Duas semanas após o meu final de semana inesperado em Alexandria, embarquei, já mais ou menos acostumada com a longa viagem, me ajeitei no assento e me entreguei à música que ouvia, certa de que logo estaria dormindo e assim o tempo passaria mais rápido.

Jenny tinha me avisado que talvez ela não estivesse em casa quando eu chegasse, ela vinha fazendo operações fora da Inglaterra, contudo quando cheguei no apartamento, eu encontrei o caos.

Noemi veio abrir a porta com um terço na mão e os olhos assustados.

Hola, Kelly! – Ela me cumprimentou em espanhol. – Achei que fosse a Señora Jenny.

— Aconteceu alguma coisa, Noemi?

E a adorável governanta não sabia se me contava ou não o que estava acontecendo, ela apenas apertou ainda mais o terço em sua mão e se benzeu com o nome do pai.

— Noemi, você está me assustando.

— Tem mais de três meses que a señora foi para uma missão na África. Ela não voltou e não deu nenhuma notícia. La pequeña está desesperada, chama a mãe todo dia e já até parou de comer...

— Mais de três meses?!! E ninguém do NCIS sabe de nada? Não vieram te avisar sobre nada?

— A agente Willows, que trabalha com a señora esteve aqui nas últimas semanas, sempre vindo checar a Sophie, e quando eu perguntei pela Jenny ela desconversou, e só depois que Sophie saiu de perto que ela me disse que tinha mais dois meses que Jenny não dava notícias. A última informação era a de que o disfarce dela e da Oficial de outra agência que está com ela foi descoberto. – Noemi terminou o seu confuso relato.

— Você contou para a Sophie? Aliás, onde ela está?

La pequeña não sabe. Eu estou tentando fingir que a mãe liga todo dia, mas ela está na escola. Agora com as férias eu não sei como vou fazer isso. E ela está na casa de uma amiguinha, uma festa do chá ou algo assim.

— Você fez bem, Noemi. – Eu tentava colocar meu cérebro em ordem para procurar por notícias. – Vou ver se consigo alguma informação para você. – Falei e peguei o telefone.

— Vai ligar para quem? – Noemi colocou a mão sobre a minha e eu li que ela não queria que eu ligasse para o meu pai.

— Vou ligar para o meu pai e avisar que estou bem. Depois vou ligar para Ducky e para a Kate, ela é uma agente da equipe do meu pai e tem contatos no Serviço Secreto que podem nos dar uma dica de onde Jen está!

A ligação para papai foi a mais fácil, como ele não queria que eu estivesse aqui, não alongou o assunto, mas percebi que ele sabia que algo estava errado.

Assim que desliguei, sem responder para ele o que estava de errado, liguei para Ducky.

— Autópsia. – Ele respondeu.

— Ducky, sou eu, a Kelly. Meu pai não está por aí não, né?

— Olá, Kelly. Não. Jethro acabou de sair, ele estava ao telefone com você e não saiu muito feliz por você ter desligado sem conversar direito com ele.

— Ótimo. Preciso de sua ajuda e é muito urgente.

— O que um velho médico legista pode fazer pela futura colega de profissão? – Ele perguntou com um sorriso na voz.

— Jenny está desaparecida há mais de dois meses, Ducky. Ninguém informa nada. E você sabe o que isso significa, não sabe?

— Sophie está sem mãe.

— E como meu pai parece ignorá-la por completo...

— Eu entendi.

— Então, preciso que você entre em contato com qualquer um que possa saber do paradeiro de Jen, de qualquer informação. Eu preciso inventar uma desculpa para acalmar a minha irmã que, de tão nervosa, já está até parando de comer.

— Eu vou conversar com as pessoas certas aqui, Kelly. Assim que tiver alguma notícia te passo.

— Ducky, muito obrigada. Eu vou pedir para a Kate dar uma olhada, sei que o acesso dela é diferente do seu e pode ajudar em alguma coisa.

— Sim, faça isso, sei que Caitlin vai ser discreta.

— É com isso que estou contando! – Falei em um suspiro.

