Carta para você

Uma Dor de Cabeça para o Papai e uma Surpresa para a Mamãe


Até parecia um outro ano, se até a formatura de Kelly os meses pareceram andar devagar, após a festa o tempo pareceu passar muito mais rápido.

Uma semana depois da formatura, foi o aniversário dela, e todos se reuniram mais uma vez, não foi uma festa, mas a presença das amigas de infância de Kelly e de uma das cunhadas, fez a reunião, devidamente planejada por Abby e Sophie, um pouquinho mais formal.

Todos estavam no quintal da casa de Jethro, a conversa ia alta assim como as brincadeiras. Como não havia crianças, Sophie ficou um pouco mais perto do avô, a quem Kelly fez questão de ir buscar em Stillwater, e, finalmente, parecia que os dois estavam se dando bem, a julgar pelas risadas que Sophie dava e pelo próprio sorriso no rosto de Jackson.

A certa altura, a conversa foi diminuindo e então, Meredith perguntou já um tanto alterada pela bebida:

— Sabe de uma coisa? Essa festa tem que continuar em algum lugar onde possamos dançar.

— Nós podemos dançar aqui! – Kelly resmungou.

— Não mesmo. Com todo respeito, Sr. Gibbs, mas eu não vou virar a noite dançando no seu quintal.

Jethro só acenou sem problemas e voltou sua atenção para a filha mais nova que já estava com cara de sono e resolveu usar o pai como travesseiro.

— E quem vai querer ir? – Maddie perguntou.

Os demais se olharam, já confirmando a presença no que Abby estava chamando de after party e Kelly olhou na minha direção.

— Topa ir para a balada, Jen?

Tanto Jethro quanto Sophie olharam para mim. O primeiro espantado e curioso, já minha filha, eu até sabia o que ela iria perguntar.

— Papai... – Ela começou a sussurrar. – O que é uma balada?

O problema era que o sussurro dela não foi tão baixo quanto ela pensou que tinha sido e não teve uma única pessoa que não gargalhasse da pergunta. E como sempre, Sophie tinha que encarnar o pior lado do pai, e com a cara fechada e não gostando de ser o motivo das risadas, colocou as mãos na cintura e disse:

— O que eu falei de errado?

— Nada, Soph. – Kelly tentava parar de rir e como não conseguiu, ganhou uma encarada da irmã mais nova. – Balada é só quando se vai para uma festa e normalmente só volta para casa com o dia quase amanhecendo.

— Igual na sua formatura? – Sophie perguntou.

— Sim. Exatamente. – Kelly respondeu.

— Por que alguém gosta de passar a noite inteira acordada, se dormir é tão bom? – Sophie contra-atacou.

— Vamos ver se você vai pensar assim daqui uns dez anos... – Meredith respondeu rindo.

Jethro encarou a amiga da filha mais velha e eu tive que intervir.

— Agradeço o convite, mas tenho que tomar conta dessa aqui. – Apontei para a minha filha que junto com o pai, ainda olhava para Meredith.

— Vovô pode olhá-la... – Kelly tentou mais uma vez.

Eu tive que rir.

— Eu não vou fazer isso com o Jackson. – Me levantei da mesa e fui pegar a minha filha que tinha ficado inexplicavelmente mal-humorada. – Além do mais, minha fase de sair assim acabou há muito tempo!

— Bem, eu tentei... – Kelly deu de ombros. – E para onde vamos?

— Eu tenho o local perfeito! – Maddie começou, porém não ouvi o final, já estava quase dentro da casa com Sophie que reclamava no meu ouvido.

— Essas duas são doidas! E a Kelly também! Quem gosta de ficar acordado?

Jethro ouvia o falatório da filha com um sorriso no rosto. Creio que torcendo para que ela permanecesse com esse mesmo pensamento quando se tornasse adolescente.

Ouvimos os demais se despedirem, combinando o horário da festa. As meninas saíram gritando os seus adeus e a equipe passou para se despedir de Sophie.

— Vocês duas vão ficar? – Jethro nos perguntou assim que Kelly correu para o segundo andar para se arrumar e Jackson foi para a sala de TV com Sophie.

— Não dá. Você tem que acomodar seu pai no quarto de hóspedes. E Sophie precisa descansar nesse final de semana...

— Mas eu preciso dela aqui amanhã. – Jethro me cortou.

— Onde ela vai dormir, Jethro? O quarto de Kelly é fora de cogitação, uma vai se assustar com a outra quando Kelly chegar de madrugada, isso se o Henry não se esgueirar para dentro... amanhã bem cedo eu trago ela para cá e vocês... para que você precisa dela? – Terminei curiosa.

Jethro deu um sorriso.

— Lembra da surpresa que ela falou... para isso. E preciso da chave da sua casa, tenho que medir o quarto dela.

— E eu vou ficar fazendo o que sem a minha filha? É domingo!

— Pode ficar por aqui, só não pode descer no porão.

— Ah, claro! Tudo o que eu precisava... ficar à toa e longe da minha filha, o domingo inteiro! – Reclamei e Jethro começou a falar qualquer coisa sobre ele ter direito de gastar o tempo dele com Sophie também, porém fomos distraídos com Kelly que descia as escadas, já pronta para a parte dois da festa de aniversário.

