso quando um envelope escorreu de entre as páginas e pousou sobre as botinas que calçava.

Em uma reação automática, Hajime olhava para os lados e logo acabava por capturar o envelope entre os dedos. Curioso, rompia o pequeno lacre e puxava o papel amarelado de dentro, ficando surpreso ao reconhecer a letra.

"— Quero te dar uma coisa. - Ele pausava. - Na verdade, três coisas."

Os olhos azuis passavam sobre as frases e seu coração parecia pular a cada letra. Não poderia ter sido dele, as palavras não pareciam combinar com o estilo largado e relaxado dele... Não poderia ser.

Mas se bem que fazia algum sentido, principalmente pela frase inicial.

Posso começar dizendo qual é a palavra mais bonita para mim? Antigamente pensei que a palavra mais bonita fosse amor ou amizade e que nada mudaria isso... E então, procurando as palavras certas e o modo de escrever uma carta, para você, pensei que confiança seria a palavra que mais representa a beleza em um único gesto. Confiança é a mais bonita porque, de todos os anos que passamos juntos, a nossa confiança mutua não fora criada pelos anos e sim pela confiança que geramos logo nos primeiros meses. Em meio ao caos da minha família, você me aceitou em seu mundo.

Dobrando a carta ao meio e a colocando dentro do envelope, Hajime guardava suas coisas e saia em busca daquele que lhe escreveu aquelas palavras.

Não havia terminado de ler, mas queria olhar para ele.

Sem saber o motivo, apenas queria olhar para ele naquele momento.