— Agora vá acalmar a sua irmãzinha, Kelly. Deixe que te ligo, pelo que estou notando, você está no apartamento de Jennifer em Londres.

— Sim, estou aqui. Eu queria levar Sophie para os EUA, mas não faço a menor ideia de como posso fazer isso.

— Vamos ver que notícias conseguiremos. Qualquer coisa, teremos que informar a Jethro, e ele, como o pai de Sophie, é o único que poderá tirá-la de Londres.

— Vou rezar para acharmos Jenny logo. – Falei. – Muito obrigada, Ducky. De verdade.

— Sempre que precisar, minha querida. – E ele desligou o telefone.

Menos um. Faltava Kate.

Com um toque ela atendeu.

— Todd.

— Oi Kate, sou eu, a Kelly, se você estiver perto do meu pai ou do Dinozzo, disfarce o melhor que você puder, nenhum dos dois pode ouvir essa conversa. – Pedi.

— Oi, tudo bem? Quanto tempo! – Ela fingiu estar feliz com o telefonema.

— Muito obrigada. Vou ser rápida para não te encrencar. Preciso de um favor seu. Uma pessoa que é como uma mãe para mim está desaparecida tem dois meses. Ela é uma agente do NCIS. Seu nome é Jennifer Shepard. Eu preciso de tudo o que você conseguir sobre onde ela está ou que está fazendo. Kate, ela tem uma filhinha de três anos e é mãe solteira. A garotinha tá desesperada. Tem como você fazer algo para ajudar essa menininha. Eu prometo que te conto dos detalhes quando eu estiver de volta aos EUA.

— Sim, mas é claro que eu posso te encontrar. – Ela respondeu ao meu pedido, como se estivesse conversando com a irmã dela. – Então te vejo no café, amanhã às quinze horas.

— Muito obrigada. Eu fico te devendo essa!

— A gente conversa depois! Tchau! – Ela se despediu.

— Tchau.

Eu tinha lançado a sorte, esperava que qualquer um deles pudesse me dar uma dica do que estava acontecendo.

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Eu já tinha perdido as contas de quantas vezes eu já tinha sido espancada, surrada, afogada e chutada. Eu nem sabia mais quanto tempo eu estava nesse buraco.

Mas me lembro muito bem como vim parar aqui.

Não foi um erro meu ou de Ziva, não, nós duas estávamos conversando em uma noite sobre nossas famílias, Ziva falando do irmão, da irmã que morrera e de como o pai a criara para ser o que ela era, e depois de me contar sobre isso, me perguntou como era ser mãe. E eu comecei a relatar tudo sobre Sophie, tudo o que eu tinha passado. Ela estava rindo do fato de Sophie querer virar uma agente do NCIS quando uma bomba de efeito moral foi lançada dentro do apartamento onde estávamos. Por uns dez segundos ficamos sem reação. Até que senti duas mãos agarrando meus braços e uma terceira puxando meus cabelos.

— Quem aqui é Ziva David?

Minha reação natural foi dizer que não havia nenhuma Ziva David ali. E aí começou o espancamento.

— Uma americana! – A voz do homem que puxava meus cabelos disse. – Queríamos a herdeira do Mossad e ganhamos na loteria. Levem as duas. Vamos nos divertir com elas.

Isso parecia ser há muito tempo. E por cada interrogatório, cada soco, cada chute eu permaneci quieta. Primeiro porque eu não daria a eles a felicidade de me verem sofrer, depois, porque tinha certeza, se eu começasse a gritar, eu não pararia. Não tinha um músculo do meu corpo que não estava doendo de ser surrado.

Ziva não estava em uma condição melhor que a minha. Diria que até estava pior, contudo, ela não ficava calada, a cada tapa, ela pedia para ser solta e que desse condições iguais nessa briga.

Depois das horas intermináveis de tortura, de interrogatório, éramos jogadas em uma cela imunda.

— Há quanto tempo estamos aqui? – Sussurrei.

— Não sei, mas acho que há mais de um mês.

Mordi o lábio para conter o meu desespero. Eu sei que estava no Cairo há um mês. Se meu sequestro já tinha mais um, isso significava que Sophie estava sem notícias minhas há quase dois meses. Eu nunca ficara tanto tempo longe dela.

