Capítulo 8

–SouthTown Showdown-

Não fazia tanto tempo desde a última vez em que esteve em Second South, mas Rock não conseguia reconhecer mais aquela cidade como sua. A cidade nunca foi exemplo de segurança, mas também nunca tinha visto aquelas ruas tão desertas. Os sinos do campanário pareciam mais desgastados do que deveriam. Via ao longe a casa de shows Old Line, seu lugar favorito em toda a cidade, na qual inclusive já havia se apresentado, tocando baixo numa banda com amigos. O lugar parecia abandonado, quando normalmente ele tocaria música alta, do exato tipo que Rock gostava.

—Saudoso? —Sakura pergunta, observando o lugar.

—Preocupado, na verdade. —Ele responde, enquanto fazia um reconhecimento visual do que podia ver da cidade. Ele aponta para a casa de shows. —A primeira vez que toquei lá, eu estava tão nervoso que comecei a errar uma das primeiras músicas, e um cara fanático pela banda jogou uma garrafa em mim. —Ele ria, enquanto Sakura estava apavorada.

—Que horror!

—É. Quem diria que Duck King era tão fanático por Thin Lizzy?

—Que raio de nome é Duck King? —Ela quem ria então, olhando para a casa de shows. Não devia ter sido abandonada há muito tempo, o lugar ainda estava em bom estado.

—O cara é uma celebridade em Second SouthTown! —Rock diz, fingindo estar ofendido. —Depois eu descobri que ele só tava tentando comprar briga comigo porque o Terry tinha pedido. Pra me testar.

—Eu lembro disso! —Terry estava ao lado de Rock, também admirando a casa de shows. Não fazia tanto tempo assim que tinha saído de Second SouthTown, ele sabia que a cidade tinha ficado nesse estado apenas recentemente. —Ele não sabia o porquê de eu ter pedido pra ir atrás de você, e como ele só te encontrou quando te viu no Old House, ele achou que não ia ser nada de mais comprar a briga ali. —Terry desata a rir, lembrando da cena. —Você varreu o chão com ele! —Rock e Sakura riem também, embora nenhum dos dois se divertisse tanto quanto Terry.

—O que aconteceu aqui? —Bonne interrompe o trio, incomodada. —Eu saí da cidade quando a coisa começou a ficar feia, mas isso é ridículo! Parece até que entrei em 1984!

—Você viajou no tempo? —Batsu pergunta, confuso.

—Não, rapaz! —Ela diz, irritada. —É um livro! Distopia, toque de recolher, gente infeliz... —O rapaz parecia ainda mais confuso. —É uma boa referência, tá! Néscio! —O rapaz olha pra Kyosuke, dando de ombros. O ruivo cobre o rosto, envergonhado. —Alguém ao menos atualizou o espetadinho sobre a situação?

—Ei! —Um revoltoso Batsu diz, se aproximando de Bonne. —Não me julgue só porque eu não li os mesmos livros que você!

—Você já leu algum livro, Batsu? —Kyosuke pergunta, inocente.

—Vamos mudar de assunto! —O rapaz responde, encabulado. —Temos um assunto sério em mãos, afinal de contas! —Ele gesticulava, atrapalhado, quando nota algo de incomum. —Ei, o que é aquilo?

Todos olham na direção que Batsu apontava. Um grupo de soldados parecia patrulhar a cidade, armados com fuzis em mãos. Vestiam-se de forma similar aos lutadores que haviam atacado o grupo no hospital, mas seu uniforme era num tom próximo ao vinho, em vez de preto. Os capacetes que cobriam seu rosto por completo tinham detalhes prateados, fazendo parecer caveiras estampadas. Caminhavam pela avenida principal, ao que os lutadores se escondem em uma rua transversal, tentando fugir dos olhares daquele grupo da Shadaloo.

—Esses daí estão armados. —Jae Hoon ponderava, observando-os atentamente. Eram cinco deles.

—Não devem ser experimentos do Bison. —Geese completava, de braços cruzados, claramente insatisfeito por ter que se esconder. —São meros buchas de canhão.

