Achei estranho que meu celular ainda não tinha despertado, e muito menos o despertador que fica ao lado da cabeceira.
A noite tinha sido longa e eu estava exausta, com dor de cabeça e o fato de ainda estar sofrendo com jetlag não estava ajudando. Tive um dos piores pesadelos em anos. E até agora eu não sei como eu consegui confessar tudo a Jethro em sonho e nunca o fiz em voz alta.

Minha mente era estranha e eu jamais me entenderia.

Tentando me livrar da claridade que entrava pela janela, rolei para o outro lado da cama, que estava estranhamente quente, com a clara intenção de enterrar meu rosto no travesseiro que um dia pertenceu a Jethro. Porém, meu movimento foi bloqueado por uma pessoa. Instintivamente busquei pela minha arma que ficava enterrada no meio dos travesseiros e assim que baixei a trava, mirei.

— Guarda essa arma, Jen! – Uma mão pegou o cano da arma e o abaixou.

— Jethro?!

Ele se sentou na cama e me encarou, como que me perguntando quem mais seria.

Foi aí que minha mente entrou nos eixos e eu percebi que nada daquilo fora um pesadelo.

Tudo fora real.

Inclusive a última parte.

— Jen?! – Ele me chamou enquanto tirava a arma da minha mão, a travava e colocava entre os travesseiros.

Levantei um dedo para indicar que estava pensando. Ele estava mais confuso do que eu.

— Normalmente você não é tão confusa pela manhã, Jen.

— Não foi um sonho! – Falei.

— Você sonhou a noite inteira, ou melhor, parte dela, Jen. Seja mais específica.

— A parte que importa não foi um sonho. – Respondi.

Jethro, cansado do meu raciocínio confuso, simplesmente me abraçou pela cintura e nos deitou na cama.

— Ainda falta mais de uma hora para levantarmos. Volte a dormir. – Ele disse contra a minha testa.

Uns dois minutos depois, quando a respiração de Jethro já estava quase calma demais, eu não me contive.

— Jethro, o que foi que eu te contei na noite passada? – Perguntei mordendo o lábio e escondendo o meu rosto em seu peito.

Ele grunhiu algo que eu não entendi e depois me respondeu.

— Tudo. Você me disse tudo, Jen.

Sem pensar acabei por tensionar de novo, eu não gostava de pensar naquela noite...

— Vai ficar tudo bem, Jen... – Ele beijou minha cabeça e apertou seus braços em volta de mim.

Não sei o porquê, mas acreditei nele. E embalada pelo som do seu coração e de sua respiração, voltei a dormir.

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Tinha alguma coisa muito estranha nessa casa hoje. O dia já tinha amanhecido. Eu já tinha acordado— e eu nem gosto de acordar cedo! – só que não tinha barulho nenhum!! E hoje é segunda-feira. E eu sou igual ao Garfield, odeio segundas-feiras!!

Normalmente mamãe já está zanzando pela casa antes mesmo que eu me levante – isso porque ela sempre vem me acordar, só que hoje ela não veio... e mamãe nunca perde a hora!

Me levantei da cama e sem fazer barulho, olhei para o outro lado. A porta do quarto dela estava fechada... será que ela estava com aquela coisa... o jato... o jet... jetlag e tinha perdido a hora?!

Se mamãe perdeu a hora... significa que eu não tenho que ir para a escola!

Mas eu tenho prova... não posso faltar! E mamãe tem que trabalhar!

Desci as escadas e parei na frente do relógio no hall de entrada... eram sete e quinze da manhã!

É... eu ia chegar atrasada na escola. Melhor me arrumar e deixar a mamãe dormindo um pouquinho mais.

Voltei para o meu quarto e coloquei meu uniforme. Só não calcei os sapatos. Desci de novo para poder colocar a cafeteira da mamãe para funcionar. Eu também sabia pôr o pão na torradeira. Tinha suco na geladeira. Não ia ser aquele café da manhã gostoso igual ao que a Kelly fez no sábado, mas era alguma coisa. Estava esperando tudo ficar pronto...quando eu vi um carro parado na frente da casa.

Era o carro do papai e parecia que tinha passado a noite ali.

Corri até o hall e vi que tanto o casaco, quanto os sapatos dele ainda estavam aqui!

Meu pai tinha ficado! E não estava no quarto de hóspedes igual ele vinha fazendo...

O PLANO DA KELLS TINHA DADO CERTO!!!!!

Corri de volta para a cozinha. Agora eu tinha DOIS cafés da manhã para arrumar! Ainda bem que meus pais gostam do café do mesmo jeito.

A cafeteira apitou, o café estava pronto, as torradas também. Comi duas com suco e as demais arrumei com geleia e pasta de amendoim. Coloquei tudo na mesinha de café da manhã que mamãe tem e que usa no quarto dela e subi com cuidado a escada.

