Carta para você

Boliche e uma Descoberta


O boliche marcado para o final de semana seguinte só foi acontecer um mês depois. Praticamente uma semana antes do halloween, tudo por conta de casos intermináveis, minha operação secreta e de Kelly. Ora foi o plantão que mudou de dia, ora eram os preparativos para o casamento. Quase tudo já estava resolvido, só faltava o vestido da noiva.

E ela não parecia agradar de muita coisa...

E então, como um milagre, em um sábado à noite, todos estavam livres. Ninguém pensou duas vezes, era a noite do boliche.

Foi Abby quem escolheu o lugar, nos poupando de uma briga interminável entre Kelly e Tony como da última vez. E para evitar qualquer morte, Ducky foi o encarregado do placar, já que na última vez, quase que Ziva, Kelly, Tony e McGee saem no tapa por conta do número de pinos. Para falar bem da verdade, todos eles trapacearam, mas ninguém iria admitir.

Sophie estava animada, iria ver a irmã depois de quase dois meses, mas o que a estava deixando ainda mais alegre era o fato de que ela e Tony estavam bolando alguma coisa contra Henry.

Quando eu cheguei no local, com Sophie a tiracolo, Abby, McGee e Ducky já estavam por lá. Já tinham até escolhido o número da pista e discutiam os prós e os contras entre as pistas de madeira clássicas e as sintéticas.

— Jibblet!! – Abby gritou assim que avistou Sophie. – Jenny! Ainda temos que esperar os atrasados.

Ela não fechou a boca e pudemos escutar Ziva e Tony chegando. Como de praxe, os dois se bicavam.

— Eu estou te avisando, DiNozzo. Eu ainda vou morder no seu pescoço! – A israelense disse nervosa.

Tony ficou um tanto perplexo com o que ela falou, contudo voltou a si para corrigi-la.

— É pular no seu pescoço, Zee-vah! Pular!! Isso que você disse não pode ser dito em lugares públicos e muito menos perto de crianças!

Ziva revirou os olhos.

— Fala Peste Ruiva!! Pronta para perder? – Tony veio cumprimentar Sophie.

— É você quem vai perder, seu Italiano de Araque!!! – A pequena garantiu.

— Vamos ver! Quer apostar o que? Um saco de bala? Já que chocolate anda sendo item de luxo... – Ele estendeu a mão como que para fechar um acordo.

— Pode ser, mas eu vou ganhar essas balas! - Sophie apertou a mão dele.

— Se fossem irmãos não se dariam tão bem... – Ducky falou perto de mim.

— Nem me fale... não gosto nem de pensar nesses dois dividindo o mesmo lugar, vinte e quatro horas por dia, sete dias por semana. – Respondi.

Falando em parentes. Kelly e Henry chegaram, já no clima de disputa.

— Na última vez, Henry, eu ganhei de lavada de você! E nunca mais me chame de docinho! – Ela alertou.

Todos olhamos para a futura médica da Marinha.

— Oi gente!! Podem fazer o que bem entenderem com esse aqui! – Ela apontou para o noivo. Sophie e Tony se olharam e eu previ que Henry não teria uma noite agradável. – Falta chegar alguém? – Kelly perguntou contando os presentes.

— Jimbo e papai. – Sophie respondeu por nós.

— O papai não veio com vocês?

— Não. Não veio. – A ruivinha respondeu. – Kells, depois posso conversar com você?

Kelly levantou uma sobrancelha para a irmã e concordou.

— Ah, que lindo, as irmãs estão de segredo! Posso saber também? – DiNozzo tinha que interromper o momento de paz e começar a cutucar Kelly.

— Não. Se a Sophie quisesse que a rádio-fofoca do NCIS ficasse sabendo, ela falaria em voz alta, seu lesado! – E Kelly deu um sonoro tapa na cabeça do Agente Sênior, que descontou na hora.

Com pouco, Palmer chegou, dando mil e uma desculpas pelo atraso.

