Carta para você

Feliz Aniversário, Jethro!


Sophie já tinha descido, Abby já tinha feito um escândalo imenso com a presença de Jethro e a cada segundo eu ficava ainda mais nervosa. Não que eu desconfiasse que Jethro iria sair correndo, – esse era o meu movimento, não o dele. – mas eu não estava confiando em mim. Eu não estava confiando se eu conseguiria manter uma reação mais neutra assim que eu o visse.

E foi dito e feito, depois que Kelly desceu e eu fiquei sozinha em meu escritório, comecei a andar de um lado para outro, pensando se não teria sido melhor convidar Ducky como meu acompanhante e deixar Jethro tomando conta de Sophie.

Cheguei na porta do escritório de Cynthia e comecei a ouvir Tony e Kelly discutindo e Sophie defendendo o Agente Sênior. Definitivamente esses três dariam um bom trio de irmãos. Acontece que eu já estava curiosa demais, nervosa demais, para ficar lá em cima até que Sophie decidisse me chamar, assim, fui chegando pé ante pé até a varanda do quarto andar.

Devagar eu comecei a ver os ocupantes da sala, o cabelo vermelho de minha filha se destacando entre Tony e Kelly, porém foi outra pessoa que chamou a minha atenção. Aliás, Jethro tinha a minha total atenção.

Ele estava lá, parado, escorado na mesa dele, vendo as duas filhas discutirem entre si. E foi só quando eu realmente prestei atenção nele como um todo que eu entendi o porquê Kelly disse que tinha ganhado a aposta de Sophie.

Jethro estava em seu uniforme completo dos Marines. Com todas as suas insígnias e medalhas.

Abby tinha razão de não o abraçar.

E eu estava completamente hipnotizada pela visão de Jethro de uniforme. Sim, eu tinha visto as fotos que Sophie havia levado com ela, mas aquele era outro Jethro, não o que eu conhecia, o que estava parado no andar de baixo era o meu Jethro. E ele estava maravilhoso.

Juro que não faço ideia de quanto tempo fiquei parada ali observando o meu par para a noite, tudo o que eu sei foi que na hora que ele me olhou eu me senti como uma colegial. Sim, eu senti as minhas bochechas esquentarem, uma vozinha dentro de mim me mandava desviar o olhar e agir como a mulher adulta que eu era, afinal ali embaixo tinha uma boa parte dos agentes que eram os meus subordinados, além da minha filha. Acontece que eu não consegui. Naquele momento só existia ele.

Só fui voltar a mim quando ouvi Kelly pedir por ajuda do pai. E assim que consegui controlar todo o meu corpo novamente desci as escadas devagar, eu podia sentir o olhar de cada um naquela sala me acompanhando, contudo, tinha um que parecia me queimar, e foi justo esse olhar que literalmente me seguiu até o pé da escada.

Jethro seguiu cada passo meu e me esperava no último degrau, estava com a mão estendida me esperando, pronto para me acompanhar. E naquele ponto onde a visão de todos os outros era tampada pela escada, ele disse ao pé do meu ouvido:

— Quando Sophie me disse que vocês tinham comprado o vestido mais bonito da cidade, eu duvidei, agora vejo que é verdade.

Eu senti meu rosto corar ainda mais, porém ainda tive a presença de respondê-lo:

— Me lembre de agradecer à Kelly por ter feito você vestir o seu uniforme.

— Uma vez Fuzileiro, sempre Fuzileiro. – Ele me disse e nós dois seguimos para perto das mesas.

A primeira que manifestou qualquer reação foi Abby.

— Mas vocês dois serão o casal mais lindo daquele baile! Podem apostar! – Ela veio pulando e, atipicamente, nos deu um abraço que em nada lembrava ao dela. – Para não amassar as roupas de vocês. – Se explicou. - Posso tirar uma foto?

Nem tivemos tempo de responder, e ela já sacava uma câmera. Porém ela não era única, Sophie, de algum jeito, também tinha uma dependurada em seu pescoço e imitava o gesto de Abby. Eu ia perguntar que câmera era aquela, mas Kelly me cortou.

— Acho que vocês dois estão mais do que atrasados... – Comentou e apontou para o elevador.