Cheguei na porta do quarto. Pus a bandeja no chão do corretor e abri a porta devagarinho.

Meus pais estavam dormindo. Completamente apagados. Mamãe usava papai de travesseiro. É, até o papai tinha perdido a hora e eu não!

Peguei a bandeja do chão e a trouxe para dentro do quarto... a colocando no divã que fica no pé da cama.

Se fosse domingo, eu teria pulado na cama para acordar os dois ao mesmo tempo, mas não era e eu já estava de uniforme. Assim, tudo o que eu pude fazer foi chamar pelos dois.

— Mamãe... papai... acordem! – Falei baixinho. Minha mãe detesta que gritem com ela, ainda mais de manhã. Mas nenhum dos dois se mexeu.

— Mamãe... Papai... – Um pouquinho mais alto e papai pareceu se mexer. Mas só pareceu mesmo.

E depois eles reclamam que eu custo para acordar!! Olha esses dois!!!

Não teve jeito. Tive que subir na cama. Como mamãe estava mais para o lado do papai do que para o lado que ela normalmente dorme, subi por ali e engatinhei até que estava bem perto dos dois. E só tinha um jeito de acordá-los.

Dei um beijo na testa do meu pai e na bochecha da minha mãe e desci correndo da cama.

Papai foi o primeiro a se espreguiçar. Mamãe acordou desorientada como sempre.

— Mas o que?! – Ela perguntou sem entender nada.

A primeira palavra que papai falou foi:

— Café!

— Bom dia para vocês também! É segunda-feira!! – Eu disse de pé ao lado da cama.

Mamãe levantou a cabeça para me encarar e quando ela viu que eu já estava de uniforme, deu um pulo.

— Quantas horas? – Ela passou por cima de papai, que gemeu de dor, para poder ver o relógio da cabeceira. – Mas que merda... – Xingou.

— Cuidado com esse joelho, Jen!! – Papai falou.

— Mãe! Não pode falar palavrão!! Tá parecendo o papai!! – Eu falei.

— Filha... – Ela estava ainda mais desorientada. Papai encarava a mamãe como se ela devesse pedir desculpas por tê-lo machucado.

— O café tá aqui! – Mostrei a bandeja. – Eu já tomei o meu. Vou escovar os dentes, por meus sapatos e esperar por vocês dois lá embaixo.

— Você fez o café?! – Eles perguntaram.

— Sim!! Vê se tá bom...

Os dois pularam para o pé da cama ao mesmo tempo e acabaram batendo as cabeças.

Meus pais estavam estranhos. Eu tinha que contar isso para a Kelly.... ou para a Abby. Ah! Para quem eu encontrasse primeiro!!

Deixei os dois lá, um olhando para o outro com cara feia e voltei para o meu quarto. Acabei de me arrumar, pelo visto a mamãe não ia ter tempo de arrumar o meu cabelo hoje, então só penteei e pus um arquinho rosa.

Depois tive que esperar a eternidade, até que os dois descessem a escada. Eles estavam com uma cara engraçada.

Mas eu gostei de uma coisa: os dois estavam sorrindo. Estavam realmente felizes. Como há um tempão eu não via!!

Se fosse para vê-los assim todos os dias, eu não me importava em chegar atrasada na escola e nem de fazer o café de jeito nenhum.

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— Eu ainda não acredito que a Sophie teve que nos acordar!! – Falei encabulada enquanto Jethro dirigia loucamente no meio do pesado trânsito de D.C.

— Quem diria que a dorminhoca, um dia, acordaria por ela mesma, trocaria de roupa, faria o café e ainda por cima iria ser nosso despertador! Nem parecia a Sophie que me deu tanto trabalho para acordar na semana passada. – Ele disse mediante uma risada. – Pelo visto herdou o meu senso de responsabilidade.

— Não!! Você não vai recomeçar com essa briga de genes, de novo! Da última vez, eu venci!

— Só venceu porque ela resolveu acordar com os olhos verdes! – Ele rebateu.

— Se os olhos forem o desempate, hoje ela não é filha de ninguém... – Comentei.

— Um de cada cor!! Só Sophie mesmo!! – Jethro riu.

— Eu te disse... tem dias que nem dá para conseguir acompanhar as mudanças das cores daqueles olhos...

— Não quero nem pensar quando vierem as mudanças de humor! – E o paizão dizia horrorizado.

Eu só soube gargalhar.

— Estaremos ferrados, Jethro. E ela vai ser ainda pior, já que vai chegar nessa fase com treinamento ninja e mimada por todos aqueles irmãos e irmãs que tem!