— Você não está atrasado, Jimbo. Gibbs ainda não chegou! – Abby disse ao abraçá-lo.

— Cheguei antes do Gibbs? Isso é novidade. – O assistente do legista falou com um sorriso. Esperamos cinco minutos, Abbs já estava para ligar para Jethro pela quarta vez – todas as anteriores não tiveram resposta – quando ele apareceu perto de nós. Cumprimentou as filhas e a equipe.

— Podemos começar? – Sophie disse do chão.

— Nem jogou e já está cansada desse jeito, Ruiva? – Jethro perguntou.

— Cansada de esperar. O senhor chegou atrasado. E que perfume estranho é esse? – Ela retrucou.

Kelly deu um passo para perto do pai e depois o olhou torto, Ducky parecia um tanto culpado, como se soubesse algo. O restante da equipe esperava por respostas. Eu não precisei. Consegui ver o que ninguém tinha visto.

Uma marca de batom nude na gola da camisa dele. E eu desconfiava muito bem de quem era.

Sophie ainda olhava para o pai querendo respostas e Jethro só a puxou do chão, pondo-a de pé e disse:

— Não tem nada de errado aqui, Sophie.

Mas a caçula não comprou a resposta e andou para perto da irmã, ainda olhando torto para o pai.

— VAMOS, POR FAVOR, COMEÇAR? EU QUERO SAIR DAQUI AINDA HOJE! – Abby implorou.

Cada um se aproximou para saber quem seria o primeiro. E a segunda confusão da noite começou. Todos queriam ser o primeiro. Foi Ducky quem pôs ordem.

— Por que não na ordem alfabética?

— Eu acho uma ótima ideia! – Abby deu um pulo e foi pegar a bola.

— E eu serei a última. – Ziva resmungou.

— Sou penúltimo. – Tim se sentou ao lado da israelense.

— E eu a antepenúltima. Não gostei desse arranjo. – Sophie fez coro.

Tony sorria de lado a lado, era o segundo. Até que...

— Que nome você vai usar, Chefe? Vai ficar no L, no J ou no G?

— Não vai mudar nada para a turma do fundão... – Sophie falou.

— Já coloquei Jethro. – Ducky encurtou o assunto, enquanto Abby fazia a sua jogada.

— Preciso me aquecer! – Ela disse ao derrubar sete pinos.

Depois dela, Tony veio se gabando.

— Tomara que escorregue... – Kelly alfinetou.

E ele arremessou a bola e fez um strike.

— Como disse, Futura Senhora Sanders? – DiNozzo a provocou.

— E lá vamos nós de novo! – Abby, Tim e Ziva soltaram.

Ducky saiu de trás do computador e foi fazer a sua jogada, não sem avisar:

— Aquele que pensar em mexer naquele computador, vai passar a noite no hospital. – Ele mostrou ameaçadoramente a bola que estava em suas mãos.

Seu arremesso preciso rendeu o segundo strike da noite.

Henry veio e foi um fiasco. Reparei Jethro encarar o genro pelo canto do olho e depois a filha, como se perguntasse se ela não tinha ninguém melhor para escolher.

Era a minha vez. Não era novidade que eu não era uma expert no boliche, mas esperava não fazer feio.

Sophie contou os derrubados para mim.

— Sete, não foi tão mal dessa vez, mamãe. – Ela enfatizou o dessa vez.

— Obrigada, eu acho. – Agradeci olhando para o placar e esperando o vexame.

Veio a vez de Jethro e strike.

Palmer foi o próximo. Derrubou oito. E eu me via despencando no placar...

Kelly tomou o posto e repetiu o feito do pai.

Os três reclamões saíram dos bancos e deram um passo à frente. Sophie era a próxima.

— Eu não quero ficar em último, eu não quero ficar em último, eu não quero ficar em último. – Ela recitava enquanto tomava distância para arremessar a bola. Jethro olhou apreensivo enquanto ela corria, e me lembrei que era a primeira vez que ele via Sophie jogar boliche.