Estranhamente Sophie não fez questão de vir se despedir ou implorou para nos acompanhar, ficou de pé na mesa de DiNozzo e nos acenou um adeus, sem dizer nada.

— Podem ficar tranquilos, a baixinha vai ficar bem! – Kelly gritou antes das portas se fecharem.

Eu sabia que Sophie iria ficar bem, mas será que Kelly sobreviveria à noite?

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— Ai meu Deus!! Eles não estavam lindos??? – Abby começou assim que as portas se fecharam.

Ziva concordou com a cabeça, Tony tinha um sorriso não muito bento no rosto, Ducky sorria na minha direção, McGee, como sempre, estava quietinho na dele e até Cynthia parecia feliz com a visão do Casal 20 do NCIS. E, claro, tinha Sophie e a sua sinceridade ímpar:

— Eles não estavam. Minha mamãe e meu papai são lindos, Abbs! – Ela disse ainda de cima da mesa de Tony.

— Mas hoje estão muito mais. – Abby completou.

Minha irmã ia responder algo, mas decidi por cortá-la. Se ela e Abby começassem a comparar a beleza do casal iriamos ficar a noite inteira ali.

— Tudo bem, eles já foram, já vimos como eles estão elegantes e bonitos, agora vamos embora! – Avisei para Sophie.

— E nós vamos para onde? – Ela me perguntou assim que se virou para Tony para que ele a ajudasse a descer da mesa.

— Para casa.

— Qual casa? Eu tenho duas!! – Ela me respondeu sincera e arrancou risadas de todos.

— Para a casa do papai.

— Ah tá... Mas você deveria ter falado antes... eu não tenho roupa na casa do papai... – Ela completou.

— Por que você é tão complicada, Sophie?

— Eu não sou complicada. Adultos que são complicados. Mas eu preciso de roupas.

— Tudo bem, vamos lá fazer uma mala para você passar a noite.

— Eba! E o que vamos comer?

Pensei nas possibilidades. Eu não queria cozinhar de jeito nenhum.

— Pizza!

— Kells, você é a melhor irmã do mundo! – Ela veio me deu um abraço apertado. – Podemos ter sorvete de sobremesa?

Eu sou aquela que vai ser morta se os pais descobrirem a porcaria que eu estou te dando... pensei.

Toda a equipe prestava atenção na nossa conversa, e eu não gostei do sorriso de Abby.

Fomos todos juntos para o estacionamento, lá Sophie se despediu de um por um e prometeu que não ficaria muito tempo sem vir no estaleiro.

— O Henry vai passar a noite com a gente? – Sophie me perguntou depois de ficar admirando as luzes.

— Não, ele não está aqui...

— Kells... como você vai fazer para vê-lo quando você tiver que embarcar para o exterior?

— Vamos dar um jeito, Sophie.

— Por isso que vocês dois já querem se casar?

Eu sabia que minha irmãzinha era esperta, mas ela me surpreendia a cada hora.

— Sim. Isso também está pesando na decisão.

— Ah, tá.... vai ser esquisito não te ver na casa do papai. A mamãe me falou que depois que a gente casa, a gente tem que mudar de casa... achei estranho.

— É por isso que eu estou te nomeando a guardiã do papai. Quando eu me mudar, é você quem vai ter que ir lá em casa para tomar conta dele.

— E quem vai tomar conta da mamãe enquanto eu estiver tomando conta do papai? Eu não vou ter mais irmãs... ou irmãos.

— Larga de ser egoísta, Sophie. A Jen ainda pode ser mãe de novo. Você não quer ser irmã mais velha?

— Mamãe não pode. Eu pedi para ela uma irmã uma vez, ela disse que não podia me dar uma... e ela ficou tão triste quando disse isso que eu nunca mais pedi.

Isso era uma informação muito nova para mim. E, também era muito pessoal. Era daquelas notícias que a gente recebe e não sabe o que fazer. Para a minha sorte, cheguei na casa de Jen e Sophie já estava dando jeito de descer do assento elevado e do carro.

— Você consegue arrumar uma mala para você passar a noite na casa do papai?

— Acho que sim. Não preciso de muita coisa, né?

