Nós passamos as próximas vinte horas repassando o plano. Olhando de fora, era bem simples, tudo o que tínhamos que fazer era enganar duplamente um negociador de armas, primeiro com as armas rastreáveis, depois, bem comigo.

E para que eu fizesse bem a minha parte, eu precisava estar confiante de que a loira gostosa e burra seria esperta o suficiente para atrair Zukhov até certo ponto e deixá-lo de mãos abanando, sem que ele se sentisse desprezado. Eu simplesmente teria que brincar com o ego masculino. Caso essa parte falasse e eu tivesse que chegar além, tinha acabado de me ocorrer uma ideia.

— Eu preciso dar uma saída. – Informei Jethro. Ele estava mais calado do que o habitual nas últimas horas.

— Precisa de companhia? – Ele me respondeu.

— Você tem paciência para provadores e escolha de vestido e sapato? – Eu disse.

— Não. – Ele foi sucinto.

— Não vou demorar. – Afirmei.

Peguei minha bolsa e saí. Tinha que comprar algumas coisinhas, que não somente roupa e sapato.

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Como havia prometido, ela não demorou. Voltou com algumas sacolas e uma ideia na cabeça. Era fácil de ler em seus olhos que ela tinha um plano se formando.

Enquanto ela esteve fora, eu me perguntei o porquê de me importar tanto. De me importar com o que ela vai vestir, como ela deverá se portar e, principalmente, como ela vai se livrar daquele cara? Normalmente eu não me importaria. Na verdade, estive em missões que coisas piores foram jogadas na minha cara e eu não liguei, mas com ela era diferente.

Eu estava realmente preocupado em como ela lidaria se, ao final da noite, ela não tivesse escolha. Que Jenny saíra daquele barco?

Faltando duas horas para a conversa, Decker veio entregar o armamento, como combinado, ele parou o carro repleto de caixas atrás de um galpão, e, quando o negócio estivesse concluído, eu iria lá buscar as armas, e, nesse meio tempo, caberia à Jen a colheita da informação da próxima localização do Negociante.

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Eu tinha que parecer radiante, é claro, para os olhos de Anatholy, não os meus. Então, comprei um vestido que uma esposa troféu e interesseira de um homem rico usaria. Não mostrava demais, apenas o necessário, mas era na medida certa para que Isabelle seduzisse o alvo.

Maquiagem devidamente feira, só faltava a peruca.

Enfim, pronta, me olhei no espelho, e realmente não me reconheci, era esse o pensamento que queria. Peguei meu pequeno bote salva-vidas, coloquei dentro da bolsa e caminhei para fora do quarto.

Jethro já estava pronto, às vezes era tão fácil para os homens, bastava trocar a camisa que parecia que tinha trocado todo o figurino.

Quando os saltos clicaram alto no chão, eu atraí a sua atenção, literalmente.

Ele me olhou de cima embaixo. Parando nas partes em que eu tinha certeza que qualquer olhar iria parar. E quando enfim me fitou, seus olhos estavam negros. E isso fez com que meu estômago se contraísse.

— Por que loira? – Ele me perguntou sem parar de olhar para meus olhos.

— Sempre quis ser loira. Minha irmã e mãe eram loiras. Achava que me fazia ser mais parte da família. – Tentei explicar.

— Gosto mais de seu cabelo natural.

Encarei-o com as sobrancelhas levantadas. Então ele realmente tinha um tipo! Ruivas.

— Mas não posso reclamar da roupa. Gosto dela! - Ele desviou o foco da conversa.

— Não Jethro, você não gostou da roupa! Você gostou do fato de que tem partes aqui que ela não cobre, vamos ser sinceros! E, foi exatamente para isso que comprei esse vestido. E parece que funciona.

— Se você diz. – E ele se demorou no meu decote e depois desceu em direção à fenda na minha perna direita.

— Ainda bem que vou de casaco até lá, senão era bem capaz de você ficar só olhando para cá – apontei na direção de meu tronco – e se esquecer de andar. Ia acabar caindo no Mar Mediterrâneo. – Eu o cutuquei

— Está na hora. – Ele disse caminhando para a porta e, após segurar o casaco para que eu o vestisse, me conduziu para fora.

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— É bem sugestivo, não acha? – Jen me perguntou.

— O que? – Estava um tanto distraído com a roupa que ela vestia.

— O nome do iate. “Estrela da Manhã”.