Sophie veio da sala e olhou para a irmã muito séria... Jethro não gostou da escolha da roupa.

— Vai assim? – Ele perguntou.

— Vou. Algum problema? – Kelly se olhou, procurando por algum defeito na sua escolha e depois olhou para mim. – Jen?

— Bem... tem algo. – Eu comecei o mais delicadamente que podia, eu já tinha visto Kelly estourar por excesso de sinceridade.

— Ficou feio! – Sophie cortou todo o papo com uma sinceridade ímpar.

— Como assim?! – Kelly olhou estupefata para a irmã.

— Você tem roupa mais bonita no seu guarda-roupas, Kells. – Sophie falou e correu escada acima.

Jackson, Kelly e Jethro acompanharam a ruivinha com os olhos, eu fui para a cozinha acabar de arrumar a bagunça.

— Kelly! Sobe aqui, eu vou arrumar você! – Sophie falou do segundo andar e eu pude ouvir os saltos de Kelly subindo a escada.

— Mas o que foi aquilo? – Jackson perguntou para o filho.

— Eu não sei. – Jethro se dirigiu ao pai pela primeira vez no dia. – JEN! O QUE VOCÊ FEZ COM A NOSSA FILHA?! – Ele veio na minha direção.

— Eu te disse que ela era uma pequena fashionista, Jethro, mas eu não fiz nada, ela sempre foi assim.

E Jethro me olhava assustado.

— Não, você me falou que ela gostava de sapatos, não que queria sair arrumando todo mundo e ser uma crítica de moda! – Ele bateu o pé.

— Eu te disse que ela escolhe as minhas roupas, achei que você tinha entendido o recado! – Respondi sem olhá-lo.

— Uma menina de cinco anos está arrumando a irmã de vinte e dois no segundo andar dessa casa e você acha isso normal? – Ele parou do meu lado e exigiu a minha atenção.

Olhei para ele e muita séria, disse:

— Um dia ela vai fazer isso com você. E quando ver que não tem nada ali que ela veja que fica bem em você, ela vai te arrastar para comprar roupas novas, assim, Jethro, agradeça que seja com Kelly.

— Ela não ousaria tentar escolher a minha roupa.

Sorri para ele, o desafiando.

— Tentaria?!

Ia responder quando ouvimos a voz da própria Sophie.

— Não falei que ia ficar melhor?

Jethro não sabia se queria ou não ver o novo visual da filha mais velha, já eu, queria ver o que a minha filhota tinha aprontado com a irmã.

— Eu diria que ficou muito melhor! – Falei vendo Kelly descer as escadas. – Vai ter muita gente com inveja de você no lugar onde vocês vão.

Jethro deu uma conferida no visual de Kelly e, se ele não tinha gostado do primeiro, esse aqui com certeza ele odiaria.

— Sophie, nós precisamos conversar. – Ele chamou pela caçula ao mesmo tempo em que a campainha tocava. Era Henry que tinha perdido a fala ao ver a noiva.

— Boa noite. – Ele nos cumprimentou depois de encarar Kelly com a boca aberta por quase um minuto.

— Boa noite! – Respondemos e eu tive que segurar Jethro, pois ele começou a olhar para o lugar onde a arma dele estava guardada.

— Acho que já vamos! - Kelly disse puxando o noivo pela mão. – Boa noite para vocês!

— Boa festa! E feliz aniversário! – Acabei por dizer e fechar a porta. Quando olhei para dentro, Jackson e Jethro olhavam para a ruivinha que estava parada no pé da escada.

— O que eu fiz dessa vez? – Ela perguntou sem jeito.

— Tirando o fato de que quase deu um infarto no seu pai, nada. – Jackson deu uma risada e se desculpou, indo para o quarto. – Boa noite, espoleta. Boa noite para vocês dois.

— Boa noite, vovô! – Sophie se despediu do avô de seu jeito costumeiro e se voltou para o pai. – O que o senhor quer conversar comigo, papai?

Jethro voltou para o presente e apenas disse:

— Você nunca mais vai escolher as roupas da sua irmã de novo! Nunca mais!

— Por quê?

— Porque não.

Balancei a cabeça negativamente e tentei conter o sorriso pensando quando fosse a vez de Sophie sair por aí toda arrumadinha... Jethro daria um AVC!

Acabei por não demorar muito, e meia hora depois da saída triunfante de Kelly, estava juntando as coisinhas de Sophie para podermos ir para casa. Ela estava no porão junto com Jethro, os dois planejando alguma coisa que eu não poderia ver. Bati na porta, só para avisar a minha presença.

— Oi mamãe?

— Hora de ir! – Avisei.

Ela olhou para o pai e depois para mim.

— Obedeça a sua mãe. – Jethro falou, já pegando a filha no colo e a trazendo escada acima.

— Mas papai...

— Amanhã a gente continua. Te pego cedo.

— Cedo que horas? Nove da manhã? – Ela perguntou animada.

— Sete horas, Sophie.