— A menos que você queira ficar por todo o final de semana...

— Eu não sei se posso. Mamãe não falou nada. – Sophie me respondeu preocupada do alto da escada.

— Arrume a mala para o final de semana. Tem certeza de que não precisa de ajuda? – Perguntei a seguindo.

Sophie estava dentro do quarto dela. E era a primeira vez que eu o via pronto. Meu pai tinha feito um trabalho maravilhoso.

— Meu quarto ficou bonito, não ficou, Kelly? – Ela perguntou toda empolgada.

— Eu amei. Eu queria que o meu fosse assim! – Sim, papai tinha feito o meu, mas eu não tive as mesmas ideias que Sophie.

— Peça para ele, e ele pode fazer o seu quarto na sua casa nova. – Ela me respondeu arrastando uma malinha branca de bolinhas.

Era uma boa ideia. Eu bem que podia pedir para ele fazer não só o meu quarto como também o meu escritório.

— Se você não se importar, eu posso ajudar o papai! – Sophie, que estava parada na minha frente, me olhava toda cheia de expectativas.

— Eu não esperava outra oferta! Agora arrume essa mala aí, enquanto eu vou avisar para a sua mãe que vamos ficar em Alexandria.

— Tudo bem... – Sophie respondeu correndo até o ....

— Você tem um closet?! – Perguntei espantada.

— Tenho! Pedi para a mamãe...

Gente, minha irmã de cinco anos tem o próprio closet! Isso é surreal!

— Mas não tem muita coisa... um dia vai ter tanto sapato quanto o da mamãe. – Minha irmãzinha me garantiu.

E vai ser com essa frase que Leroy Jethro Gibbs vai sofrer o primeiro infarto.

Mandei uma mensagem para Jen, avisando onde estaríamos e assim que voltei, Sophie tinha as coisinhas dela todas separadas.

— Acho que é só isso, você pode me ajudar a dobrar, por favor? – Ela me pediu.

— Claro que sim. – Aproveitei e conferi as roupas e os apetrechos para higiene pessoal - Sim, Sophie tinha uma nécessaire personalizada! -, não faltava nada. – Assim fechei a mala e estava indo para o primeiro andar, quando escutei.

— Pode levar meu Mike Wazowski?

— Pode.

— E a Annia?

— Você ainda tem essa boneca? – Me surpreendi.

— Tenho sim, olha ela aqui! – Sophie me mostrou a boneca de pano. – Toda vez que olho para ela eu lembro do Tio Callen... eu tenho saudades do Tio Callen...

— Pode, mas só eles.

Ela desceu as escadas pulando degrau por degrau.

— Mais rápido, por favor. – Pedi.

Ela correu porta afora, tranquei a casa e antes de ligar o carro, já estava encomendando a pizza.

Estava tudo pronto para a primeira noite de irmãs.

Ou assim eu achava, até que cheguei na porta da minha casa. Pois, antes mesmo de encostar, reconheci três dos carros que estavam parados ali.

Era o Camaro do Tony, o rabecão da Abby e o Porsche do Tim. O Mini Cooper era desconhecido para mim.

— O que vocês estão fazendo aqui? – Perguntei para a saltitante gótica que vinha na minha direção.

— Festa do pijama! – Ela respondeu.

Procurei pela minha irmã, mas ela tinha saído correndo em direção ao Mini Cooper.

— Tia Ziva!!! – Ela gritava feliz. Então Ziva tinha um Mini Cooper... peculiar para quem dirigi tão loucamente.

— Vocês quatro vão passar a noite aqui? – Perguntei incrédula.

— Quer notícia melhor? Você não vai ter que tomar conta da Peste Ruiva sozinha! – Tony me disse indo na direção da minha irmã que rebocava Ziva para onde estávamos.

Olhei para Tim.

— Eu trouxe um monte de jogos.

— Eu amo jogos!! – Sophie gritou, já empoleirada nos ombros de Tony.

— Não tenho outra opção, tenho?

— Não. Não tem! – Abbs respondeu liderando a turma até a porta principal.

— Já que você não tá fazendo nada, Tony, pode pegar a mala da Sophie.

