Carta para você

Primeira-Tenente Doutora Kelly Gibbs-Sanders


Uma semana depois do casamento, Kelly se formou na Academia Naval, com honras, sendo a melhor atiradora da turma, a mesmo tempo, sua residência também tinha sido finalizada. O que já a colocava apta para ser mandada para fora do país ou para qualquer outro lugar onde pudesse ser solicitada, o que incluía da Costa Leste até o Hawaii.

Como ela tinha conversado com seus superiores e deixado para se casar só no final do treinamento, agora ela estava de licença para curtir a lua-de-mel. Os recém-casados não perderam tempo e logo depois da cerimônia de formatura e graduação, pegaram o primeiro voo para a Grécia.

E foi só aí que a ficha de Jethro começou a cair. Sua primogênita era uma mulher casada. E para se livrar do sentimento de “abandono” ele se apegou ainda mais a Sophie que, já de férias, achou muito bem-vinda a atenção extra.

Enquanto o paizão superprotetor se acostumava com a ideia de que a qualquer momento poderia ser avô, a vida continuava. Meu maior receio era que descobrissem que Rene Benoit tivesse sido assassinado, porém, até agora nada foi dito e eu comecei a ficar bem aliviada.

Tudo corria as mil maravilhas, era o meio do verão, Kelly já tinha voltado da Grécia, cheia de histórias para contar e presentes para distribuir, ficando uma semana por perto até que sua primeira designação saiu.

O Navio Médico que estava atracado no Golfo Pérsico.

Não teve jeito, todo mundo foi despedir da, agora, Doutora Sanders. A choradeira ficou por conta de Abby e Sophie. Eu me mantive forte, pois sabia que se começasse a chorar ali, Kelly choraria também. Ela se despediu de todos com abraços bem apertados e escutou a mesma frase mil vezes:

— Volte viva e inteira! Se cuide!

Quando se despediu de Sophie relembrou a promessa.

— Uma carta por semana.... eu sei. – Sophie fungou.

— E não se esqueça de numerá-las para que eu não perca a ordem. – Kelly avisou.

— Não é melhor um e-mail? – Sophie tentou fazer a irmã esquecer a ideia de usar um método de correspondência tão velho e demorado.

— Cartas, Sophie! E um dia você vai entender a importância disso. – Abraçou a irmã e se virou para mim.

— Tome conta da minha irmã, dos meus irmãos e, principalmente do meu pai! Agora eu ando armada! – Ela piscou para mim ao dizer.

— E você está ameaçando a Diretora da Agência que Investiga Crimes contra a Marinha?

Kelly me olhou e mordeu o lábio.

— Não gosto de você! Você é telepata! – Ela brincou e Tony e Sophie riram da referência ao desenho.

Puxei a minha filha para um abraço.

— Se cuide Kelly. Eu tomo conta da turma daqui.

E ela se voltou para o pai.

— Eu já deveria ter me acostumado com as nossas despedidas a essa altura, não é? – Disse sem olhar para o pai.

— Essa é completamente diferente, Kelly.

— Invertemos os papeis. Quem diria! E o senhor é quem tem que chorar! – Disse com um meio sorriso, mas era ela quem começava a chorar.

Jethro puxou a filha para um abraço. Eu tive que olhar para cima para segurar as lágrimas, essa despedida estava me remetendo a Londres e a Paris.

— Se cuide, filha. De verdade.

— Eu vou me cuidar, pai. Eu vou. Isso é uma promessa.

Abby começou a soluçar e Sophie a seguiu. Ziva levou as duas para longe, mas vi que nem ela estava gostando do clima. Tim e Tony seguiram as meninas, Tony pegando Sophie no colo e tentando acalmá-la, já que agora ela chorava de verdade.

— É muito bom que você cumpra essa promessa, Kelly.

— Ou o senhor vai mandar alguém atrás de mim? – Ela tentou brincar.

— Vamos dizer que eu conheço alguém com contatos bem sólidos na Marinha para fazer isso por mim. – E os dois olharam para mim.