E minha filha encarou o pai, completamente assustada.

Mas isso é de madrugada!! Ainda mais em um domingo! – Ela respondeu injuriada.

Segurei a minha risada, enquanto Jethro olhava da filha para mim.

— Isso é sua culpa. – Ele me acusou.

— Nem todo mundo não gosta de dormir, Jethro.

Ele me encarou e nos guiou até o carro.

— Amanhã às sete, Sophie! – Ele avisou antes de fechar a porta do carro.

— Tudo bem, papai. Boa noite! Te amo! – Ela respondeu já conformada.

Jethro olhou para mim.

— Você vai vir?

— Às sete?

— Qual é o problema de vocês duas com acordar cedo? – Ele reclamou.

— Deve ser porque fazemos isso a semana toda, e queremos sair da rotina no domingo?

Ele não comprou a minha explicação.

— Tudo bem, às sete. – Me rendi. – Boa noite, Jethro. – Me despedi.

Ele não satisfeito, me pegou pela cintura e me deu um beijo.

— Até as sete. – Sussurrou no meu ouvido e fechou a porta do carro que ele segurava aberta para mim.

— Até. – Respondi com um sorriso.

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Ainda bem que tive duas festas seguidas para me despedir da minha vida de civil e da minha vida social também, e eu agradecia a cada um dos que fizeram essas festas inesquecíveis, pois isso aqui...

Tudo bem, eu sabia que seria difícil, treinamento militar combinado com a residência não era para ser fácil. Mas já teve um ou outro momento em que eu me perguntei se estava fazendo a coisa certa. Porém, quando eu pensava no bem que eu faria, nas vidas que poderia mudar... eu levantava a cabeça, respirava fundo e encarava o mais novo desafio.

Isso aqui era o oposto da faculdade, pelo menos enquanto estamos nos treinos e dentro das salas de aula, pois quando há a dispensa, todos viram os malucos de festas que todos os campi têm. E eu dei uma de Sophie e resolvi que era bem melhor ficar dormindo enquanto podia.

E esses foram os primeiros quinze dias. Tinha muito mais pela frente.

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Outubro chegou e com ele eu tinha que resolver três míseros problemas que estavam me dando um dor de cabeça danada. O primeiro, Sophie e sua fantasia de Halloween, o segundo, a festa de Halloween que Abby queria dar dentro da agência. E o terceiro, era o fato de que as duas já citadas acima estavam querendo fazer com que todos aparecessem fantasiados.

— Isso eu não posso fazer. – Disse com toda a diplomacia que consegui para Abby.

— Mas Diretora...

— Abby, não posso obrigar a nenhum agente a vir fantasiado, aliás, nem é possível que isso aconteça. Quem quiser se fantasiar para a festa já é outra coisa. – Afirmei.

— Então vou poder montar a festa no estacionamento? – A cientista começou a pular sem sair do lugar.

— Vai. Ainda mais que você quer fazer algo para os filhos dos agentes e membros da Marinha e dos Fuzileiros que estão fora do país.

— O Secretário da Marinha deu a permissão?

— Não preciso de permissão para isso. Mas o prédio não pode ser enfeitado por dentro. Com a exceção do seu laboratório.

Abby não me deixou terminar e me deu um abraço de urso tão apertado que eu achei que tinha quebrado algumas costelas.

— Muito obrigada! A Mini Agente vai poder me ajudar, não vai?

— Desde que não atrapalhe os estudos dela, pode.

— Eu prometo que não vai atrapalhar. – Abby me garantiu com outro abraço.

Estava tentando me desvencilhar do abraço quando ouvimos o elevador e Jethro entrou no laboratório.

— GIBBS!! GIBBS!! GIBBS!! GIBBS! – Abby gritou quase me deixando surda. – Advinha o que a Jenny acabou de autorizar!

Pedi licença e deixei Jethro lidando com a hiperativa gótica, eu tinha mais o que fazer.

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Eu tinha escutado Sophie tagarelando que finalmente poderia ficar em casa. Ela estava conversando animadamente com DiNozzo, contando sobre a mudança que ela teria que arrumar, enquanto Tony enrolava os dois relatórios que ele devia nessa semana.

— O único problema, Tony, é que eu vou ter que guardar tudo de novo... Quando nós saímos de Londres foi a mesma coisa... isso é tão chato! – Ela reclamava sentada na mesa do Agente Sênior, comendo uma barra de chocolate.

— Se precisar de ajuda, chame o McAjudante ali. Sei que ele vai adorar ganhar uns pontos extras com o Chefe. – Tony apontou para McGee que estava concentrado no relatório.

— Por que eu tenho que chamar o Tim? Tadinho, todo mundo faz ele de escravo. Além do mais, pensei que você fosse o meu escravo particular!— Sophie soltou encarando Tony com a mesma feição vitoriosa da mãe.

— Haha, bem feito, Tony! Quero ver você escapar dessa! – Ziva falou sorrindo do outro lado. – O Pingo de Gente vai fazer de você gato-pato!!

— Gato-pato?! – Sophie olhou para a israelense sem entender nada. – O que é um gato-pato?