— A mala da Sophie já está comigo. – Ele apontou para a minha irmã que deu um tapa na testa dele, mas, mesmo assim, ria. E era inconcebível para mim o tanto que um gostava do outro.

— A outra mala. E coloca essa malinha sem alça no chão. – Pedi.

Vai ser uma longa noite...

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— Você está incomumente calada, Jen. – Jethro falou assim que entramos dentro do carro.

E não, ele não estava dirigindo. Eu tinha seguranças, motorista e uma fachada para manter, diante disso, eu não poderia fazer o que eu mais queria fazer naquele momento, mesmo que tivesse um vidro separando o motorista de onde nós estávamos.

— Não me tente ainda mais, Jethro. Você não faz ideia do que eu quero fazer com você! – Alertei.

E foi a mesma coisa de não ter feito nada. O meio sorriso dele não estava ajudando em nada no meu autocontrole.

— Nossa filha não colocou um batom reserva na sua bolsa hoje, Jen? – Ele me provocou encostando os lábios de leve nos meus.

Empurrei-o para o mais longe de mim que fosse possível.

— Sim, ela colocou. Só tem um porém...

Ele levantou a sobrancelha.

— Eu não vou ficar só em um beijo. – Disse bem próximo à sua orelha. – À propósito, feliz aniversário, Jethro. – Dei um beijo que pegou só um pedaço da sua boca.

— Jen... – Ouvi o alerta na voz dele e não contive o sorriso.

— Primeiro o baile, Jethro. Depois... – Deixei no ar e me afastei dele, estávamos perto do hotel e já era possível ver os flashs das câmeras dos paparazzi.

Antes mesmo de descer do carro, recebi uma mensagem de Kelly. Ela iria levar Sophie para casa de Jethro, e me avisou que tinha arrumado uma mala para o final de semana.

— Senhora, qual vai ser o destino após o baile? – Anderson, o agente responsável pelo meu detalhamento de segurança me perguntou, logo após abaixar o vidro que nos separava.

— Minha casa, Anderson, por favor.

— Já temos um horário?

Eram oito da noite. Com a desculpa de que a babá que estava olhando a minha filha só ficava até as 23:00...

— Onze da noite, em ponto. – Informei e respirei fundo. Era hora de encarar os fotógrafos. – Bem-vindo ao famigerado mundo dos tabloides, Jethro. – Falei para ele antes que a porta fosse aberta.

E não deu outra, Jethro foi o primeiro a descer e me esperou ao lado do carro para me oferecer ajuda. Assim que pus o pé para fora e todos os paparazzi me reconheceram, começou a chuva e flashs e perguntas.

Tirando a mais comum delas “O que eu estava vestindo?” a que mais chamou a atenção foi:

— Esse é o seu marido, Diretora Shepard? Há quanto tempo é casada? Planejam ter filhos?

E essas foram só até alcançarmos a calçada. Milhares de outras continuaram até que me vi na segurança do hall do hotel.

Jethro olhava realmente furioso para os repórteres que agora estavam perturbando sua próxima vítima.

— Faltou pouco para que eles te derrubassem! – Ele reclamou.

— Até ficaram mais distantes dessa vez. – Comentei. – Acho que foi essa sua pose de Fuzileiro. – Tentei fazê-lo prestar atenção em mim. – Esqueça-os, Jethro. Vamos para o baile. A Cinderela aqui tem hora para virar gata borralheira. – Brinquei.

— Como se fosse possível. – Ele me respondeu, me pegando pela mão e me guiando até o salão do baile.

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Jen gastou os primeiros quarenta e cinco minutos cumprimentando políticos e outras pessoas que ela dizia serem de suma importância para a manipulação política para os fundos de orçamento do NCIS.

Disso eu não duvidei. Era até interessante como Jen conseguia manobrar a política e ser completamente diplomática em determinadas situações.

Ela era boa em contornar certas situações, eu não. E para cada vez que um determinado político ou lobista a olhava com um pouco mais de vontade, eu os encarava de volta e não teve um que não deu um passo atrás quando me via.

— Muito obrigada. – Ela me disse, assim que nos afastamos um pouco de todos.

— Por?

— Afastar os mais assanhadinhos. Principalmente o último. Senador Clarkson.