—Eu voto por arrebentar a cara deles! —Batsu estava sedento por ação, atraindo olhares do grupo inteiro. Kyosuke percebe a reação deles, intervindo para ajudar o amigo:

—Pode ser uma boa maneira de passarmos despercebidos. —O ruivo diz, indo para o lado de Batsu. —Se os derrubarmos, podemos usar os uniformes para transitar pela cidade sem ninguém nos incomodar.

—É! —Batsu sorria, satisfeito, chocando um punho contra o outro. Chun Li pensava se essa era a melhor forma de agir, observando os soldados darem meia-volta. Precisava decidir rapidamente, antes que algum imprevisto impedisse o plano por completo.

—Certo! —Com segurança, Chun Li diz. —Batsu, Kyosuke, Jae: vocês interceptam eles pela frente. Eu, Sakura e Bonne os atacamos pelas costas! Vamos!

Batsu corre na frente, empolgado, sendo acompanhado de perto por Jae e Kyosuke. As lutadoras se mantêm discretas, caminhando pelas sombras enquanto esperavam o momento certo para atacar. Os soldados avistam os três rapazes, desconfiados do que alguém faria depois do toque de recolher:

—Ei! Vocês! —Um dos soldados diz, aproximando-se com o fuzil já armado. O trio apenas observa eles se aproximarem, sem muita reação. —Mãos pro alto! Que vocês estão fazendo na rua a essa hora?

—Jogando. —Jae levantava a mão lentamente, percebendo que os soldados estavam muito mais próximos do que deveriam.

—É, seu guarda... —Batsu tinha um sorriso largo em face, também levantando as mãos lentamente. —É só um jogo!

—Vamos ficar calmos. —Kyosuke tinha um tom de voz suave, enquanto imitava seus amigos. Quando eles percebem as três lutadoras se aproximando por trás dos soldados, eles agem. A mão deles ainda não tinha sequer chegado no campo de visão dos solados, quando os lutadores decidem atacar. Em um movimento rápido, os três miram um golpe na garganta de seus alvos, debilitando a respiração deles. Com o ataque das lutadoras, os homens da Shadaloo não tinham a menor chance de resistir. Em poucos segundos estavam os cinco soldados no chão. Chun Li tinha tomado o cuidado de não nocautear o solado que ela tinha atacado, pois precisavam de uma fonte de informação. Os seis trocam olhares satisfeitos entre si, sentiam prazer imenso por atuar em tamanha sintonia. Os rapazes começam a despir os soldados, ao que Chun Li diz:

—Certo. Os cinco que vão se disfarçar serão: Bonne, Joe, Terry, Andy e eu.

—Ah! —Batsu diz decepcionado, estava tão certo de que seria um dos que se disfarçaria que já estava sem sua jaqueta e até mesmo a camisa que usava por baixo.

—São os que estão mais feridos, Batsu. —Ela explicava, enquanto o restante ria da afobação do rapaz. —E pra mim será mais fácil coordenar tudo dessa forma.

—Tudo bem. —O rapaz termina de se vestir, ainda um tanto relutante. —O que importa é a gente descobrir onde os soldadinhos de chumbo estão se reunindo, certo?

—Certo! —Ela diz, olhando de maneira intimidante para o único soldado que estava acordado. —E nosso amigo aqui vai ter muito o que nos contar!

—Eu não vou falar nada! —Ele diz, apavorado. —Se eu falar, Bison me mata!

—Escuta aqui! —Batsu se aproxima do rosto dele, indignado. —Para de fazer a gente perder mais tempo! —Nesse momento, Geese aparece, pegando o soldado pelo pescoço e o carregando para um ponto afastado do restante.

—Geese! Espera! —Chun Li tenta alcançar o homem, não confiava nem um pouco nele, mas ele ainda estava em seu campo de visão, e o olhar que ele tinha enquanto carregava o soldado parecia que daria resultados.

Geese conversa com o soldado por um bom tempo. A conversa parecia casual por grande parte de sua duração, talvez até amistosa. O lutador tinha os braços cruzados a conversa inteira, até que em certo ponto ele os descruza, e os abaixa. O soldado recua imediatamente, parecendo aterrorizado. Geese o acerta com um soco no queixo, que o nocauteia, ao que Chun Li corre na direção deles.