— Não fale o que você pensou. Eles podem usar isso contra você! – Ziva me alertou.

— Eu não vou. – Falei entredentes. Eu precisava sair desse inferno. E tinha que sair viva. Minha filha só tinha a mim.

— Você tem algum plano de fuga? – A israelense me perguntou.

— Ainda não. Mas eu vou ter. – Afirmei.

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Duas semanas depois das ligações, Ducky veio para Londres. A desculpa que dera era a de que um tio dele estava muito doente e queria a família reunida. Mas ele viera para ajudar.

Sophie estava cada dia mais calada, só perguntava de Jen, e quando ela via que a mãe não voltava para casa quando o dia terminava, ela corria para o quarto de Jen e, abraçada a um dos travesseiros, chorava até dormir, e, assim, não tinha quem a convencesse de comer ou beber qualquer coisa.

— Isso não pode continuar. – Ducky disse uma noite, uma semana depois de ter chegado. – Se ela continuar sem se alimentar eu serei obrigado a interná-la para que ela receba o devido tratamento.

Era isso que eu temia.

— Ducky, você não acha que está na hora de levá-la para os EUA? Não sei, talvez ficar aqui, onde todas as lembranças de Jen estão, não é pior? – Perguntei aflita. Minha irmãzinha já tinha perdido peso e estava sempre chorando.

— Para tirá-la daqui, só seu pai, Kelly. E eu nem sei se o nome dele consta na certidão de nascimento de Sophie.

— Não, não consta.

— Temos que falar com Jethro, é a única opção plausível. Até porque, se algo pior acontecer, é ele o pai, é com ele que Sophie irá ficar.

Eu não queria nem pensar na hipótese de Sophie crescendo sem a mãe.

Peguei o celular e estava para começar a digitar o número de papai e começar essa conversa com ele, quando o aparelho tocou. Era Kate.

— Bendita seja você, tem alguma coisa? – Perguntei aflita.

— Tenho. Eu consegui saber onde ela está. Foi sequestrada pela célula terrorista que ela estava investigando para nós. O NCIS já tem um plano de regaste que será colocado em ação a qualquer momento. Não posso te garantir que ela está bem, ou que está viva, mas a informação é de um contato seguro meu na CIA. – Kate falou.

— Eu nem sei como te agradecer. – Fui sincera.

— Como está a filha dela? – Kate, desde o início, ficara preocupada com Sophie.

— Se recusa a comer, está chorando o dia inteiro.

— Posso te dar um conselho?

— Preciso de todos que você tiver.

— Você me falou que ela é mãe solteira, mas a pequena tem um pai, procure saber quem é, ele pode ajudar.

— Eu ia fazer isso, Kate. Eu vou ter que acabar fazendo isso.

— Pode apostar que é a coisa certa. – Kate me garantiu. – Agora eu tenho que ir, seu pai e Tony estão chegando. Se conseguir mais alguma coisa, eu te aviso, e tome conta dessa menininha. Depois me mostre quem ela é.

— Eu estou tomando conta dela. E mais uma vez, muito obrigada.

— De nada.

E a linha ficou muda. Assim que fechei o celular, Ducky e Noemi me olhavam apreensivos.

— O NCIS sabe onde está e vão resgatá-la. Não sei de detalhes e nem quando isso vai ser. Só nos resta torcer que ela saia viva. – Informei.

Noemi, na mesma hora, foi para cozinha e diante de seu pequeno altar, cheio de santos, acendeu uma vela e começou a rezar. Ducky se sentou do meu lado.

— Jennifer é uma mulher forte, já passou por muita coisa, ela vai sair dessa.

— Ela TEM que sair, Ducky. Eu não quero que a minha irmã cresça sem a mãe como eu cresci.

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Ouvi o primeiro estampido, depois o segundo. Chamei por Ziva, ela estava desmaiada desde que voltara da última sessão de tortura.

— Ziva! Ziva! – Sacudi seu ombro.

Ela demorou para despertar.

— O que... – E ela ficou alerta depois de ouvir mais um tiro.

