Caro desconhecido...

O tango de Roxanne I


Blair

O coração acelerou e o ar me faltou quando Samantha citou meu passado. Ela iria revelar tudo, e Freddie nunca mais me olharia como se eu fosse um poço infinito de inocência, como a menina que ele reconstruiu o coração...

—A Blair, era muito legal na época do colégio, notas altas, gentil, ela até fez um bazar uma vez pra ajudar uma casa de caridade... – Samantha discorria num tom de nostalgia como quem tenta conter o choro. Boa atriz ela, admirável, faria carreira no Upper easr side.

—Nós iremos! – Freddie bateu o martelo.

Estava em puro choque, tanto que nem contestei.

—Ah, ótimo! Será inesquecível. Eu já vou indo, todas as instruções estão no convite é tudo bem explicativo. Até sexta!

Samantha sai contente e distribuindo simpatia.

—Freddie! Eu não vou a lugar nenhum, você sabe que eu não confio nela...

—Ei, Samantha! O celular! – Freddie gritou.

—Freddie! Freddie!

Eu ri de desespero e descrença, eu não acredito que ele me deixou falando sozinha e foi correndo atrás dela... Pensei em ir atrás dele, mas preferi esperar, afinal ninguém demora mais de 5 minutos para devolver um celular.

Olhei no relógio em cima da bancada onde Samantha tinha esquecido o celular, quase que sem querer quando Freddie o pegou e saiu correndo. Quase sem querer. E sem querer, mas quase sem querer, eu gravei o horário. Agora de maneira totalmente consciente, numa mare de pura vontade olhei o relógio novamente. Meia hora. Após meia hora, Freddie ainda não tinha posto os pés em casa. Me recostei no sofá e ri, um riso debochado de incredulidade e desesperança, algo como eu sabia ressonou daquele momento. Meus olhos estavam perdidos num ponto imaginário que eu havia traçado após o sofá branco e caíram para o chão, e eu lembrei de Chuck... E ouvi passos na porta. Minha reação não foi virar em sua direção, mas ao contrário, olhei para o relógio e suspirei. Queria ter dito “35 minutos para devolver um celular?”, mas disse:

—Oi amor.

—Oi, adivinha quem eu encontrei na portaria? Will e Elizabeth! Parece que vão ficar na cidade. – Freddie se justificou indiretamente.

—Interessante, eles já podem ir conosco para a comemoração de noivado...

—Seria muito bom.

—Uhum... Porque você disse que nós iriamos?

—Porque você não iria?

—Porque eu não quero, eu não gosto dela, certamente não vou gostar dos amigos.

—E não vai querer reencontrar os seus?

—Se eu quisesse eu sairia com alguém além de você quando venho a aqui, ou melhor, viria mais a Nova York.

—Blair qual é o problema? O que te incomoda tanto nessa festa? Seu passado não é de tantas glorias assim? Do que você tem medo?

—O que? De repente é você que tem motivos para desconfiar de mim? Não me lembro de ter demorado meia hora para entregar um celular!

Freddie soltou o ar e respirou fundo, passou as mãos pelo cabelo e jogou os braços ao lado do corpo. Tantas ações assim deviam significar alguma coisa, pensamentos atordoados pelo menos...

—Amor... Vamos esquecer isso? Eu nem sei por que estamos discutindo. Nós vamos até a festa e vamos nos divertir e é isso. Tudo bem? – ele me abraçou e selou rapidamente seus lábios nos meus antes de beijar minha testa.

—Tudo bem, esta tudo bem, já pensei até na minha roupa!

—Ótimo! Agora eu vou tomar um banho e ligar para Nate.

—Ok, amour.

Eufórico, Freddie estava estranhamente eufórico. Seu abraço não tinha mais o cheiro amadeirado marcante do perfume que eu lhe dei, tinha um cheiro marcante sim, mas levemente chamuscado, algo como canela... Não suporto canela.

“Acomodados que somos, traída e traidor, traidora e traído, nos mantemos fantasiando e escondendo a realidade como rainha e esposa.”

Sexta-feira, dia da festa.

