Candor Lunar - Livro 1

Capítulo 6 – Quando um Lobo ama uma Vampira


À noite eu geralmente empacoto, não demoro nada para dormir, meu pai costuma brincar dizendo que eu adormeço antes mesmo de tocar o travesseiro com a cabeça; meu corpo consome muita energia, mas também não poderia ser de outra forma, tenho facilmente mais de dois metros de altura – Nessie quis medir uma vez, mas eu não deixei – peso uns cento e quarenta quilos e meu corpo está sempre a quase sessenta graus de temperatura, eu praticamente sou um gerador de calor ambulante. Por isso à noite eu durmo feito uma pedra, talvez meu corpo precise recarregar, não sei, mas sei que esta noite demorei um monte para pegar no sono, minha mente não deixava Renesmee de jeito nenhum.

- Está atrasado.

- Foi mau Tom, perdi a hora legal hoje.

- Está certo, mas tente terminar de arrumar o buraco no motor daquele maldito Skyline, esses moleques de hoje só sabem fazer racha.

- Tranqüilo Tom, até o meio dia está terminado, aliás, você acha que consegue me liberar hoje umas duas horas mais cedo?

- Você chegou atrasado e ainda quer sair cedo, Jacob?

- Eu sei, desculpe, mas tenho uma reunião na Reserva e não posso faltar. Compenso no sábado para você.

- Pelo menos tente arrumar o carburador daquele Gran Torino do Roger, assim ele não vem aqui me incomodar.

- Beleza, até a tarde estará funcionando.

Eu gosto de trabalhar na oficina do Tom, ele é rabugento, velho e cheira a graxa e diesel, mas é um bom sujeito e como eu conserto tudo rápido ele não me enche tanto, ainda bem, porque eu não poderia ficar sem me reunir com o Sam de jeito nenhum, este tipo de reunião não se faltava e como faz algum tempo que isso não acontece preciso ver o que há de tão importante.

O carburador do Gran Torino nem deu trabalho, eu não almocei para dar tempo de terminar tudo e deixar o carro funcionando e foi com a barriga roncado que sai correndo de lá com meu Rabbit rumo à La Push. Na reserva eu me despi, joguei as roupas dentro do carro e em segundos já corria pela mata fechada transformado em lobo, não demorou nada para eu encontrar as matilhas reunidas aonde geralmente nós íamos quando queríamos conversar com mais privacidade e sem que alguém descobrisse quarenta lobos cavalares olhando uns para a cara dos outros.

Muito a leste de Second Beach – o penhasco em que a cabeçuda da Bella se atirou há muito tempo – encontrei minha “gangue”. Todos lá: Seth e Leah estavam sentados e um espaço vazio entre eles indicava o meu lugar, ao lado de Leah estava o pequenino Quilan – Leah havia tido a impressão há uns oito anos com um rapaz que trabalha no Banco de Forks e os dois se casaram, Quilan nasceu um tempo depois e hoje com cinco anos parece ter dez, ele estava ali, agitado, era um pouco maior que um lobo comum, mas ele cresceria com certeza. Era uma visão impressionante, quarenta lobos de colorações diversas e tão grandes quanto bois sentados num circulo amplo aguardando a minha chegada, eu entrei de cabeça erguida; eu era o Alfa por direito de herança e de longe o mais forte entre eles, mas eu não tinha interesse em ser o único Alfa, Sam Uley era um líder melhor do que eu.

Logo que cheguei, pensamentos e lembranças me inundaram como uma onda gigantesca, mas logo essa onda foi controlada com um som arisco de Sam e sua voz soou na clareira e em meus pensamentos.

Jacob, que bom que chegou”.

Desculpem o atraso, hum, mas já podemos começar o que quer que seja...” – eu disse rapidamente, essas reuniões me deixavam ansioso.

Bem” – começou Sam imponente – “Já faz um tempo que não nos reunimos aqui, uma vez que nunca mais houve necessidade devido à calmaria constante e à nossa familiaridade com a família Cullen, nós acabamos perdendo um pouco os nossos hábitos de caçadores e guardiões; justamente por isso algumas coisas aconteceram sem que nós percebêssemos ou déssemos importância para comunicar uns aos outros através de nosso elo mental”.