— Eu amo vocês dois!! Aguentem a barra por aqui que eu vou me virar por lá! – Ela disse ao se soltar do aperto do pai.

Puxei Jethro pelo braço e o tirei de perto de Kelly, queria dar espaço para que ela pudesse se despedir de Henry adequadamente. A despedida deles não pôde ser demorada e logo vi Henry caminhando na nossa direção, tínhamos parado perto das janelas e víamos o contingente embarcando. Com pouco, os demais voltaram. Abby já estava mais calma, mas ainda chorava. Sophie só trocou o colo de Tony pelo de Jethro e olhou para a pista procurando pela irmã. Na mesma hora, Kelly se virou e tentou adivinhar se ainda estaríamos ali. Por via das dúvidas, acenou. Imitamos o gesto, mesmo sabendo que ela talvez não nos visse. Ela entrou na aeronave respirando fundo e nós ficamos ali, parados até que o avião sumiu rumo ao Oriente.

— Ela vai voltar, não vai, papai? – Sophie perguntou baixinho.

— Vai sim, Ruiva. Kelly vai voltar. – Jethro garantiu. Sophie só meneou a cabeça e depois a escondeu na base do pescoço do pai. – Se já é ruim ver a Kells indo... imagina se eu tivesse que ver o senhor.... eu ia chorar até o dia que o senhor estivesse de volta. – Ela murmurou abraçando Jethro mais forte.

Voltamos cabisbaixos para os carros, todos sabíamos que ela teria que ir, mas ninguém queria que Kelly fosse. No fundo, torcemos para que ela ficasse lotada em algum hospital da região, não tivemos essa sorte. Henry era o mais abatido. Menos de um mês de casamento, e ele já via a esposa ser mandada para longe.

— Henry. – Chamei-o.

— Oi Jenny?

— Se precisar de alguém para conversar, ou só quiser companhia, você será sempre bem-vindo.

Ele deu um sorriso.

— Obrigado. – Me respondeu, se despediu de todos e foi para o próprio carro. Com toda certeza ia se enterrar em trabalho até que Kelly estivesse de volta dentro de seis meses.

E foi Ziva quem notou algo interessante.

— Na maioria dos casamentos, a esposa é aceita na família do marido e todo mundo concorda isso. No casamento da Kelly e do Henry foi ao contrário, foi ele quem se juntou a essa família. Por isso, eu ainda acho que ele deveria ter assumido o sobrenome Gibbs e não ela assumido o Sanders.

— No dia que essa bagunça aqui, Ziva, for tradicional ou fizer algum sentido, me avise. Mas eu acho que nunca vai ser e é por isso que eu amo a nossa família! – Abby disse. E as duas saíram conversando até o carro, sendo seguidas por DiNozzo e McGee que só escutavam o que as garotas diziam.

Eu, Jethro e Sophie ficamos para trás. Jethro parecia querer ficar um pouco longe dos demais.

— A Ruiva vai conosco para o Estaleiro. – Ele falou de uma única vez e apressou o passo.

— Vou? – Sophie perguntou animada.

— Sim, vai ficar lá comigo. – Ele respondeu à filha.

Com ele...

Ah... Leroy Jethro Gibbs, você não me engana mesmo!

E Jethro passou todo o dia com Sophie ao seu lado, ou tanto quanto ele podia já que um caso apareceu. Porém, não foi difícil de ver que onde ele colocava o pé a pequena estava junto, até para a pausa do café ele a levou e ela voltou feliz da vida com um enorme milk-shake.

A parte boa era que ele fez todas as vontades dela, e Sophie aproveitando o ensejo, trouxe cafés e pãezinhos de canela para todos. E esse foi o único momento em que eu passei com a minha filha, pois Jethro tinha ido para a autópsia e ela resolveu me trazer o meu café e o de Cynthia.

— Mamãe!! – Ela chamou da porta que estava aberta. – Posso entrar?