Procurei pelo sujeito no meio da multidão.

— O que tem ele? – Encarei Jen que olhava para os ocupantes do salão.

— Se eu te contasse o que ele já insinuou para mim, eu tenho certeza de que você o mataria com as suas próprias mãos. – Foi a resposta que ela me deu, e eu queria mais detalhes, porém, fomos atrapalhados por...

— Senador Sanders, Senhora Sanders! – Jen os cumprimentou.

— Diretora Shepard! - A sogra de Kelly a cumprimentou. – Agente Gibbs! – Ela veio para o meu lado. – Eu estava mesmo querendo conversar com vocês dois. Como a sua filha é adorável! Kelly é um doce de menina, e Sophie é um amor! – Ela continuou.

— Muito obrigada! – Jen agradeceu ao elogio.

— Me desculpem, mas eu preciso ver aquela garotinha mais vezes. Precisamos marcar um jantar, onde todos tem que estar presentes. Assim é bom que podemos ajudar Kelly com os preparativos para o casamento. – A senhora Sanders continuou e essa última frase me pegou de guarda baixa. – Você não concorda querido? – Ela se virou para o marido.

— Acho que quanto mais cedo aqueles dois se casarem, mas cedo podem nos dar netos. – O Senador respondeu.

Jen olhou para mim e acabou por me dar um pisão no pé, para me trazer para a conversa.

— Acho uma ótima ideia, essa do jantar. – Jenny falou por mim. – Quanto a ajudar com os preparativos do casamento... por que não deixamos que Kelly nos peça ajuda? É o casamento dela, afinal.

A Senhora Sanders pareceu pensar no assunto, mas ela tinha que ter a última palavra.

— Você tem razão, Diretora, mas eu não vou abrir mão de um único detalhe.

Eu já estava querendo ter uma conversa com Kelly, e depois dessa ressalva, eu era bem capaz de concordar com a sogra dela só para deixar minha mais velha com raiva.

— E esse detalhe seria? – Perguntei antes de Jen.

A Senhora Sanders abriu um enorme sorriso e nos respondeu:

— Claramente Sophie tem que ser a Dama de Honra. E temos que achar um vestido perfeito para ela. Nem que tenhamos que procurar um estilista na Europa para fazer o vestido dela.

Foi a vez de Jen sorrir amarelo. E eu tive que concordar com a cabeça, não tinha como eu controlar o que eu iria dizer se eu abrisse a boca. Já não bastava a minha Kelly estar se casando com o filho deles, eles ainda queriam escolher até como a Sophie iria vestida e o que ela iria vestir.

— Bem, creio que ainda temos tempo para decidir o vestido da Sophie, bem como o de Kelly. Vamos por partes. E nada de passar na frente da noiva. – Jen foi, novamente, a diplomática.

—- Nós só temos dezoito meses até lá. E como o tempo está passando rápido, quando assustarmos, Kelly já terá um novo sobrenome. – A Senhora Sanders disse e depois de desculpou pedindo licença, precisava conversar não sei com quem.

Assim que eles ficaram longe o suficiente para que não nos ouvisse.

— Dezoito meses!? – Jen e eu exclamamos ao mesmo tempo.

— Eu preciso de uma bebida. – Informei.

— Pede duas. Porque só uma dose dupla de Bourbon para poder me ajudar a aguentar essa noite. – Ela me respondeu, enlaçando o braço no meu.

Não demos dez passos, e fomos parados por outro senador de quem não fiz questão de guardar o nome e sua esposa.

— Diretora – a esposa completamente modificada por cirurgias plásticas começou – fiquei sabendo que tem uma filha linda. Caroline Sanders não para de falar da beleza e da fofura de sua filha. Mas vejo que ela tem onde tirar a beleza, se puxou algo do pai. – A mulher olhou demoradamente na minha direção.

Jen mais uma vez agradeceu o elogio feito à filha, contudo tratou de apertar o seu braço no meu.

— Pode apostar que minha filha é a exata mistura dos nossos DNA’s. – Ela respondeu e pediu desculpas, mas precisava conversar com o Secretário da Marinha.

— Olhe, agora está explicado o ataque de ciúmes da Sophie. – Brinquei com ela, enquanto esperávamos nossas doses.

