Acordei sem reconhecer o quarto em que estava. Passei a mão pelo rosto tentando me situar, tinha tido o sonho mais estranho dos últimos meses.

Sonhei que a filha de Jen fora sequestrada, a equipe se envolveu no resgate, Kelly conhecia a menina e, para terminar, descubro que a garota era minha filha. A volta de Jenny tinha conseguido não somente bagunçar o modo como eu trabalhava, mas, pelo visto, com o que eu sonhava também.

Dei outra olhada no quarto, eu não me lembrava de ter ido para lugar nenhum na noite passada, como foi que cheguei até aqui? Tentei me levantar, para notar que não poderia, tinha uma mulher com longos cabelos ruivos me usando como travesseiro.

— Fica quieto, Jethro. É sábado, me deixa dormir só mais um pouco antes que Sophie acorde e venha começar a pular na minha cama.

— Jen?!

— Não, a Diane! É claro que sou eu, Jethro! Quem mais seria? – Ela perguntou mal-humorada.

E foi só aí que eu notei. Não era um sonho.

— Não era um sonho... – murmurei.

— Que parte? – Jenny tinha desistido de me usar como travesseiro e estava deitada do meu lado com os olhos fechados.

— Tudo.

— Jethro, você nunca foi de falar muito, ainda mais de manhã, e eu não estou entendendo nada do que você está falando. – A voz dela estava grogue e abafada pelo travesseiro.

Repassei a tarde e a noite de sexta-feira. Cada pequeno detalhe.

— Eu posso ouvir as engrenagens do seu cérebro funcionando Jethro. Deixe para pensar depois da primeira xícara de café, ainda é cedo, o dia nem amanheceu. – Ela virou para o outro lado.

Peguei o celular dela que estava no criado mudo ao seu lado e olhei a hora. Quatro e meia da manhã.

— Sai de cima de mim, pelo amor de Deus, Jethro, eu quero e preciso dormir. – Ela reclamou mais um pouco.

Eu ia responder alguma coisa, quando uma batida na porta chamou minha atenção.

— Mamãe. A senhora tá aí? – Uma vozinha chorosa dizia do outro lado.

Jenny se levantou na hora. E jogando a minha camisa na minha direção, sibilou:

— Veste isso.

— Mamãe... – o choro ficou mais alto.

Jenny abriu a porta em um átimo e logo uma garotinha de cabelos vermelhos e olhos cheios d’água ficou visível no batente.

— Que foi, Ruiva? – Jenny perguntou se abaixando na altura da filha.

— Tive um pesadelo. Sonhei com o cara mau me jogando no buraco, só que ninguém ia me salvar! Nem a senhora e nem o papai e nem o Tony... – Ela abraçou o pescoço da mãe, soluçando alto.

— Vem aqui. - Jen a pegou no colo e se sentou com ela na beirada da cama, todo o sono e mau-humor que ela estava indo embora, e começou a cantarolar uma música no ouvido dela, com o claro intento de fazê-la se acalmar.

— A senhora promete que não vai deixar o cara mau me pegar de novo? – Sophie perguntou olhando para mãe.

— Prometo, pequena. – Jenny beijou a testa da filha.

Eu observava a cena sem falar nada, apesar de querer fazer alguma coisa.

— Tudo bem. - Sophie apoiou a cabeça no ombro esquerdo de Jen e foi quando ela notou a minha presença. – Papai! O senhor tá aqui! – O tom de voz um pouco mais alegre, porém ainda era perceptível o medo.

Jenny virou na minha direção para conferir se eu tinha vestido a camisa e depois se levantou e veio se sentar com as costas apoiadas na cabeceira, ao meu lado.

— Sim, Soph, eu estou. Teve um pesadelo? – Perguntei, acariciando os cabelos dela.

Ela balançou a cabeça me confirmando, mas hora nenhuma soltou o aperto no pescoço da mãe.

— Mamãe... – Ela começou.

— Que foi? – Jen estava caindo de sono, todo o cansaço da semana cobrando o preço.