Bola na pista e...

— Sete!! Não vou ficar em último! – Minha miniatura comemorou.

— Na verdade, você está em último, Sophie. O desempate é em ordem alfabética e a sua mãe fica na sua frente. – Jimmy falou.

— Que legal... eu sou a última! – Ela disse fingindo uma animação inexistente e foi se sentar amuada no banco.

— Você se esqueceu do Henry. Ele não acertou nenhum. – Jethro tentou consolar a filha.

Sophie deu um pulo da cadeira e só falou:

— Mas você é mesmo muito ruim, hein Henry!

Nem um pouco competitiva....

Tim jogou e derrubou seis pinos. E quem comemorou foi Sophie.

Era a vez de Ziva, ela parou, escolheu uma bola, a levantou até que ficasse na frente do rosto e se concentrou.

— Se for igual da última vez, ela vai escorregar... – Tony soltou a piada. – Alguém quer apostar?

Algumas notas de dez dólares foram levantadas. Definitivamente tinham perdido o respeito pelas dezoito formas com as quais a Ninja do Mossad poderia matá-los com um clipe de papel.

Contudo, não deu outra. Depois de uma pequena corrida... só vimos Ziva estatelando na pista.

— Tia Ziva!!

— Ziva!! – Gritamos.

— Eu estou bem! – Ela falou ao se levantar.

— Tem certeza, Tia? – Sophie estava parada ao lado dela.

— Tenho Pingo de Gente, e aí quantos pinos?

Sophie levantou um dedo.

— Haha! Sabia, estou em primeiro! – Ziva comemorou.

— Na verdade, Zee-vah... ela está te mostrando quantos pinos você derrubou. – Tony respondeu atrás de Sophie.

— SÓ UM?! – Ela explodiu e, no mesmo segundo, os dois já não estavam perto dela.

E essa foi a primeira rodada.

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Quatro rodadas depois, o primeiro lugar estava sendo dividido entre papai, Tony, Ducky e eu. Milagrosamente, Jenny estava em um dia inspirado e vinha em segundo. Ainda bem feliz com os dois strikes seguidos que ela tinha conseguido.

Tim e Abby estavam empatados e, na rabeira da competição...

Ziva, Jimmy, Henry e Sophie.

— O que vale é se divertir. – Jimmy soltou a certa altura. Quem estava na frente concordou, os outros três o olharam com cara de poucos amigos, e eu pude jurar que Ziva iria atirar Jimmy no lugar da bola na próxima rodada.

Tudo estava indo bem. Tirando o fato de que estava empatada com meu pai e com o Tony, quando algo muito estranho aconteceu.

Pedi licença para ir ao bar comprar algo para beber e enquanto eu voltava para a pista, era a vez de Henry jogar – ou acertar a canaleta lateral da pista, que era para onde todas as bolas estavam indo parar nessa noite, só pode ser praga que o meu pai jogou! – quando algo chamou a minha atenção.

Tony e Sophie estavam perto de onde Henry teria que liberar a bola. Papai pairava por ali, como se nada de errado estivesse acontecendo. Esses três perto do meu noivo não é boa coisa. Nunca é. Me preparei para falar com Henry para não jogar naquele momento, mas era tarde demais...

Ele estava equilibrado em um pé e soltava a bola, bastava uma mísera encostada nas costas dele para que ele perdesse o equilíbrio.

Foi exatamente isso que aconteceu. Sophie vendo o momento perfeito, deu um tapa na parte de trás da cabeça dele, Henry se desequilibrou, DiNozzo, fingindo que iria ajudá-lo, deu dois passos para frente, e ao invés de segurá-lo...

Só o empurrou para frente e lá foi Henry, deslizando pela pista encerada, até cair sentado perto dos pinos.

E nem assim ele derrubou alguma coisa.

Corri o mais rápido que pude para ir ajudá-lo, não adiantou nada.