Jethro só estremeceu no volante. Estávamos chegando no Estaleiro e eu ainda estava rindo da cara dele. Entramos no prédio, seguimos para o elevador.

— Sabe o que eu estava pensando... – Comentei quando as portas se fecharam.

— Não, Jen. E eu sei que vou odiar a sua ideia!

— Eu só ia dizer que vou me matricular na aula de Yoga e levar a Sophie comigo. Aí você vai sofrer menos no futuro! – Dei um beliscão nele.

— Ha! Como se uma aula de Yoga fosse ser capaz de te acalmar, Jen! - Ele me respondeu.

Acontece que a resposta dele foi um pouco alta demais, e bem naquele momento em que as portas se abriram e todo o andar estava em silêncio.

Resumindo, todo mundo escutou a última frase, mas ninguém sabia o contexto da conversa. Assim, quando pisamos para fora do elevador, cada um dos agentes nos encarava com espanto. E, dentre eles, McGee, Abby, DiNozzo e Ziva. Os quatro com caras de surpresa, que só se aliviaram quando perceberam como Jethro e eu estávamos próximos e como a mão dele se apoiava na base de minha coluna.

— Bom dia, Jenny! Bom dia, Gibbs!! Tudo bem? – Abby perguntou com um sorriso imenso nos lábios.

— Bom dia, Abbs! – Respondemos juntos e os sorriso dela se alargou ainda mais.

McGee, Ziva e Tony trocaram olhares.

Vendo que a situação estava ficando um tanto embaraçosa por conta da troca de olhares entre os três agentes, pedi licença e fui para o meu escritório. Jethro se sentou em sua mesa e Abby saiu pulando para os confins de seu laboratório, falando qualquer coisa incoerente como ter que conversar com a Jibblet urgentemente.

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Com menos de quinze minutos, o Chefe resolveu que estava na hora de sair para o café... era a hora perfeita! Estava a ponto de chamar Kelly, quando a janela do chat começou a brilhar. Abbs tinha sido mais rápida e chamado primeiro:

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LabQueen: Kellsssssssssssssss!!!!!!

AMETony: Cadê você, Chefinha???

MossadNinja: Temos informações!!

ElfLord: Que vão te jogar da cadeira!!

AutopsyGremlim: O que aconteceu? O que eu perdi?

AMETony: Fala sério, Kelly!!

MossadNinja: Cadê você, mulher?

LabQueen: Eu vou hackear a sua vida, até te encontrar!! McGee, faça isso!

ElfLord: Por que eu?

AMETony: Quem é o garoto MIT aqui?

MossadNinja: Porque você perdeu aquele jogo de Jenga, Tim!!!!!

ElfLord: Isso foi há mais de um ano, Ziva!!!

MossadNinja: Eu tenho boa memória, McGee... Só faça isso! Encontre a Kelly!

Chefinha: O que eu perdi? O que tá acontecendo? O que eu não sei? Peguei o bonde andando!!!

AutopsyGremlim: Eu também não sei de nada... mas quero saber!

LabQueen: JIBBS!!!

MossadNinja: Jibbs²!!!!!!

AMETony: Coisas bem interessantes!!!

ElfLord: Acho que agora vai!! o/o/o/o/o/o/o/o/

AutopsyGremlim: Eles vão para onde?

Chefinha: Me contem tudo!!

AMETony: Deve ter mais coisa do que vimos, mas o que vimos foi interessante!!

LabQueen: Vocês viram aqueles sorrisos?!

AutopsyGremilim: Não!! Eu não vi!! Querem explicar?

Chefinha: Tô com o Jimmy!! Expliquem! E AGORA!!!!!

MossadNinja: Então.... Gibbs e a Diretora chegaram juntinhos, sorridentes e falantes.

Chefinha: Falantes?

AutopsyGremilim: Desde quando o Gibbs é falante?

AMETony: Eu odeio interromper uma fofoca, mas a coisa vai ficar ainda mais interessante! Olhem quem acabou de descer do elevador!!

Chefinha: QUEM???

LabQueen: QUEM²????

AutopsyGremilim: Quem?? Às vezes eu odeio ficar aqui no subsolo.... não vejo nada!

AMETony: Coronel Hollis Mann.

MossadNinja: E ela está soltando fumaça pelo nariz!

ElfLord: É pelos ouvidos, Ziva!

MossadNinja: Por lá também!

Chefinha: Mas como assim?! Eu preciso saber!! Tim, cadê aquele feed ao vivo pra galera?

ElfLord: Bem... da última vez deu encrenca....

AutopsyGremlim: Coloca aqui!! Eu não tenho desculpa para aparecer aí!

Chefinha: Eu nem posso aparecer aí!

LabQueen: Eu estou subindo aí!!!

Chefinha: Não me deixem no vácuo!! Eu preciso saber de tudo!!!