—Que droga, Geese! —Ela vai checar o estado do solado, vendo que não tinha nenhum ferimento grave. —Que você está pensando?

—Já tinha conseguido toda a informação que queria, e você precisa do uniforme dele pra disfarçar todos os nossos feridos. —Ele cruza os braços uma vez mais, sisudo, voltando para o lado de Billy. —A base de operação deles é no centro da cidade, eu mostro a vocês. Prossiga com seu plano, Chun Li, mesmo que eu ache uma afronta ter que fingir ter sido capturado.

Eles terminam de vestir os trajes, empunham os fuzis e começam a escoltar o grupo. Geese indica o caminho, levando-os até o centro da cidade. Eles caminham sem levantar suspeitas, mesmo passando por outros grupos de soldados, até que se deparam com uma grande torre, um lugar familiar para a maior parte dos presentes.

—A...aqui? —Terry não conseguia acreditar em seus olhos. Seu olhar voltava-se carregado de fúria na direção de Geese.

—Eu fiquei tão surpreso quanto você, Terry, quando aquele soldado me falou. —Geese não parecia de fato abalado, mas o incomodava bastante ver sua antiga torre sendo tomada por um maníaco como Bison.

—Do que eles estão falando? —Sakura pergunta, confusa.

—Essa torre era o centro de operações da Howard Connection. —Rock ria, ao dizer aquelas palavras. —Bison tomou a casa do meu pai e transformou na base dele!

—E ele vai pagar por isso! —Geese deixava a sua fúria transparecer num raro momento. Os lutadores notam aquela terrível aura pairando sobre o prédio, incomodando-os com sua presença deturpada.

Eles entram no prédio, vendo vários soldados transitando pelo salão principal. A sensação de insegurança se tornava maior a cada segundo que passava. Rock parecia um tanto perturbado, sentia como se seus poderes pudessem sair de controle novamente a qualquer momento.

—Você está legal? —Sakura sussurrava ao amigo, vendo que ele suava bastante.

—Geese tava certo... —Ele diz, cansado. —...Desde que chegamos a Second South eu tenho sentido meus poderes ficarem esquisitos, igual àquela vez na boate. —Ele caminhava mais devagar, ficando para trás. Bonne, disfarçada, dá um discreto empurrão no rapaz para que ele continuasse adiante. —E agora que a gente está aqui, eles parecem ficar bem piores.

—Rock... —Ela segura a mão dele, falando num tom calmo e apaziguante. —...respira fundo. —O toque dela era suave, reconfortante. Ele começava a se sentir melhor, como se o calor da mão de Sakura aplacasse todo o desconforto.

—Obrigado. —Ele abre um sorriso gentil, correspondido por Sakura. Logo o grupo é obrigado a se deter, interrompidos por um homem com uniforme levemente diferente do restante, indicando sua posição superior na hierarquia.

—Que isso significa? —O homem trajado como um capitão da Shadaloo diz, observando aquela cena suspeita. Mal havia começado seu questionamento, Chun Li já arquitetava um plano de contenção.

—Lutadores que capturamos nas ruas de Second SouthTown, senhor! —Andy diz, tentando disfarçar sua voz o máximo possível.

—Isso eu posso ver. Mas por que seus uniformes estão nesse estado? —Era óbvio que nem todos estariam perfeitamente disfarçados nos uniformes da Shadaloo. Torciam para que o número de capturados e o número de soldados acabasse servindo como distração o suficiente até que chegassem aos níveis superiores da torre.

—Eles nos deram bastante trabalho, senhor! —Bonne responde, nervosa, tentando engrossar sua voz o máximo possível. Sua voz, aguda e doce aos ouvidos, dificilmente conseguiria passar por uma voz masculina. O capitão ergue uma sobrancelha, confuso. Terry então se manifesta, tentando ajudar a acobertar seus aliados.