— Claro.

— Tenho o seu lanche! – Disse com um sorriso e levantou o copo de café e o pacotinho onde estava o pão.

— Seu pai te liberou para vir me visitar? – Brinquei.

Sophie, muito esperta, veio se sentar no meu colo, tomando seu milk-shake ruidosamente pelo canudinho.

— Papai está na autópsia. E eu não vou lá quando o Tio Ducky tem visitantes. – Ela me explicou.

Não falei nada, eu também não era fã da autópsia...

— E o que você ficou fazendo lá embaixo?

— Absolutamente nada... tá todo mundo trabalhando e triste. Tenho certeza de que estão preocupados com a Kells, papai é o mais preocupado.

— É mesmo?

— Sim. Sabe quando ele fica meio perdido, olhando para um ponto fixo? Ele tá assim hoje. Tony teve que chamá-lo duas vezes até que eu o cutuquei.

Seria uma noite complicada... já estava prevendo Jethro indo para a casa vazia de Alexandria e se enfiando dentro daquele porão para acordar só no outro dia, debaixo do esqueleto do seu mais novo barco. E muito provavelmente o terminaria até a volta de Kelly. Outro que me preocupava era Henry...

— A senhora não vai comer? – Sophie me perguntou, me tirando dos meus devaneios.

— Vou sim... vamos nos sentar ali no sofá.

E minha miniatura levou tudo para a mesinha de centro e, antes de se sentar, tirou os sapatos, praticamente em sincronia comigo.

— Foi você quem escolheu? – Perguntei depois que dei uma mordida no pãozinho.

— Foi. – Ela falou depois de tomar um gole particularmente barulhento do milk-shake.

— Muito obrigada, apesar de que eu ainda não sei como você convenceu o seu pai a comprar isso.

— Ah... Ele comprou pra todo mundo! Eu pedi e ele não se importou, só não me deixou comprar nada com chocolate. Disse que não aguentaria me ver com outra crise de enxaqueca.

— Justo. Nem eu. – Concordei com ela.

— Mamãe... – Sophie me chamou depois de algum tempo. - Quando que a Kelly volta?

— Antes do Natal ela vai estar de volta.

— E fica quanto tempo com a gente?

— Aí depende. Ela pode ficar em um hospital por aqui, ou ser mandada para outro, em qualquer lugar do país. Mas por que você está me perguntando isso?

— Porque eu não gostei de ver a Kelly ir. Foi triste. Eu sei que ela se alistou para isso e eu fico orgulhosa de ver a minha irmã servindo o país, mas, ao mesmo tempo, eu fico triste de ver que Henry, a senhora e, principalmente o papai, estão tristes com a ida dela. E tem o fato de ninguém saber o que vai acontecer lá... e eu tenho medo. Kells me disse, uma vez, enquanto o papai estava no México, que ele sofreu um acidente no Golfo... foi a primeira vez que ele ficou em coma. Eu tenho medo de algo assim acontecer com a Kelly e ela ficar em coma e acordar e se esquecer que ela se casou com o Henry, que eu sou a irmã dela, se esquecer que a Tia Shannon virou estrelinha.... se esquecer da nossa família... – Ela terminou toda apreensiva.

Puxei minha menina para o meu colo e a abracei.

— Sophie, olhe aqui. Eu não posso te prometer que a Kelly vai ficar 100% bem, porque eu não sei quais são as designações dela, contudo, até segunda ordem, ela vai ficar dentro de um navio médico que fica ancorado em águas internacionais, perto do Golfo. Eu sei que parece coincidência o local onde ela está e onde seu pai sofreu o acidente em 1991, mas nós ainda estamos em guerra naquela região, não deveríamos, mas estamos. E o que Kelly tem que fazer é receber e tratar os feridos, o trabalho dela é muito importante... se lembra que ela já foi para lá uma vez?

— Sim... e ela nos ligou chorando...

