Eu não sei como sobrevivi aos dois primeiros dias de Sophie de castigo. Ela estava levando tudo tranquilamente, seguindo as nossas ordens à risca e não reclamou um segundo. A presença de Kelly diminuiu o fardo que a pequena tinha e eu sabia, mesmo que nenhuma das duas dissesse, que Sophie estava dando a opinião dela quanto ao apartamento de Kelly, mesmo sem sair de casa.

Kelly, todo santo dia ao sair de nossa casa, saía tentando não rir muito com a nossa cara, mas era inevitável, pois Sophie era mandada para o quarto logo depois do jantar, ficando por lá ou estudando ou lendo um de seus muitos livros, e eu e Jethro ficávamos na sala fingindo que a nossa filha mais nova não existia.

— Vocês vão realmente levar isso até o trigésimo dia? – Ela perguntou uma certa noite, na verdade, era a sétima noite do castigo, e Sophie tinha acabado de lavar o seu prato e dar boa-noite para todos nós e se despedir adequadamente de Kelly, que viajaria para Pendleton na manhã seguinte, dizendo que mandaria cartas para a irmã.

— Vamos. – Jethro respondeu e se jogou no sofá.

Kelly encarou o pai.

— Os meus castigos nunca duraram tanto tempo! Geralmente eu era libertada para ficar na sala vendo TV com senhor ou com a mamãe já no quinto dia... – confessou.

Jethro suspirou cansado.

— Sophie vai cumprir os 30 dias, Kelly e nem tente virar a minha cabeça!

— Tudo bem! Não está mais aqui quem falou! – Ela se deu por vencida. – Mas mudando de assunto, quando vocês vão na Califórnia me ver? Podíamos tentar um feriado prolongado e ir para alguma cidade próxima.

— Eu me recuso a visitar Los Angeles com a Ruiva. Nem pensar! – Jethro disse e nós duas começamos a rir.

— São Francisco não fica tão longe... – Foi a opção de Kelly. – Nem Las Vegas. – Ela deu de ombros com uma risada debochada.

Eu segurei o riso da cara que Jethro fez ao ouvir o nome de Las Vegas.

— Las Vegas?! – Ele grunhiu e Kelly gargalhou alto. - Você não ouse por os pés em Las Vegas, Kelly Gibbs! Não ouse! - Jethro avisou nervoso.

— Ixi, pai... eu quase fugi e me casei escondido com Henry lá... tendo Elvis Presley como meu celebrante! – Ela cantarolou, só esperando para ver a reação do pai.

Jethro ficou rubro com a ideia, eu me segurava para não rir da situação que estava vendo, quem diria que Kelly um dia ia soltar essa para cima do pai! E Kelly, bem, ela ainda ria das reações do pai.

— Por acaso você quer se juntar à sua irmã no castigo dela, Kelly? - Jethro ameaçou.

Foi demais para mim, deixei a sala e fui verificar se Sophie estava realmente cumprindo com o castigo dela, ou se estava vendo algum desenho no DVD Portátil que Tony tinha lhe dado. Quando saí, Jethro encarava a filha mais velha como se pensando se poderia voltar no tempo e deixá-la de castigo por mais do que meros cinco dias.

Quando abri a porta do quarto, sem bater antes, Sophie estava esparramada no chão do quarto, com seu livro de história aberto de um lado, o caderno do outro e um outro livro que não reconheci, bem a sua frente.

— Que livro é esse? – Perguntei, quando cheguei perto dela.

Minha filha se sentou no chão, cruzando as perninhas como Buda e me respondeu.

— É um livro de história que o Tio Ducky deixou aqui em casa para mim... Noemi me entregou na hora que cheguei. Estou vendo que tem muito mais coisas nele, do que no livro da Escola... – Apontou para o livro didático.

— Posso? – Pedi para ver o livro em questão.

— Claro! – Ela me estendeu o livro e pegou o material da escola para ler o que tinha lá. Depois começou a murmurar que estava editado demais. Folheei o livro que Ducky havia emprestado, era sobre história global, englobava todo o século XX. E detalhava todos os acontecimentos.

— Foi só esse que Ducky deixou? – Tornei a perguntar e Sophie se levantou rapidamente e correu para a escrivaninha, pegando outro livro, esse da história americana.

— Tem esse aqui também. Na verdade, eu tinha que ler esse, pois é o que bate com a minha matéria da escolha, mas esse aí, – Ela apontou para o livro na minha mão. – é muito mais interessante! – Tinha um sorriso enorme ao falar isso.

— Eu sei que é... só que tem coisa aqui você ainda não estudou. – E sem querer lá estava eu, sentada no chão do quarto da minha filha, discutindo História Mundial com ela.

Ela, ainda de pé, cruzou os pezinhos e mordeu o lábio.