.

.

.

.

AutopsyGremlim: É Kelly, eles nem ligaram para nós.

Chefinha: Eu os odeio, Jimmy! Se você ficar sabendo de algo, me conte, por favor!

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Sinto muito Kelly, mas a fofoca aqui tá interessante demais para não prestar atenção...

Aliás, a Coronel está procurando pelo Chefe. Disse que o viu sair da cafeteria de sempre, só que quando ela finalmente conseguiu estacionar o carro ele já tinha saído de vista...

Só que o Chefe não chegou aqui na sala do esquadrão.

— Por acaso ele tinha um ou dois copos de café na mão? – Eu quis saber só por curiosidade mesmo.

— Isso importa? – Mann retrucou.

Ziva, sem demonstrar nenhuma emoção, simplesmente respondeu:

— Se forem dois, bem... – Ela conferiu o relógio, depois colocou as mãos atrás da cabeça. – Ele deve ter ido direto para a Sala da Diretora.

Eu tive que me segurar na cadeira para não rir da falta de expressão de Ziva. Já Hollis Mann não estava nada feliz com isso.

Ela ia retrucar quando Abby apareceu, saltitando como sempre e fingindo procurar por Gibbs.

— Onde o Gibbs está?

— Muito provavelmente na sala da Diretora. – McGee entrou na conversa.

— Bem... eu vim agradecer a hospitalidade dele. Sábado a noite foi muito bom, né? Todos nós lá na casa dele, sessão pipoca. Foi A noite!! – Ela disse com uma pirueta.

E todos nós vimos onde ela quis chegar.

— Às vezes é bom ter toda a família reunida! – Ziva começou.

— Não esperava que a Diretora fosse aparecer... mas lá estava ela. A Pequena ficou toda feliz de ter a mãe por perto! – McGee disse. E a cabeça da Coronel se virou na direção dele e depois ela olhou para o quarto andar.

— E depois do filme, uma partida de pôquer! Não posso dizer que gostei de perder, mas foi um bom jogo. – Eu terminei.

E a mulher ficou desesperada. Creio que fazendo as contas. Filme + filha + mãe da filha + pôquer + equipe....

Foi demais para ela.

— Jethro está ou não na sala da diretora?

Demos de ombro.

— Não temos um caso. Ele pode estar em qualquer lugar... mas lá, geralmente é o destino dele quando a manhã está tranquila. – Falei.

E a loira do Exército subiu as escadas. Ela não tinha pisado no último degrau, e todos nós já estávamos parados olhando para a porta.

— Kelly vai adorar saber disso!! – Nós quatro falamos.

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Era inacreditável que todo o meu bom humor foi drenado quando eu vi a minha mesa. Melhor dizendo, quando eu não consegui ver a minha mesa, já que ela estava tomada de relatórios e pastas e memorandos...

— Mas o que ele ficou fazendo na semana passada? – Eu perguntei da porta.

Cynthia se encolheu em sua mesa e apenas me respondeu:

— Eu tentei fazê-lo assinar os relatórios, senhora, mas o Agente Gibbs não me deu ouvidos.

— Não é sua culpa, Cynthia. Realmente não é. Aquilo ali – apontei para a minha mesa – é obra de Jethro. Única e exclusivamente obra dele. Antes que eu me afogue atrás de tanto papel, como está a agenda de hoje? – Perguntei antes de entrar.

— Está tranquila. Nenhuma reunião. Amanhã já é outra coisa... – Minha assistente me olhou com pesar.

— Bem... só me chame se for estritamente necessário, vou ver se consigo adiantar o máximo da papelada. – Ia fechando a porta, quando uma ideia me ocorreu: - E Cynthia, quando Jethro aparecer na esquina da sua sala, só dê um bip no intercomunicador, por favor, e não o impeça de entrar, mas fique bem longe da porta.

Cynthia leu nas entrelinhas e ficou feliz com o que eu tinha falado. Jethro precisava aprender uma ou duas coisinhas sobre ser responsável quando se está no comando de uma Agência.

Fechei minha porta, tirei meu casaco e o par de sapatos que deixei bem à mão e tentei organizar o pequeno caos que era a mesa. Dei uma olhada e consegui separar em pilhas de Urgente, Muito Urgente, Para Ontem, Eu Vou Matar o Jethro e aquela que poderia esperar algumas horas. Ou seja, minha segunda seria animada e eu precisaria de uma intravenosa de café para não morrer de tédio.

Peguei a pilha “Eu vou Matar o Jethro” e comecei por ela. Já estava no quarto arquivo, quando meu intercomunicador bipou e parou. Me abaixei, peguei meu sapato e assim que a porta bateu na parede e voltou a se fechar, eu o arremessei com uma mira perfeita, bem no meio do peito de Jethro.