— Eu posso ficar aqui. Tenho medo de voltar para o meu quarto. – Ela pediu.

— Pode. Mas com uma condição. – Jenny falou. - Você vai deixar a mamãe dormir, pode ser?

— Pode.

— Onde está o seu Mushu?

— Lá no quarto... – Sophie enterrou o rosto na base do pescoço da mãe, como que confirmando que não queria voltar lá.

— Você quer que eu o pegue para você, filha? – Perguntei.

— O senhor pode fazer isso? – Sophie olhou para mim e eu vi que ela lutava contra o sono, com medo de que o pesadelo voltasse.

— Claro, vamos aproveitar e tomar um copo de leite quente para espantar o sonho ruim, o que você acha? – Estendi a mão na direção dela e Sophie a tomou sem hesitar.

Jen me olhou, agradecendo por eu deixá-la dormir mais um pouco.

— Tudo bem... – Sophie saiu do colo da mãe e ficou de pé na cama, claramente me pedindo para pegá-la no colo também.

Assim o fiz e saímos do quarto, deixando Jen dormindo.

— Você quer o leite ou quer o seu bichinho de pelúcia primeiro?

— O Mushu.— Ela me respondeu apoiando a cabeça no meu ombro. Entrei no quarto dela e me vi sem saber qual dos bichinhos era o tal do Mushu.

— É o dragão. – A Ruivinha me apontou, lendo o que eu estava pensando. Pelo visto, isso ela também tinha herdado da mãe.

Entreguei o dragão a ela e fomos para a cozinha. Aquela não era a minha casa, mas não era difícil saber onde as coisas ficavam, Sophie quando me via parado, pensando onde poderiam estar, logo me informava.

Esquentei o leite e coloquei em um copo na frente dela.

— O senhor não vai tomar? – Ela me perguntou, descendo do banco onde eu a havia colocado e vindo parar do meu lado.

— Não. E a senhorita quer colo, não é? – Olhei para a garotinha parada ao meu lado, ainda com muito sono e com medo de dormir.

— Quero. Posso subir? – Ela disse incerta.

Estendi meus braços e Sophie me escalou, se sentando no meu colo, apoiando a cabeça do meu lado esquerdo, seu ouvido em cima do meu coração.

— Seu leite. – Entreguei o copo para ela.

E ela, abraçada com o Mushu e acomodada em meu colo, começou a beber o leite em silêncio. Assim que terminou, colocou o copo na mesa e se ajeitou mais, olhei para ela e ela tinha um bigode de leite que acabei por limpar.

— Obrigada. – Ela murmurou quase inaudível.

— Não há de que. Pronta para ir para a cama? – Perguntei acariciando os cabelos.

— Não... – Ela deu um enorme bocejo ao falar.

— Tem certeza?

— Tenho.

— Teimosa. – Falei baixinho.

— A mamãe fala que eu sou tão teimosa quanto o senhor... – Ela respondeu sonolenta.

Ia responder algo, quando ela soltou.

— Tô com frio...

— Vamos para o quarto. – Me levantei e ela me abraçou mais forte, escondendo o rosto no meu pescoço.

— Não quero. O pesadelo vai voltar.

— Eu não vou deixar o pesadelo voltar, Sophie.

Ela levantou o rosto e me encarou.

— Promete?

— Com certeza. - Beijei a ponta do nariz dela e ela me sorriu, beijando a ponta do meu em seguida.

Entramos no quarto e acendi a luz, minha filha não me soltou quando eu a coloquei na cama.

— Papai... por favor.

Acabei por me deitar junto com ela. Sophie se ajeitou e escolheu a mesma posição que a mãe costuma dormir, me usando de travesseiro.

— O senhor é fofinho e quentinho. – Ela falou quando acabou de se ajeitar.

— Às ordens. – Foi o que eu pude responder.