“Pois bem” – continuou Sam – “Na quinta-feira passada Jared e o pequeno Quilan estavam correndo ao longo do perímetro na fronteira norte quando se depararam com algo no mínimo intrigante. Jared, Quilan... falem”

Jared e Quilan se levantaram e deram um passo à frente, Jared levantou a cabeçorra e sua voz invadiu minha mente.

“Então, eu estava ensinando ao nanico aqui sobre os perímetros e nossos turnos de ronda quando ele deu de cara com o corpo de um cervo.”.

“E o que é que há de errado no corpo de um cervo?”

“Quieto, Paul.”

“Foi mal, Sam”

“O bicho estava seco...” – gritou a vozinha estridente do pequeno Quilan.

Espere Quilan, me deixa contar. Como eu dizia, o nanico aqui encontrou a carcaça do cervo completamente drenada, sacaram? O sangue já era, a carne estava toda lá, nem um arranhão, mas havia uma laceração no pescoço do bicho e ele não tinha uma gotinha de sangue no corpo”.

Está bem, e daí, algum dos Cullen foi dar uma boquinha para aqueles lados”.

“Não Paul, isso não aconteceria” – eu retruquei imediatamente – “Nenhum dos Cullen caça para aqueles lados na fronteira norte, lá é uma área de camping onde os garotos da cidade vão acampar com freqüência, eles não arriscariam ir lá sem avisar nem nada”.

“Então - começou Sam Você acha que pode haver algum vampiro forasteiro na cidade?”

“Isso não é bom, os Cullen nós aturamos, mas outro chupador de sangue? De jeito nenhum.”

Mas tu é muito burro não é, Paul?” – eu resmunguei – “Jared e Quilan não encontraram o cadáver de um humano e sim a carcaça de um animal, se realmente é outro vampiro, deve ser “vegetariano” como os Cullen”.

“Jacob” – começou Sam – “Você provavelmente vai até a casa de Carlisle hoje...”

“Imagina se ele ia ficar longe da vampirinha dele!”

“Paul, eu estou avisando” – rosnou Sam – “Então, pergunte se foi algum deles que matou o cervo ou se deve ter sido algum conhecido, se não, teremos que ter cuidado porque um estanho pode estar rondando nosso terreno. Ficamos desleixados, não podemos relaxar desse modo. Will, Alex e Peter vão cobrir as fronteiras hoje para evitar qualquer surpresa, está certo?”

Os três confirmaram com a cabeça, faziam parte da jovem guarda e como ainda estavam aprendendo nossos hábitos, sempre eram destacados para cobrir a área quando estavam transformados.

“Ótimo, agora, tenho mais uma coisa para mostrar a vocês... Vejam.”

E dito isso, Sam lembrou-se de hoje cedo enquanto ele acordava e tomava café da manhã, antes de sair para o trabalho – Sam era responsável pelo nosso Centro Cultural na Reserva – ele folheou distraidamente o jornal que Emily havia deixado sobre a mesa, eu vi as lembranças de Sam enquanto ele fixou a atenção em uma notícia nas páginas policiais. O cadáver de um vigilante noturno de uma fábrica em Seattle havia sido encontrado com vários cortes, mordidas e o pescoço quebrado; o repórter ainda destacou o estranho fato de que o corpo do homem parecia ter sido dissecado.

Quando a imagem terminou, eu automaticamente encarei Sam:

“Você acha que pode haver alguma ligação?”

“Fracamente? Sim, Jake, eu acho que sim. Tenho absoluta certeza de que um vampiro matou o homem em Seattle e nós sabemos que, em uma linha reta do norte através da floresta, o vampiro encontraria Forks. Talvez ele esteja perambulando por aí.”

Mas se ele matou um homem em Seattle, porque mataria um cervo aqui em vez de um humano?” - Seth perguntou tirando uma dúvida da minha mente.

