Capítulo – 3

– O confronto –

—Vamos, ajudem o garoto!—Ao comando da pirata, os marujos ajudavam Sakura a carregar Rock para dentro do navio, instalando os dois num dos quartos, sendo acompanhados pela própria capitã e os irmãos Kim. Ao verem que o rapaz já estava confortável e descansando, os marujos obedecem à ordem da capitã para que os deixassem a sós, pois precisava conversar com eles. Sakura permanecia em silêncio, intimidada pelo modo como as coisas aconteceram rápido, e ainda preocupada com o estado do rapaz de cabelos loiros. Ninguém parecia disposto a se pronunciar, até que o silêncio torna-se insuportável para Dong Hwan, que diz, quase aos berros:

QUE DIABOS VOCÊ ESTÁ FAZENDO AQUI, BONNE?

—É assim que você agradece por minha ajuda, Dong?

—Ninguém aqui pediu pra você nos ajudar!

—Então fique a vontade pra deixar o navio, seu ingrato!

—Dá pra vocês dois pararem?—Sakura intervém.—Dong, você devia agradecer por ela ter nos ajudado a sair de lá!

—Há! Sabia que a garotinha ia concordar comigo!—Bonne diz, abrindo um sorriso largo, como se quisesse irritar o rapaz de crista de galo.

—Mas a pergunta de Dong Hwan é pertinente! Com todo o respeito, senhorita Bonne, mas o que você estava fazendo lá?

—Eu...—Ela hesita, e engole a seco.—Eu vim pedir ajuda de vocês. Meu submarino foi destruído, eu fui atacada, por pouco nós conseguimos fugir com vida. Então eu roubei esse navio e comecei a procurar por Rock e Terry.—Sakura percebe o quão orgulhosa a mulher era, ao ver que ela tinha dificuldade enorme em admitir que precisava de ajuda. —Foi por mero acaso que nos encontramos aqui.

—Tsc...que história mais furada.—O ruivo coloca as mãos na nuca, parecendo mais calmo.

—Disse alguma coisa, Dong Hwan?—Bonne diz, olhando-o incisivamente.

—Sim, loira burra...eu disse que...—Ele olha para ela, e hesita, dando um longo suspiro.—...eu disse... obrigado por nos tirar de lá.—Dong Hwan bate a porta com violência quando sai da cabine.

—Ahn...sem querer me intrometer, mas...o que foi tudo isso?—Sakura, ainda um tanto intimidada pela cena tensa que tinha acabado de presenciar, pergunta à pirata.

—Eu e Dong Hwan...tivemos um lance um tempo atrás, mas não deu certo...—ela ri, e cobre o rosto com a mão, como se lembrasse de algumas situações engraçadas.—Deus, não deu nada certo mesmo. Jae, seu irmão é uma figura.—Sua expressão muda, ao ver que Jae estava com uma face sisuda e fria.

—Ele agiu mal agora, Bonne...mas lembre-se que foi você quem quebrou o coração dele...então...tente pelo menos entender o porque dele estar agindo assim...

—Desde quando...—a voz de Rock começava fraca, como se acabasse de acordar.—...Dong Hwan é tão molenga pra se abalar com uma garota...—Ele se levanta, mexendo no cabelo e olhando ao redor, sem saber onde estava.—Ah, Bonne...faz sentido...opa! O abraço repentino de Sakura espanta o rapaz, a ponto dele corar violentamente. Ele retribui o abraço, deixando a impressão de que era mais para Sakura não vê-lo tão encabulado do que ele ter superado seu bloqueio em retribuir alguma demonstração de carinho.

—Rock?—Bonne diz, com uma voz suave, mas ainda marota.

—Que foi?—Ele diz, ainda encabulado.

—Acho que a sua namorada está querendo respirar.

Rock finalmente percebe que pressionava Sakura contra seu peito, os bracinhos da menina se agitavam, enquanto tentava se soltar para pegar ar. Rock a solta e ela, ofegante, fica olhando para ele como se não estivesse entendendo nada:

—D...desculpa...

—Pelo menos deu para ver que você já está recuperado!—A garota diz, rindo em seguida. Rock lhe segue, enquanto Jae e Bonne trocam um olhar frio e cada um vai para seu canto.