Estava pronta, um vestido preto com alguns detalhes e o cabelo preso em um coque baixo com fios soltos cacheados. A produção nem deu tanto trabalho. Estava nervosa e Freddie impecável com um terno azul marinho. Nos olhando no espelho do elevador percebi que formávamos um casal bonito. Um casal bonito apenas? Procurei fogo, vasculhei por nossas mãos entrelaçadas faíscas de paixão, mas só o que via era Freddie perdido, longe dali, imerso em seu mundo, e eu mais ainda... Onde fomos parar? Quem nos barrou?

Assim que o carro parou, Freddie desceu e abriu a porta para mim, após entregar a chave ao manobrista.

Empire. Voltar aqui fazia meu corpo estremecer, flashes invadiram meus olhos e chamaram minha atenção. Claro que tinha um tapete vermelho e fotógrafos eufóricos. Assim que entramos uma mulher com um longo básico, típico de organizadora nos informou que as fotos seriam entregues para nós por correio, e que era uma estratégia para evitar revistas e fofocas. Interessante.

Pisei no grande salão ao som de algum eletro pop hit. Fomos direcionados ao salão principal, Freddie disse que ia pegar um whisky e eu senti alguém passar na minha frente quando fui atrás dele, pessoas demais passaram por mim, era informação demais, corri para primeira porta que vi, um ambiente totalmente diferente se abriu.

Um homem com característica fortes começou a falar em espanhol, a bradar uma história, de repente soou um tango ao longe, e uma mulher desceu no tablado rindo, bêbada? Ousada! Ela parecia forte. Me envolvi com a história. Tinha paixão ali, e ciúmes e desconfiança... Quando ela bateu o pé no chão de madeira, senti alguém se aproximar, e por as mãos na minha cintura. Chuck. Eu o deixei ficar.

—Agressivo não? – comentei.

—Forte. – Chuck respondeu.

Confiança, amor, traição... Palavras foram sendo jogadas antes do canto.

—Ela esta sendo maltratada, subjugada...

—Ele esta confuso, o amor cega as pessoas, ele não vai enxergar o sacrifício dela, ele só consegue ver um coisa, seu coração sendo pisado pelo amor da sua vida. – Olhei para Chuck, e esperei que ele me olhasse de volta, mas estava concentrado.

Quando o homem gritou seu nome: Roxanne, ela estava nos braços de outro.

“Os olhos dele em seu rosto

As mãos dele nas suas

Os lábios deles acariciando sua pele

É mais do que eu posso suportar.”

Deitei minha cabeça no ombro de Chuck, senti seu corpo rígido e respiração ofegante como se estivesse imerso naquilo. Na ultima frase seu olho de cortou “é mais do que eu posso suportar”. Era um péssimo momento para ceder.

Casais invadiram a pista, e Roxanne se afastava enquanto gritavam seu nome e se escondia.

“Sentimentos contra os quais não posso lutar

Você é livre para me deixar, mas apenas não me iluda

E, por favor, acredite quando eu digo que te amo”

—Por favor, eu te amo... Acredite. – Que Chuck era esse que eu desconhecia?

Uma pausa dramática e um violino soando longe. Era tanta coisa acontecendo. Gritos e mais gritos, e Roxanne rodava, angustiada passando de mão em mão, violentada, humilhada, atordoada, quanta agonia... Morta. Morta?

Olhei espantada para Chuck, e ele redirecionou minha cabeça para o centro. Um suspiro e uma salvação, fim!

—Eu não sei o que esta acontecendo aqui, desculpa, eu, eu... – quando ia falar a Chuck o que deveria ter dito o celular vibrou da minha mão, era Freddie.

—Blair...

—A gente sempre se encontra não é mesmo?

Chuck me puxou pelo braço e me beijou, profundamente, entrelaçou minha mão na sua e eu senti meu corpo arder. Ele me levou até a porta e eu parti em direção ao meu esposo.

Sai atordoada para encontrar Freddie, e ao topar com ele na porta da saída, Freddie me beijou. Tão diferente surpreso e desesperado.

—Nós precisamos conversar Freddie.

—Sim, e precisamos nos casar também, já pedi que arrumassem nossas coisas, o jatinho esta pronto, vamos para Hamptons hoje!