Carta para você

Uma Coisa Nova, Uma Coisa Velha, Uma Coisa Emprestada e Uma Coisa Azul.


E a contagem regressiva para o casamento de Kelly começara. Agora não eram mais os dezoito meses desde quando ficamos sabendo que ela havia marcado a data, ou os seis meses que ela ainda tinha quando escolheu o vestido.

Não, eram apenas dias. E esses meros seis dias serviram para três coisas.

1ª - Jethro entrou em um humor tal que nem Sophie, que é apaixonada por ele, queria ficar por perto.

2ª - Kelly surtou de vez e jura que já está passando mal, que nem sabe como vai andar até o altar. Quando eu falei que ela andaria pelo corredor central de braço dado com o pai, ela simplesmente começou a chorar no telefone.

3ª – A equipe não parava de falar sobre a cerimônia e sobre como seria a festa. Mesmo no meio de um caso, sempre tinha um para trazer à tona o assunto, seja comentando sobre o bolo, sobre o buffet ou apostando se Kelly seria a noiva desastrada, ou se ela ficaria muito vermelha na hora de Henry tirar a cinta-liga... Claro que para esse assunto em particular, Jethro saía distribuindo tapas em qualquer um passava.

E assim foi a semana, até que na quinta-feira, outro assunto rondou os corredores. As meias e a gravata de McGee.

Cynthia foi quem me avisou dessa fofoca. Eu estava alheia a isso até o momento em que minha assistente entrou rindo dentro da minha sala. Ela tentou se conter e disfarçar, mas não conseguiu.

— O que aconteceu, Cynthia? – Perguntei, temendo que Sophie tivesse aparecido e aprontado alguma, já que Tony já estava de volta.

— A senhora não viu?

— Dessa vez não.

— As meias e a gravata do Agente McGee.

— Porque as meias do McGee seriam o assunto do dia? – Agora eu estava curiosa.

— Por conta da estampa. Ninguém sabe ao certo o motivo dele ter escolhido aquela em específico.

— E o que é? – Vindo de McGee eu pensei em qualquer coisa nerd, de Star Wars ao Homem Aranha.

— Abacaxis. – Cynthia me disse, contendo a risada.

— Abacaxis?! – Perguntei surpresa.

Imaginei Tony enchendo a paciência do “Novato”.

— Senhora, só vendo para acreditar naquela gravata!!

Fiquei curiosa e disse que mais tarde desceria para conferir o visual. Só o McGee para vir trabalhar assim, mas se ele se vestiu de Lorde Elfo... tudo era possível.

No meio da tarde, me lembrei do figurino inusitado e resolvi descer para ver se era verdade, e, assim que pus os pés para fora do meu escritório (pela primeira vez no dia, já que tudo estava corrido hoje), já escutei a falação. Jethro deveria estar bem longe dali para que até Jimmy estivesse falante daquele jeito.

Ao chegar no corrimão, vi um dos motivos.

Sophie estava lá. Conferi a hora, claro que ela daria um jeito de persuadir Melvin para trazê-la até o NCIS.

E tanto ela quanto Tony faziam cara de paisagem, McGee os olhava como se eles fossem os culpados de algo, mas, se tivesse olhado para trás, veria que tanto Abby quanto Palmer, não conseguiam esconder a culpa.

— Qual de vocês dois colocou essa gravata e essas meias na minha sacola no dia em que fomos comprar o terno para o casamento da Kelly?

Sophie deu de ombro.

— Minha parte na bagunça foi a camisa rosa do Tony...

DiNozzo, por sua vez, saiu pela tangente.

— Ora, McAbacaxi, foi você quem escolheu isso, ou não estaria usando!

— Eu não escolhi! Colocaram no meio das minhas coisas!

— E você pagou!! Deveria ter observado direito o que estava pagando. – Ziva respondeu e começou a rir.

— De quem foi a ideia? – Tim bateu o pé.

Abby levantou a mão, depois foi Jimmy. E os outros três fizeram o mesmo.