— Deve ser o herói dele.

Mal paramos em frente à doca, e logo o mesmo segurança que nos abordou no Café, veio nos receber. Na verdade, veio nos revistar.

Ele deu uma boa olhada em Jen, não disfarçando um único segundo para onde estava mirando. E decidiu que ali não tinha como se esconder uma arma. Grande engano o dele. Já comigo, a história foi outra. Obviamente eu tinha uma arma comigo. Que traficante de armas não tem?

— O Sr. Zukhov disse sem armas. – Disse o seis por seis com um forte sotaque do leste.

— Qual é amigo? Vai me dizer que você sai de casa sem a sua?

O cara não se mexeu. E nesse intervalo, Zukhov chegou, acompanhado de sua esposa.

— Milan, deixe-o entrar. É meu convidado.

— Ele tem uma 9mm no bolso, senhor.

— Estranharia se não tivesse. Todos nós não andamos armados? – Anatoly deu um sorriso sarcástico. – Temos que proteger as nossas posses. – Ele caminhou em direção a Jen e estendeu a mão. – Mademoiselle Piaget. Conseguiu estar mais encantadora do que em nosso jantar! – disse pegando a mão de Jenny e a beijando.

— São seus olhos, Zukhov. – Jen mudou até o tom de voz e a forma de falar para se dirigir a ele.

— Anatoly, por favor. Somos praticamente íntimos. – E se dirigindo à minha pessoa – Mareau! Temos muito o que conversar meu amigo. Por favor, me sigam. – ele laçou a cintura de sua esposa e iria fazer o mesmo com Jen, mas cheguei a tempo de fazê-lo antes.

Claramente ele não gostou do que fiz, mas era um jogo, cada um jogava com o que tinha. Ele tinha um claro objetivo em seus olhos, e eu o faria correr atrás dele, sem nunca chegar ao prêmio.

Caminhamos pelo deck até chegarmos à cabine. Ricamente decorada, tudo ali ostentava um luxo que a grande maioria das pessoas no mundo não poderia pagar. E ele começou a se exibir.

— Não reparem a humildade do local, o Estrela é o menor dos meus iates, não é meu bem? – Ele deu um aperto na cintura de Svetlana. – Mas é o meu preferido. Creio que o seu, Romain, deva ser bem maior, já que está atracado em Mônaco.

— Sim. É bem maior. – Jen disse antes de mim. – E se me permite dizer, decorado com mais bom gosto. Mas o seu, também é espetacular. Amei o contraste entre as madeiras e o, nossa! Ouro que adorna sua cabine. Uma combinação poderosa. – Ela terminou com um sussurro sedutor.

Anatoly claramente gostou do que ela tinha dito.

— Tenho mais para mostrá-la, Ma Cherie, precisa ver a suíte.

E aí estava....

— Adoraria. Mas acho que os negócios vêm em primeiro lugar, não é Romain? – Ela perguntou na mesma voz sedutora e sentou do meu lado, quase no meu colo.

Ela entendera o jogo e estava jogando, mas nas regras dela. E isso estava me deixando maluco.

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— É só um jogo! É só um jogo! É só um jogo! – Esse foi o meu mantra pessoal até que chegamos no maldito iate. – Era entrar, vender as armas, seduzi-lo o suficiente para que ele me contasse o seu destino final e, depois, ele acharia que tinha ganhado na loteria. E uma parte da missão estava feita.

Até o momento ele só soube se vangloriar de si mesmo, se depreciando. Pobrezinho. Será que sua mente era tão pequena assim?

Apressado como estava, era capaz de fazer uma bobagem. E tínhamos que aproveitar isso. Desde o momento em que ele bateu os olhos em mim - ou seria em minhas pernas e decote? – consegui ler o seu intento. Ele planejara comprar duas coisas essa noite. Armas e Isabelle. A primeira, ele conseguiria. A segunda, ele ficaria achando que conseguiu.

Depois de uma pequena ostentação de luxo e dinheiro, Zukhov escorregou pela primeira vez.

E eu o levei um pouco além. O empurrei um pouco contra a parede quando concordei em conhecer a sua suíte, mas ao mesmo tempo dei espaço quando caminhei e sentei deliberadamente perto demais de Jethro, cruzando minhas pernas. Fiz a minha melhor cara de burra e olhei em direção ao meu “marido” era a hora dele ter o controle.