— E nem assim ele derruba um pino... – Papai comentou atrás de mim. Lancei um olhar zangado na direção dele.

— O senhor não deveria ficar encobrindo as brincadeiras da Sophie e do DiNozzo. – Falei enquanto esperava que Henry caminhasse por toda a pista. Ele levou mais dois escorregões para o divertimento da dupla dinâmica que estava sentada no chão de tanto que riam.

— Eu não vi nada! – Papai se defendeu.

— Deveria prever que aqueles dois ali – apontei para Tony e minha irmã – iriam fazer algo assim. – Falei irritada. O que só fez o sorriso do meu pai aumentar.

— Ninguém se machucou, Kells. Deixa pegarem no pé do Engomadinho.

Ignorei meu pai e fui para perto de Henry que saía da pista. Não sem antes passar perto da dupla de encrenqueiros e dizer:

— Isso vai ter troco!

Tony e Sophie se encararam e depois se viraram para mim e começaram a rir ainda mais.

Um dia eu pegava a minha irmã de jeito.

O restante do jogo foi tranquilo. Tirando um outro tombo de Ziva e o fato de que Henry não conseguiu derrubar nenhum pino, tudo se encaminhava para um desempate entre Tony, papai e eu. Ducky tinha perdido um strike.

Assim, começou a última rodada.

Abby conseguiu se distanciar de Tim e garantir o terceiro lugar do resto – que era como Tony tinha apelidado quem não estava empatado em primeiro.

Tony fez outro strike e olhou me desafiando. Claramente não fez isso com meu pai.

Ducky garantiu o troféu de melhor do resto, ao conseguir derrubar nove pinos. Henry não jogou, foi desclassificado devido a sua total falta de jeito com o boliche.

Jenny ficou com o segundo lugar dessa competição, conseguindo outro strike. Tinha que começar a tomar cuidado com ela, Jen tinha melhorado consideravelmente.

Papai fez a lição de casa e continuou o empate com Tony, jogando a responsabilidade para mim, que lindeza!

Jimmy ultrapassou Tim e ficou em quarto.

Na minha vez, nem pensei, só mirei e strike. Continuava empatada com papai e Tony.

Era a vez de Sophie. E ela estava determinada a conseguir desbancar Jimmy e Tim.

A pequena pegou a bola, que era quase do tamanho dela, se concentrou e correu. Soltando o objeto na linha exata para não ser desclassificada. Todo mundo acompanhou a bola até a linha dos pinos, e eu não fui a única que arregalei os olhos.

- STRIKE!!!!! – Ela gritou. – Eu fiz um strike!! Olha mamãe! – Ela apontou feliz da vida para todos os pinos derrubados enquanto pulava.

— Eu vi, Miniatura! Seu primeiro strike! – Jenny a levantou no colo. – E com ele você ficou na frente do Jimmy e do Tim. – Jenny garantiu levando a filha para perto da tela.

— Eu não sou tão ruim assim... – Sophie falou toda feliz.

— Melhor começar a tomar cuidado com aquela ali. – Tony comentou olhando para a minha irmã que sorria feliz da vida. Notei que ela não fez questão de comemorar com o meu pai... achei estranho.

Tim e Ziva só vieram cumprir tabela, não tinha como mudarem mais de posição.

— Então... – Ducky falou. – O desempate será entre você, Kelly, Anthony e Jethro. São cinco arremessos para cada. Boa sorte.

Tony se virou para os que estavam teoricamente desclassificados e soltou a seguinte pérola:

— Podem começar com a torcida ao meu favor! – Disse abrindo os braços. A única coisa que ele recebeu foi uma bolinha de papel ensopada no meio da testa. - Quem foi? – Ele perguntou bravo.

Ninguém se manifestou. Mas eu acho que foi Henry.

— Tudo bem, façam isso, quando eu levantar o troféu da noite, vocês vão se arrepender. E só para constar, Peste Ruiva, você me deve um pacote de bala.