— Não comece, Jethro. – Ela me alertou, e pude ver que ainda mirava as costas da mulher com um olhar de ódio. E foi quase impossível não sorrir ao vê-la com esse ciúme indisfarçado.

— O que mais te irritou ali?

— O que mais me irritou? Quer que eu enumere? Porque eu posso fazer isso!

— Jen...

E ela respirou fundo e tomou um gole generoso da bebida.

— Eu tomo todos os cuidados do mundo para que ninguém saiba da Sophie, eu troco os caminhos até a escola dela, eu a cerco de seguranças quando posso, consegui mantê-la afastada das páginas dos tabloides por seis meses, agora, parece que cada um dos políticos aqui sabe sobre ela. E não fui eu ou você quem contou, Jethro. Foi Caroline Sanders. Ela tem três filhos, fale deles, não da nossa filha.

— Concordo com você. Porém não podemos fazer mais nada, a não ser tentar escondê-la ainda mais.

— E você acha que algum dos repórteres que estão lá fora já não está sabendo sobre ela? Jethro, eles não vão parar até que consigam uma foto de Sophie.

E Jen continuaria a expor todos os motivos pelos quais ela estava além de revoltada, quando SECNAV apareceu bem atrás dela.

— Diretora Shepard, enfim te encontro nesse baile!

Jen mudou a expressão em menos de um segundo e já se virou para o Secretário com um sorriso estudado nos lábios.

— Senhor Secretário, boa noite! – Ela estendeu a mão para cumprimentá-lo.

— Gostando do baile, Shepard?

— Claro que sim. Esperando um tempo para poder ir para a pista de dança, senhor.

E o Secretario Davenport notou a minha presença.

— Agente Gibbs, não tinha te reconhecido. Pelo visto não veio como detalhamento de segurança da Diretora.

— Boa noite senhor. Não, não vim.

— Então, presumo que o que já escutei por aqui é verdade. – Ele deixou a frase no ar.

Jen se manteve de cabeça erguida.

— A minha filha não é segredo para o senhor, Secretário Davenport. – Foi o que ela respondeu.

— Mas a paternidade da sua filha é novidade para mim. – A resposta veio de uma única vez, e ele olhou significativamente para mim.

— A paternidade de minha filha nunca foi segredo, só não consta no registro dela por motivos de segurança, senhor. No nosso ramo de trabalho, algumas coisas devem se manter em sigilo se quisermos proteger a quem amamos. E essa foi a maneira que nós dois encontramos para proteger a nossa filha caso algo acontecesse comigo. – Foi a reposta que ela deu e o SecNav ficou tão desorientado com o que ouviu que acabou por pedir licença e se retirar.

Encarei Jen.

— E você ainda acha que eu não levo jeito para a política, Jethro?

— Eu não responderia melhor. – Falei ao seu ouvido.

— Claro que não, você já teria atirado no Senador Sanders, por inúmeros motivos, mas principalmente por ele ser pai do seu genro.

— E não se esqueça por ele ter uma esposa fofoqueira. – Completei.

Jen riu do meu comentário.

— Céus ela é terrível. Não me admira que Sophie não gostou dela.

— Sophie não confiou nela, é diferente.

Jen respirou fundo do meu lado.

— Já é uma hora razoável para ir para casa? – Ela perguntou.

— Achei que você quisesse dançar. – Joguei verde.

— Jethro. Já somos a fofoca da noite.

— Então vamos dar mais alguma coisa para que eles falem, além da nossa filha que ninguém aqui ainda viu. – Estendi a minha mão e ela me olhou incerta. – O que foi?

— Fazia tempo que eu não bebia tanto Bourbon.

— Você tomou uma dose dupla, Jen.

— Nem uma dose eu estava bebendo, Jethro. Tente cuidar de uma espoleta estando bêbada ou de ressaca... não é nada fácil. – Ela me informou e eu a encarei. – Acredite em mim, eu tentei uma vez, não foi nada agradável para a minha cabeça ter uma criança em chamando a cada segundo.

— Eu te guio. – Falei.

Ela só sorriu do meu lado, após pegar a minha mão.