— Eu sei que tem... e que eu só vou ver na escola muito lá na frente... mas fala disso! – Ela se ajoelhou do meu lado e rapidamente me mostrou o tema. – Papai não fala nada, Kelly também não... assim eu tentei ler o que foi a Guerra do Golfo...

— E o que percebeu?

— Que eu nunca vou entender o porquê de as pessoas começarem as Guerras e nenhum livro de história vai contar verdadeiramente o que é estar lá... — Ela balançou tristemente a cabeça.

— Nem sempre as coisas são simples de serem explicadas, filha. – Comentei. – Mas, posso te garantir, que quando você for mais velha, vai entender um pouco melhor o que foi tudo isso.

— Será que eu vou querer saber? – Sophie tombou a cabeça. – Não sei... deve ser algo tão ruim, mas tão ruim, que esse é o motivo de ninguém que esteve lá querer falar sobre...

— Guerras não são fáceis e eu nunca vi a pessoa que proclama guerra contra um determinado país, lutá-la. E, a única coisa que posso dizer, que sei que você vai entender é: estar em uma guerra, ver tudo o que ela causa, muda qualquer um.

— Deve mudar mesmo. Mudou até a Kells... ela não voltou diferente do Golfo?

Dei um sorriso para a minha pequena, eu tinha sentido falta de conversar com ela nos últimos dias.

— Sim, ela mudou. Mas sabe o que não mudou?

E a ruivinha só tombou a cabeça.

— Seu horário de ir para a cama. Agora guarde o seu material, coloque os livros que Ducky te emprestou na estante e se arrume para se deitar. – Dei um tapinha no bumbum dela para que ela se apressasse.

Sophie acabou de organizar suas coisas, escovou os dentes, arrumou a própria cama e se deitou, dessa vez me permiti colocá-la na cama e fui recompensada com um enorme sorriso por parte dela.

— Eu senti falta disso! – Ela me disse.

— De que?

— Da senhora me colocando na cama e me dando um beijo de boa noite! – Ela me abraçou pelo pescoço e beijou a minha bochecha. – Te amo mamãe! Boa noite! – Me soltou e se deitou abraçando o Timmy, o urso azul.

Parei e olhei minha filha.

— O que foi? – Ela perguntou alarmada, se sentando na cama.

— Filha, você entendeu o motivo de estar de castigo? – Perguntei me sentando ao seu lado.

— Sim... respondi e tratei a senhora e o papai mal.

— Exato. E você se lembra do que nos disse?

Ela mordeu a ponta do dedão e fez uma careta.

— Eu disse muita coisa que não quero repetir, mamãe. – Falou envergonhada.

— Você nos questionou se era ou não bom ser ignorada.

— É, eu falei isso... – Ela olhou para a ponta do cobertor.

— Pois bem, não, não é. E é ainda pior quando os pais fazem isso com a gente. Eu sei que você é muito perceptiva, Miniatura, e sei que nota quando eu e seu pai não estamos bem.

— Mas agora vocês estão bem, né? – Ela me olhou preocupada. – Me desculpe, não deveria interromper a senhora.

— Sim, estamos bem. – Respondi à pergunta para que ela ficasse mais tranquila. – E, nós dois deveríamos tomar cuidado com o que falamos perto de você, geralmente tentamos não trazer os problemas do trabalho para casa, porém, no último mês fizemos isso, e muito. E eu quero te pedir um favor, Sophie.

— Qual é, mamãe?

— Ao invés de você ficar brava porque não estamos te dando atenção, ou resolver contra-atacar na mesma moeda, quero que você simplesmente me diga uma única coisa.

Sophie tinha seus grandes olhos multicoloridos arregalados e focados em mim.

— Quando você ver que eu não estou deixando o trabalho de lado, mesmo já estando em casa, eu quero que você chegue perto de mim, me dê um abraço e apenas fale: “Seja bem-vinda de volta a nossa casa, mamãe!” Você pode fazer isso?

Minha filha tombou a cabeça e juntou as sobrancelhas, e eu previ a pergunta antes que saísse de seus lábios.

— Por quê? Por que essa frase?

— Porque eu vou me lembrar que dentro de casa, o que importa é a nossa família, que trabalho fica no Estaleiro. Que quando eu passar pela porta, eu deixo de ser a Diretora do NCIS e passo a ser a Mãe da Sophie.

Minha menina abriu um enorme sorriso e se jogou nos meus braços, me abraçando apertado.

— Eu posso fazer sim, mamãe!! Pode ter certeza! E eu nunca mais vou agir daquele jeito.

— Espero que não, filha. Agora vamos dormir que já está tarde e daqui a pouco o seu pai vem conferir se você já está deitada.

— Então fica mais um pouco! – Ela pediu com um beicinho.

— Acabei de dizer que está tarde! – Avisei.

— Mas aí o papai aparece e eu posso dar um beijo e um abraço nele, igual fiz com a senhora. Estou com saudades do papai me colocando na cama também, e do abraço de ursão dele!