—Esse aqui é filho de Geese Howard, senhor! —Ele empurra Rock adiante. O jovem lutador tinha um olhar irado em face, entrando na farsa do grupo. —E também capturamos o próprio psicopata antigo dono dessa torre. —Andy agora que empurrava Geese adiante. O sisudo lutador troca olhares com Chun Li. Poucos instantes antes ela havia lhe sussurrado seu plano. Billy também toma sua posição.

—Ora, ora! —Aquilo havia sido suficiente para distrair o capitão de suas preocupações. —Bison ficará muito satisfeito de ter esses dois em nossa posse.

—Tsc... —Geese estala a língua, parecendo irritado.

—Algum problema? —O oficial da Shadaloo sorria, provocativo. Ele encara Geese de frente, acreditando que ele estivesse subjugado. —Quer dizer algo, Howard? —Ele ri, estendendo os braços. —Diga, e nós todos aqui lhe daremos ouvido!

—ROCK! —Geese grita. —Agora! —Os dois que estavam na frente do grupo atacam o capitão com um inesperado Reppuken. Billy Kane apanha seu bastão, girando-o freneticamente enquanto chamas o energizavam. Seus alvos eram todos os soldados que se encontravam ao seu lado. O inglês ria descontrolado, finalmente liberando toda a violência que tivera que reprimir anteriormente.

Andy e Joe davam apoio a Billy, mesmo o inglês achando que não precisava. Os soldados tinham sido pego desprevenidos, tornando-os em presas fáceis. Kyosuke, Jae e Sakura tomavam conta do outro lado do salão. A jovem dava golpes rápidos, intercalados com saltos acrobáticos na tentativa de cobrir a maior distância possível. Kyosuke estava impressionado com a agilidade da jovem, decidindo que não ficaria para trás. Jae, por sua vez, estava compenetrado. Ninguém quebraria sua concentração agora que estava tão próximo de vingar seu irmão. Soldados caíam, sem chance de se defenderem daquele grupo.

Batsu, Bonne e Chun Li cuidavam daqueles próximos à porta. A pirata lançava rajadas de vento de suas mãos, arremessando os soldados para o alto. Batsu e Chun Li aproveitavam a deixa, saltando ao ar e desferindo elegantes chutes, nocauteando seus adversários.

—Nada mal, loira! —Batsu diz, fazendo sinal de positivo para Bonne.

—Não me chame assim! —Ela diz, genuinamente irritada. —Só um idiota de cabelo espetado tem esse direito! —Ela sorri em seguida, para alívio de Batsu. —E embora você preencha todos os requisitos, essa vaga já foi preenchida. —Batsu ri, posicionando-se ao lado dela, para continuar o combate.

—Queria conhecer o cara que tem essa moral, então! —A loira suspira, abrindo um sorriso triste.

—Acho que vocês dois teriam se dado muito bem! —A batalha continuava, sem dar sinal de que os soldados em algum momento acabariam.

Geese e Rock não davam chance para o capitão da Shadaloo se recompor. O homem tentava dar combate, mas no momento em que aquela dupla decidiu lutar juntos, a batalha já estava decidida. Rock acertava um belo chute giratório no rosto do homem, que cambaleia para o lado, sendo presa fácil de uma sequência de golpes de Geese. O capitão cai nocauteado, ao que Geese o agarra pelo pescoço, estrangulando-o sem piedade.

—Geese! —Rock tenta intervir, segurando o braço de seu pai. —Larga ele!

—Sem piedades, garoto! —Geese não se incomodava com a tentativa do rapaz de impedi-lo. —Acha que se fosse o contrário ele teria pena de você? Aprenda de uma vez que aquele que não mata está fadado a morrer!

—Para com isso! —Rock se joga contra o tronco de Geese, derrubando-o. —Eu não vou me rebaixar ao nível dele! —Ele diz, se levantando. —E muito menos ao seu!

Finalmente aquela horda de soldados parecia terminada. Eram dezenas caídos ao chão. Os lutadores mal podiam acreditar no feito que haviam realizado. Os disfarçados removem o uniforme da Shadaloo, satisfeitos por tirarem aquele peso do corpo. Um barulho vindo do elevador central revelava que alguém estava chegando. Quando as portas se abrem, eles podem ver mais um grupo de soldados saindo. Dessa vez nenhum empunhava uma arma. Liderando-os, estavam três lutadores: o mais alto era um lutador de Muay Thai, a cicatriz cruzando seu peito e o tapa-olho do lado direito de seu rosto o identificavam imediatamente para boa parte dos presentes.