— Mas o que foi isso, Jen? – Ele perguntou sobressaltado, levantando os braços.

— Isso, Jethro, é por todas essas pilhas de relatórios que você nem se dignou a olhar na semana passada! – Fulminei-o com o olhar.

— Então quer dizer que você gostou da nova decoração da sua mesa? – Ele me deu aquele sorrisinho de lado e me encarou.

Com o meu pé, eu trouxe o meu outro sapato até a minha mão e o arremessei nele.

— Pode parar! – Ele disse dando um passo para trás.

— Mais uma piadinha, Jethro, e eu te dou um tiro!

Ele deu uma olhada para o par de sapatos e depois soltou:

— Aquelas coisas poderiam ter furado o meu olho!

Eu só o olhei por cima dos meus óculos.

— Sério, Jen. Olha aquilo.

Ignorei o comentário, é claro que eu sabia a altura e o quão fino era o salto, mas eu não estava me importando nem um pouco com a situação dele.

— Eu trouxe uma oferta de paz! – Ele falou quando eu ignorei a presença dele completamente.

Eu já tinha sentido o cheiro do café e tinha visto que ele carregava dois copos na mão, mas logicamente eu não falaria nada.

— Achei que você iria precisar de muita cafeína hoje! – E lá estava o sorriso de lado novamente.

— Você não tem nada para fazer no andar de baixo, Agente Gibbs?

Jethro parou na minha frente e soltou:

— Nada, Madame Diretora.

E aí vemos alguém que não teme a morte.

— Já acabou com o seu momento de diversão do dia, Jethro? – Perguntei.

— Nem comecei.

— Então procure outra pessoa para perturbar, porque como você pode ver, eu tenho muito trabalho para fazer, graças à você. Te deixar como Diretor interino foi um tiro no pé, você não fez nada!

— Fiz, eu tomei conta da Ruiva. E essa era a tarefa mais importante. Além do mais, você está bem descansada, Jen. Toda a tensão foi eliminada nessa última noite!

Mas como ele tinha coragem de mencionar a nossa noite dentro desse escritório?!

Encarei Jethro. Eu estava além de possessa agora!! Ele apenas sorriu ainda mais e soltou:

— Vai me dizer que você não sentiu falta de dormir assim?

Eu vi vermelho, mas se ele queria guerra, eu não ficaria para trás, não mesmo!

— Vai me dizer que você não sentiu falta de me ter do seu lado, Jethro? Por que se me lembro bem, eu até estava dormindo com a cabeça em seu peito, mas a sua mão estava em um ponto não muito bento...

Ele riu e simplesmente soltou:

— Eu aproveitei o momento.

— Sei... aproveitou mesmo. Aproveitou que eu estava dormindo e incapaz de me defender...

Ele ia dar outra tirada sarcástica quando o meu intercomunicador tocou.

— Pois não, Cynthia?

— Ahn... Senhora. A Coronel Mann está aqui fora, querendo ver o Agente Gibbs.

Olhei para Jethro. Ele me encarou de volta.

— Acho que tem uma ex sua na porta, Jethro. – Soltei o mais docemente que pude.

— Nossa conversa não terminou. – Ele me avisou antes de sair.

— Você ainda acha que vai voltar aqui e não ser recebido por mais duas sapatadas?

— Conversamos depois, Jen. – Ele avisou e saiu da minha sala. E eu fiquei com a pulga atrás da orelha.

Jethro tinha me jurado que tudo com a Coronel tinha acabado. O que será que ela veio fazer aqui? Tentar recomeçar?

Como eu queria poder ver essa conversa... Levantei correndo, busquei por meus sapatos que estavam espalhados pela sala, peguei minha pasta só para fingir que ia para o MTAC e saí da sala, só para encontrar Cynthia escondida na porta, tentando ouvir o que a Coronel falava.

— Senhora... eu... – Ela ficou toda sem graça.

— O que ela falou? Me conta!

Cynthia abriu um sorriso e soltou.

— Até agora nada. Só quis saber o motivo do Agente Gibbs não ter ligado para ela no último mês.

Um mês... era o tempo exato desde que Kelly entrara chorando dentro da minha casa, dizendo que Jethro estava noivo. E como eu bem sabia, e ele havia me falado, ele tinha terminado com ela ali.

Então Mann voltou para ter uma segunda chance... e eu estava morta de vontade de fazer uma cena bem no meio da sala do esquadrão. Daquelas que uma mulher enciumada faz, dar uma de doida e pegar Jethro pelo braço e beijá-lo bem na frente de todos, um beijo para fazer todo ficarem boquiabertos.