— Eu sabia! Vocês dois estão sempre no meio da confusão! – McGee apontou para DiNozzo e minha filha.

— A grande mentora da brincadeira foi Kelly. – Tony se defendeu.

— Quero ver você brigar com a noiva, hoje. – Ziva desafiou.

— Ela deve estar uma pilha de nervos. Imagina a resposta que vai te dar... – Abby completou. – Isso se ela não der uma de Gibbs e sair atirando por aí...

A resolução de McGee foi diminuindo até que ele se sentou, conformado por ter sido passado para trás.

— Quero ver você com aquela camisa rosa, Tony. – Murmurou.

— Hoje você verá! Não vamos fazer uma sessão especial de Cinema?

— Filmes de casamento? – Quis saber Abby.

— Mas é claro!! Para entrar no clima! Todos os filmes em que os casamentos deram errado!! – Tony respondeu com um sorriso.

— Deveríamos colocar os casamentos do Agente Gibbs! – Palmer soltou, sem saber que Jethro estava parado bem atrás dele. Eu não consegui me segurar e caí na risada, o que atraiu a atenção de todos.

— Diretora?! Mamãe? Há quanto tempo está aí? – Tony e Sophie perguntaram juntos.

— O suficiente para saber que a senhorita aprontou de novo...

— Essa é velha...

Encarei Sophie.

— Mas as meias são legais! – Ela apontou para as meias de McGee. Olhei para a direção, apesar de inusitadas, não eram tão estranhas assim, só não eram para o local de trabalho, mas eu que não falaria nada.

— Bonita gravata, Tim... – Comentei e troquei de assunto. – Quais são os filmes de hoje? – Perguntei já sabendo que a sessão de cinema não incluía a Sophie.

- Começaremos com A Sogra e terminaremos com Noiva em Fuga!

— Deveríamos por Kelly para assistir ao último. – Abby falou brincando.

— E manter a Sra. Caroline Sanders bem longe do primeiro... – Ziva completou.

— Ela até que age bem como a Jane Fonda no filme... – Tony pensou.

— Imagina se ela tenta colocar alguma coisa na comida da Kelly, para causar uma reação alérgica? – Palmer perguntou.

— Eu não vi o filme!! Podem parar de me contar o final! – Sophie reclamou.

— E nem vai ver, não é para a sua idade.

— Isso é injusto, mamãe!!! O que eu vou ficar fazendo?

— Vai ficar comigo! – Jethro respondeu ainda encarando Palmer, pelo jeito não tinha superado a brincadeira sobre seus três casamentos fracassados.

— Fazendo o que? – Sophie ainda estava desconfiada do humor do pai.

Jethro encarou a filha.

— Tudo bem... vou ficar com o senhor... – Ela se deu por vencida. – Mas e a senhora, mamãe? Vai fazer o que? Vai ver esses filmes também?

— Não... tenho um jantar com Caroline Sanders. E nem me perguntem o que ela quer comigo, porque eu não faço ideia.

Todos fizeram uma careta.

Ao final do expediente, saímos juntos, e no estacionamento, tudo o que me falaram foi:

— Cuidado para “A Sogra” não resolver te envenenar, hein, Diretora!

— Vou tomar cuidado! – Garanti.

Jethro levou Sophie para a casa dele e eu fui para o restaurante encontrar a sogra da minha enteada.

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— Nossa papai, mas o senhor já está fazendo um barco?! Mal acabamos os móveis da Kelly!! – Sophie perguntou enquanto pulava escada abaixo depois de ter trocado o uniforme por uma roupa mais velha, que incluía uma das minhas camisas dos Marines, para me ajudar. – O que eu tenho que fazer? – Perguntou ao parar do meu lado.

— Por enquanto, só observar, não vou te deixar pegar nessa serra de jeito nenhum.

— Tudo bem... – Ela se empoleirou na bancada e começou a balançar as pernas enquanto eu trabalhava, ficando em silêncio, o que não durou muito, como era de se esperar: - Papai qual vai ser o nome desse barco?

— Ainda não sei, filha.

— Uhn... – Começou a mexer em algumas das ferramentas, me deixando trabalhar em paz.