Dong Hwan passeava pelo deck do navio, com as mãos no bolso da calça, tentando lembrar o motivo que o levara até o Japão. As feridas de seu pai e seu desejo de vingança era um bom motivo, embora contrário a tudo que Kim Kaphwan lhe ensinou. O eminente torneio era uma boa chance de mostrar que era um bom lutador, mesmo que o mundo inteiro duvidasse. Mas também não era esse o motivo. Bonne tinha lhe encantado no torneio em que participaram com Rock e Jae, mas ele não acreditava que tinha voltado para ter a chance de revê-la. Ainda assim, lhe aborrecia o fato dela buscar a ajuda de Rock e Terry, e nem cogitar procurá-lo. Ainda mais sendo Terry o primeiro amor de Bonne, algo que sempre pareceu incomodar o rapaz de crista de galo. Ele vê a lua, grande e cheia no céu, e pensa no quanto sua vida tinha ficado confusa em tão pouco tempo. Ele ouve um barulho vindo por trás, e vira-se já em posição de ataque. Quando vê um rato passando por ele, o rapaz se acalma, e abre um sorriso: —Olha o rato borrachudo! Esse navio ta precisando mesmo de um trato...hã?—O espanto do rapaz, era devido a uma sombra que o cobria, ele se vira uma vez mais, apenas para ver o espanhol Vega, saltando em sua direção, com as ameaçadoras garras, pronto para lhe estocar.

—Então, Rock...já que está se sentindo melhor, eu vou para minha cabine. Garotinha, cuida dele direitinho, hein?—Bonne pisca em direção à Sakura, que fica um pouco sem graça com o jeito irreverente da mulher. Ela fecha a porta às suas costas, e se escora momentaneamente nela. Ter seu submarino destruído e nem ao menos saber o autor dessa atrocidade, lhe exauria por completo. A loira decide procurar Dong Hwan para conversar, mas no exato momento em que fecha os olhos para um longo suspiro, uma mão cobre sua boca; e um braço impede que a mulher se mova. Assustada, ela se debate e tenta gritar por ajuda. Seu pânico torna-se ainda maior quando percebe que estava de frente para o assassino de cabelos alaranjados, conhecido como Freeman. Ele sorri de forma doentia, se aproximando do rosto de Jenet, como se quisesse sentir cada respiração ofegante que o medo lhe causava:

—Você é linda...te matar...será um prazer!

O olhar de Bonne muda por completo, chegando a perturbar Freeman. Logo, o salto de seu sapato atinge com violência o pé do assassino, que não consegue evitar que ela se solte:

—Não será assim tão fácil...seu maníaco!—A loira aproveita a brecha na defesa de seu adversário, atacando-o com ventos criados por suas mãos, que o arremessam para longe.

"—Rock ainda está ferido...Jae e Sakura devem ser o suficiente para protegê-lo. Mas eu não vou arriscar!"—Tendo isso em mente, Bonne tranca a cabine onde está o trio, disposta a enfrentar Freeman sozinha para garantir a segurança de seus amigos.

Ela tinha perdido preciosos segundos, tempo suficiente para o homem de cabelos laranjas avançar e começar seu contra-ataque contra a bela pirata. Bonne se defende como pode, mas Freeman era incrivelmente rápido. Os dois são surpreendidos por Dong Hwan, que aterrissava de um salto logo ao lado dela, e ao ver a situação, ele desfere um forte chute em Freeman, que se afasta:

—Você está bem?—O ruivo perguntava, com sincera preocupação. Estava ofegante, e seu moletom apresentava vários cortes e rasgos, além de seu rosto mostrar pequenos machucados.

—S-sim! E você?

—Já estive melhor...pronta para chutar alguns traseiros, ou vou ter que enfrentar os dois sozinhos?

—Não me provoque, projeto de Don Juan!

—Adoro quando você me chama assim!—Ele ria, para logo em seguida avançar contra o ameaçador espanhol, que já havia lhe atingido algumas vezes, sem lhe dar chance de reação.

—Ei!—Jae Hoon tentava abrir a porta, sem sucesso, quando escuta o som da batalha feroz que ocorria do lado de fora da cabine.—Estão ouvindo isso?—Rock se concentra, pois já tinha percebido que algo estava errado.

—O que é, Jae?—Sakura pergunta, enquanto se dirigia para perto da porta.

—Algo está acontecendo lá fora.—Ele tenta forçar a porta.—E parece que Bonne nos trancou aqui dentro!

—O quê? Jae, dá um bico nessa porta! Eu não gosto de ficar preso aqui dentro sem saber o que está acontecendo!

—Certo, eu só preciso pegar espaço!—O rapaz se afasta da porta, e quando decide avançar para lhe desferir um poderoso chute, três garras de aço atravessam a porta, fazendo com que ele perdesse todo o impulso no susto:

—Vega?—Jae diz, surpreso.