Era essa a minha vontade... mas o meu cargo me impedia de agir assim. Se ao menos não estivéssemos aqui no Estaleiro... se estivéssemos em algum outro lugar, ah... eu mostraria para essa loira aguada quem é a dona de Jethro.

E Mann recomeçou a falar:

— Bem, Jethro. Eu estava pensando em conversarmos... demos esse tempo, quem sabe não é possível...

Cynthia se encolheu do meu lado. Eu fiquei tão ansiosa que quase que caio de cara no chão.

— Tudo o que nós tínhamos que conversar, conversamos naquela noite, Hollis.— Jethro disse e eu pude escutar os passos dele voltando para o meu escritório. Inconscientemente, eu e Cynthia demos um passo para trás.

— Jethro, eu realmente não me importo com o fato de você ter duas filhas, e de que uma delas é filha da Shepard. Eu posso conviver com isso e posso ser a mãe da sua caçula.

Eu juro que se a minha arma estivesse na minha mão, eu tinha atirado nessa Coronel!!

Sophie não precisa de outra mãe. Ela tem uma, e Jen é uma excelente mãe. Agora, Mann, entenda de uma vez por todas, acabou.— Jethro falou e, mesmo de longe e sem vê-lo eu sabia exatamente como estava a expressão dele.

— Isso! Coloca essa loira no lugar dela! – Cynthia comemorou do meu lado. E eu só olhei para ela, quem diria que a quieta Cynthia pudesse ter escolhido um lado nessa contenda.

— Me desculpe, senhora, mas... é... para ser sincera? Tem muita gente que torce para a senhora e o Agente Gibbs ficarem juntos.

— Muito obrigada pela torcida. – Eu disse, tentando evitar sorrir.

— Então... vocês voltaram ao que era antes da explosão? – Ela quis saber, já desinteressada da conversa do corredor.

— Sim. e se essa notícia vazar, Cynthia. Eu vou saber que foi você, já que ninguém sabe. – Adverti.

E a minha secretária só abriu um enorme sorriso.

— A Mascote vai ficar feliz ao saber disso. Kelly também.

— Por favor, não me diga que até você está no meio daquele chat?

— Não, não estou, mas sei quem está e me passam as informações de vez em...

— Quando?

— Sempre. – Ela respondeu sem graça.

Privacidade é algo raríssimo dentro desse prédio e parece que a minha vida amorosa e a de Jethro é a um assunto bem público.

E nós dois achando que enganávamos alguém.

Depois dessa, eu resolvi voltar para o meu escritório e colocar o meu trabalho em dia. Ganhava mais com isso, do que sabendo as fofocas que envolviam o meu nome.

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E lá foi a Coronel tentar algo. O que? Ninguém sabia. Mas ela tinha subido até a sala da Direção.

Logo que ela chegou na antessala, Cynthia nos fez o favor de deixar o telefone ligado e no viva-voz. Assim, poderíamos escutar tudo. Tony adorou saber que a Assistente da Diretora finalmente tinha cedido aos pedidos dele e estava nos ajudando nessa torcida.

Mann chegou e pediu para falar com Gibbs. Cynthia na mesma hora interfonou para a Jenny. Gibbs estava realmente na sala dela.

Não sabemos o teor da conversa dentro daquela sala, mas logo ouvimos Gibbs fechar a porta e levar Mann para o balcão de frente ao MTAC.

Agora teríamos visão completa, mas não escutamos nada. Abby bem que tentou fazer leitura labial, mas só a Coronel era visível.

Acontece que outra coisa muito interessante ocorria na antessala.

Jenny tinha saído para escutar a conversa. E Cynthia tinha esquecido de desligar o telefone!!

Nem preciso dizer que Tony quase teve um infarto, ele e Ziva correram para perto do telefone, Abby e eu ficamos vendo a conversa.

— Algo interessante, Abbs? – Ziva perguntou.

— Ela acabou de dizer que pode ser uma mãe para a Sophie.

— Isso explica esse sibilar aqui. – Tony falou com um sorriso de lado.

— Como ela pode pensar que a Sophie trocaria a Jenny por ela? – Abby comentou na pausa da reposta de Gibbs.

Nós não pudemos ver o que Gibbs respondia para a Coronel, mas escutamos alguém comemorando a resposta como se fosse um touchdown do time da Marinha no jogo anual contra o Exército. Nos olhamos espantados.

Isso! Coloca essa loira no lugar dela!— Era Cynthia quem comemorava.

Quem diria!! Até ela! E não tinha acabado.

— Me desculpe, senhora, mas... é... para ser sincera? Tem muita gente que torce para a senhora e o Agente Gibbs ficarem juntos.— Ela completou, provavelmente em direção à Diretora.

— Muito obrigada pela torcida.— Jenny respondeu e nós quatro deixamos de prestar atenção na conversa do balcão, para ouvir a conversa da antessala.