Achei que não conseguiria dormir, porém, quando dei por mim, o dia já tinha amanhecido e o cheiro de café me acordou, culpa de Jen, que estava sentada no assento de janela, e me olhava com um sorriso no rosto.

— Bom dia! – Disse. – Vejo que já me trocou por outra ruiva. – Ela falou apontando para Sophie que não havia se mexido desde que caíra no sono.

Esfreguei os olhos.

— Bom dia, ela não queria ficar sozinha. Pode me dar uma caneca dessa?

— E o papai babão do ano foi incapaz de dizer para a filhota que ela tem que dormir sozinha... – Ela falou, tomando um gole do café.

— Nem você faz isso, estava disposta a deixá-la dormir no seu quarto.

— Pega no flagra. – Ela levantou a mão como se se rendesse.

— Um gole de café, Jen. – Pedi, estendendo a mão.

Nessa hora, Sophie se mexeu e falou.

— Posso dormir mais cinco minutos? Tô com sono.

Olhei espantado para ela e depois para Jenny, a encarando, como se ela tivesse culpa do excesso de sono da filha.

— E você vem me dizer que ela não é a sua cópia? Você fez a mesma coisa de madrugada!

Ela tentava segurar a gargalhada, mas não escondeu o riso e deu de ombros.

— Acho melhor você deixar a sua filha dormir mais um pouco... – Ela se levantou. – À propósito, obrigada, eu estava precisando dormir. – Jen se abaixou e me deu um selinho. – Deixa que eu assumo daqui, vai tomar o seu café.

Porém, não precisou fazer a troca, Sophie acordou, um tanto descabelada e confusa.

— Que dia é hoje? – Perguntou esfregando os olhos e escondendo um enorme bocejo.

— Sábado, ruiva. E bom dia para você também. – Jen a respondeu.

— Bom dia, mamãe. Bom dia... PAPAI?! – Ela ficou de pé na cama e me olhava assustada. – Eu não acredito! Não foi um sonho!! – Ela pulou feliz e me deu um abraço.

— Bom dia, filha. – Retribui o abraço e não pude não rir da empolgação dela.

— Eu não acredito! Não acredito! Não acredito! - Sophie pulava a cada frase que falava.

— Sim, pequena, seu pai está aqui.

— Obrigada, mamãe! – Ela se voltou para a mãe e lhe deu um abraço e um beijo na bochecha. – Mamãe, eu me lembrei de uma coisa! – Sophie falou, pulando da cama e correndo porta afora.

— Para onde ela foi? – Perguntei.

— Bem-vindo ao mundo de Sophie. A garota que já acorda ligada em 220 volts e não vai desligar tão cedo. – Jen me avisou, se levantando da cama e tentando achar a filha dentro do apartamento. Eu a segui, o que aquele pedaço de gente com pouco mais de um metro de altura estava aprontado?

— Mamãe, cadê? – A voz dela veio abafada.

— No meu quarto. – Jenny me informou. E quando entramos, Sophie estava de pé na cama, com as mãos na cintura.

— Cadê? Mamãe, onde está? – Ela perguntava impaciente, e correu para dentro do closet da mãe.

— Se você não me falar o que é, eu não posso te ajudar! E pode parar de bagunçar as minhas roupas! – Jenny avisou.

Eu parei na porta e fiquei observando mãe e filha procurarem algo. Até que Sophie gritou.

— ACHEI!! ACHEI! – Ela veio pulando do closet e me entregou um moletom.

— Era isso... – Jen se sentou na cama e olhava descrente para a filha.

— Mamãe me disse que o senhor esqueceu esse moletom com ela, aí ela guardou... bem, ela usava ele todo inverno... mas tá aí.

Olhei para o moletom em questão, era um, do meu tempo de Fuzileiro, o azul, exatamente o mesmo que a Sophie dos meus sonhos usava e que, coincidentemente, Jen tinha pegado para ela enquanto estávamos na Europa.

— É da sua mãe, eu dei para ela. – Falei e devolvi o moletom. - Jen gostou dele.

Sophie tombou a cabeça e me olhou curiosa.