— Bem... – Não foi lá uma boa lembrança. – Ela tinha tido um dia ruim, todos nós temos, e você sabe que a Kelly sempre precisa desabafar com alguém.

— Eu sei.

— Assim, eu gostaria que você se lembrasse que, de todos os alistados, os médicos são os que menos correm riscos, ainda mais cirurgiões como a Kelly. É claro que existe a chance de que ela vá até a zona de conflito, mas eu não quero que você fique pensando nisso. Pense positivamente tudo e vai dar certo no final.

Sophie me encarava solenemente, absorvendo as minhas palavras. Depois ela olhou para as próprias mãos e começou a ficar vermelha.

— Mamãe... a senhora me acharia muito covarde se eu dissesse que eu nunca faria isso? Eu não tenho coragem de fazer o que o vovô Jasper fez, o vovô Jack e o papai fizeram e muito menos o que a Kelly está fazendo... eu... tenho medo. – Ela terminou baixinho.

Uma parte de mim sentiu um alívio tremendo ao saber que Sophie jamais iria se alistar e ser mandada para uma zona de conflito, porém a outra parte me disse que ela não se alistaria, mas já estava decidida a ser uma agente do NCIS e que, em termos de perigo, era quase a mesma coisa.

Abracei minha filha e a respondi.

— Você não é uma covarde, filha. Não são todos que servem ao país com tanta bravura. Tem os que vão como seus avôs, seu pai, sua irmã, e tem os que ficam e fazem a diferença daqui. O importante é que você não se esqueça do esforço dos que foram e estão lá. Pois muitos esquecem.

— Eu não vou esquecer. E... – Ela mordeu o lábio inferior.

— E? – Instiguei-a.

— Eu não vou servir, não tenho coragem para tanto, mas eu quero ser uma agente do NCIS para poder ajudar não só os que estão servindo, mas as suas famílias e os veteranos também, principalmente os veteranos.

— Então, você só tem que se preparar para isso. – Falei e dei um beijo no alto da cabeça dela. Minha menina tinhas as mesmas boas intenções que Kelly e Jethro tinham. Fiquei feliz em saber disso.

— Não é o que eu venho fazendo? – Ela me sorriu. – Só falta eu começar a analisar uma cena de crime com a equipe! Porque todo o resto eu já estou sendo treinada!

— Isso vai demorar! – A voz de Jethro soou um tanto alta demais dentro da minha sala e nós duas nos assustamos, não tinha visto que ele estava parado tão perto.

Sophie arregalou os olhos para o pai.

— No mínimo uns quinze anos, ou mais. – Ele disse.

Sophie fez as contas.

— Só quando eu tiver vinte e dois anos? Mas isso é tempo demais!

Segurei a risada. E Jethro me olhou torto. Tive que ser a intermediadora da situação.

— Vamos combinar uma coisa, filha? – Chamei a sua atenção.

— O que mamãe?

— Viva um dia de cada vez e não se preocupe com o futuro, quando você menos esperar, ele já chegou.

Ela fez uma careta.

— Mas eu quero ajudar! – Ela protestou. – Quero fazer algo importante igual a todos vocês!

— E vai fazer, quando tiver a idade certa, o treinamento certo. Por enquanto, filha. – Jethro a tirou do meu colo. – Você só tem que se preocupar em ser criança e em escrever as cartas para a sua irmã.

Me levantei para seguir os dois.

— Eu não faço nada de útil assim!

— Faz. Lembra à sua irmã em cada carta que tem alguém que está esperando por ela. Que tem alguém que se importa com ela! – Foi a minha reposta.

— E isso é importante? – Ela tombou a cabeça e nos encarou.

— Você não faz ideia, Ruiva, do quanto isso é importante quando se está longe de casa. – Jethro deu um beijo no alto da cabeça dela.

— Tá bom... então eu vou fazer isso. Mas eu ainda acho que tinha que ser por e-mail.... – Ela se conformou.

— Vamos deixar a sua mãe trabalhar agora. – Ele levou Sophie para a porta.