— Ô Meu Deus!! O que isso quer dizer? – Abby pulou do meu lado.

— Então... vocês voltaram ao que era antes da explosão? — Cynthia começou com a pergunta de um milhão de dólares.

— Sim. e se essa notícia vazar, Cynthia. Eu vou saber que foi você, já que ninguém sabe.— A Diretora advertiu a sua assistente e nós quatro quase gritamos. Porém, antes que pudéssemos falar qualquer coisa, ouvimos Cynthia continuar.

— A Mascote vai ficar feliz ao saber disso. Kelly também.

Por favor, não me diga que até você está no meio daquele chat?— Eu poderia julgar que a voz da Diretora era desesperada.

— Não, não estou, mas sei quem está e me passam as informações de vez em...— Cynthia respondeu e nós nos encolhemos... ia sobrar para todos!

Quando? ­— Era esperança no tom de voz da Diretora?

Sempre. – Cynthia complementou. Nossa sentença estava traçada...

Depois disso ouvimos uma porta ser fechada e nos viramos para o balcão. A coronel ainda insistia com o Gibbs. Ele, cansado do que ela estava falando e já sem café, pela expressão em seu rosto, a deixou falando sozinha e desceu as escadas até onde estávamos.

Eu voltei para a minha mesa, porém, Abby e Ziva estavam sorrindo quando ele chegou. Tony tinha o telefone na orelha.

— E o que foi com vocês duas? – Gibbs quis saber.

— Nada!! – Elas responderam ainda com um sorriso no rosto.

— Então voltem para o trabalho. – Ele mandou e tanto Abby quanto Ziva olharam para a escada. Logo a Coronel passou, encarou Gibbs e foi embora.

— Já vai tarde!! – Abby comemorou assim que Hollis Mann desapareceu para dentro do elevador. Arregalei meus olhos para ela, que deu de ombros e se voltou para Gibbs, dando um abraço de urso nele para dizer: - É bom saber que mamãe e papai estão juntos de novo! – Com isso ela saiu saltitando para o elevador interno, nos deixando com a granada prestes a estourar.

Gibbs olhou para nós três e depois saiu em uma direção qualquer. Foi quando ouvi Tony murmurar.

— E Cynthia, muito obrigado... foi de muita ajuda a conversa vazada. – Depois ele desligou o telefone. – Quem vai contar para Kelly? - Perguntou com um sorriso.

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Tentamos contato com Kelly por todo o restante da manhã e metade da tarde, e a Doutora Gibbs não deu sinal de vida! Mandamos mensagens no chat, mas como ela não estava online, não ia nem conseguir ler, era um novo sistema de segurança implantado por mim, para evitar que as duas pessoas que tinham as vidas discutidas aqui não pudessem ler algo pelas nossas costas.

No celular também não tinha notícias, nenhum dos sms que mandamos foi respondido.

Kelly estava em algum lugar irrastreável.

— Kelly está quebrando a regra #03... – Murmurei assim que vi Ziva, McGee e Jimmy entrando no meu lab.

— Dessa vez ela tomou um chá de sumiço.... – Tim comentou.

— Chá de sumiço? Nunca ouvi falar desse. O que Kelly tem?

Nós três olhamos para a Ninja do Mossad.

— É só uma expressão, Ziva. Para ilustrar que a pessoa não responde a telefonemas, não aparece, não dá sinal de vida! – Jimmy explicou.

— Ah! Vocês e suas expressões estranhas. – Ela fechou a cara.

Nisso, escutamos o elevador chegar no andar. Se Gibbs nos pegasse aqui... era garantia de tapas para todo mundo.

Esperamos apreensivos, porém não era Gibbs, era Tony e ele tinha companhia.

— Olha quem eu achei zanzando pelo prédio como se fosse a filha da Diretora! – Ele apontou para o lado dele.

— JIBBLET!!!!!!! – Gritei e fui na direção da minha criança favorita. – Até que enfim alguém da família mais querida do NCIS deu as caras por aqui!!! – Falei enquanto a abraçava. Eu simplesmente amo abraçar essa menina.

— Abbs... – Ela me chamou.

— Oi?

— Eu... eu... não...

— Abby, solta ela logo antes que ela sufoque! Se essa menina morrer o Chefe e a Diretora fazem picadinho da gente! – Tony falou.

Soltei a Jibblet que tinha ficado quase roxa. Depois ela deu um passinho para trás e soltou:

— Eu tenho novidades!!! – Disse com aquele sorriso sapeca no rosto.

— Nós também!!!! – Falamos juntos.

— Quem começa? – Sophie perguntou.

Antes que alguém pudesse dizer algo, a tela do meu computador brilhou, tinha uma mensagem na tela.