—Fiquem aí dentro!—Dong gritava do lado de fora, para seu irmão.—Eu e a Bonneca Loira temos tudo sobre controle!

—Bonneca? Eu vou te acertar uma quando acabarmos aqui!

—Dong! Deixa a gente ajudar!—O som da briga continuava, as garras de Vega rasgam a porta novamente, ampliando o campo de visão de Jae, que podia ver seu irmão desviando com muita dificuldade dos golpes do adversário. Isso era incomum, visto que na boate os dois estavam bem equilibrados e Dong Hwan inclusive tinha levado a melhor num confronto direto.

O rapaz com cabelos eriçados como a crista de um galo, logo consegue acertar uma seqüência de chute no abdome e tórax de Vega. Aproveitando que ele tinha caído, Dong urra com autoridade:

—Fiquem aí dentro! Rock ainda não está recuperado, e se alguma coisa acontecer com qualquer um de nós dois vocês ainda poderão protegê-lo, e ainda poderão se proteger também! Então, fiquem aí!

Dito isso, Dong é atacado novamente: embora escapasse com destreza das garras, deixando mais um pedaço de roupa para trás, ele não consegue fugir do chute que vinha logo em seguida do primeiro ataque, sendo atingido certeiramente em seu estômago, caindo para trás, sem fôlego:

—Mas que delícia!—Vega diz, rindo em seguida de forma macabra, sendo abafado pela máscara.—Eu peguei bem leve com você naquela boate, moleque! Mas agora você não terá perdão!

—Já estou ficando de saco cheio, bicha de garras!—Dong retira seu moletom e em pouco tempo também se livra das calças sociais que usava, revelando seu dobok negro com detalhes em vermelho, que já eram sua marca registrada.—Agora eu vou com tudo!

Bonne já estava frustrada: embora estivesse dando tudo de si, Freeman esquivava seus socos com facilidade, e não contra-atacava apenas para provocá-la, mostrando que poderia ter definido a luta a qualquer momento. Parecendo cansado da brincadeira, Freeman apara um dos golpes da loira fatal, acertando-lhe uma joelhada no estômago, seguida de um gancho, que joga a loira para trás, sem reação. Quando ela consegue ficar de joelhos, o assassino já estava sobre ela, pronto para atacar-lhe novamente. A mulher consegue atacá-lo com um chute ascendente. Ela aproveita a deixa, emendando um dos seus golpes característicos, uma seqüência de chutes em uma velocidade absurda, atingindo pontos diversos do adversário, rodopiando o corpo seguindo o ritmo dos ataques. Freeman cai de costas no chão, já rolando para trás, esquivando de uma iminente joelhada que Jenet mirava em seu estômago.

A mulher tinha se precipitado, quando viu que tinha conseguido conectar dois golpes distintos e derrubar pela primeira vez seu adversário, sabendo que ele tinha sentido duramente os golpes, ela tenta um mergulho de joelho visando o estômago do assassino. No último instante ele rola para trás, se esquivando. Ela se espanta uma vez mais com a velocidade e capacidade de reação do lunático de cabelos de cor laranja. Ela se espanta com o movimento da mão dele e com o golpe que poderia lhe tirar a vida se ela deixasse. Sua reação parecia lenta, ela sentia-se presa ao chão. Tudo parecia se mover em câmera lenta e mesmo assim, ela não conseguia se desvencilhar do percurso do ataque. Para sua sorte, Dong Hwan acabava de ser arremessado por Vega, caindo em cima do assassino, afastando-lhe da bela loira:

—As coisas não estão indo bem...a bicha de garras está me dando uma surra!

—Não estou muito melhor que você, Dong...—Ela ajuda o rapaz a se levantar.—Alguma idéia?

—Nenhuma...não sei como sair desse xeque!

—Xeque?—A mente da loira clareia e ela diz, sorridente, ao ver Freeman e Vega avançando, cada um por um dos flancos.—Dong! Roque!

—Que que tem o Rock? Ele não pode lutar!

—Não Dong!—Os dois lutadores cada vez mais se aproximavam da dupla.—Roque!

—Rock?—Dong finge que tinha uma guitarra na mão, sem entender o que ela queria dizer.

—Torre com Rei, seu burro!

—Ah!

Quando os atacantes ficam próximos, Dong e Jenet saltam cada um na direção do adversário do outro: Dong surpreende Freeman com um belo chute giratório na nuca. E Jenet acerta um gancho no queixo de Vega, emendando com uma rajada de ventos.