—S...Sagat? —Sakura balbuciava. Um dos lutadores mais perigosos que ela já tinha visto estava do lado de Bison. Ela tremia, dando passos involuntários para trás.

O segundo vestia-se com roupas totalmente pretas, sua postura curvada e o cabelo colorido de amarelo no topo, desgrenhados e jogados para trás, enquanto que o restante tinha uma cor mais escura, com um corte ralo nas têmporas e próximo à nuca, acentuando seu ar mafioso. Guardava sua mão direita no bolso de sua calça, enquanto sua outra mão pendulava livremente na altura de seus joelhos. No rosto, um sorriso doentio tomava conta.

—Yamazaki. —Geese diz, inconformado. Já tinha usado os serviços daquele homem anteriormente. Era um assassino de primeira linha, extremamente mortífero, como se não precisasse fazer nenhum esforço para tanto.

A última era uma mulher de curioso penteado: sua franja emoldurava o rosto, enquanto que dois coques pontiagudos tomavam as laterais de sua cabeça. Vestia um top preto com detalhes roxos, que amarrava às suas costas por quatro tiras de cada lado, num padrão que lembrava uma aranha. Luvas que iam até seu antebraço e calças largas cobrindo um colante rosa compunham seu visual. Seu olho esquerdo brilhava numa cor que se mesclava ao padrão de suas roupas.

—Juri Han. —Chun Li diz, num suspiro. Aquela mulher era problemática por conta própria, não esperava ter que lidar com ela sob influência de Bison. O trio que acabara de chegar emanava aquela mesma aura nefasta típica dos lutadores sobre controle do infame ditador. Isso também significava que eles precisavam ser bem mais atentos.

Chun Li parte para o combate contra Juri, desferindo rápidos chutes, que são facilmente esquivados por sua adversária. Juri toma a ofensiva, forçando Chun Li a se afastar com seus pesados golpes com a perna. A agente da Interpol estava num impasse, tendo que se concentrar em defender da lutadora com habilidades ampliadas por aquela energia. Num dos ataques de Juri, Jae Hoon interfere, bloqueando um dos chutes dela com sua perna.

—Chun Li! —Ele grunhia, tentando absorver a dor do golpe. —Eu te ajudo com essa tae kwon dista de araque!

—Jae Hoon, vamos lá! —Ela se posiciona ao lado do rapaz e os dois atacam a lutadora tentando forçar brechas, mas mesmo seu esforço conjunto não parecia dar resultados.

Terry, Andy e Joe decidiram enfrentar os soldados que apareceram junto do perigoso trio. Ainda estavam muito debilitados, o que fazia essa parecer a melhor opção. Terry tinha muita confiança em Rock e seus amigos, sabia que um dia o rapaz seria uma lenda tão grande quanto ele, ou talvez até maior. O trio Fatal Fury não tinha enfrentado os experimentos da Shadaloo no Japão, se mostrando surpreendidos quando estes imitam ataques de outros lutadores, inclusive os seus.

Kyosuke e Batsu já haviam lutado lado a lado incontáveis vezes, e não eram uma força a ser subestimada. Sua sintonia era tão grande que pareciam uma única entidade. O ruivo disparava ondas de eletricidade contra Yamazaki, e Batsu tentava achar espaços para encaixar um ataque. O jovem de cabelos espetados poderia ser irritadiço e afobado, mas também era inegavelmente um gênio quando se tratava de combates. Ainda assim, Yamazaki se concentrava em defender apenas alguns dos golpes, sendo capaz de perceber exatamente quais eram realmente perigosos, e quais ele poderia absorver sem sofrer nenhum dano. Em dado momento, Batsu é pego pela perna, desprevenido, e é arremessado ao alto. O jovem estava impressionado com o alcance que aquele sujeito tinha, parecendo impossível que seu braço pudesse chegar tão longe. Antes que ele pudesse cair, Yamazaki já havia deslizado rapidamente na direção de Kyosuke, o atingido com uma cabeçada tão forte que o ruivo sentia como se algo tivesse explodido próximo à sua cabeça.