— Não prometo que ele virá hoje, mas amanhã ele te põe na cama. – Entreguei o Timmy de volta para ela, enquanto Sophie se ajeitava para se deitar.

— Eba!! Muito obrigada, mamãe! Te amo!!

— Também te amo, minha Miniatura e saiba que eu nunca vou te abandonar. Boa noite! – Beijei o alto da cabeça dela, ajeitei as cobertas e saí do quarto, tinha acabado de fechar a porta quando dei um pulo de susto, Jethro estava parado ao lado do quarto da filha e me olhava com uma expressão sombria.

— Isso foi quebra do castigo. – Ele murmurou encarando a porta fechada.

— Não foi não. Vim ver o que ela estava fazendo, acabei por perguntar como foi a escola e, bem, pedi que ela me fizesse um favor, de sempre me avisar que eu estou em casa, para cenas como a que aconteceu na semana passada não se repitam. Depois dessa conversa, só a coloquei na cama. – Expliquei e segui pela escada a fim de me despedir de Kelly.

— Você a colocou na cama, deu o beijo de boa noite... tem sete dias que eu não faço isso. – Sibilou infeliz.

— Não posso fazer nada se tive a oportunidade perfeita. – Brinquei com ele. – Amanhã você faz isso. E só para constar, eu não considero colocá-la na cama, como uma quebra de castigo, além do mais...

— Além do mais o que, Jen? – Perguntou já do meu lado.

— Ela disse que sentiu falta do beijo de boa noite e eu me senti culpada por não ter feito ao menos isso. E ainda me falou que está sentindo falta do “abraço de ursão do papai antes de dormir”. E sabe qual é motivo para isso?

Jethro sacudiu negativamente a cabeça.

— Porque você parece ser o sonífero perfeito de sua filha, basta que Sophie fique em seu colo por dois minutos que ela cai no sono. - Dei um tapa em seu ombro e notei que isso pareceu aliviar a tensão que ele estava desde que colocara Sophie em um castigo tão longo.

— Então amanhã é minha vez.

— Sim, Jethro, sua vez, mas eu vou dar o beijo de boa noite nela também, afinal, como mãe, eu também sinto falta do abraço e do beijo da minha filhota.

Voltamos para a sala, Jethro se sentou perto de Kelly, que não perdeu tempo e foi se escorar no pai enquanto o marido não chegava, e nós três ficamos vendo um jogo só para a passar o tempo e, dessa vez, foi Kelly quem deu voz aos meus pensamentos.

— Isso aqui tá tão parecido com o nosso final de ano na França... Papai vendo TV, eu à toa e Jen lendo um livro.... por acaso voltamos no tempo?

Jethro só deu um tapa de leve na cabeça da filha e a mandou ficar quieta.

Quase uma hora depois, Henry apareceu. Entrou um tanto desconfiado, se sentou do lado de Kelly, que como estava escorada em Jethro, só jogou as pernas para o colo dele e ficamos ali, sem nada para fazer, como uma verdadeira família. Os dois acabaram por dormir aqui, no quarto que já pertencia a Kelly e, a despedida no outro dia foi tão doída quanto a primeira, já que Sophie não queria que a irmã fosse para o outro lado do país e não parou de chorar nem quando entrou na escola.

Kelly embarcou no meio da tarde, eu e Jethro conseguimos fugir do Estaleiro só para podermos nos despedir no aeroporto, e lá íamos nós para mais seis meses longe da nossa mais velha.

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Georgetown, 20 de fevereiro de 2008

Carta 01 (começo tudo de novo mesmo??)

Oi Kells!!!

Eu sei, não tem muito tempo que você foi embora, mas eu resolvi te escrever essa carta assim mesmo, não sei o motivo, mas achei certo.

Primeiro eu queria te dizer que a marmota estava certa no último dia 02... ainda está fazendo frio pra caramba, tipo, muito frio... as nevascas não param... só o que parou foi a minha escola. Pois é... é tanta neve que não tem como sair de casa, e agora que eu estou, literalmente, presa aqui, porque o meu castigo não acabou e papai escorraçou o Tony na semana passada, só porque ele me trouxe mais um desenho para assistir, não me restou muita coisa pra fazer... e como já estou com saudades, uni o útil ao agradável e estou te escrevendo!!

E, como se as coisas não pudessem ficar pior, essa nevasca fora de hora (nas palavras da mamãe, que jura que no próximo ano, se a tal da Marmota cismar em se assustar com a própria sombra, ela vai até lá e vai esganar a coitadinha...), deixou todo mundo dentro de casa. Sim, tanto papai quanto mamãe estão aqui, murmurando um para outro como esse “maldito tempo” não deixa ninguém trabalhar.