—Já te derrotei uma vez, psicopata...e terei muito prazer em fazê-lo novamente!

—tsc...bravatas insignificantes!—Com um forte golpe, Freeman arremessa Dong Hwan contra o parapeito do navio. Um segundo golpe vem na forma de um corte vertical, que o jovem lutador de Taekwondo prontamente esquiva. Ele se assusta ao ver o metal que compunha os encostos do parapeito sendo partidos pela mão de Freeman.

—Tem algo diferente em você...—Dong diz, em guarda, percebendo uma sutil mudança no modo de Freeman lutar.

—Você demorou, mas percebeu...eu sou um dos guerreiros supremos agora! Eu sou um mestre das lutas!

—Cale a boca!—O rapaz diz, num meio sorriso.

—O quê?

—Se você é tão fodão assim, porque ainda não me matou? Eu conheci poucos mestres na minha trajetória como lutador, mas você não é um deles!

—Ora, seu merdinha!—O assassino se irrita com as palavras do rapaz, partindo para cima, descuidado, do jeito que Dong Hwan queria.

—Experimente isso!—O jovem lutador logo estava envolvido por inúmeros raios, avançando contra Freeman.—Minha versão do Hou-ou Kyaku![chute da fênix].—A brecha tinha sido aproveitada perfeitamente, os golpes eram ampliados pela carga energética que envolviam os punhos e pernas de Kim Dong Hwan. A combinação de golpes termina com um chute para o alto, pegando no queixo de Freeman e o erguendo a uma altura considerável, demonstrando a elasticidade do lutador. Dong não se dá por satisfeito, saltando logo em seguida para um novo golpe:

—Você tentou matar meu irmão uma vez! Tentou matar meu pai! Eu nunca vou perdoá-lo! Super Chute do Dong Hwan!—O nome espalhafatoso dos golpes, escondia um potencial de luta que nunca tinha sido lapidado, pela repulsa de Dong Hwan aos treinos. Vários chutes são desferidos no ar, sem dar chance de Freeman se defender. O assassino cai inerte no chão, e Dong cai ajoelhado logo em seguida, parecendo exausto com a quantidade de energia utilizada para essa proeza.

Enquanto isso, Bonne e Vega travavam uma batalha rápida, com golpes e contragolpes sendo desferidos a cada momento da luta. O problema é que não importava se ele estava atacando ou bloqueando os golpes dela, a maneira como ele utilizava suas garras correspondia a cortes certos na pele da loira, que já estava ficando irritada com aquela situação.

Ela dá um curto salto para trás, na intenção de se afastar o suficiente para atacar à distância. Ela começa a concentrar ventos em sua mão. Tal ação não passa despercebida pelo espanhol, que logo salta elegantemente, culminando numa cambalhota para trás, apoiando-se na porta da cabine pela qual os outros assistiam à luta. Os ventos impulsionados pelas mãos de Bonne Jenet não chegam a atingir seu adversário, que salta por cima do ataque, fazendo pouco caso da tentativa da loira de equilibrar a luta, descendo com suas garras no ombro da mulher, que grita em dor e espanto.

As garras tinham penetrado profundamente e a dor era insuportável, mas Bonne não deixaria uma chance daquelas passar: concentrando seu golpe em mãos, ela prepara uma nova rajada de ventos que o atinge certeiramente. Ele rodopia no ar antes de cair de rosto no chão. Ao se levantar, percebe que sua máscara tinha sido trincada pelo golpe da mulher, quase ferindo seu rosto:

—Sua vadia!—Ele diz, com raiva na voz.—Eu estava pensando em lhe poupar a vida, para que fosse minha escrava, mas agora, vejo que terei que lhe matar lentamente, e farei questão de que sofra!—Ele pega impulso e salta para frente, com as garras lhe guiando. Bonne esquiva por reflexo, dada a velocidade do lutador. Vendo que ele agora estava de costas, Bonne arrisca um novo ataque, mas, num giro rápido, Vega atravessa a mão da loira com suas garras, derrubando-a no chão em seguida e caindo sobre ela:

—Grite! Anda! Grita pra mim!—Com os olhos vidrados, Vega prendia o outro braço de Bonne com sua mão, enquanto encravava a garra no chão, travando os movimentos dos braços da loira. Ela não resiste por muito tempo, cedendo à dor e gritando desesperada. Nesse momento, a porta emite um curioso brilho púrpuro por suas frestas, sendo destruída logo em seguida por um furioso Rock Howard:

—Lute comigo, seu canalha!