— Me dá um também? Eles são quentinhos e fofinhos, quase igual ao senhor! – Ela me pediu com os olhos arregalados.

Minha filha tinha acabado de me comparar com um moletom... essa era nova.

— Você já usou esse moletom? – Perguntei e Sophie fez cara de desentendida.

Foi Jenny quem respondeu.

— A mão leve aí pegou para ela. Foi um custo fazê-la me devolver.

— Peguei emprestado... – Ela corrigiu a mãe.

— Devolve esse para a sua mãe. Eu vou arranjar um para você, se a Kelly já não pegou todos para ela.

— A Kelly também acha essa blusa quentinha e fofinha?

— Acho que sim...

E antes que Sophie me despejasse um milhão de perguntas, Jenny deu um jeito de fazê-la ir tomar café, pois a duas tinham que ir ao cabelereiro para ajeitar o cabelo da pequena. Assim que a nossa filha já estava na cozinha – Ela não foi nem um pouco silenciosa ao dar bom dia para Noemi em espanhol. – Jenny me disse.

— Quentinho e Fofinho? Acho que vou deixar esse apelido espalhar pelo NCIS afora.

— Ninguém vai acreditar, mas pode tentar. – Falei.

— Se arrume e vamos tomar café, antes que a Sophie conte para Noemi tudo o que aconteceu ontem por umas dez vezes.

Minutos depois, seguimos a falação da garota que já estava na mesa, tomando um copo de leite.

Mal nos sentamos e a campainha tocou.

— Quem será a essa hora? – Sophie perguntou olhando para a porta.

Jen se levantou e foi até a porta, e quando abriu...

— Eu fui coagida a fazer isso, eu juro! – Era a voz de Kelly.

— Mas o que está acontecendo? – Perguntei para uma perplexa Jen.

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Fala sério, quem é o desocupado que acorda uma pessoa em plena manhã de sábado, antes das SETE DA MANHÃ??

— EU TÔ INDO, FILHOTE DE CRUZ CREDO! – Gritei para a porta, seja lá quem estivesse do outro lado, estava matando a campainha dessa casa.

Me preparei mentalmente para mandar quem quer que fosse passear, quando abri a porta e fui, literalmente, atropelada por Abby.

— ONDE ELE ESTÁ? ONDE A SOPHIE ESTÁ? ONDE ELES ESTÃO? – Ela perguntava vasculhando até debaixo da mesa.

— Bom dia para você também. – Respondi sentada no chão. Dei uma olhada para a porta e vi que Tony, McGee e Ziva estavam parados na calçada e olhavam ressabiados para a porta.

— ONDE A MINIATURA DE RUIVA ESTÁ? – Abby clamou.

— Ela não está aqui. – Falei alto o suficiente para os três que estavam do lado de fora ouvirem.

— E o Chefe? – Tony perguntou já da porta e me estendeu a mão para me ajudar a me levantar.

— Meu pai? – Dei de ombros. – Não faço a menor ideia. Eu cheguei de madrugada e nem olhei onde ele estava...

— AH MEU DEUS!!! ESTÁ ACONTECENDO! NINGUÉM SE MEXE! – Abby veio correndo em suas plataformas e parou perto de Timmy, dando um abraço de urso nele que quase o matou sufocado.

— O que está acontecendo, Abby? – Ziva perguntou.

— Jibbs está acontecendo! – Ela falou dando uma corrida em torno da mesa.

— O QUE?! – Nós quatro perguntamos ao mesmo tempo.

— JIBBS! Gente, como vocês não sabem? Jenny + Gibbs = Jibbs. – Ela falou lançando as mãos para o ar.

— Quantos CAF-POW! já ela tomou hoje? – Olhei para Tony.

— Não sei, ela apareceu desse jeito, na porta do meu apartamento, às cinco e meia da manhã.

— E Tony levou quase uma hora para tomar banho e se arrumar! – Abby respondeu da cozinha. – Onde é a casa da Jenny?