— Cuidado para não se machucar. – Avisei quando ela pegou um formão.

— Não vou... só estava pensando...

E lá vinha ela.

— Como o senhor sabe que vai precisar disso? – Ela estendeu a ferramenta na minha direção.

— É uma das que mais uso.

— Ah... – Vi que não estava convencida. – Vovô Jack disse que também mexe com madeira... foi ele quem ensinou ao senhor?

— Foi...

Ela me encarou não muito feliz pela minha resposta monossilábica, e depois ficou quieta. Dois minutos depois, Sophie desceu da bancada e começou a andar pelo porão com a trena na mão.

Mediu o cumprimento do esqueleto do barco que eu estava trabalhando, depois a largura, subiu a escada, mediu a porta.

Tive que rir, eu sabia o que viria logo a seguir.

Escutei-a andar pela casa e medir as coisas, ouvi ela pulando no piso de cima e depois batendo, como se procurasse por uma porta ou alçapão.

Desceu a escada, pegou uma vassoura e começou a bater com o cabo no teto, desistiu quando o som da batida não mudou em ponto nenhum e, com um bico, voltou a se sentar na bancada e abraçar os joelhos.

Demorou uns dez minutos, até que a pergunta que ela queria fazer há um bom tempo fosse expressa:

— Papai, como o senhor tira os barcos do porão?? Eles não passam pelas portas, eu medi!! E não tem como esse teto se mover, porque eu bati nele todo!

— No dia que eu tirar esse barco daqui eu te chamo para ver.

— O senhor não vai me contar?!

— Não, eu vou te mostrar.

Ela bufou e fechou ainda mais a expressão. Depois, cansada do meu silêncio, tornou a subir a escada e voltou logo em seguida, com um livro na mão.

— Espero que não seja o livro do McGee! – Alertei.

— Não é. É o último volume do Harry Potter!

— Já está no último?

— Sim. – Foi a vez dela de ser econômica nas palavras.

E Sophie ficou quieta lendo o livro dela e eu trabalhando no barco, tão silenciosos que se uma agulha caísse no chão, ouviríamos. Assim como ouvimos quando Jen entrou na casa, seus saltos ecoaram por todo o lugar.

Ela parou na porta e nos fitou.

— Achei que não tinha ninguém em casa. Por que todo esse silêncio? – Começou a descer as escadas com cuidado.

— Papai disse que era perigoso mexer com a madeira hoje, assim eu fiquei lendo. – Sophie respondeu a mãe, depois de abraçá-la.

— Sim... e ficaram assim pelas últimas duas horas?

— Mais ou menos... – A ruivinha respondeu em dúvida.

Jen encarou a filha.

— Ela saiu medindo a casa e depois testando o piso de cima, tudo para descobrir como eu tiro o barco daqui.

— E descobriu, filha?

— Não... e o papai também não quis me contar... mas a senhora é mais falante.... e...

— Eu não sei como ele tira o barco daqui, Sophie. – Jen garantiu e, pelo olhar que ela me lançou eu sabia que mais tarde ela iria me interrogar a respeito.

— Não... disso eu sei. O que a Sra. Sanders queria com a senhora?

Jenny fez uma cara que era uma mistura entre uma careta e um sorriso sarcástico.

— Depois de ficar falando bem dos filhos por quase uma hora, - Jen suspirou – ela tentou me convencer de que eu devia deixar Kelly se virar com algumas coisas.

— Não entendi. – Entrei na conversa.

— De início nem eu, mas ela continuou a falar que Kelly deveria ter se virado para mobiliar a casa, para arranjar tempo para escolher a lua de mel e, pasmem, até sobre o vestido que ela nem viu, Caroline Sanders, tinha opinião a dar. No final das contas, eu entendi que ela estava com ciúmes, pois não vai poder se vangloriar de nada na festa, porque não ajudou em nada, e para se livrar da culpa de ser uma sogra que não ajuda, me disse que eu tenho que deixar Kelly seguir com a vida dela, já que, além de ela já ser bem grandinha, Jethro, sugiro que você se sente agora – Me avisou. – Kelly não é a minha filha!— O sorriso jocoso de Jenny me disse que ela queria rir de toda essa situação.