— Soph, é aquela expressão que todo mundo usa, quando quer fazer de uma pessoa seu escravo.

Sophie olhou de Ziva para Tony e depois se voltou para a Oficial do Mossad ainda um tanto perdida.

— O certo é gato-sapato, Ziva. Gato-Sapato. – DiNozzo corrigiu a parceira.

— Mas eu expliquei direito, vocês deveriam ter entendido! – Ela apontou um grampeador na direção dos dois.

— A gente entendeu, tia Ziva, agora pode colocar o grampeador na mesa. – Sophie foi até ela e tirou o objeto das mãos da nervosa agente.

— Zee-vah, você tem que aprender a se controlar. Um dia ainda vai matar alguém aqui dentro.

— E você será o primeiro, Tony. Pode apostar.

Sophie olhou assustada para Ziva e tentando tirar o foco da “tia” em tentar cometer um assassinato dentro do NCIS, simplesmente perguntou:

— Tia Ziva, por que a senhora não começa a anotar essas expressões em um caderninho para não trocar mais? Foi assim que eu comecei a aprender as palavras difíceis, eu escrevo todas elas até que eu aprenda a grafia e o significado.

Tony só apontou para Sophie como se ela fosse a pessoa mais sábia daquela sala. Ziva encarou a garota descrente.

— Achei que você fosse me apoiar, Pingo de Gente!

— Mas eu estou te apoiando, estou te ajudando a se adaptar com as expressões populares da nossa cultura, assim nem o Tony nem o Tim vão ficar rindo de você!

Ziva pareceu se conformar com a explicação.

— Tudo bem, eu vou pensar no caso.

— Se você quiser eu posso encontrar o caderno, encapar e por um título. - Sophie se animou, mas ao ver a expressão de Ziva, completou – ou talvez você prefira fazer isso sozinha... – Falou e foi voltando devagar para perto da mesa de Tony.

— Sophie – a chamei.

— Sim papai? – Ela parou no meio do caminho.

— Deixe o DiNozzo trabalhar, ele tem dois relatórios para entregar ainda hoje.

— Ele me falou que não tinha nada para fazer...

Encarei Tony que se fingiu ocupado e a falante ruiva só o olhou descrente.

— Você mentiu pra mim, Tony! – Ela acusou e veio para perto da minha mesa.

Depois dessa, Sophie ficou sentada no chão ao meu lado, tinha pegado um livro e estava lendo, de vez em quando parava, e quando não conhecia ou não sabia o significado de uma palavra, ela buscava pelo dicionário que estava na mochila, procurava a palavra e o significado e a escrevia em um caderno próprio, voltando a se concentrar na história, quando já estava satisfeita com a explicação. E ela ficou ali, por quase uma hora, sem falar nada, apenas nos fazendo companhia.

A equipe acabou por ficar em silêncio e tão concentrada em seus relatórios quanto Sophie estava com seu livro, e até mesmo Ziva foi pega de surpresa quando Jen veio chamar a filha para ir embora.

Olhei para meu relógio, era incomumente cedo para Jen sair do trabalho. E ela percebeu a minha dúvida.

— Mudança. Vou aproveitar que cancelaram duas reuniões e vou acabar de encaixotar tudo.

— Se precisar de ajuda...

— Eu aviso. – Ela me respondeu já pegando Sophie pela mão.

— Peraí mamãe. Eu tenho que me despedir. – Ela pediu.

Jen parou na porta do elevador e deixou a filha se despedir de nós.

— Não se esqueça, Pingo de Gente, se precisar de ajuda com a mudança, chame seu escravo particular! – Ziva gritou.

E eu sabia que Jen não chamaria ninguém para ajudá-la, mas nada me impedia de aparecer por lá.

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Quem falou que ser mãe é padecer no paraíso estava certo. Por uns breves dez minutos eu tive que respirar fundo e tentar não gritar com a minha filha que não parava de me chamar. Tudo bem, não era culpa dela se ela detestava mudanças e ainda mais, se ela estava morrendo de medo de esquecer alguma coisa, porém ela não precisava ficar me gritando a cada trinta segundos.

Estava a ponto de estourar com Sophie quando ela parou do meu lado e sorrindo me entregou um desenho.

— Fiz na escola hoje... era por isso que eu estava de chamando... mas acho que a senhora não ouviu...

Me senti culpada ao ver o desenho.

— É a nossa nova casa, ou a sua velha casa, reformada, mamãe. – Ela me explicou.

— E por que tem um cachorro e um gato nesse desenho?

— Porque todos os meus amigos da escola colocaram, eu coloquei para falar que eu também tenho um... mesmo não tendo. – Deu de ombros.

— Sei. – Dei uma boa olhada em Sophie, procurando pelo tique que ela tinha de quem está doida para perguntar alguma coisa, contudo não tinha mais nada ali. – Tem mais algum desenho?

— Ah, tem! Tem esse um para o papai, outro para a Kelly e um para cada um da equipe, mas como eu me esqueci de entregar... vou fazer isso da próxima vez que for no Estaleiro.

Sophie às vezes era uma pequena avoada.