Papai já perambulou pela casa toda, procurando alguma coisa para arrumar, disse que as portas estão rangendo muito e que vai trocá-las, mamãe quase deu um treco quando ele falou em trocar a porta da frente, ela saiu falando na cabeça dele que aquela porta está ali desde que ela era criança e que ela ama aquela porta, e que se ele cismar em trocá-la, vai castrá-lo, (seja lá o que isso significar...) e, depois dessa, os dois ficaram se encarando no meio da cozinha por quase quinze minutos... aí, foi cada um para um lado e tudo o que eu escutei foi: “essa ruiva é maluca!” e “Marine teimoso”. Esse é o clima por aqui nos últimos dois dias, e eu acho que pode piorar devido ao fato de que a nevasca vai continuar... por pelo menos três dias... e eu não sei se isso é boa coisa, já que só com a notícia de que a neve vai continuar caindo mamãe bufou e papai a chamou de exagerada. No fundo, no fundo, acho que só eu gosto do inverno por aqui...

Sorte a sua que está longe e, pela previsão que acabou de passar na TV, está relativamente quente em San Diego... mamãe tá morrendo de inveja e disse que só não vai te fazer uma visita, porque nenhum avião está decolando dessa cidade congelada.

Sem querer a chamei de dramática, quase que fico o restante da minha vida de castigo. Acho melhor controlar os meus pensamentos perto dos dois ou eu nunca mais saio de casa!

Bem, tirando o mau tempo e o mau-humor dos nossos pais, por aqui está tudo bem... eu estou ensaiando como nunca para o balé, mesmo em casa, uma pequena condicional do meu castigo já que...

EU SEREI A PROTAGONISTA DO LAGO DOS CISNES!!!! SIM!! EU CONSEGUI O PAPEL!!

Me diz que você vai poder vir para a apresentação, será dia 17 de maio, é uma sexta-feira e, por favor, me diz que você vai conseguir vir!! Eu já convenci até o Henry de que ele TEM que assistir, mesmo ele não gostando de balé... ou pelo menos ele fez uma careta que indicou que ele não gostava de balé... mas se você vier, você tem que arrastá-lo a força até o teatro!! Eu quero todo mundo lá!

Eu tô tão feliz de ter sido escolhida como a protagonista, ainda mais depois de ter perdido a apresentação de Natal... você não faz ideia Kells! E eu te prometo, eu não vou errar nenhum passinho da coreografia! Não vou não! A Abby está tão feliz que disse que vai até comprar uma câmera nova para poder filmar toda a apresentação em HD, claro que Tim já concordou com ela e os dois estão pesquisando qual é a melhor do mercado...

Falando em Tim e Abby... eu tô achando que eles serão os próximos Tiva ou Jibbs... não conte para ninguém, MAS EU TENHO A GRANDE DESCONFIANÇA de que desde que papai não falou nada sobre a Tia Ziva e o Tony estarem juntos, creio que McAbby também estão... sim, eu já inventei um nome para eles, McAbby... o que você acha? Será que vão dar certo? Eu tô torcendo para que sim! Já imaginou se os dois um dia tiverem filhos... serão as crianças mais inteligentes da galáxia!

E você, já aprendeu a surfar? Tá indo na praia todos os dias? Porque eu sei que, se você pudesse, seria uma rata de praia, todo santo dia tomando banho de sol e mar... e, também espero que a essa altura, você já tenha perdido aquele bronzeado da capital... ou seja, a cor transparente que todos nós temos por aqui. Porque quando eu te ver, eu quero ver uma garota da Califórnia, não uma coisa branca como a neve como eu!!

Espero que você esteja bem, e que eu possa ir te visitar nas férias de primavera, isso se o papai e a mamãe não se matarem por aqui... parece que papai abriu a porta da frente e mamãe veio correndo pelo corredor dizendo que: “se ele pensasse em tocar na porta dela, aquela coisa velha e caindo aos pedaços que ele chama de carro – sim a caminhonete dele!! – vai virar sucata...” Eu vou ver se consigo acalmar a mamãe e tento fazer o papai parar de batucar na casa, ou pelo menos eu ele fique a salvo das ameaças da mamãe e longe das portas que ela tanto ama... só espero que ele não cisme de ir parar no meu quarto e arrumar alguma coisa, tudo lá tá arrumadinho e eu não quero ter que tirar poeira de cada um dos meus livros!

Estou com saudades e tenho certeza de que papai e mamãe também estão! Te amamos muito e logo, logo vamos nos ver... isso se a marmota estiver errada!

Beijos.

Sophie. (aquela que está torcendo para a marmota ter acertado a previsão e que neve até no dia do meu aniversário!!)

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— Sim, Jethro, encoste um dedo nessa porta e eu destruo aquela coisa velha ali! – Apontei para a caminhonete que estava parada, coberta de neve, na entrada de carros, claro que ela não coube dentro da garagem, pois lá dentro além do meu carro, tem aquele foguete amarelo que Jethro tanto ama.