— Sim, querida. Primeiro os negócios. – Mas eu não esperava que ele fizesse aquilo! Quando terminou de falar, ao invés de manter seu braço esquerdo em volta de minha cintura, Jethro me puxou para o seu colo e me manteve ali. Eu, pega de surpresa pelo seu momento, somente pude soltar uma gargalhada e, um pouco depois, me apresentar confortável o bastante com essa proximidade, ao enlaçar minha perna esquerda na perna dele.

Zukhov demonstrou todo o seu ciúme com a cena. E era isso que queríamos.

— Então, Mareau, vamos começar. Andei pesquisando a sua vida e suas negociações. – Ele lançou um olhar para a minha perna e engoliu em seco. – Você tem uma ótima reputação.

— Eu tento. – Jethro bancou o humilde e, vendo o olhar de Anatoly em minha perna, descansou sua mão em minha coxa. – Tem dado certo, no entanto.

— Eu vi. Me pergunto se alguma vez teve que fugir de algum espião ou agente federal que poderia estar em seu encalço? – Ele coçou o queixo e se ajeitou no sofá.

— É para isso que se existe a propina. – Jethro disse com uma gargalhada. – E é como sempre digo, se alguém acha que tem a melhor sobre você, mostre o contrário.

Essa última frase me soou tanto como uma de suas regras estúpidas...

— Outra de suas regras, querido? – Ronronei em seu colo.

— Pode ter certeza, baby.

Eu sempre odiei ser chamada de baby... e ele percebeu isso e capturou meu rosto e me deu um beijo.

Qualquer mulher que é pega de surpresa por um beijo tende a recuar, e uma parte do meu cérebro queria fazer isso. Para mim, já tinha ido longe, mas outra parte, e essa era uma parte maior, queria que aquilo continuasse. Foi um beijo diferente dos que fingimos trocar. Era real, era urgente, era...indescritível. Por mais que eu tivesse que bancar a esposa submissa, eu não resisti em não lutar pelo controle. Eu queria dominar aquele beijo...Eu queria ter o controle sobre Jethro. Mas precisamos de ar, e tivemos que parar. Abri os olhos e encontrei as suas orbes azuis. Suas pupilas dilatadas, brilhando com o que li como desejo. Seu rosto corado e um sorriso que me impediu de conseguir respirar. Me pergunto o que ele viu em meu rosto que o fez vir e minha direção e me dar outro beijo, esse mais calmo, que durou apenas segundos.

Ele me manteve virada para seu rosto, segurando o meu queixo, quando retornou a conversa com Zukhov. Onde estávamos mesmo? – Ele se fez de desentendido. Ah, sim. Meu histórico. Achou algo mais que te interessasse, Anatoly? – e sua mão direita apertou ainda mais a minha cintura.

Não resisti e virei. Eu tinha que ler a expressão facial de Zukhov. E ele estava odiando o que estava vendo.

— Sim... Mas o passado não fará diferença em nossa negociação. O presente vai. E o que tem para mim? Sabe que eu sou apenas um atravessador, outras pessoas farão uso dos seus produtos...

— Estou ciente disso. O exército de Kosovo, Chechenia, seus amigos compatriotas...

— Exatamente!

— E quanto estaria disposto a pagar? Você já viu a qualidade da minha mercadoria.

Quando Jethro disse mercadoria, o russo olhou em minha direção, da ponta do pé até o meu rosto. E eu odiei a sensação de estar em uma vitrine.

— Vinte milhões de dólares. E se der tudo certo, poderemos fazer negócios novamente.

— Vinte milhões? – Jethro fingiu ponderar a questão, se recostando no sofá e me levando junto. – Acha que vinte milhões, por todas aquelas armas que você viu hoje, são suficientes, Isabelle? – Ele atraiu a minha atenção.

— Por todas aquelas? – Fiz a minha melhor voz de burra. – Acho pouco... Você trabalhou o dia todo vistoriando a separação de tudo aquilo. E nem teve tempo para mim... – Passei a mão pela gola de seu terno.

Zukhov enlouqueceu do outro lado.

— Trinta milhões, se mademoiselle diz que são tantas assim...

Eu ainda estava virada em direção à Jethro e lancei a ele um sorriso. O palhaço estava nas nossas mãos.