— Ela falou isso?!

Foi quando Jen tirou Sophie da bancada, se sentou ali, colocando a filha em seu colo.

— Sim, com estas exatas palavras.

— E o que você respondeu?

— Que Kelly me pediu o telefone de algumas pessoas, mas eu não fiz nada de mais, a não ser ajudá-la quando tinha alguma dúvida, de resto, tudo foi decidido entre os noivos. Claro que a Sra. Sanders não acreditou em mim.

— A bruxa está com ciúmes?

— Olha como você fala dela, Jethro! – Jen me puxou a orelha apontando para Sophie que prestava bastante atenção na nossa conversa. – Mas sim, era só ciúmes e orgulho ferido no fim das contas. E eu perdi duas horas e meia da minha vida ao lado dela. E vou te contar, como gosta de aparecer. Se prepare para a festa de casamento... – Me alertou.

— Ainda dá tempo de fazer a Kelly desistir?

Noiva em Fuga? – Jen riu. – Acho que sim, mas Kelly não irá fazer isso. Teremos que aturar a família inteira.

— Ainda bem que a Senhora Sanders não gostou desse lado da família, assim, não teremos que nos encontrar tanto assim.

— Não, Jethro, não teremos, mas no sábado à noite, teremos que enfrentar os dragões e nem São Jorge irá nos ajudar.

Pensei na data. O que não fazíamos pelos filhos?

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E tinha chegado o grande dia... hoje oficialmente eu deixava de ser uma mulher solteira e passava para a turma das casadas.

Casada aos vinte e quatro anos. Ou eu era doida ou eu era uma tola apaixonada pelo primeiro namorado.

Segunda opção. Não tinha dúvidas.

Estava sentada na beirada da cama esperando... esperando a ficha cair que eu tinha que começar a me arrumar.

Não, eu não ia para um salão de beleza, nada de dia de spa para mim. Eu simplesmente não aguentei nem a ideia de ficar longe da minha família nesse dia. Eu precisava ver todos, ver minha irmãzinha livre e solta, sendo a falante criança de sempre; ver meu avô andar calmamente pela casa de Jen e rir das farpas trocadas entre meu pai e dona da casa; ver Noemi andando para cima e para baixo, mesmo que hoje ela seja tão convidada como qualquer um; ver meu pai se sentir enjaulado e sem nada para fazer, só esperar que eu estivesse pronta para me levar para a igreja; ver Jenny organizar todo mundo enquanto ela consegue se aprontar; e, ainda ter a visita das minhas irmãs para me darem uma força enquanto o eu fico pronta.

Sim, eu queria esse pequeno caos familiar ao meu lado enquanto alguém faria o meu cabelo, outra pessoa as minhas unhas e outras duas, minha maquiagem.

Depois do almoço fui levada para o meu quarto, onde prepararam um banho de espuma com não sei o que para mim. Eu não liguei muito, mas minha irmã caçula insistiu que queria um banho desses.

— Quando for o seu dia de se casar, você terá! – Jenny disse.

— Será que ter uma filha casando já não é o suficiente, Jen? Já quer que eu comece a pensar no casamento de Sophie também? – Meu pai gritou de algum lugar.

Jenny literalmente enxotou Sophie do quarto, mandando que ela inventasse qualquer coisa para tirar o pai de casa. Moranguinho fez exatamente isso e eu não ouvi nada dela, nem de meu pai ou avô por horas.

Depois do banho era hora da maquiagem e das unhas. O cabelo seria o último.

Faltavam duas horas para a cerimônia e eu estava praticamente pronta, quando me lembrei de um pequeno grande detalhe.

Eu tinha me esquecido de comprar os sapatos!!!

Soltei um grito!

Tudo o que ouvi foram os passos de duas pessoas e meu cabelereiro soltar a escova e reclamar que eu queria matá-lo do coração.