—Lute com a gente!—Sakura fica ao lado do rapaz, sendo acompanhada por Jae Hoon, que partilhava da fúria dos dois.

—Pois venham!—Ele desvencilha as garras da mão de Bonne, levantando brevemente sua máscara, lambendo o sangue que tinha permanecido, mostrando sua loucura expressa nos olhos.—Não importa quantos sejam, moleques como vocês são apenas vermes para mim!

Rock movimenta os braços num círculo, disparando duas ondas de energia púrpura, que percorre o chão, destruindo parcialmente o piso do deque e atingindo o seu adversário, forçando-o para trás. Vega tenta partir para o ataque, sendo surpreendido por Jae Hoon, que o acerta com uma voadora. Sakura começa a atacar logo em seguida, tendo os golpes aparados pelo espanhol, abrindo uma brecha para uma nova onda de ataque de Rock.

Dong corre até Jenet, tomando-a nos braços:

—Bonne? Me responde...—Ele estava desesperado: pouco depois de aparentemente ter nocauteado Freeman, ele tinha escutado os gritos de Bonne e uma fúria inexplicável tinha tomado seu corpo. Apenas com a intervenção de Rock e os outros ele tinha se acalmado e visto que a capitã pirata podia estar precisando de ajuda.

—D-devia ver sua cara agora, Dong Hwan.—Ela sorri, tentando não demonstrar fraqueza.—Nem parece o moleque pentelho de sempre.

—Não me assusta desse jeito, sua pirata de araque!—Ele devolve o sorriso zombeteiro que ela tinha em face.—Temos que ajudar Rock e os outros...sobrecarregar o garoto desse jeito, não vai ser bom.

—Minha mão...eu não sei se vou poder usá-la na luta. Tem algum plano agora?

—Talvez...—Ele retira a faixa do dobok, enrolando-a na mão de Jenet. Em seguida ele dá uns pulos, como se estivesse vendo se suas calças cairiam ou não durante uma luta. Vendo que estavam firmes, ele olha para a loira e diz determinado:

—Eu vou precisar de cordas, e de sua ajuda.

—Você e essa mania por cordas! Sabia que eu fiquei com marcas no pulso o dia inteiro depois daquela vez?—A face séria e determinada de Dong é substituída por uma frustrada e encabulada:

—Vamos nos concentrar, por favor?

Jae desfere uma bela sequência de chutes, cada uma sendo defendida com habilidade pelo lutador espanhol. Sakura se junta ao coreano para tentar fazer frente ao maníaco, mas sem conseguir manter o ritmo por muito tempo. Ela sabia que Vega era um lutador de alto nível, mas algo estava errado. Ele não deveria estar conseguindo agüentar uma luta contra os três. Pelo menos não com tanta facilidade assim. Ele agarra Jae Hoon com uma das mãos, durante um chute, arremessando-o no chão logo em seguida. Sakura vai ao auxílio do amigo, novamente tendo os golpes bloqueados. Vega então lhe acerta um par de chutes, aproveitando uma pequena brecha em sua guarda. O espanhol então volta-se para Rock, que pretendia partir para o ataque e auxiliar Jae e Sakura, mas hesita ao ver aquela demonstração de força:

—O nome Geese Howard significa alguma coisa para você?—Rock pergunta, ainda em guarda, desconfiando que seu pai supostamente morto pudesse estar envolvido nesses ataques de alguma forma.—Ele que o mandou atrás de mim?

—Não...quem sabe se você conseguir me derrubar, eu não lhe conte quem me mandou aqui?

—Vai se arrepender!—Rock dispara como uma seta, atacando com uma cotovelada, seguida por um soco direto, que são esquivados por Vega, que demonstra certa dificuldade:

—Você é um adversário interessante.—Vega agarra o braço estendido de Rock, acertando-lhe uma joelhada no estômago.—Diferente desses moleques...quem é você?

—Eu?—Rock sorri, vendo o quão próximo eles estavam mesmo depois do golpe de Vega.—Eu sou amaldiçoado por algo que no momento eu considero uma benção! RAGING STORM!—Ele leva as mãos ao chão, e um pilar de energia num tom entre azul e roxo começa a se formar nas mãos de Rock, mas não chega a crescer o suficiente para atingir Vega. A energia perde seu foco, dispersando-se. Rock, por sua vez, sente algo parecido com o refluxo dessa energia para dentro de seu corpo. Uma dor intensa o acomete, como se bolhas de nitrogênio se formassem em seu sangue após uma variação enorme de pressão. Seu nariz começava a sangrar, seus ouvidos também, e suas veias se exibiam por sua pele. Ele cai de joelhos no chão, ofegante e sentindo-se entorpecido.