— Acho que é a nossa deixa. – Falei.

Ela pegou a faca improvisada que tinha escondido na calça e eu as chaves que havia roubado mais cedo.

Destranquei a porta e pegar o primeiro guarda foi fácil, já que ele estava distraído com o que acontecia do lado de fora.

Ziva não teve dó de quebrar o pescoço dele. O segundo deu mais trabalho, mas nos rendeu a segunda arma da noite.

Andamos devagar até a saída, muito porque não queríamos ser surpreendidas e porque estávamos tão machucadas e esfomeadas que não tínhamos força. Com os sentidos fracos, não notamos que três guardas nos seguiam, só ouvi o tiro quando a bala cravou na parede na minha frente.

Revidei na hora, menos um, Ziva pegou o segundo. O terceiro tinha sumido, ou assim eu pensava. Ele apareceu na minha frente, uma adaga na sua mão pronta para cortar a minha garganta com um único gesto. Pega de surpresa, minha reação foi lenta demais e ele tomou a minha arma, para minha sorte, Ziva foi mais rápida e disparou antes que ele descesse a adaga na minha direção, ele nunca soube de onde veio o tiro.

— Fico te devendo essa. Você salvou a minha vida. – Agradeci.

— Você tem uma filha para quem voltar, Jenny. Você tem que ficar viva. – Ela me falou.

Com pouco escutamos passadas ritmadas e o grito para que baixássemos as armas.

Obedecemos.

— Jennifer Shepard e Ziva David. São vocês duas? – Quem estava no comando do grupamento perguntou.

— Sim. – Respondemos de uma vez.

— Marinha dos Estados Unidos, vocês estão salvas. – Ele falou.

Fomos levadas para uma base americana onde nossos machucados foram tratados, de lá, seguindo ordens do Diretor do NCIS, embarcamos para Londres.

Assim que o céu acinzentado da capital inglesa ficou visível e sabia que realmente estava salva.

Já na base, Willows me esperava como minha carona, sua feição era de alívio.

— Tem onde ficar, Ziva? – Perguntei para a mulher que salvara a minha vida.

— Eu me viro. – Ela falou e jogou a mochila nas costas.

— Já está tarde, tenho um quarto sobrando na minha casa, você é bem-vinda.

Ela me agradeceu com um aceno de cabeça e me seguiu até o carro.

Willows me deu um abraço.

— Graças a Deus. Eu já não tinha desculpas para inventar para a sua filha!

— Como ela está?

— Até ontem, tinha duas pessoas aqui para cuidar dela. Kelly e Ducky, mas tiveram que voltar para os EUA, pelo que Noemi me falou. Mas vou te dizer que ela está bem abatida.

Eu imaginei isso. Sophie nunca tinha ficado tanto tempo longe de mim.

Willows dirigiu o mais rápido que podia debaixo da chuva e, quando nos deixou no meu prédio disse:

— Eu realmente sinto muito por isso ter acontecido. A informação foi vazada, não sabemos quem fez isso ou de onde partiu. Mas conversamos quando você voltar. Morrow mandou te avisar que tem duas semanas de folga.

— Obrigada. Nos vemos em duas semanas. – Agradeci e fechei a porta do carro.

— Venha Ziva, é por aqui. – Informei para a deslocada israelense que olhava ao seu redor desconfiada.

No hall de entrada, os vizinhos ficaram me encarando, creio que não me reconheceram, nem eu tinha me olhado no espelho ainda, mas sabia que a minha aparência não era das melhores.

Quatro andares e ali estávamos.

Bati na porta, passos rápidos vieram para perto e, depois de algum tempo, Noemi abriu a porta.

— ¡Señora! ¡Gracias Dios! ¡¡Gracias!!— Ela exclamou e me deu um abraço.

— Olá Noemi. – Retribui o abraço e entrei, convidando Ziva.

— Noemi, esta é Ziva David, a oficial que estava junto comigo nessa missão.

¡Bienvenida¡, señora Ziva.— Noemi a cumprimentou.

¡Gracias!— Ziva respondeu em espanhol.