— Você não é maluca de encostar um dedo no meu carro. – Ele sibilou.

— Então não encoste na minha porta.

— É só uma porta, Jen!

— É só um carro, Jethro! – O encarei e ele fez o mesmo.

Pela minha visão periférica, vi Sophie aparecer na porta da sala, ela abraçava uma folha cheia de desenhos.

— Estou escrevendo uma carta para a Kells, vocês querem que eu coloque algo nela? – Nos perguntou.

— Mas já? – Jethro perguntou e fechou a porta.

— Tô com saudades da Kells! – Ela disse e começou a se balançar nos próprios pés, algo que Kelly ainda faz muito.

— Eu também... fale isso para ela. – Jethro passou por Sophie e bagunçou os cabelos dela.

— E você, mamãe? – Ela veio me seguindo até o estúdio.

— Diga o mesmo.

— Tudo bem... E...

— E o que Sophie?

— Não brigue com o papai... ele só está entediado porque aqui em casa ele não tem um porão onde ele possa construir um barco... assim tá procurando algo para fazer. – Minha filha, quem eu carreguei por nove meses dentro da minha barriga, veio defender o pai, dentro do meu estúdio.

— Você está defendendo o seu pai?! – Perguntei incrédula. – Quando foi que você trocou de lado?

— Eu não troquei de lado... só estou explicando para a senhora o motivo do papai estar zanzando pela casa procurando algo para fazer, se ele fosse alguém que gostasse de ler igual a nós duas, ele estaria quietinho lendo e tomando uma garrafa de café, mas ele não é lá muito fã de livros, não dos que temos aqui em casa pelo menos, assim, ele tá sem ter o que fazer.... deixa ele quietinho zanzando pra lá e pra cá... não tá incomodando ninguém. – Ela terminou.

Olhei a minha menina, que tinha esticado um tanto considerável nas últimas semanas, já não era mais a minha baixinha, e acabei por falar:

— Depois dessa defesa convincente, Sophie, acho muito bom você fazer faculdade de Direito e acabar como advogada, porque seu pai vai precisar... – Murmurei e ela deu uma risada. – Já acabou a carta?

— Sim... só vou acrescentar o que vocês me pediram... só não sei como eu vou enviar, já que não tem como sair de casa. – Ela olhou pela janela e encarou a toda aquela imensidão branca.

— Não foi a senhorita que ficou toda feliz quando a marmota se assustou com a própria sombra indicando que teríamos um longo e gelado inverno? Agora arranje um jeito. – Comentei com ela.

Sophie deu de ombros e apenas disse:

— De qualquer modo, em agosto vamos fritar debaixo do sol mesmo... o que que custa termos mais algumas semanas de neve?

— Às vezes me pergunto se você não foi trocada na maternidade! – Falei cansada, não conseguia entender como a minha própria filha pudesse gostar tanto do inverno enquanto eu sempre fui mais do verão.

E minha Miniatura, achando graça do meu falso desespero, veio correndo para o meu lado, se jogou nos meus braços abertos e, me abraçando apertado, disse:

— Eu não fui trocada na maternidade! Não mesmo! – E encostou a ponta do nariz gelado no meu pescoço de propósito.

— E como a Senhorita Nariz Gelado sabe disso? – Apertei a ponta do nariz dela.

Ela, muito esperta, apenas sorriu e disse:

— Temos a mesma cor de cabelo, às vezes a mesma cor de olhos e, diz o papai, que falo tanto quanto a senhora, não tem como eu ter sido trocada na maternidade!!

— Tá bom... vou fingir que acredito que é você a minha filha... agora me deixe trabalhar.

— Não posso ficar aqui? – Perguntou toda manhosa.

— A senhorita está de castigo... – Informei.

— Não posso ficar no seu colo estando de castigo?

Eu até ia responder que ela podia ficar no meu colo, mas escutamos um barulho alto vindo da cozinha.

— Acho melhor você ir ajudar o ciumento do seu pai antes que ele ponha a casa abaixo... — Beijei o alto da cabeça dela. – E vê se coloca uma toquinha, suas orelhas estão congeladas!

Sophie pulou do meu colo e saiu correndo e gritando pelo pai, pelo menos pelas próximas duas horas, Jethro teria que se preocupar mais com a falação da filha do que em destruir e reconstruir a minha casa.

Com pouco que Sophie sumiu pela porta da sala em direção ao pai, alguém bateu na porta, e quando eu digo bateu, é realmente isso, não tocaram a campainha, achei estranho, ou talvez, a campainha só tivesse congelado nesse frio todo, assim, me enrolei em meu suéter e fui atender.

— Só um minuto! – Gritei do meio do corredor, já que as batidas continuavam.