— E eu vou poder ver? – Sem querer eu estava começando a ficar com ciúmes de ter que dividir os presentes da minha filha com tanta gente.

Sophie tombou a cabeça e me encarou.

— Por quê?

— Porque a mamãe gosta de ver os seus desenhos. E seu pai me disse que você desenhou muito bem como queria o seu quarto...

Minha filha nem esperou que eu terminasse de falar e quando dei por mim ela já tinha saído correndo. Voltou em uma batida de coração com todos os desenhos que ela havia feito, e eu pude distinguir para quem era cada um.

— Ficaram muito bons, Sophie. Principalmente o da Abby, gostei dos morceguinhos voando.

— E o que eu fiz para o papai, será que ele vai gostar?

Olhei para o desenho em questão, era óbvio que Jethro gostaria do desenho só por ela ter se lembrado dele, e o fato dela ter desenhado o pai construindo um barco com a ajuda de Kelly e dela própria...

Mesmo com tanta coisa para fazer, acabei por me sentar no chão ao lado de Sophie e começamos a conversar sobre o dia dela, estávamos tão entretidas que nos assustamos quando bateram na porta.

— Eita... achei que tinham que bater campainha primeiro... – Sophie falou me acompanhando até a sala.

— Deve ser algum dos agentes que ficam lá fora. – Respondi para ela. – Me espere aqui e não abra essa porta até que eu volte!

— Tudo bem. – Ela se sentou no chão, pois nosso sofá já tinha sido enviado para a nossa casa.

Corri até o meu escritório e peguei minha arma, escondendo-a nas minhas costas.

Voltei e Sophie continuou sentada, olhando os próprios desenhos.

A batida ficou mais forte e impaciente.

— Mamãe, essa pessoa não sabe o que é esperar. – A ruivinha falou encarando a porta.

— Vamos ver quem é... – Cheguei meu rosto no olho mágico para dar de cara com... – Jethro! O que você faz aqui? – Perguntei ao abrir a porta!

— PAPAI!!! – Sophie correu de encontro a ele, como se não o visse há meses.

— Passei para ver se precisavam de ajuda com a mudança e trouxe isso aqui. – Ele mostrou os pacotes de comida para viagem.

— É italiana? – Sophie perguntou já olhando para dentro das sacolas.

— Não, chinesa.

— Posso comer o biscoito da sorte?

— Não se come o biscoito da sorte, filha, só se quebra e se lê o papelzinho.

— Então, por que se chama biscoito?

Jethro me olhou sem saber a resposta, eu também não sabia e nós dois olhamos de volta para a garotinha que clamava por resposta.

— Porque é uma tradição chinesa, filha. Por isso. – Tentei dar uma explicação plausível.

— Eu queria o biscoito... – Ela disse com um muxoxo e Jethro se ajoelhou na frente dela para consolá-la.

— Não têm gosto de nada. Eu sei, já comi.

— É ruim assim?

— São péssimos!

— Então é até bom que não é para comer, né? – Sophie respondeu com um sorriso.

— Isso mesmo. – Jethro deu um peteleco na ponta do nariz dela.

— Ah, papai. Eu tenho uma coisa para o senhor! – Sophie trocou completamente de assunto.

— E o que é?

— Isso! – Ela estendeu o desenho e o entregou ao pai.

— Me dá as sacolas. – Pedi. – Vou deixar na cozinha, ainda está cedo para o jantar. – Deixei Jethro observando o desenho e perguntando para Sophie o que tudo aquilo significava, sei que demorariam ali.

Quando voltei para a sala os dois estavam sentados no chão e Sophie mostrava os demais desenhos que ela havia feito.

— Não tem para a sua mãe? – Ele perguntou.

— Já entreguei. – Sophie confirmou com um sorriso. – Não é mamãe?

— Está no meu quarto, ou no meio da minha bagunça. – Respondi. – E falando em bagunça, você tem que arrumar as suas coisas, então acelera aí e corre para o quarto, vamos ver se conseguimos fechar tudo até amanhã à noite! – Puxei a ruiva do chão e mandei para o quarto.

— O que quer que eu faça? – Jethro me perguntou quando Sophie saiu correndo da sala.

— Você não precisava ter vindo, Jethro. Tudo está sob controle, mas agradeço a boa-vontade.

— Está com medo de que eu veja algo que não é para ver? – Ele me perguntou me puxando pela cintura.

Dei uma olhada em volta, Sophie parecia estar dentro do quarto, pela falação que ela estava aprontando.

— Você ficaria horrorizado com o que eu escondo dentro do meu closet, Jethro. Acho que são proibidos até para você! – Sussurrei de maneira conspiratória no ouvido dele e roubei um beijo. – Contudo, você pode ajudar a matraca da nossa filha que mais fala, canta e dança do que guarda as coisas. – Apontei para a porta do quarto da ruivinha que estava dançando no meio do quarto abraçada com o ursão que tinha ganhado de Henry.

— Como estão as coisas por aqui? – Jethro perguntou assustando Sophie que deu um pulo.

— Papai! Por que me assustou? – Ela reclamou.

— Para te trazer de volta para esse mundo e te ajudar com essa bagunça aqui. – Ele informou.