Todos nós nos olhamos e olhamos em direção à Abby.

— Por que você quer saber onde Jenny mora? – Perguntei aflita.

— Porque todos nós vamos até lá para passar o dia com a mais nova integrante da família.

— Unh... Abby, eu não acho uma boa ideia... uma coisa é invadir a casa do Gibbs, não que ele goste, mas não é a primeira vez que a gente faz isso... – McGee começou.

— É a primeira vez que faço isso! – Ziva o corrigiu.

Timmy continuou como se a ninja não o tivesse interrompido.

— Outra é aparecer na porta da casa da Diretora do NCIS, em pleno sábado de folga, dela e nossa. Melhor desistir.

— NÃO! NÃO! E NÃO! – Nós vamos até lá, a pobrezinha deve estar tão desorientada, tão cheia de perguntas! – A gótica falava sem parar.

— Desorientada estou eu. E quem tem perguntas é você, Abby. – Falei me sentando no último degrau da escada e tentando entender como a minha manhã de sono da beleza tinha virado o caos com o toque da campainha.

— VOCÊ! – Abby estendeu o taco de beisebol que fica no canto da sala em minha direção. – Você vai nos levar lá!

— Correção, Kelly vai te levar até lá! – Tony tentou pular fora.

— E você, Tony DiNozzo vai também, ou eu vou quebrar alguns ovos com esse taco. – Abby o ameaçou e Tony engoliu em seco.

— Você tá ficando muito tempo perto da Ziva... – Ele murmurou saindo de perto da agitada cientista.

— Abbs, eu ainda acho...

— MCGEEE!! Todos nós vamos! Eu tenho a sensação de que Gibbs está lá também....

Percebi que Ziva dava uns passos para trás e tentava sair de fininho.

— Pode ir parando aí, Ziva! Você vai também! Eu falei to-dos!

— Abbs, por acaso você dormiu nessa noite? – Perguntei.

— Não. Não consegui dormir. Fiquei pensando que agora que temos uma criança no NCIS, os feriados e as festas serão muito mais animados. Halloween e Natal poderemos enfeitar tudo, além de podermos fazer festas de aniversário! Se a Sophie estiver do meu lado, eu tenho certeza de que a Diretora não vai se incomodar! – Ela respondeu em um fôlego só.

Minha cabeça já doía... eu ia levar um sermão daqueles. Tinha que ser bem cuidadosa no que ia falar.

— Bem, eu concordo com você, a presença de Sophie muda muita coisa, porém, você não acha melhor tanto meu pai quanto ela se acostumarem um com o outro e depois a gente marca um final de semana de boliche, pôquer, para ir em parque de diversões ou cinema... – Tentei a sorte e vi que Tony e McGee se encolheram com a olhada que Abby me lançou. Ela poderia dar medo quando queria.

— Nesse final de semana. HOJE! – Ela sibilou. – Semana que vem é a sua formatura, será o seu final de semana, e depois quando você for para a Marinha, o Gibbs vai ter muito tempo para passar com a caçula dele. Assim, nosso tempo é curto. E começamos hoje. Com TODOS!! – O taco de beisebol balançando perigosamente na sua mão.

— Tudo bem... – foi o que nos restou a dizer.

— Eu só vou me trocar, e já volto, por favor, não quebre nada... – Corri escada acima.

— E ligue para o Henry! Ele também faz parte da família.

— Henry no mesmo lugar que Papai e Jen não vai rolar! Ele não é muito fã dos dois separados, juntos então...

— O nosso futuro congressista morre do coração. – Tony continuou.

Eu parei no topo da escada e olhei feio para o Agente Sênior.

— Com coisa que você também não morre de medo dos dois, não é Anthony DiNozzo Júnior?

Ele fez uma careta para o nome completo.

— Precisava do Junior?

— Precisava chamar o meu noivo... er.. namorado de medroso?

— Peraí, você disse NOIVO?! – Ele retrucou com um sorriso de deboche.

