Cartas

Parte I; Primeiro Capítulo: Não sendo tão bom em palavras


Era um dia bonito antes do inicio da primavera. Era um dia tão bonito que o rapaz de cabelos castanhos se sentou em sua mesa de estudos, pegando uma folha de carta e uma caneta azul. Seus olhos verdes se focavam nas linhas que nada tinha escrito e pensava no turbilhão de palavras que invadia sua mente, as coisas que queria dizer e as palavras bonitas que queria usar para aquela carta.

Queria dizer de uma forma clara, mas com as palavras bonitas. Queria usar e abusar das letras, queria a perfeição naquele momento.

E embora que todo mundo soubesse que pouco se importava com a perfeição e com qualquer outro gesto delicado, aquele era um momento raro e senão fosse o único.

Uma vez seus lábios pronunciaram palavras diferentes do que sempre ouvimos, você disse para todo mundo que as coisas aconteciam porque tinham um motivo maior e que todo gesto tinha alguma razão, seja da natureza ou humana, todo o gesto fora causado por um anterior e que nada era por acaso. E quer saber? Tinha a total razão.

Nada era por acaso. Nada é por acaso, Hajime.

E eu sei disso por experiência própria, sei disso por minha causa, por sua causa e por nossa causa. Nada é por acaso e tudo o que passamos nos levou a esse momento agora.

Ele pausava os escritos e olhava. Estava bom, mas as palavras não pareciam tão bonitas daquele modo e não saberia qual usar no local, pois Hajime era muito melhor em letras do que ele. Os olhos verdes se voltavam para a janela ao lado da mesa e pousavam sobre a cerejeira do quintal, olhando alguns pássaros que brincavam sobre os galhos, sorria.

Existe tantos motivos que nos levou a isso. E tantos gestos que me fizeram pensar que não sou o único, apesar de que uma pequena parte me diga que sou sim. E você deve saber ao que me refiro neste momento, não é mesmo? Você sempre foi mais inteligente do que nossos amigos e, certamente, mais do que eu. E creio que mesmo antes de escrever essa carta e a entregar em suas mãos, você já sabia. A mais ou menos uma semana atrás, você desconfiou e me encarou de volta, o olhar se tornou agressivo no começo e antes de Heisuke chegar por perto, você suavizou sua expressão e sorriu.

Aquele tipo de sorriso que você nunca dá quando tem alguma outra pessoa perto de você. Aquele sorriso que você deixa os dentes amostra e parece que seus lábios se esticam até suas orelhas, o legitimo sorriso de orelha a orelha.

Aliás Saitou-kun, posso me sentir feliz por ser o único que vê esse sorriso?

O moreno olhava para a pequena e simples carta, torcendo o nariz em desgosto pelo final. Queria riscar e tentar de novo. Queria passar a limpo e tentar usar outras palavras mas tinha a total certeza de que se começasse, ia se cansar e desistir. E naquela semana, desistir era o que não queria.

Dobrava o papel claro de forma cuidadosa e o enfiava dentro do envelope de tonalidade amarelada e o fechava, selando-o.