Deixei os dois no meio das bonecas e bichinhos de pelúcia e me voltei para meu quarto. Jethro que se divertisse com a filha e a quantidade de vezes que ela passaria a chamar por ele nos próximos minutos.

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- O Chefe está atrasado! – Tony começou pela décima vez em menos de vinte minutos.

— E daí, Tony? – Perguntei.

— McSonso, o chefe nunca se atrasa. Nunca! Eu estou aqui desde 2001 e ele nunca se atrasou. Mas hoje ele está atrasado!

Tive que conter a vontade de rolar os olhos para o que DiNozzo estava falando e me voltei para o meu jogo de RPG.

— Zee-vah! – Tony continuou. – Fala para ele como isso é estranho.

Ziva que estava limpando suas facas, encarou Tony de um jeito que me deu até frio na espinha e o ameaçou.

— Pare com isso, DiNozzo. Você já está me dando nos nervos. E daí que Gibbs se atrasou? Tem um monte de motivos para isso ter acontecido. Desde fila na cafeteria que ele gosta de ir, até um pneu furado.

— E pode ter sido uma certa ruiva também... – Ele completou com um sorriso.

— E se for, o que você tem a ver com isso? – Perguntei.

— Significa que ganhei a minha aposta!

— Você não tinha falado que iria desistir disso, por que era ruim para a Sophie? – Ziva o confrontou.

— Minha adorada Ninja Israelense. O caso de hoje é uma raridade entre todos. E isso merece uma aposta. – DiNozzo se levantou e ficou na frente da mesa da parceira.

Pelo canto do olho eu vi um movimento bem atrás de mim, quando parei para observar melhor, era o Chefe e ele estava indo na direção de Tony e sua boca grande.

Ziva parou de falar e deixou a sua expressão neutra de qualquer reação quando Gibbs parou atrás de Tony.

— Haha, eu aposto que o Chefe e a Diretora estão apenas esperando as coisas se acalmarem depois do sequestro da Peste Ruiva para poderem oficializar o que eles têm! – Ele esfregou as mãos. – Agora eu tenho que abrir as apostas para saber quando Sophie vai ganhar....

— A Sophie vai ganhar o que, DiNozzo? – O Chefe perguntou assim que a mão dele colidiu com uma força enorme na parte de trás da cabeça do falastrão.

Tony engoliu em seco procurando alguma resposta que lhe tirasse do sufoco.

— Ganhar o concurso de melhor e mais bonita fantasia de Halloween na Escola dela, Chefe.

— E você, por acaso, já sabe de que ela vai fantasiada?

— Não, Chefe, eu não sei.

— E como quer apostar isso?

Tony arregalou os olhos e fez cara de inocente enquanto voltava para a sua mesa, sem nem achar uma resposta que lhe fosse útil.

— E vocês dois, voltem ao trabalho. Não é hora de ficar limpado facas e muito menos jogando. – Gibbs falou.

E eu notei que por mais que ele não tenha gostado do que Tony tinha comentado, essa foi a única vez que eu o vi com um discreto sorriso no rosto quando ele olhou para a sacada do quarto andar.

Talvez Tony tenha razão, ele pode ter sim, passado a noite com uma certa ruiva.

E eu espero que DiNozzo nunca descubra sobre isso, porque senão eu vou enlouquecer com o tanto que ele vai dizer que está certo.

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Com a mudança e nossas coisas quase todas no lugar, eu pude respirar aliviada.

No NCIS tudo ia bem, Abby já tinha todos os preparativos para a festa de Halloween prontos e devidamente em seu lugar. A festa de Halloween que ela tanto queria acontecerá amanhã. Enquanto que a fantasia de Sophie está pronta e guardada dos olhos curiosos.

Era sexta-feira e eu não poderia estar mais contente de poder relaxar em um banho de banheira enquanto Sophie e Jethro preparavam a surpresa dentro do meu escritório.

Parei para pensar em como, dentro de poucas semanas, as visitas diárias de Jethro para o jantar viraram uma constante na minha vida, em como Sophie estava mais feliz do que nunca, ainda mais depois que virou oficialmente a ajudante do pai.

Se eu me concentrasse o bastante, poderia ouvir o que os dois estavam falando no andar de baixo, porém, eu não queria estragar o que quer que eles estavam fazendo. As surpresas de Jethro sempre foram excelentes e Sophie tinha a oportunidade de poder me surpreender com algo totalmente diferente.

Resolvi deixar a falação em segundo plano e decidi me relaxar enquanto podia. Até que ouvi mais perto do que teria imaginado.

— Será que ela ainda vai demorar? – Sophie parecia intrigada.

— Não sei, filha, deixa a sua mãe descansar, ela merece.

— Mas tem quanto tempo que ela tá lá, papai? – Sophie não tinha lá muita paciência, aliás, ela não tinha como herdar o dom da paciência de nenhum dos pais.

Não ouvi a resposta que Jethro deu à nossa filha e, para garantir a sanidade dele e a minha – porque mais cedo ou mais tarde Sophie começaria a me chamar insistentemente -, dei por encerrada a minha sessão relaxamento e me peguei mais curiosa do que seria necessário para saber o que eles tinham aprontado.