— Fechado em trinta. – Jethro concluiu. Então ele me afastou de seu colo, me jogando no sofá, para se levantar, dando a clara impressão de que eu era apenas uma mercadoria para ele também. – Como quer a entrega?

— Discreta, a ser embarcada no nascer do dia.

— Certo. Pagamento.

— Você é direto, hein meu amigo? – Anatoly disse.

— Tenho outras coisas em mente agora... – e Gibbs me lançou um olhar, que eu respondi com enorme sorriso aberto.

— Claro... comemorar um bom negócio. – O russo continuou - Pensando bem, seria possível ter as mercadorias agora?

E aí estava. A minha deixa.

— Teria que ir no depósito para buscá-las... – Jethro coçou o queixo. – Mas acho que não haverá problemas. – Isabelle... – Ele me chamou.

— Romain, por favor, não vou voltar naquele lugar hoje. Te espero aqui e depois saímos para comemorar, que tal? – Caminhei em sua direção e disse a última frase enrolando a sua gravata em minha mão.

— Como queira... – E Jethro se foi. Me deixando ali para fazer a minha parte.

De início, a única coisa que fiz foi ficar admirando o local. Poderia ser o que fosse, era requintado. Deixei minha mão escorregar pelo ouro na parede. Estava distraída, mas nem tanto, e pude notar duas coisas. A primeira, Svetlana deixou a sala. Segunda, Zukhov veio em minha direção.

— Você pareceu gostar muito desse detalhe em ouro, Isabelle... – Sua mão tocava o meu ombro.

— Você não faz ideia, Anatoly... – Eu disse com um sorriso, - É simplesmente perfeito.

— Não tanto quando você nesse vestido. – Ele respondeu. Homens às vezes são tão previsíveis.

— E então – Eu disse me sentando no sofá onde, há poucos minutos, estava sentada. – Vai ficar muito tempo aqui na França?

— Não...

— Que pena... – Disse em um muxoxo. – Adoraria dar uma volta no Mediterrâneo a bordo desse iate. Queria ver se ele é realmente tão veloz quanto aparenta. – Cruzei lentamente as pernas.

— Tem coisas mais interessantes para se fazer a bordo desse iate, ma cherie. Muito mais interessantes. – Sua mão veio em direção à minha perna e eu mudei de posição.

— É mesmo? – Me fiz de desentendida.

— Você não faz ideia! – Ele veio em minha direção, mais uma vez.

— Você bem que poderia me contar, enquanto tomamos algo para comemorar o acordo entre você e Romain.

Ele achou uma ideia ótima, tenho certeza que pensou que iria me embebedar e ganhar a noite. Então, encheu duas taças de champanhe e colocou as colocou sobre a mesa de centro, bem a minha frente.

Consegui distrai-lo quando disse que Romain estava de volta. Ele, inconformado porque ainda não tinha conseguido nada comigo, levantou depressa, xingando algo em russo. Foi o tempo exato de buscar o pacotinho de GHB e despejá-lo em seu copo. Ele não se lembraria de nada, e eu só tinha que saber interrogá-lo para saber seu próximo destino. E, na manhã seguinte, ele não saberia dizer o que se passou lá, bastava deixar pistas o suficiente de algo aconteceu.

E assim eu fiz, três taças de champanhe batizado, e ele ficou com a língua solta, e as mãos mais bobas ainda.

Por fim, perguntei mais uma vez....

— Fico aqui pensando – eu enrolei um pouco a língua para fingir que estava bêbada - Será que terei a oportunidade de subir no Estrela mais uma vez?

Ele levou para as segundas intenções a minha frase.

— Quando e a qualquer hora. – Anatoly veio e tentou me beijar, eu apenas virei o rosto. Ele então beijou minha bochecha.

— Então basta eu te encontrar... Mas onde? – Disse em seu ouvido.

— Sérvia. Esse primeiro carregamento irá para a Sérvia, dentro de três semanas estará sendo distribuído para os irmãos da causa.

— Que bom que já tem os compradores finais. – Eu disse afastando um pouco.

— Quer saber a verdade, bela Isabelle...

E mais confissão viria... mas essa eu tenho certeza, teria o seu preço.

— Não há outros compradores. – Eu rezei internamente para que os comunicadores estivessem ligados e gravando. – Eu sou o último comprador. Depois repasso para os meus amigos de luta. – Ele se vangloriou e abaixou ainda mais em minha direção e quase teria me beijado à força se eu não tivesse escutado Jethro subir a bordo...