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Sim, eu não me importei de estar um pouco tonta por conta da bebida, eu sabia que Jethro não me deixaria cair. Assim, fiz o que ele disse, que o restante falasse mais, eu não ligava, talvez, se todos esses homens ficassem sabendo que eu tinha um “marido”, ou pelo menos era isso que eles estavam pensando, eles podiam parar de me olhar como um objeto.

Jethro seguiu até a pista de dança e quando dei por mim, uma de suas mãos descansava na base das minhas costas e a minha envolvia o seu ombro.

— Está pronta?

— Para dançar com você? Sempre!

Não era nenhuma música que pudesse ser reconhecida, era uma dessas músicas clássicas tão comuns nesses lugares, porém, nada nos impediu de dançar.

Já estava além de confortável nos braços de Jethro, quando ele sussurrou no meu ouvido que tinha gente nos observando.

— Deixe para lá. – Respondi tirando a minha cabeça de seu ombro.

— É o seu amiguinho, Clarkson.

Algo dentro de mim se contraiu. Eu não tinha me esquecido da “oferta” que ele havia me feito meses atrás.

— Que ele fique babando. – Foi o que eu disse e voltei o meu olhar para Jethro. – Alguém já te disse hoje que você está muito bonito?

Ele fingiu pensar por um minuto, brincando com a minha cara.

— Na verdade, sim. E ela é ruiva.

Levantei a sobrancelha na direção dele.

— E tem um metro de altura e adora falar. – Jethro continuou me olhando nos olhos. – E tem um olho de cada cor.

Comecei a rir.

— Acho que eu posso aceitar esse elogio.

— E teve mais duas outras que me elogiaram também. – Ele recomeçou, com um sorriso zombeteiro enfeitando os lábios.

— Deixe-me ver, uma é uma saltitante cientista forense que trabalha no mesmo prédio que você e a outra é... – Fingi pensar mais um pouco. – Mas é claro, sua filha! Acertei? – Bati no ombro dele para dar ênfase ao fato da filha dele o ter elogiado.

Eu mais senti do que ouvi a sua risada.

— Faltou a última pessoa...

— É mesmo? Quem?

— Ela está dançando comigo agora.

— Céus... será que vou ter que matá-la e pedir ajuda para sumir com o corpo se eu quiser alguma coisa com você? – Perguntei em tom conspiratório.

— Não, não vai precisar de tanto. Mas talvez eu precise sumir com alguns que estão olhando para ela nesse momento.

Fiz menção de olhar em volta para saber quem era, Jethro me impediu.

— E quem está sendo o ciumento agora? – Cantarolei perto do ouvido dele.

— Como eu te disse algumas semanas atrás, Jen. Eu sempre mantenho um olho nas pessoas que me interessam. – Ele me abraçou com um pouco mais de força pela cintura e apertou mais a minha mão, nada que me machucasse, mas era o jeito dele de garantir que eu não iria para nenhum lugar.

A música trocou de ritmo, agora era algum clássico do final dos anos 80 tocado de forma instrumental.

— Se você já quiser ir...

— Não. Eu te falei Jen, vamos dar algo que esse povo possa fofocar amanhã.

— Jethro... eu ainda sou a diretora de uma agência federal.

— E todo mundo aqui está achando que somos casados, que mal faz?

— Você é um homem muito estranho, Leroy Jethro Gibbs. Muito estranho.

Ele não me respondeu. Apenas me girou pelo salão. E quando eu estava de volta em seus braços, me deu um beijo logo em seguida. E pelo sorriso que tinha, eu sabia que esse gesto tinha espantado quem quer que estivesse nos vendo.

— Eu ainda tenho direito ao meu presente de aniversário? – Ele me perguntou ao pé do ouvido.

— Minha casa está vazia, Kelly levou Sophie para Alexandria. – Disse e, assim que os olhos dele focaram nos meus, eu decidi que o Baile estava encerrado. – Acho que já é um horário aceitável para ir.

Ele concordou com um sorriso de canto e começou a me guiar pelo salão até a saída. Meu carro já estava nos esperando, e tudo o que eu tinha que fazer era me controlar durante o trajeto de pouco mais de vinte minutos.