Dei dois passos para dentro de casa quando ouvi dois pezinhos correndo.

— MAMÃE!!!! MAMÃE! – Sophie chorava quando me chamou.

E antes que ela pudesse me abraçar, era como se eu a visse em câmera lenta. Ela tinha crescido nestes quatro meses, seu cabelo estava mais comprido, e, também muito mais magra.

— Vem aqui minha miniatura! – Eu a abracei apertado, quase esmagando suas costelas. Se eu estava viva era por conta dela, eu aguentei o que eu aguentei calada, por conta dela. E agora eu podia abraçar e beijar a minha filha e saber que estávamos em segurança.

— Eu achei que a senhora não fosse mais voltar. A senhora perdeu a minha peça na escola, perdeu um monte de coisas. E agora está toda machucada. O que aconteceu mamãe? Onde a senhora estava?

— Isso é assunto para outra hora. O importante é que a mamãe está de volta. E nunca mais vai te deixar por tanto tempo. – Beijei o topo da sua cabeça enquanto ela devolvia o abraço.

Foi quando ela afrouxou o abraço e eu sabia para quem ela olhava.

— Oi! – Ela falou baixinho. – Machucaram você também? - Sophie deu um passo para trás, mas não tirava os olhos de Ziva, e eu notava que não era só curiosidade, ela estava genuinamente preocupada com o estado de Ziva.

— Oi. – Ziva respondeu. – Eu estou bem.

— Não, você não está. – Sophie respondeu séria. – Eu sou a Sophie. E você?

— Ziva.

— Nome diferente. Seu sotaque também. De onde você é? – Agora Ziva era a pessoa mais interessante na sala.

— De Israel.

— Onde fica? Nunca ouvi falar. Não é aqui na Europa.

— Não, não é. – Ziva abriu um sorriso. – Fica longe, no Oriente Médio.

— Lá onde tem um deserto? E onde tem tropas americanas?

— Perto de lá.

— Espero que a sua família esteja bem. Não gosto de ver que tem gente sofrendo porque tem guerra. – Sophie falou e correu para Ziva, abraçando as pernas dela e pegando a Oficial do Mossad de surpresa.

Vendo o desconforto de Ziva com o carinho inusitado, tive que chamar a atenção de Sophie.

— Filha, a Ziva está cansada, tudo o que ela quer é comer alguma coisa e descansar, deixa ela quietinha e amanhã vocês conversam mais, pode ser?

— Sim. Claro. Desculpe, Ziva. Quer que te mostre o seu quarto?

— Por favor. – A israelense disse, ainda um tanto surpresa com as boas-vindas.

Sophie a guiou até o quarto e a deixou à vontade, voltando correndo para onde eu estava e me abraçando mais uma vez.

Tudo o que eu fiz foi apertá-la e niná-la em meu colo, murmurando uma música dos Beatles.

— Essa eu conheço. – Sophie falou baixinho.

— É mesmo, e qual é o nome desta?

Here comes the sun!

— Essa mesma. – Comecei a cantarolar contra o cabelo dela e Sophie me acompanhou, surpreendentemente sabendo toda a letra.

Com pouco Noemi disse que nosso jantar estava pronto.

— Não é nada muito pesado, primeiro porque está tarde e segundo, para que vocês não passem mal. Posso chamar a señorita Ziva?

— Deixe que eu faço isso. Ela pode reagir um pouco estranho para quem não está acostumada. – Avisei e ainda com Sophie em meu colo, bati na porta do quarto onde Ziva estava.

Ela me atendeu como eu esperava, com a arma escondida na cintura.

— Noemi fez algo para comermos. Vem. – Falei.

Ela demorou, mas apareceu. Não conversou muito de início, porém ficava encarando Sophie.

— Ela é sempre tão calorosa? – Ela perguntou observando minha filha dormir em meus braços.

— Só para pessoas em quem ela confia. E ela confiou em você. – Respondi.

— Vocês duas tem um vínculo muito forte.

— Somos nós três, como você viu. Tem a meia irmã dela que vem visitá-la quando pode. E um amigo muito querido. Fora isso, são poucas as pessoas que a conhece.