— Ainda não. Você não ganhou nada. – Sophie falou.

— Eu ganhei de você! – Tony retrucou.

Esses dois juntos era garantia de se estar volta ao jardim de infância.

— A aposta era sobre quem iria ganhar de todos. Você não falou nada sobre ganhar só de mim.— A ruivinha disse.

Jenny que estava do lado dela, só olhou para a filha. Tony estava boquiaberto com a saída que Sophie tinha arranjado.

— Isso se chama semântica, Tony – Jenny explicou para o agente perplexo parado na frente dela.

— Nossa próxima aposta vai ser por escrito. – Ele garantiu apontando para a minha irmã.

— Então escreva direito! – Ela retrucou.

— Como se ele escrevesse tudo certo! – Ziva gargalhou.

— Podem ir parando! – O pseudo-italiano quis encerrar a conversa.

— Ou se ele tivesse uma letra legível – McGee emendou.

— Admita, Tony. Ninguém vai torcer por você. – Henry falou com uma risada.

— Peste Ruiva, me ajuda aqui. Vamos empurrar o seu cunhado pista abaixo de novo!

Sophie olhou de Tony para Henry por uma fração de segundo e se levantou para ficar do lado o agente.

— Como assim? Contra Henry? – Eu perguntei incrédula.

Sophie deu de ombros e soltou:

— É o seguinte, Kelly. Eu brigo com o Tony e ele comigo, mas se alguém pegar no pé dele, sou eu e ele contra o resto.

— Sua pequena traidora! – Eu a acusei.

Sophie tinha um pequeno sorriso no rosto quando disse:

— Eu também não vou torcer para você, Kelly. Mas posso te ajudar a escorregar pista abaixo...

Isso só podia ser brincadeira, minha irmã queria me jogar pista abaixo? Não! Não mesmo!

Sophie estava à distância de um braço de mim. Eu nem pensei muito no que eu estava fazendo, quando vi, eu já a tinha presa pelo casaco e a soltava na direção da pista.

— KELLY!!! – Jenny deu um pulo ao ver o que eu tinha feito.

O restante chegou perto da pista, e tudo o que vimos foi Sophie se divertindo enquanto escorregava pista abaixo, assim que chegou perto dos pinos, chutou o primeiro e soltou:

— Pelo menos eu consegui fazer um strike! O Henry nem isso!

Me virei para encarar os dois pares de olhos furiosos que eu sabia que me encaravam de volta, e Jen e papai estavam irados.

— Ela tá bem... – Tentei sair pela tangente, mas os dois não deram nenhum sinal de que iriam me deixar sair dessa ilesa.

— Você consegue sair daí, Jibblet? – Abby gritou, atraindo a atenção de todos.

— Pode ter certeza. – E Sophie tirou o tênis, ficando só com as meias e veio patinando pela pista até chegar onde eu estava. – Faz de novo? – Ela pediu.

— NÃO! – Papai e Jenny falaram juntos.

Sophie saiu da pista e Jenny a arrastou para os bancos.

— Agora você não vai sair desse banco até que a partida termine! – E o tom de voz dela não admitia brechas ou discussões.

— Sim, senhora. – Sophie concordou olhando para os pés, suas meias estavam imundas.

— Podemos desempatar isso? – Ziva foi quem nos trouxe de volta.

— Que perca o pior! – Tony disse esfregando as mãos. ele era o primeiro a arremessar.

— Você! – Eu e papai falamos para ele. Tony só fez uma careta na nossa direção.

— Qualquer um que não seja o Tony... eu não quero dar a ele um pacote de bala. Bala é o único doce que eu posso comer agora. – Sophie disse de onde ela estava, e eu posso jurar que Jenny queria levar a filha embora a qualquer momento.

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— Alguém duvidada do resultado? – McGee disse assim que chegamos no estacionamento.

— Eu achei que a Kelly ganharia... – Ziva respondeu nada feliz.