— NÃO. – Respondi rápido demais e saí para o meu quarto.

— Sim, ela disse. – Pude ouvir Ziva falando lá embaixo.

Que ótimo. O meu segredo de mais de um ano vai ser espalhado por todo o NCIS. A menos que eu faça uma coisa...

Não pude demorar muito, pois Abby estava fazendo uma contagem regressiva lá embaixo. Quando me vi apresentável, ou o máximo que uma pessoa pode ficar depois de ser acordada às sete da manhã e com um pouquinho de ressaca, desci.

— Próxima parada, casa da Jenny! – Abby gritou.

No caminho, peguei meu celular e mandei uma mensagem para Henry. Se eu já estava no inferno, não custava nada abraçar o capeta e seja o que Deus quiser.

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Mal nos sentamos e a campainha tocou. Sophie ficou curiosa com quem seria, e Jethro fez menção de se levantar, eu acabei por tomar à frente e fui abrir a porta, tinha quase certeza de que era o detalhamento de segurança confirmando a troca de turno.

Só que não era. Assim que abri a porta, vi Kelly e ela veio logo se desculpando:

— Eu fui coagida a fazer isso, eu juro!

Foi quando eu olhei além dela, e quatro pessoas estavam paradas na porta, Tony, Ziva e McGee pareciam sem jeito, já Abby tinha um enorme sorriso no rosto.

— Bom dia, Jenny! – A feliz gótica me saudou.

Eu estava atônita. O que eles queriam na porta da minha casa, às oito da manhã de um sábado? Sábado em que estávamos todos de folga!

Ao fundo, ouvi uma cadeira ser arrastada e Jethro me perguntar:

— Mas o que está acontecendo?

Ao ouvir a voz dele, o sorriso de Abby aumentou. McGee engoliu em seco e cogitou sair correndo para as escadas, Ziva me olhou pedindo desculpas, Kelly me pediu desculpas e eu não conseguia ler o que se passava na cabeça de Tony.

Assim que Jethro segurou a porta – sua mão em cima da minha, gesto que nenhum dos cinco perdeu – Abby deu um pulo e antes de falar qualquer coisa, nos abraçou ao mesmo tempo, praticamente nos derrubando no chão, se Tony e Kelly não a tivessem segurado.

- EU SABIA QUE VOCÊS DOIS IAM FORMAR O CASAL MAIS BONITO DA FACE DA TERRA!

Eu senti minhas bochechas esquentarem na mesma hora.

Escutei que o vizinho de baixo subia as escadas, e assim que Abby nos soltou, pedi que todos entrassem.

— Bom dia, para todos. Entrem por favor. – Falei.

E os outros quatro entraram. Jethro estava a ponto de começar a perguntar o que eles estavam fazendo ali, quando nos deparamos com Sophie, ainda de pijamas e pantufas, um copo de leite na mão e com um bigode de leite no rosto, parada nos olhando assustada.

- Achei que hoje fosse sábado, mamãe. E que ninguém tinha que trabalhar... – Ela falou incerta.

— E é sábado, bonequinha russa, e por isso estamos aqui! – Abby diminui o tom de voz e se ajoelhou na frente da pequena. – Gostei do seu pijama...

— Obrigada. - Ela falou. – E eu das suas botas!

Jethro grunhiu do meu lado. E eu tive que dar uma cotovelada nele.

- Se é sábado. - Sophie continuou. – O que vocês estão fazendo aqui? Por que não estão dormindo?

Tony, que tinha acabado de se jogar no sofá, disse:

— Porque a Abby nos acordou cedo, ela queria te ver.

— Você não gosta de dormir, Abbs?

— Eu gosto, Sophie, gosto tanto que durmo em um caixão! – A gótica respondeu feliz.

— Ela dorme aonde? – Perguntei alarmada para Jethro.

— Depois eu te explico. – Ele sussurrou para mim.

— VOCÊ DORME EM UM CAIXÃO?!! – E aí estava a Sophie desorientada.