— Videochamada da Kells? – Sophie leu.

— É claro que vamos aceitar!! – Ziva disse.

Aceitei o pedido e nós nos esprememos na frente da câmera para que a Chefinha pudesse nos ver. Só que esquecemos que a Jibblet era baixinha...

— E eu?!! Eu tenho informações!!! – Ela choramingou enquanto tentava escalar as costas de Tony e acabou caindo sentada.

— Oi todo mundo! Será que vocês podem colocar a baixinha na tela... ela tá ficando nervosa. – Kelly disse.

Olhamos para baixo e fomos recebidos por uma encarada fenomenal. Gibbs ficaria tão contente de ver a caçula com a mesma encarada dele!

Tony levantou Sophie e a colocou sentada na minha mesa, agora todo mundo estava se vendo.

— Então... o que aconteceu pelos lados do Estaleiro que vocês estão me perturbando o dia inteiro? – Quis saber a Chefinha,

— Muita coisa... mas antes o Pingo de Gente tem algo para nos contar que ainda não sabemos... – Ziva disse.

Sophie ficou toda feliz de ser a primeira a dar as notícias. E assim que olhamos para ela, a Jibblet começou um relato detalhado sobre a manhã dela e como tanto Gibbs quanto Jenny tinham perdido a hora e ela acabou sendo usada como despertador dos dois.

— Então o papai passou a noite na sua casa?

— Sim, Kells, ele passou. E a mamãe tava usando ele de travesseiro nessa manhã!!

Nós nos olhamos... o que a Jibblet tinha nos contado somado ao que tínhamos visto...

— É, Chefinha...

— Que foi Tony?

— Seu plano deu certo!!! Deu muito certo!!— Pulei ao falar e abracei a Jibblet.

— Que parte do plano? – As irmãs quiseram saber.

Todas elas. – Ziva respondeu.

Kelly fez uma cara de abobada. Sophie ainda não tinha entendido os pormenores.

— Vocês têm certeza? – Quis saber a médica.

— Se você estivesse aqui de manhã tinha soltado fogos de artifício. – Tim respondeu.

— Ok... eu não tenho mais muito tempo. Vocês vão ter resumir.

— Como resumir o que vimos? – Tony perguntou.

— Falem logo! Meu superior está vindo.

— A Coronel foi colocada para correr e a Diretora afirmou para Cynthia, com todas as letras que Jibbs é, FINALMENTE, um pacote só! Detalhes mais tarde! – Ziva encurtou tudo, e foi bem a tempo, pois o elevador fez ding e dele saiu o próprio Gibbs.

— Muito obrigada! – Kelly sorria de orelha a orelha. – Depois nos falamos. Perigo à vista! E você, Sophie, me conta a história dessa manhã com detalhes quando nos vermos!! Fui!

Kelly desligou e Gibbs entrou no meu lab.

— Achei vocês. – Ele disse.

— Oi Gibbs! Oi Chefe! Oi papai!! – Dissemos ao mesmo tempo.

Ele nos olhou desconfiado. Muito desconfiado.

— O que vocês estão fazendo aqui? – Ele olhou para cada um de nós, tentando ler a verdade em nossos rostos. Em Ziva e Tony ele não achou nada, assim, se concentrou em Tim, Soph e em mim. Sophie foi a próxima que soube esconder bem, Tim até tentou, mas foi em mim que ele fixou o olhar.

E FOI O OLHAR! E eu me senti a pior das pessoas más. Era realmente intimidante ser alvo dessa olhada. Isso dá medo!!

— Abbs...

Os quatro ocupantes do meu laboratório me olharam como se me dissessem para ficar quieta... eu bem que queria... mas eu sou uma péssima mentirosa.

— Ah! GIBBS!! EU TÔ TÃO FELIZ POR VOCÊ E PELA JENNY!! AINDA BEM QUE VOCÊS SE ACERTARAM!! – Eu disse e o abracei. Era verdade! Eu estava feliz.

— FUJAM!! FUJAM PARA AS COLINAS!! – Tony falou e eu pisquei, não tinha mais ninguém lá dentro, só eu e Gibbs.

— Vocês estão fofocando pelas minhas costas de novo? – Ele quis saber.

— Não era fofoca... só falando com a Kelly o que a gente ficou sabendo. – Eu fiz a minha melhor carinha de inocente ao respondê-lo.

Gibbs ia dizer algo. Porém o celular dele tocou. Curiosa como sou, tive que ver quem chamava.

Era Kelly.

Ele atendeu:

— Fala Kells.

— FINALMENTE!!! POR QUE DEMORARAM TANTO???? – Ela gritou do outro lado.

Gibbs me encarou de novo. Eu só sorri e dei de ombros. Afinal, Kelly é filha dele, né?