— Ainda falta muito para acabar o expediente?

— Umas três horas, Ruiva.

— Então até daqui a pouco, mamãe! – A Pequena pulou do colo do pai e veio em abraçar.

— Até e obrigada pelo lanche! – Dei um beijo nela e me despedi dos dois.

E exatamente como Jethro havia falado, três horas depois os dois apareceram na minha sala para me levarem embora e como eu havia previsto, Jethro só nos escoltou para o meu carro e seguiu para o dele.

— Jethro. – Chamei-o quando Sophie já estava presa pelo cinto no banco de trás.

Ele se virou na minha direção.

— Ficar sozinho e se matar em montar um barco tomando Bourbon não vai aliviar a preocupação e a saudade que você está sentindo. Sei que você precisa ficar um tempo sozinho, mas não passe a noite dentro daquela casa... não vai te fazer bem. Leve o tempo que precisar, mas volte para casa. – Falei com ele.

Jethro só levantou uma sobrancelha para mim.

— Sim... casa. A nossa.— Reafirmei.

Ele olhou para todos os lados e não vendo testemunhas, deu um passo para frente e me beijou como ele nunca fazia quando estávamos no Estaleiro.

— Me espere para colocar a Ruiva na cama. – Ele disse quando nos separamos.

— Eu vou e ela também. – Dei um selinho nele e entrei no carro, um pouco mais tranquila sabendo que ele não se permitiria a ficar sozinho.

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Georgetown, 10 de junho de 2007.

Carta 01

Oi Primeiro-Tenente Doutora Kelly Gibbs-Sanders!!!

Eu tenho uma fofoca para te contar!! Você não vai acreditar quem eu conheci hoje! Se isso aqui fosse um chat, você poderia tentar, mas não é... assim, se prepare.

A Ex-esposa nº3!!! A Stephanie!! E foi uma bagunça no Estaleiro. Foi tão bagunçado que Tony ainda nem acredita no que aconteceu... porque até a Coronel Mala Sem Alça apareceu.

Você está sentada? Porque eu vou começar.

Então tudo começou assim:

Você sabe que eu estou de férias, assim, estou passando metade dos meus dias lá no NCIS, sempre longe de qualquer problema e, principalmente de SecNav. Ele é chato pra caramba e já me olhou feio umas duas vezes, se ele não fosse o chefe da mamãe, eu juro que tinha chutado a canela dele. Mas não é isso o que eu tenho que falar... é sobre o encontro mais bagunçado da história.

Eu estava muito bem escondida de SecNav na autópsia, o Tio Ducky não tinha nenhum visitante então eu fiquei lá, tomando chá com ele e com o Jimbo. Tudo corria ás mil maravilhas, o Tio estava contando um caso que aconteceu com ele quando ele era adolescente (o que deve ter sido há muito tempo, mas eu não falei isso pra ele!), quando o Tony entrou com os olhos arregalados e completamente desesperado. Ele perguntou por mim e depois que me achou respirou aliviado.

O Jimbo perguntou o que estava havendo, foi aí que ficamos sabendo que a Coronel estava no prédio. Ninguém gostou, é claro. Aliás, foi uma coincidência muito ruim que justo ela fosse a designada do CID para trabalhar ali... Só que as “coincidências” não terminavam aí, e a gente nem sabia disso, ainda!

Tony me levou para a sala do esquadrão e me fez ficar sentada do lado dele, a Tia Ziva estava com um olho na pesquisa que ela estava fazendo e o outro na Coronel e o Tim digitava furiosamente algo, ele estava conversando com a Abbs pelo chat que papai e mamãe acham que acabou, mas não acabou.

E foi aí que as coisas ficaram ainda mais complicadas. Papai desceu do escritório da mamãe, ela, como sempre faz, ficou parada lá na grade do quarto andar, vendo a movimentação do pessoal, e estava dando aquela encarada na Mala Sem Alça, mas aquela encarada mesmo, daquelas que dá muito medo! A Coronel deu um passo para frente e se desencostou da mesa do papai, bem na hora que ele chegava. E nesse mesmo instante a pesquisa que o Timmy tinha feito deu resultado. E o nome e a foto que apareceram na tela não foram outros do que os de Stephanie!!