— Sim. É confortável. Um dia eu deixo você experimentar.

Olhei para Jethro.

— Abbs... – Ele chamou a atenção dela.

— Ou não. Melhor não. Mas você pode dormir lá em casa qualquer dia desses, podemos fazer uma festa do pijama, e você dorme na cama. Eu também tenho uma cama... – Abby terminou depois que viu a minha cara e a cara de Jethro.

— Eu gosto da ideia da festa do pijama... eu fui em uma quando estava em Londres. – Sophie falou.

— Falando em Londres. – Tony começou atraindo a atenção de Sophie. – Essa pequena ruiva aí tem sotaque britânico!

— E isso é ruim? – Ela perguntou desconfiada, já buscando conforto atrás da perna do pai.

Kelly arremessou o controle da TV no italiano.

— Não, Soph, não é. Tony que é chato pra caramba. Liga para ele não.

— Pelo menos não escondo as coisas. – DiNozzo retrucou, olhando atentamente para Kelly, que abaixou o olhar zangada.

E eu percebi que ele tinha descoberto do noivado.

— Isso não é da sua conta! – Kelly respondeu de volta.

— Vocês dois brigam como se fossem irmãos! – McGee que até então estava calado, disse.

— Fique fora disse, McChato! – Os dois responderam juntos e Sophie caiu na gargalhada.

— Peste Ruiva, não comece! – Tony a advertiu.

— Não chama a minha irmã de Peste Ruiva. A Peste Negra deveria era ter te levado há dois anos, seu irritante.

— E lá vamos nós de novo... – Abby falou, se sentando no chão.

Sophie que não estava entendendo o porquê de tanta bagunça tão cedo, chegou perto de mim e me perguntou:

— Mamãe, isso vai acontecer todo dia agora que tá todo mundo aqui? É assim que uma família grande vive?

— Não, filha é só hoje. – Eu garanti para ela.

— Tudo bem... porque eu tô achando que a Kelly vai jogar outro grampeador na testa do Tony... olha a cara dela! – Sophie apontou para a irmã que irradiava ódio.

Foi quando Jethro interveio na briga dos dois, e como McGee havia dito, sim, eles brigavam como irmãos mesmo.

— Vamos trocar esse pijama, enquanto esse povo se acalma? – Perguntei para minha filha.

— Vamos, só vou deixar o copo na cozinha e agradecer à Noemi. – Ela falou e saiu correndo.

— Onde ela vai? – Jethro me perguntou, acompanhando a mais nova com o olhar.

— Cozinha. Agradecer à Noemi. O que eu faço com essa turma?

— Não sei, eu nem sei o que eles estão fazendo aqui...

— Descubra. Eu vou ajudar a Sophie a trocar de roupa. – Falei e peguei a ruivinha no colo para levá-la para o quarto.

— Mamãe, nós ainda vamos no cabeleleiro?

— É cabeleireiro, Sophie.

— Nós ainda vamos cortar o cabelo? – Ela decidiu que assim era mais fácil, uma saída típica do pai dela.

— Vamos.

— Mas e todo mundo?

— Vamos combinar algo com eles, talvez possamos almoçar todos juntos, o que você acha?

— Acho legal.

Estava acabando de vestir a roupa nela, quando a campainha tocou.

— Quem mais vai vir aqui? – Minha filha me perguntou assustada, seus grandes olhos arregalados.

— Eu não faço ideia, pequena. – Dei um peteleco no nariz dela e tentei ouvir o que se passava na sala.

Foi quando nós duas ouvimos Abby gritar o nome de Henry. Logo em seguida a voz de Tony ficou mais alta.

— Mas vejam só, se não é o noivo do ano!

— NOIVO?! – Esse foi Jethro, e se eu ainda o conhecia bem, ele deveria estar espumando de raiva.

— Você já está pronta, Sophie?

Antes que ela me respondesse, ouvi o barulho de algo se quebrando e escutei Kelly gritar:

— JEN, ME AJUDA!!!