Kyosuke vai ao chão, desnorteado. Ele tenta se levantar, mas suas pernas não obedeciam. Yamazaki corria em sua direção novamente. Os olhos esbugalhados e o sorriso com a língua de fora davam um ar doentio e intimidador ao mafioso. O resgate de Kyosuke vem na forma de um bastão direto no rosto de Yamazaki, que o desequilibra e derruba ao chão. Billy apontava seu bastão para o homem caído, e pela primeira vez Kyosuke e Batsu tinham visto um semblante tão sério no rosto do inglês.

—Yamazaki! —Ele grita, girando o bastão e o apoiando no antebraço. —Eu tenho contas para acertar com você, maldito! —Os dois já tinham trabalhados juntos, sobre ordem de Geese, e a insubordinação de Ryuji Yamazaki sempre perturbou Billy Kane. Esse momento era algo que ele sempre quis: Uma forma de provar sua lealdade ao homem a quem Billy devia tudo. Batsu e Kyosuke se põem ao lado de Billy, e os três partem para o combate, como uma única força.

Geese tinha sido derrubado por uma forte joelhada de Sagat. O tailandês era rápido, e seus golpes poderosos. Rock já tinha desferido duas ondas de seu Reppuken, mas o gigante lutador de Muay Thai parecia inabalado por seus golpes. Geese se levanta, trocando golpes com Sagat. Já tinha o atingido em, pelo menos, dois pontos vitais, mas parecia que o seu adversário não sentia nada.

—Isso não tá funcionando, velho. —Rock diz, após evitar uma cotovelada com um rolamento lateral. Sakura observava pai e filho lutando, sem conseguir tomar iniciativa. Sentia o Satsui no Hado alterando Sagat. Não conseguia entender como o imperador do Muay Thai havia caído vítima de tal poder.

—Precisamos de mais poder de fogo aqui! —Geese olhava para Sakura, que finalmente sai de seu transe.

—C...Certo! —A garota se afobava, partindo em direção de Sagat. Ela salta, girando no ar e acertando três chutes em seu adversário antes de aterrissar. Rock e Geese juntam-se no ataque, e finalmente parecia que Sagat tinha sentido um golpe.

Rock corre na direção de Sagat, e Geese o acompanha. O jovem usa de sua agilidade para se deslocar rapidamente às costas de Sagat. Com cada um de um lado, pai e filho aplicam uma sequência de golpes que batizaram de Deadly Rave. Socos e chutes intercalavam numa combinação poderosa, terminando com o disparo de uma onda de Ki de ambas as partes. Sagat cambaleia, ajoelhando sem ter para onde cair. Rock e Geese sorriem, confiantes e satisfeitos.

Juri continuava se defendendo de forma bastante competente dos golpes de Chun Li e Jae, até que Bonne intervém, quebrando a concentração da mulher ao criar diversas ventanias, que a atacavam por todos os lados. Nesse momento, Chun Li estava a um palmo de distância de Juri, a posição perfeita para que ela desferisse sua sequência veloz de chutes, conhecida como Hyakuretsu Kyaku, seguida de uma propulsão diagonal ascendente, sem interromper os chutes, o Tenshoukyaku. Jae e Bonne esperavam aquele momento, eles também se lançam ao ar, com Jae desferindo chutes carregados em chamas, e os de Bonne carregados por lâminas de vento. O trio termina com um chute conjunto, arremessando Juri de cabeça ao chão, nocauteada.