Eu juro que não tinha entendido o tanto que o Tony ficou empolgado, papai sibilou algo e eu vi na hora que mamãe ficou preocupada, pois ela logo desceu a escada e parou na frente da TV.

Eu não sabia que ela conhecia a Stephanie, porque até ela não gostou do que viu!!

Foi quando a Coronel perguntou se alguém ali conhecia a mulher. Tim e Tia Ziva disseram que não. Tony não conseguiu falar nada, devido o fato de que papai e mamãe o olharam como se fossem matá-lo (achei que eu ia ter que defendê-lo de novo! Só na última semana eu fiz isso mais de dez vezes!). Papai disse que a conhecia e mandou Tony e Tia Ziva para buscá-la. Nessa hora, mamãe fechou ainda mais a cara e me mandou subir.

É claro que os enviados de papai achariam a Stephanie, que logo foi levada para a sala de interrogatório.... e todo mundo foi para lá ver papai e a Mala Sem Alça interrogá-la. A tia Ziva fez até pipoca!! E sim, eu também fui e não, mamãe não estava lá, eu saí escondida do escritório dela.

Só sei que o Tony não parava de falar que finalmente estávamos conhecendo a Ex-Esposa nº3.... Stephanie disse que não sabia de nada, mas que o cara morto era namorado dela... e ela olhou tão estranho para o papai que eu quis gritar para ela dizendo que ele estava noivo!

Como Stephanie não sabia de nada e conhecia a vítima, papai resolveu colocá-la em custódia protetora, e quem ia ficar de olho nela era o Tim. Assim, ela foi levada para a sala do esquadrão enquanto o McGee pegava as coisas dele para ir com ela até onde ela está ficando. .. Só que...

Mamãe estava lá. E ela tinha duas tarefas ali. A primeira era entregar um mandado devidamente assinado ao papai e a segunda, me procurar. Eu estava muito bem escondida atrás de Tony que estava atrás da última divisória, perto da Parede Dos Mais Procurados, e quando Stephanie a viu e prestou muita atenção nela e em papai...

E foi quando a vaca foi para o brejo.

O andar inteiro parou o que estava fazendo para ver a cena. Até a Cynthia saiu da sala dela e parou perto da porta do MTAC para ver.

Como bem disse o Tony, era impossível de não se olhar, pois o papai estava ali, parado, bem no meio da Ex-esposa nº3, da ex-namorada e da atual noiva e mãe da filha dele.

Você conhece o papai e sabe que quando ele fica encurralado, ele tende a dar ainda mais ordens e ficar ainda mais rabugento... só que a Stephanie não o deixou falar, ela foi logo soltando...

— Você é a ruiva do aeroporto. A mesma agente do NCIS que eu vi em 2000, só que você tinha uma bebê... uma bebê que tinha um olho de cada cor e um dos olhos era idêntico ao – ela se virou para papai e o encarou.

Sim, ela estava falando de mim e eu nem sabia que ela me conhecia... preciso saber mais sobre isso!

Mamãe não disse nada. Papai muito menos e tentou fazer o Tim se apressar. Logo Tim pediu que a Stephanie o acompanhasse. Foi quando ela me viu... e Kells... para o meu azar... eu estava com um olho de cada cor.

A doida chegou bem perto de mim e me encarou e soltou a seguinte frase: “Como é que eu não vi a semelhança antes? Esse seu olho direito é idêntico ao do seu pai... Espero que você seja mais fácil de lidar do que Kelly. Aquela lá... Deus que me livre!”

É sua ex-madrasta não é lá muito a sua fã, Kells.