— O que foi Kelly? – Jen e papai perguntaram ao escancarar a porta, Sophie estava logo atrás deles, olhando para mim.

— Os sapatos!! Eu esqueci de comprar os sapatos!!!

— Isso? Esse grito por conta dos sapatos?? – Meu pai começou.

— Como assim você esqueceu os sapatos, boneca? – Paolo me perguntou.

Estranhamente Jenny não disse nada, ao menos não para mim.

— Sophie, você já sabe.

Sophie saiu do meu quarto e eu fiquei encarando as três pessoas que ali estavam.

— Está tudo bem aí em cima? – Escutei vovô perguntar.

— Sim... nada demais. – Papai respondeu e quando minha irmã cruzou com ele na porta, perguntou. – Que isso, Ruiva?

— Como sempre, mamãe está salvando o dia! – Ela falou e veio saltitando até a mãe.

Sophie entrou no quarto e entregou uma sacola para Jenny.

— Sabia que você iria se esquecer dos sapatos! – Ela ria enquanto me estendeu a bolsa.

Louboutin.

Li o logo.

Tirei a caixa de dentro da bolsa e com cuidado a abri. Fui inundada pela memória de quando eu ganhei uma caixa como aquela, tinha chegado pelo correio. Um par de sapatos dessa mesma marca foi o primeiro presente que Jen havia me dado e, também, o meu primeiro par de sapatos de salto de verdade. Coincidentemente, foi com esse par que eu fui ao meu primeiro encontro com Henry. E hoje.... eu vou me casar com ele com outro par de sapato da mesma marca, que me foram dados pela mesma pessoa.

— Eu não vou dizer que não precisava, porque eu preciso deles... – Disse.

— Não chore!!! – Me alertaram.

Tirei os sapatos de dentro do saquinho que eles vêm para ser surpreendida com um par de saltos mais altos do que qualquer outro que eu tinha e, completamente deslumbrantes. Eu já tinha visto aquele modelo em específico, e sempre me perguntei onde se poderia usá-los. Pelo visto eu me casaria com um par de sapatos brilhantes.

— Eles são lindos!! – Murmurei encantada.

Jenny olhou para Sophie e as duas começaram a sorrir.

— Seu vestido precisava de um pouco de brilho... – Sophie comentou.

Coloquei os sapatos em cima da cama e me levantei para abraçar Jen.

— Nada disso!! A senhorita vai ficar sentadinha aqui. Na hora que for para abraçar, será essa. Agora volte aqui, que vamos partir para o seu cabelo. Há algo que queira colocar aqui? - Paolo me impediu de demonstrar a minha gratidão.

Eu não tinha nada... e foi quando eu fui surpreendida novamente.

— Na verdade, tem sim. – Jenny disse e pediu licença.

Pelo espelho vi meu pai na porta, ele olhava para mim e depois para o vestido que estava em um cabide perto da cama e depois para o sapato brilhante em cima da cama.

Jen voltou rapidamente, em sua mão um saquinho de veludo, e eu vi claramente que era uma joia. Ela me entregou o embrulho com a seguinte frase:

— Não é para você, é a sua coisa emprestada. – Me alertou.

Com cuidado abri a cordinha que fechava o saquinho e tirei o pente. Era maravilhoso. E seria perfeito para prender o cabelo do jeito que tinha pensado.

— Além de ser a coisa emprestada, vai ser a minha coisa azul também. – Eu falei.

— E qual vai ser a coisa velha? Porque seu vestido e o sapatos são as coisas novas. – Quis saber Sophie.

— Isso aqui. – Apontei para o bracelete que fora da minha mãe.

Sophie arregalou os olhos e quis tocar na joia, depois desistiu.

— Quando você se casar, vira a sua coisa velha e emprestada... – Brinquei com ela.

Foi o que bastou para meu pai puxá-la do quarto, dizendo que já estava mais do que na hora dela começar a se arrumar.

E eles me deixaram, cada um indo se preparar para o meu casamento iminente.