Quando finalmente alcancei a porta, as batidas cessaram, mesmo assim a abri, para não ter mais ninguém ali. Tinham pegadas na neve fresca, mas não tinha mais ninguém à vista. Fechei a porta praguejando contra quem tinha me feito sair do quentinho da minha casa para nada e, assim que o fiz, um arrepio percorreu minhas costas e não tinha nada a ver com o frio, quando vi um envelope jogado no carpete.

Como eu não o tinha visto antes, eu não sei, mas ali estava, um envelope pardo, do tamanho de uma folha A4.

Corri até meu estúdio, peguei um par de luvas e voltei para pegá-lo, parando para encarar pai e filha que olhavam para o objeto com interesse. Sophie curiosa, achando que poderia ser uma carta de Kelly, Jethro com uma sobrancelha levantada.

Peguei a carta do chão e olhei. Não tinha remetente.

— Sem remetente. – Comentei.

A feição de Jethro se fechou e ele mandou Sophie pegar algo no quarto dela, assim que ela chegou no andar de cima, ele me encarou.

— Mesma letra do último sem remetente que você recebeu?

Analisei a caligrafia.

— Impressora. – Falei. – Abro ou não?

Ele meneou a cabeça em concordância.

Com a minha faca de bolso, rasguei a aba para encontrar uma folha dobrada e uma foto.

Fitei a foto que estava no meio da folha, uma foto minha, estava bons nove anos mais nova e com os cabelos loiros, e a roupa que eu usava me indicou exatamente onde eu estava, estava em Marselha, e eu sabia quando a foto fora tirada, horas antes da identidade de Jethro ser descoberta enquanto negociávamos com Zukhov. Minha boca secou enquanto lia as palavras impressas em preto no papel.

Pode levar o tempo que for, você vai pagar por tudo o que me aconteceu desde 1999.”

Entreguei a carta e a foto para Jethro, ele não levou um minuto para identificar o local da foto e muito menos quem estava me mandando a carta.

— Ela está atrás de você, Jen. Agora é real.

Meneei a cabeça em concordância e tive que manter uma expressão neutra, pois Sophie descia as escadas aos pulinhos com uma caixa na mão.

Jethro me devolveu a carta e a foto, depois guiou a falante ruivinha até o deck dos fundos. Guardei o papel e a foto em um saquinho plástico, mas não sabia se valia a pena perguntar para Abby se havia algo ali, eu sabia quem estava por trás daquelas ameaças.

Só restava agora saber como encontrar Svetlana antes que ela me encontrasse e soubesse que eu também tinha um ponto fraco, um não, vários.

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Eu nem consigo acreditar que já tinha um mês que eu estava em Pendleton, parece que o tempo aqui estava passando mais rápido do que quando eu fui para dentro do USS Daniel Webster, talvez se deve ao fato de que aqui, efetivamente, eu estava vendo o meu marido e a minha família com mais frequência, afinal, videochamadas pelo computador pessoal são muito mais fáceis do que em uma sala de comunicação onde outras cinco mil pessoas podem estar escutando o que você está dizendo.

E já que é assim, eu não esperava receber nenhuma carta da Moranguinho. Afinal, ela não gostou muito da minha ideia da primeira vez, e eu duvidava que ela fosse continuar com elas, já que eu estava no mesmo país, e foi com surpresa que, quando cheguei em meu pequeno, mas aconchegante apartamento, vi que tinha uma carta dela.

Sinto muito, Henry, hoje você foi preterido! Vou ler a carta de Sophie primeiro, depois te ligo.

Fui logo rasgando a borda do envelope com uma faca, e tirei as três folhas lá de dentro, a primeira coisa que notei foi a mudança na letra de Sophie, ela já não tinha aquela letra imensa de criança, sua caligrafia já estava se definindo e isso me deu um aperto no peito, minha irmãzinha já não era tão pequenina assim.

Me joguei no sofá, acompanhada de uma garrafinha de água e comecei a ler o que ela escreveu, só mesmo a minha irmã para me escrever sobre o Dia da Marmota!

Fui rindo de algumas frases e o modo peculiar como ela contava o que estava acontecendo lá em Georgetown, até que quase me engasguei pra valer com o que estava escrito.

Dei uma gargalhada tão alta que tenho certeza de que os vizinhos agora me acham maluca de tudo, mas isso??

Jen realmente tinha ameaçado a velha caminhonete de papai por conta de uma porta??

Eu já sabia que nenhum dos dois batia bem da cabeça e agora eu tive a minha comprovação...

Ainda bem que ela não ameaçou por fogo no Dodge... porque até eu defendo aquele lá.

Como eu queria estar por perto para ver essa bagunça louca!!

Fiquei agradecida que Sophie tinha me incluído na história, isso prova algo muito importante, pelo menos para a minha irmã caçula eu sempre vou ficar a par das maluquices que a minha família está aprontando.

Uma carta dessas bem que merecia uma resposta.... e foi exatamente o que fiz. Acho que a Moranguinho vai ficar feliz ao receber essa carta aqui.