— Eu não vou dizer nada. – Ziva respondeu solene. – E só para constar, ela tem olhos muito bonitos. Um de cada cor.

— Hoje estavam mais diferentes. Normalmente estão pareados, se não da mesma cor, algo próximo a isso. Hoje foi uma exceção.

— E eu presumo que o olho azul é herdado do pai.

— É sim.

Ziva abriu um sorriso enquanto olhava para minha filha.

— Me desculpe se pareci fria ou distante quando ela veio me abraçar.... eu só...

— Não estava preparada para isso.

— Não lembrava como era ter alguém se importando de verdade comigo. Ela estava genuinamente preocupada.

— Ela é superprotetora assim mesmo. – Falei e Sophie, alheia a tudo, começou a ressonar, quase roncando, no meu colo. – Acho melhor eu colocar essa aqui na cama, antes que ela me faça passar mais vergonha ainda. – Eu ri. – Shalom Ziva, tenha uma boa noite.

— Boa noite, Jenny. E muito obrigada por me hospedar.

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No dia seguinte, assim que deu uma hora adequada, liguei para Washington para conversar com Ducky e agradecê-lo por ter vindo ficar com Sophie.

— Como vocês estão?

— Sophie ainda está dormindo. Eu, bem, vou sobreviver, Ducky.

— Ah minha querida, queria poder fazer alguma coisa.

— Você já fez, Ducky. Você se preocupou. Tanto comigo quanto com Sophie. E, por favor, transmita os meus agradecimentos à Agente Todd. Não a conheço, mas Noemi me disse que ela ajudou bastante.

— Irei transmitir. Caitlin não pensou duas vezes quando explicamos a situação para ela.

— Deve ser uma excelente agente. Espero conhecê-la um dia.

— Vocês duas serão amigas imediatamente.

— Se você está dizendo isso, Ducky, eu não tenho a menor dúvida.

Ouvi uma porta ser aberta, e Ducky cumprimentar alguém. DiNozzo. Era minha deixa.

— Mais uma vez, obrigada, Ducky. Fico te devendo mais essa.

— Adeus, minha querida. – Ele disse e desligou o telefone.

O próximo seria um pouco mais complicado. Kelly iria querer saber detalhes e eu sabia que as aulas na faculdade já haviam retornado. Assim, optei por enviar uma mensagem agradecendo que ela tenha ficado e cuidado da irmã mais nova e garantir que ligaria mais tarde.

A reposta veio na hora.

Eu te devo muito mais do que isso, Jen. Fico feliz que esteja bem. Me atualize sobre Sophie, a falta de apetite dela me assustou.

E, entre ligar agradecendo a ajuda e me explicar em um relatório detalhado para o diretor, os dias foram passando.

Ziva ficou somente mais dois dias hospedada aqui em casa. E, mesmo contra a vontade dela, vi que ela tinha se afeiçoado à minha filha ao ponto de deixar que ela a chamasse de Tia.

Quando o Mossad fez contato e informou que tudo estava limpo e pronto para que ela voltasse para Israel, foi até engraçada a reação das duas.

Sophie ficou chateada pela nova amiga ninja já estar indo, mas acostumada que estava a despedidas, apenas falou:

— Shalom tia Ziva. Espero te ver logo! – E abraçou as pernas da Oficial.

— Shalom, Pingo de Gente. E nós vamos nos ver. Obrigada por me deixar ficar na sua casa.

— Sempre que precisar! – Sophie disse toda feliz.

— Shalom Jenny. Até a próxima ou até qualquer dia. – Ziva se despediu de mim e foi embora.

E somente quando me vi sozinha com a minha filha, naquela noite, enquanto eu passava a mão em seus cabelos e cantava para ela dormir que toda a situação passou pela minha cabeça. Foi por muito pouco que Sophie não ficou órfã de mãe. Por muito pouco eu quase quebrei a promessa que tinha feito a ela quando minha ruivinha ainda estava em meu ventre.

Eu não sei a quem eu tinha que agradecer, mas dessa vez eu tinha certeza de que alguém lá em cima olhou, senão por mim, pela minha filha.