— É, mas pelo menos não foi o Tony. Ele teria falado disso a semana inteira. – Jimmy completou. – Melhor, teria falado disso durante todo o mês!

— Você me empurrou na minha última jogada, DiNozzo! Se você não tivesse feito isso, eu juro para você que eu teria ganhado!— Fuzilei o agente italiano com os olhos.

— Eu não fiz nada demais. Você colocou o pé para que eu tropeçasse na minha penúltima tentativa. Se você não tivesse feito isso, o Chefe não teria aberto toda aquela vantagem. – Ele retrucou.

A verdade é que: meu pai tinha ganhado. Depois das cinco rodadas mais demoradas da história, onde só faltou que eu e Tony pegássemos uma arma e atirássemos um no outro, no final, o grande vencedor foi papai.

E isso significava que a nossa disputa particular estava empatada.

Mas a culpa é sua!— Acusei de volta.

— Sua, Kelly! Foi você quem começou! – Ele disse de volta.

— A culpa é dos dois, se tivessem jogado sério, Jethro não teria ganhado. – Jenny falou passando por nós, ela também não muito feliz com o vencedor da noite. – Vocês tinham tudo para ganhar, só que caíram no jogo dele! – Ela apontou a cabeça na direção de papai que vinha conversando com Ducky.

— Como assim? – Perguntamos ao mesmo tempo e depois encaramos um ao outro, eu tive que me segurar para não mostrar a língua para Tony.

— Ele queria que vocês dois começassem a brigar. Eu não jogo muito bem, mas vocês dois têm técnica e braço.... e isso assustou Jethro. Foi por isso que ele deixou que DiNozzo te irritasse, Kelly. Com você a cada segundo mais irritada, seu foco passaria para a sua vingança, e Tony, óbvio, não perderia a chance de te perturbar ainda mais, e com isso, vocês dois esqueceram de jogar, o que facilitou a vida de Jethro. – Ela terminou de explicar parando ao lado do carro dela.

Olhei para Tony. Tony olhou para mim e nós dois nos viramos na direção de meu pai.

— TRAPACEIRO! – Soltamos.

— Agora já é tarde. Vê se da próxima vez, vocês focam no jogo e deixem as brigas para o final. – Jen falou cansada. – Cadê a Sophie?

Procurei pela ruivinha, encontramos ela conversando animada com Henry, quem diria. No final das contas, as pessoas que mais se divertiram foram os dois. Sophie gargalhava alto cada vez que eu ou Tony tentávamos atrapalhar a jogada do outro. E até chorou de rir quando DiNozzo saiu tropeçando pista abaixo depois que eu o empurrei.

— Sophie! Eu não tenho a noite toda! – Jenny a chamou.

Sophie levantou a cabeça na direção da mãe e veio correndo, só parando quando foi atravessar a rua.

— Tô aqui! – Ela disse assim que passou na frente da mãe.

Jenny a encarou.

Estou aqui... – Ela se corrigiu.

— Muito melhor. Agora se despeça de todos.

Sophie fez o que a mãe pediu e na hora que ela veio me abraçar, murmurou no meu ouvido:

— Papai está namorando uma Coronel do Exército. A Abby tem as provas. O Tio Ducky também sabe. E ela é muito mala e é loira! – Terminou e me deu um beijo na bochecha. – Temos que colocar ela para correr. – Disse um pouco mais alto ao entrar no carro.

Eu tenho certeza de que meus olhos estavam arregalados. Como isso tinha acontecido? E tão rápido?

— Tchau Kells! Amanhã nós vamos almoçar? – Sophie disfarçou melhor do que eu a nossa conversa.

— S.. Sim! Amanhã.

Fechei a porta do carro, Jenny conversava algo com Abby e depois de se despedir, entrou no veículo, deu a partida e se foi.

Meus olhos se estreitaram na direção de meu pai. Dessa vez eu não ia bater de frente com ele. Eu ia mostrar para ele o que ele tinha a perder.