Assim que abri a porta do banheiro, dei de cara com uma roupa que tinha sido cuidadosamente separada para mim em cima da minha cama. E sob o vestido verde, um bilhete: “vista isso.” Achei estranho, mas explicava a proximidade da voz de Sophie.

Me vesti e antes que pudesse abrir a porta do quarto, ouvi os pulos de Sophie do outro lado, assim que abri fui presenteada por imenso sorriso e notei que ela estava devidamente arrumada, com um vestido que eu nunca vira e um par de sapatos combinando.

— De onde você tirou essa roupa?

— Mamãe, não agora. Toma, a senhora vai ter que colocar isso aqui! – Ela me estendeu um lenço.

Olhei descrente para ela.

— Pode ficar tranquila eu vou guiar a senhora até lá embaixo. – Ela apontou para a escada.

Fiz o que ela me pediu, deixando uma frestinha para poder ver o caminho.

— Se abaixe para que eu veja se a senhora não está trapaceando. – A minha miniatura me pediu. Não era tão fácil assim enganá-la pelo visto.

E ela em um piscar de olhos viu a minha tentativa de espiar.

— Assim não, né mamãe! Não pode roubar! – Reclamou e ajustou o lenço no meu rosto.

Desci degrau por degrau, sendo guiada pela mão e pela voz de Sophie, quando estava para atingir o que seria os últimos degraus da escada, a mão de Sophie foi substituída pela de Jethro, que me guiou até a porta do meu escritório, eu acho.

Sophie já estava lá dentro e a julgar pelo som abafado de seus pulos no tapete, ansiosa até demais.

— Agora Ruiva? Ou a gente deixa a sua mãe um pouco mais curiosa? – Ele perguntou para a filha, sua voz bem próxima ao meu ouvido.

— AGORA!! AGORA! – Era óbvio que ela também não queria esperar mais.

— Se é assim. – As mãos de Jethro deixaram as minhas e passaram a desamarrar o nó do lenço e quanto mais hora ele fazia para me libertar, mais nervosa eu ficava.

Sophie a cada segundo dava uma risada e já sem conseguir se conter soltou:

— Papai, para de fazer hora! Eu quero ver a reação da mamãe!

Pelo menos nesse ponto minha filha era minha maior aliada.

Jethro soltou o lenço e eu tive que piscar algumas vezes para me acostumar com a claridade, e quando eu consegui, eu não acreditei.

Os dois tinham organizado o meu escritório, colocado todos os livros, fotos e objetos de decoração no lugar, porém era exatamente o onde eles haviam colocado os objetos que mais me chamava a atenção, pois até então eu não tive tempo de comprar nenhum móvel, e ali estava cada um deles, principalmente as enormes estantes que guardavam os meus livros. No meio da parede oposta à minha mesa, tinha um bar acoplado com um pequeno armário, e a mesa, essa eu fui obrigada a deixar por último, porque ela não era simples, tinha entalhes perto das gavetas, sendo que a primeira era fechada à chave e ainda tinha um pequeno cofre dentro, para que, eu presumi, guardasse a minha arma de serviço.

Por fim, me voltei para as duas pessoas que estavam paradas, sorrindo, na porta do escritório. E demorei ao ver a cena, pois pai e filha estavam devidamente arrumados como se fossem a uma festa. E tinha tempos que eu não via Jethro vestido daquele jeito... contudo, eu precisava agradecer à surpresa.

— Eu adorei, muito obrigada! – Me faltavam palavras para descrever o quão tocada eu estava. Ainda olhava em volta, para o cômodo em si, nem de longe eu conseguiria imaginar esse resultado. Estava perfeito demais.

— Ela não notou papai! – Sophie abriu um sorriso ainda maior ao olhar para o pai.

— Notei o que?

— Jen, você por acaso se interessou em saber que dia é hoje?

Parei para pensar, eu tinha escrito a data mais de cem vezes em relatórios, e-mails, memorandos... nada me veio à mente,

Foi Sophie quem me explicou quando veio correndo e me abraçou apertado:

— FELIZ ANIVERSÁRIO, MAMÃE! Esse aqui é o seu presente, a senhora gostou?

Meu aniversário. Eu tinha me esquecido completamente.

— É claro que eu gostei, Sophie.

— É o presente do papai e meu, tá? – Ela fez questão de dar o crédito ao pai.

— Eu sei que é. – Respondi à minha filha, sem tirar os olhos de Jethro. – Espero que não tenha mais surpresas, porque eu não sei como superar essa! – Indiquei para o escritório.

— Tem mais, Jen. – Jethro respondeu pela filha e me estendeu a mão que peguei sem cerimônia. Ele me guiou até a porta principal e ali parou.

— Hei, Ruiva, vá pegar a bolsa da sua mãe.

— Vamos aonde? – Perguntei curiosa.

— Para a segunda parte de seu aniversário. – Ele me informou e aproveitando que estávamos à sós, me beijou.

Cedo demais ouvimos os passos de nossa filha no andar de cima, e ele terminou o beijo, mas não afrouxou o abraço.