Paolo terminou o meu cabelo e depois me ajudou a vestir o vestido. Com tudo no lugar, meu véu foi preso em meu penteado pelo pente que Jen havia me emprestado. Tudo estava perfeito e eu estava morrendo de medo de me olhar no espelho.

Uma batida na porta me assustou, ignorei o espelho e me virei na direção do som.

— Entre... – Praticamente gaguejei as palavras.

Eram Ziva e Abby. Lógico que Abby daria aquele grito.

— MEU DEUS!!! VOCÊ ESTÁ PERFEITA!!!!

Ao longe escutamos:

— Mais um grito desses, Abigail, e eu vou te por para fora da minha casa!! Me fez estragar a minha maquiagem!! – Jenny a xingou.

— Me desculpe, Jenny. Precisa de ajuda? – Abby gritou de volta.

— Ela vai ficar bem. – Papai falou de algum lugar.

— Agora não, Gibbs!! Daqui a pouco você entra!! – Ziva disse e fechou a porta na cara dele.

— O que vocês duas estão fazendo? – Perguntei aflita.

— Isto! – Abby me mostrou a cinta-liga.

— NÃO!! NÃO!! EU NÃO VOU USAR ISSO!! – Me esgoelei. Só o pensamento de Henry debaixo do meu vestido para tirar a minha cinta-liga com meu pai por perto me deixava apavorada.

— É a tradição e você vai usar sim. Agora pode ser do jeito fácil ou difícil. – Ziva me disse.

— Fácil ou difícil?

— Sim, ou você coloca, ou uma de nós te segura e a outra coloca.

— Credo em vocês duas!!! Me dê aqui! – Peguei a cinta-liga e fui para o banheiro.

— Aqui, ou você acha que nós não vamos pedir para ver?

Me virei de costas e coloquei a cinta-liga.... não onde ela deve ficar, mas sim no meio da panturrilha.

— Está no lugar certo? – Abby quis saber.

— O que está no lugar certo? – Jenny perguntou abrindo a porta. – Kelly... você está tão bonita... – Ela veio e me deu um abraço de leve. Senti meu rosto corar. Não estava acostumada a ganhar elogios. – E nada de ficar vermelha igual ao seu pai quando ganha elogios!

Olhei para as três mulheres que estavam ali comigo. Na falta de minha mãe, eu tinha ganhado a melhor mãe adotiva do mundo e ainda mais duas irmãs.

— Vocês três que estão deslumbrantes.... – Elogiei-as... e era verdade, o vestido preto de Abby estava prefeito, o prateado de um ombro só de Ziva parecia ter sido feito para ela, e Jen estava com um vestido azul marinho maravilhoso.

— Somos só as convidadas, ninguém vai se sobressair perto de você, Kells. - Jenny pegou meu braço e me virou para o espelho. Fechei os olhos. – Vamos lá Kelly. Nunca mais será assim. – Ela me disse.

Abri os olhos e quase não reconheci a pessoa do outro lado. Os grandes olhos brilhantes, o enorme sorriso, vestido perfeito, o cabelo, a maquiagem... Mas, ao mesmo tempo era eu.

— Não dissemos? – Abbs me perguntou com um sorriso.

Uma batida na porta.

— Agora é ele!! Já estamos com o tempo contado! – Jenny disse, me dando um beijo na têmpora. – Te vejo na igreja, Kelly!

Minhas duas irmãs me abraçaram de leve e acompanharam minha mãe até a porta.

— Espera! Eu não vou ver a minha Dama de Honra? – Perguntei. - Queria ver Sophie pronta.

— Só na igreja. – Jenny me respondeu com um sorriso.

— Onde ela está? – Reparei que tinha horas que não ouvia a sua voz.

— Lá embaixo com Tony. Antes estava do lado do seu pai, falando um monte de coisas sem sentido para acalmá-lo.

Outra batida.

— Agora temos que ir!

Elas abriram a porta e assim que Jen passou, disse:

— Ela é toda sua agora, Jethro!

Abaixei meus olhos, não sabia como encarar o meu pai.

Vi que ele entrou no quarto, parou e não falou mais nada...