Henry me escoltou até o carro e eu acho que tentava conversar qualquer coisa comigo, contudo, eu só tive a certeza de que ele tinha ficado ofendido com o meu comportamento distante quando ele pisou no freio bruscamente, parou o carro no acostamento e com uma mão no meu rosto, me fez olhá-lo.

— Em que mundo você está, Kelly? – Demandou.

— Não aqui... – Fui sincera.

— Isso não é por conta do jogo, é?

— Não! Não! É claro que não. Isso é sobre o que a Sophie me disse. – Divaguei.

— A Sophie sempre fala um monte de coisas, a maioria delas nem sentido tem, ou só o DiNozzo consegue entender. O que foi dessa vez?

— Isso foi importante. Ela é mais observadora do que eu tinha pensado. Muito mais.

Henry me encarou. Ele queria explicações.

— Bem... é uma coisa de família... – Tentei deixá-lo fora da vindoura bagunça.

— E eu sou o que? Não faço parte da sua família? Nós dois não seremos uma família?

Parabéns, Kelly! Escolha errada de palavras.

Suspirei o encarando e levantei um dedo, pedindo um minuto para que eu juntasse meus pensamentos em algo coerente.

— Estou esperando...

— Soph me disse algo que eu ainda estou tentando processar. É sobre o meu pai. Eu... eu estou tentando entender o motivo.

— Motivo para?

— Para estar namorando uma Coronel do Exército.

Henry me olhou em dúvida.

— Por que ele gosta dela?

— MAS É CLARO QUE NÃO! Ou você se esqueceu do que estava acontecendo até a explosão? Não tem como ele ter esquecido da Jenny tão rápido! – Explodi... – Ou isso pode ser culpa dela, também. Ah, esses dois!! – Dei um tapa no painel do carro.

— Vai se machucar. – Henry me alertou.

— Por que eles têm que ser tão complicados?

— Por que eles se entendem até bem demais? Por que um conhece o outro melhor do que a eles mesmos? E, talvez, seja isso que os separa?

— Desde quando você observa os dois desse jeito? – Perguntei desconfiada.

— Não preciso. A reação de um é sempre acompanhada da reação do outro, como quando você arremessou a Soph na pista hoje. Chega até a ser espelhada, apesar de que já foram mais próximos. Os dois mal trocaram duas frases.

— Esse é outro problema. Ouvi dizer que a Jenny está fazendo algo dentro da agência, mas não sei o que é. Nem Tony sabe, e ele sempre sabe de tudo.

— Talvez o Tony esteja no meio. – Henry disse ligando o carro.

— Não. Independentemente do que seja, Jenny jamais chamaria o DiNozzo para nada. – Afirmei.

— Ela parece confiar a filha com cada um daquela equipe, de olhos fechados. Se ela faz isso, por que não seria capaz de confiar em um deles para uma operação?

Por mais que eu não queria, Henry plantou a sementinha na minha mente.

E se isso fosse possível? Qual deles seria o escolhido?

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Meu computador, que não deveria ter dormido ligado, começou a apitar insistentemente, ainda mais dormindo do que acordada, abri a tampa do notebook para ler as repetidas mensagens de Abby:

LabQueen: - Alguém tá aí? Eu sei que é domingo de manhã, mas eu já fui até a missa. Vocês TÊM que ter acordado a essa altura.

Chefinha: Bom dia para você também, o que foi Abbs?

LabQueen: Era com você que eu queria falar.

Chefinha: Sobre a nova namorada do meu pai?

MossadNinja: Sophie te falou? Bom dia!

Chefinha: Bom dia! Por alto. Jenny estava por perto, não sei se ela sabe...

AMETony: Ah, ela sabe. E bom dia para vocês!

ElfLord: Bom dia! Foi impressão minha ou ontem ela viu algo que ninguém mais viu?

LabQueen: VIU O QUE?

ElfLord: Não sei. Mas foi quando Sophie perguntou sobre o perfume.