—Garoto, você tem problemas, hein?—O espanhol ri, observando o rapaz por entre suas garras.—Sabe, estou me sentindo piedoso hoje...então, eu vou livrá-lo de sua dor e seus problemas.

—E vai deixar uma loira como eu esperando, Vega?—Bonne diz, com um sorriso em face.—Achei que você ia me mostrar a dor e o sofrimento antes de me matar, mas até agora, eu só ouvi conversa e mais conversa!—Ela mantinha a postura desafiante, sem hesitar em suas palavras.

—Vai desejar não ter feito isso, garotinha!—Vega corre na direção da mulher, pronto para estocá-la com suas garras. Para seu espanto, Bonne dá um passo para o lado, revelando Dong Hwan, que se balançava por uma corda presa ao mastro do navio, vindo logo por trás dela, pronto para acertar um chute em Vega. O impacto é certeiro e tão poderoso, que a máscara de Vega se parte em vários pedaços que afundam no rosto do espanhol, lhe cortando profundamente.

—Maldito! Miserável! Como ousa ferir minha face desse jeito?—Vega entra em frenesi, saltando sobre Dong Hwan, tentando-lhe acertar ora com as garras, ora com a mão vazia. O rapaz de crista de galo se concentrava em esquivar das garras, ocasionalmente levando um soco ou outro:

—Você vai morrer! Seu ser ridículo! Seus amigos não são capazes de me deter! O que fez você pensar que conseguiria?

—O que fez você pensar que não somos capazes de lhe deter?—Jae acerta um chute nas costelas de Vega. Sendo acompanhado por Sakura, que acerta em seu ombro. Rock os acompanha, agarrando o braço de seu adversário. Jae segura o outro braço, impedindo-o de se mover. Bonne Jenet, vendo essa chance, corre contra o lutador espanhol, saltando alguns metros antes de alcançar seu alvo, acertando um chute em seu rosto, agravando os ferimentos em seu rosto, e o arremessando para fora do navio, pelo parapeito destruído pelo golpe de Freeman, enquanto ele lutava com Dong.

O grupo se reúne. Estavam cansados, feridos. Uma seqüência de lutas como aquela era o suficiente para exauri-los a ponto de eles cederem:

—Rock?—Sakura o ajuda a se levantar, sendo empurrada levemente pelo rapaz, que parecia amargurado com algo:

—Fique longe de mim, Sakura!—Ele diz, num sussurro.—Tem algo de errado comigo, e eu acho que só vai se machucar se continuar perto de mim!

—Rock...não seja bobo!—Ela pega em sua mão, puxando-o para perto de si.—O que quer que seja, eu sei que você nunca iria me machucar! Nós vamos descobrir o que está errado com você! E vamos lidar com isso juntos!

—Ouça a garota, Rock!—Dong Hwan diz, sorrindo, ainda admirado por seu plano dar certo.—Ela não parece, mas é bem espertinha.

—É isso aí...EI!—Sakura dá um soco no braço dele, irritada.—Pentelho!

Eles estavam em paz, parecia que tudo ficaria bem agora. Bonne chama seus marujos para que levassem Freeman e o prendessem num dos cômodos do navio. Ela o interrogaria mais tarde. As brincadeiras continuam e os sorrisos mantêm-se firmes, até o navio chacoalhar anormalmente e um estrondo alto ser escutado na proa:

—Que foi isso?—Jae Hoon pergunta. Uma estranha sensação percorria seu corpo, como se algo extremamente maligno estivesse se aproximando. Fortes ventos começam a soprar, e eles vem três vultos se aproximando do grupo.

—Quem vem lá?—Rock pergunta, parecendo reconhecer aquelas silhuetas. Uma risada seca ecoa na noite, quando a luz da lua revela o lendário trio Fatal Fury: Terry Bogard, Andy Bogard, e Joe Higashi. Os três partilhavam aquela aura perturbadora que o grupo tinha sentido ao encontrar Terry na boate. Os três partilhavam daquela postura de luta deturpada, como se algo demoníaco possuísse seus corpos. O grupo inteiro sentia-se perturbado, e todos podiam pressentir que a luta anterior, não era nada perto dessa luta decisiva que estaria por vir.

Continua no capítulo 4.