Cante Para Eu Dormir
"Foi ele, foi ele"
–Charlie pare! Pare! Por que você está fazendo isso? Por favor parE! –Chloe gritava, a cada grito,ela perdia mais forças, e no último –que fora quase um sussurro- ela levou as mãos ao peito, as observou e ficou segundos paralisada assustada com o que vira e então como numa cena, em câmera lenta ela caiu.
Ajoelhei-me ao seu lado com as pupilas dilatadas, a observei nua e sangrando mas não senti nada, nem um remorso apenas mais vontade de vê-la sofrendo, agoniando, de leva-la até a beira da morte e empurra-la.
–Isso não teria acontecido se você não tivesse ido embora.
–Charlie porque v-você fez isso. – Ela gemeu.
–Você teria que ser minha por bem, mas não foi. –Eu grunhi.
Ela me olhou com aqueles olhos grandes.
–Você me...
–Eu te estuprei, e cansei de ouvir você, então vou terminar de fazer o serviço –Me levantei.
De costas para o corpo caído, ouvi apenas um som, um som que parecia choro misturado com dor e a necessidade de respirar.
–Vamos acabar logo com isso. Não imaginei que seria tão difícil. – Por fora eu era um monstro, não tinha controle sobre as minhas ações, mas por dentro estava desesperado, não sabia e não entendia o que eu estava fazendo, porque eu fiz isso? Por fora eu dei a ultima facada, por dentro eu... Não entendia!
Ela ainda demorou mais uns 30 segundos até que ela deu o seu ultimo suspiro. Acabou. Finalmente acabou. Sai do galpão enfurecido, eu parecia ter uns 25 anos agora, eu tinha barba, meu corpo era maior e mais forte do que antes, minha camisa estava amassada e com as mangas mal dobradas. Joguei a faca no mato, abri a porta de uma caminhonete preta e acelerei. Passava pelas luzes da cidade numa velocidade alta e o cheiro do sangue de Chloe na minha roupa me dava mais ódio.
Voltei para casa que estava vazia, era véspera de ano novo e todos estavam na casa do Tio Freddy , tirei as roupas sujas levei-as para o fundo da casa e ateei fogo, entrei e entrei no chuveiro, deixei que a água levasse todo vestígio do físico e mental que me torturava, eu estava preso num corpo mais velho, mais enfurecido, mais frio. Mas ainda era eu.
Coloquei uma camisa branca e uma calça de linho também branca, era sujo o modo como eu pensava e agia. Abri a porta e tudo mudou. Eu Matei Chloe.
–Acho que estou pronta.
–Eu não quero que você faça nada que não queira Chloe.
–Mas eu quero. E eu te amo, nós estamos juntos há uns oito anos, nem sei como aguentei 6 sendo só sua amiga. -Ela hesitou -Charlie o que você está fazendo?
–Eu não sei como eu aguentei todo esse tempo também, por isso eu – Pigarreei e respirei fundo –Por isso eu quero que hoje com meus maduros 25 anos pedir que você seja a minha esposa. Eu te amo, um amor como nunca senti em toda minha vida, e eu quero que ele permaneça até o final dela. Chloe Eve Miller -Eu me ajoelhei- você aceita ser minha esposa?
Ela parecia incrédula, ficou em silencio por o que pareceu uma eternidade, comecei a soar frio com medo da resposta, eu a encarava com medo e meus joelhos já estavam falhando quando finalmente ela abriu um meio sorriso que aos poucos se tornava um grande. Ela pulou em mim e começou a beijar meu rosto.
–Sim Charlie sim sim sim! Como não? SIM! –Senti meus olhos marejados, segurei seu rosto e olhei bem no fundo daqueles olhos verdes e finalmente nos beijamos. O melhor o mais incrível e inesquecível beijo da minha vida. Eu iria me casar com Chloe.
Ela entrava vestida de branco. Com o buquê vermelho.
Ela entrava vestida de branco. Meu peito se comprimia. E as minhas pupilas dilatavam.
Ela andava vestida de branco. Eu suspirei e meu coração pulsava mais rápido.
Ela chegava perto, vestida de branco segurando o braço do pai. Eu estava inquieto.
Ela parou vestida de branco, encarava meu rosto e dizia “foi ele”. Eu não entendia.
Ela caiu vestida de branco, e o buquê se tornou sangue em seu peito. Eu era receio, e medo.
Ela morreu vestida de branco, com o buque manchado de sangue. E tinha sido eu.
“Foi ele, foi ele”
Por que eu. Porque sim, eu. O que aconteceu? Aconteceu.
Minha visão escurecia, a ultima imagem que vi foi a mulher que eu amo, o amor de toda a minha miserável vida deitada no chão de madeira sangrando. Olhei para minhas roupas e elas estavam manchadas de sangue, eram as mesmas que eu havia queimado, olhei para minha mão que segurava uma faca, a mesma que eu tinha jogado. Eu matei Chloe.
–Charlie você está bem?!
Sento-me rápido assustado e suando.
–O que foi filho? Estava tendo um pesadelo? -Mamãe tirava os cabelos molhados de suor que estavam grudados na minha testa.
–Mãe saia. Por favor saia.
Ela parecia não entender, eu também não entendia. Ela levantou-se, foi até a porta e disse:
–Filho, já fazem meses e essa garota ainda te atormenta. Você precisa superar ou... Ou te mandaremos para a clinica. Sinto muito. –Ela saiu.
31 de Dezembro de 1994
Querido amigo,
Como eu pude ter matado Chloe duas vezes, mesmo que em sonho? Como eu pude estupra-la, como? Foi só um sonho, só um sonho. Mas todas as noites tenho sonhos assim, todos perturbadores e em todos Chloe aparece, minha mãe disse que se eu não melhorar voltarei para a clinica. Já que não tenho mais nada a perder nessa minha vida, eu vou atrás dela. Eu vou. De uma merda de vez por todas!
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