Billy conseguia se defender razoavelmente bem contra os ataques de Yamazaki, sabia do que eles consistiam, e mesmo que a distância e o alcance do mafioso fossem algo difíceis de definir, o inglês mantinha a calma e não vacilava. Batsu e Kyosuke auxiliavam, desferindo golpes que finalmente conseguiam abrir a guarda de Yamazaki, forçando-o a tirar a outra mão do bolso. O homem de sorriso doentio era ainda mais perigoso quando lutava com as duas mãos, mas Billy não o daria essa chance. Ele gira seu bastão várias vezes, concentrando chamas ao seu redor. Em poucos segundos tinha conseguido atingir Yamazaki dezenas de vezes. Toda aquela energia concentrada tornava os golpes ainda mais dolorosos. Com a ajuda de Batsu e Kyosuke, eles tinham conseguido causar estrago o suficiente para desacordar o assassino.

Sagat, por sua vez, não estava derrotado ainda. Ele se levanta rapidamente, agarrando Rock e Geese e os jogando contra o chão repetidas vezes. Era forte demais para que os Howards conseguissem se livrar facilmente. Sakura corre ao resgate de seu amigo, acertando uma voadora que faz Sagat perder o foco por um momento, soltando suas presas.

Anrtes que Sakura pudesse aterrissar, o enorme lutador agarra a cabeça da menina inteira com apenas uma de suas mãos, num rápido movimento, erguendo-a no ar. Ela se debate, seus gritos de socorro eram abafados, sufocando.

— NÃO! —Rock se desespera vendo a garota ser punida por seu auxílio com impiedosas joelhadas no estômago. Ele mal conseguia se mover, até respirar era doloroso, mas sua força de vontade era o suficiente para que conseguisse se levantar. O poder que fluía em seu corpo era imenso, e por um instante Geese tem a impressão de que aquela aura circundando seu filho era extremamente semelhante à de Sagat.

Rock acerta uma violenta cotovelada no plexo solar do lutador de Muay Thai, que solta Sakura. Vendo ela em segurança, Rock ascende ao ar, rodopiando e castigando o gigante com dezenas de golpes, até chegarem ao ponto mais alto da técnica. Ainda no ar, Rock gira e acerta um chute que faz o monstruoso lutador cair de cabeça ao chão.

O rapaz aterrissa de qualquer jeito, exausto, correndo desengonçado na direção de sua amiga. Ele a abraça, ajudando-a a se levantar.

—Você está bem? —Ele diz, ofegante. Mal parecia sentir os golpes que sofreu, tamanha era sua preocupação.

—Estou. —Ela sorri levemente, se levantando. Queria aninhar-se aos braços do rapaz, nunca haviam parecido tão confortáveis, mas não poderia fazer isso, vendo ele tão ferido quanto ela. Um urro anunciava que Sagat ainda não estava derrotado, para a ingrata surpresa do casal. —Esse desgraçado não cai nunca? —A jovem se põe em guarda, pronta para mais uma rodada.

Subitamente, uma dupla de soldados de Bison passa correndo ao lado de Rock e Sakura. O primeiro, mais alto, desfere uma rápida sequência de chutes, todos eles carregados por relâmpagos, terminando com um acrobático chute que arremessa Sagat ao alto. Rock tinha seus olhos arregalados, não conseguindo acreditar naquela combinação tão familiar. O segundo, mais baixo e esguio, aproveita e acerta um curioso chute, em que rodava seu corpo por completo, agravando o dano do golpe. No ponto mais alto, aquele soldado de figura mais feminina agarra o pescoço do lutador de Muay Thai, girando ao redor dele de modo que desfere um poderoso chute de dois pés, forçando a cabeça de Sagat contra o chão. Os dois soldados trocam um leve cumprimento, vendo que o lutador dessa vez estava realmente caído.

—Vocês vieram derrotar Bison, certo? —O soldado mais baixo diz, removendo seu capacete e revelando seu rosto. A agente britânica da Delta Force é facilmente reconhecida por Sakura e Chun Li.

—Cammy! —Chun Li diz, surpresa. —Até a Delta Force se envolveu nessa situação?

—Esse maníaco tem coletado nossas informações e material genético para criar clones sem almas. —Cammy parecia apressada em sua explicação, olhando para o soldado que havia lhe dado apoio. —Nós viemos aqui destruí-los. —Cammy e o outro soldado se dirigem a um elevador, na ala oeste do prédio. —Deixaremos o ditador nas mãos de vocês. Nosso intel indica que ele está no topo da torre. Boa sorte!