— Mamãe, a senhora está usando qual batom? Quer que coloque na sua bolsa?

Era mais do que necessário, depois desse beijo.

— Por favor! – Pedi. – E o batom está na minha penteadeira.

— Tudo bem. – Ela voltou pulando para o meu quarto me dando mais alguns segundos com Jethro.

— Sua ideia ou dela?

— Nossa. – Ele me sorriu.

— Acho que sei muito bem qual é a parte de Sophie. – Olhei para o terno que ele vestia, para a minha própria roupa.

Jethro sorriu mais abertamente.

— Nunca mais eu quero parar em um shopping com Sophie. Nunca mais.

Foi a minha vez de gargalhar.

— Espero que ela tenha feito um enorme rombo na sua conta.

— Esse não é o problema.

— Não?! Bom saber, vou contar para ela quando ela tiver treze, quatorze anos...

— Não exagera, Jen.

— E qual é o problema? – Perguntei curiosa, enquanto o assunto da conversa descia a escada.

— Ela entra em todas as lojas. Todas. – Jethro olhou para a filha.

Sophie parou no degrau à nossa frente e ficou nos encarando. Nós dois olhamos para ela e a pequena ficou toda sem graça.

— O que eu fiz dessa vez? – Perguntou incerta.

— Fez seu pai entrar em cada uma das lojas do shopping. – Informei e ela, ao invés de ficar encabulada com a resposta, abriu um enorme sorriso e apenas disse:

— Ah, isso eu fiz mesmo! Eu tenho que ter muitas opções para poder escolher a roupa certa.

E depois dessa, Jethro a mandou me entregar a minha bolsa e nos guiou porta afora.

— Vamos logo, senão perdemos a nossa reserva. – Ele falou já não tão bem humorado.

A noite passou rapidamente e cedo demais estávamos voltando. O único incidente foi que um dos senadores que tanto pegava no meu pé me viu no restaurante, acompanhada da minha família. O comentário ácido dele de que ele não sabia que eu era casada e muito menos que eu tinha uma filha não passou despercebido por Jethro, que assim que o senador me olhou de cima a baixo, respondeu:

— Ainda bem que ela vem jantar com a família. Diferente de outros que trazem a amante e deixa a esposa e os filhos em casa.

Senador Winters apenas nos desejou boa noite e seguiu para o carro dele.

— Como você sabe que aquela não é a esposa dele? – Perguntei baixo, pois Sophie estava por perto e eu não queria que ela começasse a fazer aquelas perguntas que me deixariam em uma saia justa.

— Porque, para o azar dele, eu já o vi com a esposa, e aquela moça tem idade para ser filha dele, não esposa.

Dei uma olhada para a mulher em questão. Ela não era mais velha que Kelly.

Voltamos para casa praticamente em silêncio, Sophie tinha dormido no banco de trás, e não dava sinais de que iria acordar nem tão cedo, e Jethro, revivendo uma mania dos tempos de nossa missão na Europa dirigia com uma mão no volante e a outra segurando a minha.

— Pensando em que? – Ele me tirou da minha volta ao passado e quando dei por mim estávamos de volta à minha casa.

— Que tem muito tempo que eu não comemorava de verdade o meu aniversário. – Falei sincera. – A última vez foi em 98.

— Ainda não acabou. – Ele sussurrou ao meu ouvido e eu entendi as segundas intenções por trás de uma frase tão simples.

— Não se esqueça de que temos companhia. – Informei apontando para a ruivinha que dormia tranquilamente a centímetros de nós.

— Ela não vai acordar... desde que você não faça muito barulho. – Os olhos dele estavam negros, sobrando só uma pequena faixa das irises azuis.

Minha respiração ficou presa na minha garganta.

— Respire Jen. – Ele me pediu.

Achei difícil fazer isso, todavia eu ainda tinha que colocar a minha filha na cama. Juntei toda a minha força de vontade e desci do carro, pronta para pegar Sophie e levá-la para o quarto.

— Eu a levo. Você vai abrindo a porta. – Jethro já estava com a filha nos braços.

Tranquei o carro e andei ao lado dele até a porta, quem nos visse de longe tinha a nítida impressão de que éramos uma típica família chegando de um jantar.

Não demorei para pôr Sophie na cama, enquanto eu a troquei e tentei fazer com que ela acordasse nem que fosse para escovar os dentes, Jethro arrumou a cama. E essa foi uma experiência estranha. Assim que nossa filha estava deitada e devidamente abraçada com um de seus bichinhos, me despedi dela com um beijo na testa.

— Eu te amo e nunca vou sair do seu lado, ruiva. Boa noite.

Jethro também se despediu e antes mesmo que eu fechasse a porta do quarto, ele já tinha enlaçado a minha cintura.

— Agora, o restante da noite é nosso.

Se ele tinha a intenção de me guiar para o quarto, sinto dizer que ele perdeu a oportunidade, pois mal ele havia terminado a frase, eu já o puxava pela gravata e o arrastava para a minha cama. Com a porta devidamente trancada, eu finalmente tinha Jethro só para mim.