Nem preciso dizer que todo mundo ficou calado, só mamãe fez menção de te defender, bem, papai também, eu ia fazer isso, quando a Coronel a respondeu com a seguinte frase: “Tem alguém que goste da Kelly por aqui?!”

E a confusão começou! Pois eu te defendi na hora, mamãe e papai também. E Stephanie e a Mala Sem Alça se uniram contra o papai e a mamãe.

Só que a minha mãe é a diretora do NCIS e isso não é à toa. Ela colocou a Coronel no lugar dela, dizendo que se a loira não conseguisse separar a vida pessoal da profissional, ela ligaria para o Comandante de Operações da Coronel e diria para eles mandarem outra pessoa que fosse capaz de trabalhar naquele caso. Já Stephanie, bem... ela ouviu algo mais ou menos assim: “Agora, quanto à Kelly, eu peço que fique calada, primeiro, porque ela não está aqui e não pode se defender de qualquer coisa que você vier a dizer e, segundo e talvez o mais importante, não insulte a minha filha na minha frente, você não me conhece e não faz a mínima ideia do que eu posso e vou fazer com você, entendeu?”

O recado foi dirigido à Stephanie, mas serviu para a Coronel também, que abaixou a cabeça e focou no caso até o final do dia, não falando mais nada, a não ser quando ela tinha alguma informação. Quanto a Ex-Esposa nº3, bem... Timmy a levou para bem longe, e depois, no final do caso, ela apareceu no Estaleiro para conversar com o papai. Não sei sobre o que era, só sei que não demorou, já que tanto eu quanto mamãe estávamos esperando por ele dentro do carro. Eu tenho certeza de que mamãe perguntou o que era, mas ele não respondeu, pelo menos não na minha frente.

Infelizmente eu não tenho mais tantos detalhes assim, porque me colocaram na sala de reunião... fiquei lá sozinha metade da tarde, longe da Coronel e, por consequência, não soube de mais nada... porém, escutei o Tony e a Tia Ziva comentando que a Coronel não olhou na direção de mamãe nem uma vezinha sequer... e toda vez que mamãe aparecia na sala do esquadrão, ela saía da frente dela. Queria ter visto e filmado para te mandar... era tudo o que você precisava ver, porém não tem como, mas fica tranquila, Abbs pegou a gravação da reação e salvou, quando você voltar, vai poder ver.

Então... Kells, era isso de importante que eu tinha que te escrever. Não vou te contar sobre o que eu ando fazendo, porque estou de férias e não tem nada de interessante... só que eu levei o maior tombão, resolvi tentar me refrescar e ver as estrela do telhado, aí subi da minha janela até a árvore e depois escalei até o telhado... eu só não contava com um galho seco... ele quebrou e eu despenquei até o chão. Fiquei toda roxa, agora eu tenho uma linda bota ortopédica no pé... vou ficar o resto do verão com ela... mamãe disse que foi sorte eu não ter quebrado mais nada, papai me mandou ficar longe das janelas e de qualquer coisa que eu possa subir pelo resto da minha vida... eles só não me colocaram de castigo porque com a bota eu não posso fazer nada... estou mancando por aí, a única coisa que me restou foi ler... e eu já li todos os meus livros e queria ler o do Tim, porém mamãe ao me ver com o seu exemplar, tomou das minhas mãos, esse é o pior verão da história!!!

Henry passou aqui em casa... veio almoçar. Na verdade, ele tem vindo muito aqui. Não fala tanto como quando você está por perto, mas ele é legal de ficar brincado. Tenho certeza de que vocês já conversaram e como ele me disse para escrever, ele diz que te ama e está sentindo a sua falta.

Espero que você esteja bem... que não tenha ido para a zona de guerra e que tudo esteja correndo bem com os seus pacientes... se cuida, Kells. Estaremos te esperando no dia do desembarque.

Tô com saudades,

Sophie.

P.S.: Por que todas as exs do papai são doidas? Diane, Stephanie... o que você fez com elas?? Não que eu esteja te julgando, mas... e por que todas são ruivas?!