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Bem... a semana da nevasca acabou, para a alegria de meus pais e para a minha tristeza! Estava tão bom ficar à toa dentro de casa, só me preocupando em ensaiar os meus passos para a apresentação...

É claro que eu nunca mencionaria isso para a mamãe, ou era bem capaz que eu ficasse de castigo até o verão, assim, com muita preguiça, me levantei, arrumei a minha cama, coloquei uma blusa bem quentinha e uma meia calça também, afinal, eu até tenho que usar uniforme, mas eu não tenho que congelar, e desci já com as minhas coisas, para tomar café.

Com o NCIS já funcionando, o humor dos meus pais estava mil vezes melhor, aliás, o de papai tinha melhorado consideravelmente quando foi possível que ele saísse de casa e pudesse dirigir. Ele foi direto para Alexandria e ficou o dia todo mexendo no barco. Foi preciso que mamãe fosse até lá e o buscasse para que ele lembrasse que tem que dormir e comer comida de verdade!

E, nesse clima menos complicado, voltamos à nossa rotina, e eles me deixaram na escola como todos os dias.

Já na entrada, Lilly e Emilly estavam reclamando do frio... definitivamente eu sou a única que gosta de frio nessa cidade! E começaram a pedir que a primavera chegasse logo, afinal, elas já estavam cansadas de ficarem dentro de casa.

Eu só ouvi o que elas tinham para dizer, primavera não era lá uma boa estação para quem tem enxaqueca que pode ser atacada pelo excesso de claridade ou por cheiros fortes, mas não comentei nada disso.

Minhas aulas foram fáceis, eu já tinha lido a matéria – o resultado de se estar de castigo e dentro de casa por conta da nevasca! – e mesmo com uma prova surpresa – que eu fechei!! - , meu dia estava sendo excelente.

Logo depois da aula, fui para minhas outras aulas específicas, aquele monte que deixa papai maluco e se perguntando se eu não vou morrer de cansaço! Mas a melhor foi a última, minhas três horas de ensaio para a peça.

Sim, três horas.

Vida de protagonista do balé não é fácil!

Fiz todos os movimentos certinhos e em nenhum momento eu temi que algo pudesse acontecer com o meu pé... ao final do ensaio, antes que eu saísse, minha professora Mademoiselle Bordeaux, me deu os parabéns pelos meus acertos e me pediu que eu ensaiasse mais um pouco outros movimentos. Não que os meus estivessem ruins, mas ela sempre busca a perfeição e ela tinha certeza de que eu poderia melhorar ali.

Oui, Mademoiselle, vou ensaiar mais essa parte! – Garanti.

— Vamos ver seu desempenho nas próximas aulas e, por favor, não se esqueça de avisar para a sua mãe que a prova do figurino é na semana que vem e que ela tem que vir.

— Ela já está avisada, anotou na agenda dela e também está na porta da nossa geladeira, não vamos esquecer.

Très bien. Agora está liberada! Au revoir! – Ela se despediu com um movimento tão perfeito que eu desejei fazer isso um dia.

Au revoir e merci beaucoup!— imitei o gesto – não tão elegante igual ao da minha professora e fui pegar as minhas coisas. Dei uma olhada no relógio, ou papai ou mamãe já deveriam estar na porta me esperando.

Eram os dois quem estavam no carro então corri logo para a porta de trás.

— Boa noite!! Senti saudades. – Dei um beijo em cada um e antes que eu me ajeitasse no banco e colocasse o cinto, mamãe me estendeu um envelope.

— Isso chegou para você, Miniatura!

Peguei o envelope da mão dela e olhei quem teria me enviado.

— É da Kells!!!

— Isso nós já vimos! – Papai me respondeu, sem me olhar, já que ele estava tomando muito cuidado com os arredores. Igual ao Melvin quando aquele cara Careca nos seguiu.

— Ela respondeu rápido. – Falei e tentei descolar a aba do envelope. – E usou uma cola de astronauta, não é possível! Não abre!

Mamãe estendeu a mão na minha direção, pegou o envelope e, com um movimento rápido, tirou a faca da cintura do papai e rasgou uma das laterais, me devolvendo em seguida.

— Nossa... um dia quero aprender a abrir envelopes assim! – Murmurei ao tirar o conteúdo de dentro.

A primeira coisa que vi foram fotos. Devia ter umas dez. Lógico que Kells não me mandaria uma foto dela ou do lugar onde ela estava trabalhando, mas me mandou fotos da paisagem da Califórnia, atrás de uma delas tinha a seguinte mensagem:

“Enquanto vocês congelam em D.C., temos muito sol na Califórnia. É inverno e mesmo assim dá para ir à praia! Estou te esperando para te levar na sua primeira aula de surf!”

— Kelly está surfando? – Papai perguntou.

— Não sei... ela disse que vai me levar para aprender... se ela estiver, deve ter contado na carta... – Respondi logo, pois eu não queria ver o papai bravo!