Chefinha: Eu também senti o perfume, mas não vi nada. Mas vocês têm certeza de que ela sabe, sabe de verdade, ou desconfia de algo...

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.

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Chefinha: Gente não me deixa no vácuo. O que aconteceu? Quem é ela?

AMETony: Ela trabalhou em dois casos com a gente. O primeiro foi no dia em que ficamos sabendo do diagnóstico da Sophie.

MossadNinja: O segundo foi alguns dias atrás. E....

Chefinha: Podem parar com o suspense!

LabQueen: E acontece que Gibbs parece estar mais do que à vontade do lado da Coronel. Muito à vontade. Desde o primeiro momento.

ElfLord: E ele faz questão de demonstrar isso.

MossadNinja: E anteontem ela apareceu no NCIS. Não tinha um caso nem nada. Ela só apareceu.

Chefinha: E o que aconteceu?

AMETony: Bem, o prédio inteiro escutou que os dois tinham um jantar marcado.

LabQueen: O prédio inteiro. Todo mundo.

Chefinha: A Jenny estava por perto?

MossadNinja: Passando no corredor para o MTAC. Gibbs fez questão de encará-la quando confirmou.

Chefinha: Mas o que ele tá fazendo? O que ele tem em mente?

LabQueen: Você acha que tem algo por trás disso?

Chefinha: Mas é claro! Vocês me disseram que a Jenny não está agindo muito como ela mesma dentro da agência. Que ela parece focada em algo...

AMETony: Sim.

Chefinha: E como os dois estão? Conversam...

ElfLord: Só quando estritamente necessário.

MossadNinja: Apesar de Jenny parecer preocupada com o que Gibbs faz.

Chefinha: Alguém sabe o que é que ela tá fazendo?

LabQueen: Não.

MossadNinja: Não.

ElfLord: Não.

Tony demorou quase um minuto para responder.

AMETony: Não. Mas ela é a diretora, ninguém precisa realmente saber.

E aí tinha coisa!

Chefinha: Você tem certeza, Tony? Não ouviu nada?

AMETony: Nada.

Chefinha: se alguém descobrir alguma coisa me avise. Eu ainda tenho que tentar entender o que se passa na cabeça desses dois teimosos.

LabQueen: A Jibblet te disse que ela é loira?

Chefinha: É por isso que eu estou ainda mais desconfiada.

MossadNinja: Você acha que tudo isso é...

Chefinha: Tirar alguma reação de Jen. Fazê-la falar algo.

LabQueen: Como?

Chefinha: Não sei. Talvez tirá-la da faceta de Diretora que ela parece só sair quando está perto da Sophie...

MossadNinja: Não entendi.

Chefinha: Isso não é algo que eu possa explicar por aqui. Um dia eu tento te mostrar, Ziva.

MossadNinja: se você está falando.

LabQueen: Beleza, uma parcela da culpa é da Jenny, mas como nós vamos nos livrar da Coronel?

Chefinha: Sophie é um tanto quanto sincera demais e ciumenta demais... por acaso a Coronel já conhece a enteada?

AMETony: Você é diabólica.

Chefinha: Tenho que trabalhar mais nisso, mas Sophie é a nossa saída.

ElfLord: Ou a nossa ruína, se a Diretora descobrir...

LabQueen: Estamos ferrados.

MossadNinja: Muito ferrados.

AMETony: Tanto o Chefe quanto a Diretora vão querer nossas cabeças.

Chefinha: Isso eles vão mesmo. Por isso temos que pensar muito bem. Quando a minha ideia estiver mais desenvolvida, eu converso com vocês.

Passei o domingo pensando nessa confusão. Meu pai queria uma nova namorada, tudo bem. Só que ela teria que conviver com as duas filhas dele. Euzinha e minha incapacidade de gostar de madrastas e a caçula, extremamente ciumenta e sincera. Ou ela aceitava o pacote ou saía correndo. E eu esperava que fosse a segunda opção.