Aqueles dias que passei sem você (parte 1)

1ª SEMANA

Por Laura

Edgar saiu daqui sem nem ao menos me deixar explicar o que aconteceu na Confeitaria. Quer dizer: ele não quis entender. Logo o Edgar que sempre me entendeu, me apoiou... Não esperava essa atitude.

Tá. Tá certo. Minhas palavras foram duras, mas não disse me referindo a ele e sim àquele Senador... Nojento! Cretino!

Eu só quero ser respeitada pelo que eu sou e não pelo meu estado civil ou o que quer que seja! Mas parece que é pedir demais...

E ainda veio minha mãe... Oferecer sua solidariedade velada diante dos olhos da sociedade carioca... Será que ela realmente achou que eu fosse aceitar isso? Ela não me conhece. Mas também, o que eu poderia esperar da Baronesa da Boa Vista?

Ah! Esse dia precisa acabar... Vou tentar dormir, finalmente.

...

O dia não estava fácil... Os últimos acontecimentos borbulhavam na minha cabeça. Enfrentar tudo aquilo não era fácil, mas se o Edgar estivesse do meu lado... A expressão dos seus olhos no dia anterior dilacerava meu coração; eu queria e precisava abraça-lo, sentir seu cheiro, beija-lo, mas ele estava magoado demais comigo...

Isabel interrompeu meus tristes devaneios e acabou sugerindo que fossemos visitar tia Jurema novamente. A ideia me agradou de imediato, pois ela tinha uma capacidade de deixar a vida mais leve, sem contar aqueles quitutes maravilhosos que eram sua especialidade.

Logo depois Sandra chegou. Contei a ela sobre minha situação e, conversa vai - conversa vem, Isabel surgiu com uma ideia que daria vida ao nosso grande sonho: abrir uma escola. Ensinaríamos no Morro da Providência onde minha reputação não era fato conhecido e as crianças não tinham oportunidade nenhuma de aprender a escrever seus próprios nomes. Pelo menos, até aquele momento.

Partimos rumo ao morro com esperanças renovadas. Finalmente um sorriso voltava a se esboçar em meu rosto.

...

Ai, mais um dia sem ver nem saber sobre o Edgar... Será que ele ainda está com raiva de mim? Se ele não me procurou mais, deve estar magoado. Talvez eu devesse... Não! Eu não fiz nada de errado. Ele me decepcionou mais! Ficar em casa... Me proteger... Sigh! Ai Edgar, por que tem que ser tudo tão difícil com a gente?

___

Por Edgar

Divorciada. Era isso que Laura queria continuar sendo. Divorciada de mim.

O jeito que ela falava na Colonial. Ela tinha orgulho dessa condição. Gritava pra quem quisesse ouvir: Não precisa de homem nenhum! Nem de mim.

Ela disse que estamos longe de ser como aquele calhorda do Laranjeiras e da insuportável esposa dele, mas eu quero saber do que nós estamos próximos! Se a Laura tivesse aceitado minha proposta de emprego... Se tivesse voltado pra casa... Voltado pra mim! Nada disso estaria acontecendo.

Ah, Laura!

...

Ahh! Acabei dormindo... Ai, que dor de cabeça! Bebi demais ontem... Sigh! Mais um dia acordando sem ela... Como ela consegue me deixar assim? Não. Eu não vou chorar. A Laura quis assim. Eu vou é trabalhar, assim penso em outra coisa... Droga! To atrasado.

...

Quantos dias vão se passar sem eu ter notícias dela? Como será que a Laura está? Não aguento mais essa distância... Queria tanto sentir o cheiro dela, beija-la, tocar seu corpo... Não! Edgar, pare de pensar nisso. Ela deve estar ótima sem você. Ela faz questão de ser divorciada, afinal...