— Posso ver as fotos? – Mamãe me pediu.

Dei outra olhada nas fotos e nas paisagens, tinha até uma da calçada da fama, e passei para minha mãe.

E foi só aí que eu comecei a ler a carta.

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Camp Pendleton, 26 de fevereiro de 2008

Carta 01 (sim, vamos começar do zero de novo!)

Moranguinho,

Eu não esperava que você fosse realmente me escrever! Juro que achei que você se renderia à tecnologia e só falaria comigo quando eu ligasse, mas eu deveria saber, você não quebra uma promessa, não é? E aqui está a prova, a sua carta.

E dessa vez eu tenho que te agradecer pelas gargalhadas que a história que você contou me proporcionou.

Não, não fique triste. Eu não estou rindo da forma como você escreveu, mas sim da história em si. Apesar de que ameaças como essas que você relatou eram bem comuns alguns anos atrás. Fico feliz que isso também não mudou. Sabe, parece estranho, mas papai e Jen têm um jeito único de conversarem entre si e, às vezes, só às vezes, essas ameaças que parecem malucas e saídas do nada é algo só deles e que só os dois entendem. Acredite em mim, eu também ficava perdidinha no início, depois me acostumei tanto que começava era a rir da situação absurda que os dois se metiam...

Sabe, de volta em 1998, antes que você nascesse, esses dois doidos que estão ameaçando destruir uma porta e um carro, tinham uma guerrinha particular sobre quem estava mais certo.

Até onde me lembro, Jen estava ganhando, e ganhando com uma vantagem tão grande que, para ajudar papai a entender o que a sua mãe estava falando, eu mandei um dicionário para o papai.

O pobre dicionário voltou da Europa todo amaçado e esculhambado, e nunca foi usado como dicionário. Sabe em que papai o usou?

Sei que você não faz ideia e nem tem como acertar chutando, então aqui vai a resposta:

Como calço de porta. Aquilo que nós colocamos no chão para que a porta pare de bater.

Se você fosse viva naquela época, tenho certeza de que teria um treco! Depois pergunta para a sua mãe, ela vai te contar a história toda.

Mudando de assunto, e indo para um assunto bem interessante:

COMO VOCÊ FICA SABENDO DE TODAS ESSAS FOFOCAS?? Como assim o Tim e a Abby??? Por que tudo só acontece quando eu não estou por perto?? Sophie, eu te nomeio a minha fofoqueira oficial e assim que algo acontecer e você ficar sabendo, me conte!! Com urgência. Eu não posso perder umas coisas dessas!!

Então... a senhorita tanto ensaiou, tanto dançou, tanto pulou e agora é a protagonista do balé de primavera??? Que orgulho que eu estou de você!! Se o solo que você fez no último que participou já foi lindo, eu tenho certeza de que essa será a melhor apresentação de todas, contudo, para isso acontecer, você tem que dançar, tem que ensaiar, tem que ouvir os conselhos da sua professora e tem que ensaiar ainda mais dentro de casa e não pode desistir!

Eu não sei se estarei liberada no dia 17/05, mas eu te prometo que vou tentar estar aí... nem que eu vá só na sexta-feira e retorne para a Califórnia já no sábado! Eu não posso perder a minha irmãzinha sendo a estrela de um balé por nada desse mundo! E já estou avisando, Henry vai de qualquer jeito! Nem que seja amarrado!

17/05.... eu preciso estar aí... vou fazer tudo o que for possível para estar na primeira fila! Preciso levar lencinhos? Porque você me conhece, eu choro à toa!!

Bem, Sophie, obrigada pela carta e por todas essas informações, e, por favor, continue escrevendo, eu adoro ler o que está se passando em D.C.!

Diga ao papai e à Jen que estou com saudades, espalhe a notícia para a equipe também. E tente por um pouco de juízo na cabeça de seus pais e fale para eles te trazerem para a Califórnia que nós vamos surfar juntas.

Respondendo à sua pergunta: sim, eu vou todos os dias à praia, corro na orla, e se me sobrar tempo, dou um mergulho.

Também comecei aulas de surfe... caio mais que surfo, mas estou adorando e tenho certeza de que você vai se divertir... quem sabe nós duas não colocamos o papai em cima de uma prancha e, enquanto ele tenta ficar de pé, começamos a cantar o tema de Hawaii Five-0? O que você acha?

E sobre a sua súplica de que a Marmota esteja certa, disso eu não sei, mas tendo em consideração o tanto que Jen e papai brigaram, por conta de uma porta, se eu fosse você torcia para que o inverno passasse logo, ou na sua casa não terá mais portas ou carros! Acredite em mim, eles são radicais sim.

Também estou com saudades e só sei que em menos de um mês tem alguém ficando mais velha!!

Te adoro, sua Pestinha Ruiva e Fofoqueira!

Beijos,

Kelly!