—Esperem! —Rock tenta impedi-los, mas o elevador se fechava antes que pudesse fazer qualquer coisa. Havia trocado olhares com o outro soldado, e mesmo sem poder ver seu rosto tinha certeza de que o conhecia. Jae, Sakura e Bonne também tinham a mesma impressão.

O grupo estava reunido, cansado, ferido, mas vivos. Eles perdem alguns momentos para se recompor, sabendo que aquilo estava cada vez mais perto de acabar, de uma forma ou de outra. Eles adentram o elevador panorâmico do prédio, único acesso ao topo da torre. Vendo a cidade por aquela perspectiva trazia esperança para os mais otimistas, como Batsu, Chun Li e Jae, pois mostrava o motivo pelo qual lutavam. Trazia raiva para Geese e Billy, por ver a cidade que uma vez foi deles sobre o comando de outra pessoa. Terry, Bonne, Andy e Joe se sentiam motivados, sendo lembrados das pessoas que vieram salvar. Rock e Sakura se recordavam da jornada até aquele ponto, o caminho árduo, violento e extremamente perigoso, mas que os tornaram não apenas mais experientes, como também mais fortes.

As portas se abrem, revelando uma arena no topo do prédio, violada por tubos enormes ligados a computadores indicando níveis, números e outras informações indecifráveis para o grupo de lutadores. Alheio aos intrusos, um homem de roupas militares vermelhas, uma longa capa negra presa ao seu uniforme por ombreiras prateadas, flutuava no outro extremo da arena. A energia que o envolvia era palpável, eles podiam sentir o quão poderoso ele tinha se tornado, mesmo estando distantes dele.

Eles abandonam o elevador, conseguindo enxergar melhor o que havia naqueles tubos. Para terror de Chun Li e Sakura, era possível ver Ryu, Ken e o demônio conhecido como Akuma inconscientes numa daquelas cápsulas, presos por fios enquanto banhados por um misterioso fluído que parecia drenar sua energia. O Satsui no Hado nunca pareceu tão perturbador quanto naquele momento.

Do outro lado, o que Terry, Geese, Joe e Andy viram era inimaginável. Mesmo diante de seus olhos, aquilo era chocante demais para que acreditassem. Em um dos tubos, viam o que havia restado de Rugal Bernstein, um lutador poderoso que tentou controlar o poder de Orochi, e pagou o preço por isso, não sem antes causar dores de cabeça ao Trio Fatal Fury e a outros lutadores. A seu lado estava um homem de esvoaçantes trajes azuis, que eles reconhecem como Goenitz, um dos quatro reis celestiais de Orochi. Mais chocante do que ver esses lutadores que deveriam estar mortos, o tubo mais destacado guardava um homem de cabelos alvos, corpo coberto por uma tatuagem que lembrava uma serpente: o próprio Orochi servia de bateria para os poderes gigantescos que Bison demonstrava. O maníaco havia conseguido canalizar não apenas o Satsui no Hado, tornando uma fonte viável de energia, como também o poder que apenas o verdadeiro sangue de Orochi poderia conceder.

—Não pode ser... —Chun Li diz, vendo aquela terrível cena.

—Eles deviam estar todos mortos! —Terry diz, ainda incrédulo.

Bison finalmente percebe o grupo do outro lado da arena, descendo ao chão e os encarando com seu macabro sorriso em face. Sua risada gutural ecoava pelo recinto, enquanto ele se aproximava em pesados passos:

—Bem-vindos! —Sua voz era distorcida, como se tons mais agudos e mais graves disputassem o mesmo espaço. —Tenho que admitir que chegaram longe, bem mais do que eu esperava. —Com um movimento de mãos, os lutadores são jogados para trás. Ninguém conseguia ver o que tinha acontecido. —Mas é aqui que vocês morrem.

Chamas púrpuras saltavam pelos olhos de Bison. Os cabelos esbranquecidos e selvagens do ditador denotavam que algo estava mudado. Nenhum dos lutadores queria admitir, mas tremiam de medo pela mera presença do inimigo que estava diante deles.

Conclui no próximo capítulo.