Zukhov praguejou em russo novamente, mas se levantou, cambaleante. Nesse momento, Jethro chegou na porta da cabine, e disse em tom de brincadeira.

— Quer um conselho, amigo, nunca beba com Isabelle. Ela é uma esponja e depois quem acorda de ressaca é você!

- Trouxe tudo? - Zukhov o cortou com raiva.

— Mas é claro, o restante está lá embaixo sendo vistoriado pelo seu imediato.

— Ótimo. Vou pegar o seu dinheiro.

Quando me vi somente na companhia de Jethro, me permiti respirar.

Zukhov não demorou e nos trouxe uma mala repleta de maços de notas de cem dólares.

- Foi um muito bom fazer negócios com você, Anatoly. – Jethro o cumprimentou.

— Fica me devendo uma volta em seu iate. – Eu disse abrindo um enorme sorriso para o russo. – E eu vou cobrar. – Falei mais baixo ainda perto de seu ouvido.

Com pouco tempo saímos o barco e, como distração rumamos para o Mercedes que Decker havia alugado.

— Parte um, terminada! – Eu disse enquanto esfregava meu rosto com a mão para tirar qualquer vestígio da boca daquele homem.

— Conseguiu a informação?

— Sim. Em dois meses, Sérvia. E mais uma coisinha. – Eu esfregava com força os locais onde aquelas mãos haviam tocado. – Ele é o consumidor final. Somente entrega as armas para seus aliados. E assim ele comanda quem quer.

Jethro não disse nada sobre isso. Apenas pegou a minha a mão e a segurou.

— Pare com isso, você vai se machucar. – ele falou para mim.

- Eu preciso tirar a sensação das mãos daquele homem me tocando, Jethro. – Eu implorei que ele soltasse a minha mão.

Nesse momento, paramos o carro na frente do local onde Decker estava ficando. Um apartamento bem melhor que nosso sótão.

Descemos e seguimos a pé, por uma via alternativa, até o sótão. Por todo o caminho, Gibbs manteve a minha mão presa na sua e me guiava com urgência.

Quando finalmente chegamos ao sótão, ele abriu a porta, me deu passagem, sem me soltar e a fechou atrás de si, sem perder o contato com meus olhos.

Mas eu perdi a minha capacidade de respirar... seus olhos... deixaram de ser azuis, pois somente pude notar o negro de suas pupilas dilatas.

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Jen não parou de esfregar a pele de seus braços com força. E, inconscientemente acabou por esfregar a bochecha esquerda.

“O que aconteceu dentro daquele iate”? Era o que eu queria saber.

Eu ouvira toda a sua conversa, ouvi a forma como ela fora esperta de jogar com ele e se fingir de bêbada. Mas infelizmente, algo deveria ter acontecido, e eu não gostava de pensar que outras mãos que não fossem as minhas, a tivesse tocado.

Eu ainda tinha o gosto dela em minha boca. Ainda me lembrava de como ela brigou pelo controle quando a beijei de surpresa. E essa briga me pegou de guarda baixa.

E agora, eu tinha duas coisas em mente. Mas nenhuma delas era certa. Eu precisava tirá-la o mais rápido da personagem que ela interpretou tão bem e deixa-la voltar a ser Jenny Shepard. Mas será que eu conseguiria?

Mais uma vez ela esfregou o braço, dessa vez, suas unhas deixaram uma marca na pele. Inconscientemente tomei sua mão na minha, a proibindo de se machucar. Sua pele quente queimou a minha.

Dirigi o mais rápido que podia pelas ruas do cais de Marselha. Logo parei em frente ao prédio onde Decker estava. Um apartamento bem maior que nosso sótão.

Notei que Jen também observou o tamanho do lugar e suspirou. Essas comparações não ajudavam agora.

A guiei com urgência pelas ruas até o nosso esconderijo. Em hora nenhuma a soltei. Eu precisava sentir que ela ainda estava ali. E, ao contrário dela, abençoei o fato de que o sótão era pequeno demais e que dividíamos a mesma cama.

Abri a porta, dei passagem a ela e, sem me virar e sem quebrar o contato visual, fechei a porta.

E que visão que tive. Ela tinha acabado de tirar a peruca e seus cabelos ruivos emolduravam seu rosto, tinha a respiração presa na garganta, e seus olhos... não saiam dos meus lábios.