“Talvez ele não tenha encontrado um humano.” – sugeriu Quill.

“Acho difícil. Acreditem em mim, quando um vampiro sente cheiro de sangue humano ele não consegue caçar outra coisa, um vampiro não mantém duas dietas assim tão fácil, mesmo os Cullen levaram décadas para se afeiçoar ao sangue animal. Não acredito que o vampiro que matou o homem em Seattle seja o mesmo que matou o cervo aqui; além do mais, vampiros são hábeis caçadores, seria muito simples ele surrupiar uma garganta em Forks e se mandar.” – eu disse.

“Ele pode ter sentido o cheiro dos Cullen ou então o nosso”.

“Pode ser, ele não compreenderia o nosso cheiro e ficaria curioso com o dos Cullen.”

“Eu também não me alarmei muito com a carcaça do cervo, mas hoje cedo quando li a notícia no jornal passei a desconfiar de algo. Jake, poderia ser dois vampiros? Um ‘vegetariano’ e outro não?”

“Quem sabe, mas durante aquela treta com os Volturi no passado a casa dos Cullen encheu de sanguessugas de todas as partes do mundo, havia os andarilhos que andavam sozinhos como vagabundos errantes, mas também vi alguns que andavam em duplas ou casais, apenas acho difícil que um vampiro que goste de sangue humano ande com algum que não goste, seria uma ligação estranha”.

“Difícil, mas não impossível?”

“Não impossível. Também acho suspeito isso, mas pode ser que seja apenas coincidência ou um vampiro que esteja vagando pela região”.

“Se houver algum perigo imediato para nós, Alice poderia prever?”

“Não. O aumento da nossa população de lobos bloqueou totalmente as visões de Alice, ela geralmente foge duas vezes por semana para mais longe a fim de tentar ‘enxergar’ alguma coisa, mas até agora ela não viu nada.”

“Jake, acho melhor você ir avisar os Cullen.”

“Vou fazer isso. Mas acho melhor não esperarem tanto, do jeito que os vampiros são, este ai provavelmente é só um vagabundo correndo pelo mundo.”

“Espero que sim, eu estou apreciando a calmaria para ficar caçando vampiros por ai, vocês três tenham cuidado à noite e se precisarem, soem o sinal.”

Will, Alex e Peter assentiram brevemente para Sam e depois disso ele findou a reunião, ainda bem porque eu já não via a hora de poder correr para junto de Renesmee.

“Eca, Jacob, você tem que pensar tanto nela?”

“Leah, não me faça lembrar a sua lua de mel ou do nascimento do nanico aí...”.

“Idiota”.

Não adiantava ser Alfa com a Leah.

“Jake, você acha que eu poderia dar uma corrida por ai à noite?”

“Seth, o Sam já designou os novatos para fazer isso, mas se você não tem mais nada para fazer pode dar uma mão para eles”.

“Legal, ação novamente...”

“Seth, não seja idiota, não há nada aí na floresta, se foi um vampiro já sumiu há tempos.”

“Pode deixar, chefe... só uma corridinha”.

“Não me chame de chefe.”

“Desculpe, chefe”.

Ser líder de matilha é um caos. Finalmente me livrei deles e literalmente voei até a mansão de Carlisle, me atrasei mais do que queria porque tive que voltar ao carro para buscar as minhas roupas, mas como eu me movo sobrenaturalmente rápido não foi um problema tão grave. Cheguei pela trilha que eu sempre usava que dava para o jardim de Esme. Nesta época não havia tantas flores porque o fim da primavera se aproximava e o outono já mordiscava as folhas das árvores, o vento já tinha um cheiro de frio e o mundo começava a ficar marrom.

Vestido, eu dei uma desembaraçada nos cabelos - já estava na hora de cortar de novo – e andei confiante em direção ao portal de entrada, logo a porta se abriu e eu senti o leve impacto de um ser deslumbrante contra o meu corpo, os cabelos sedosos esvoaçaram de encontro ao meu rosto e num segundo seus lábios pressionaram-se contra os meus.

Nessie, então, me olhou sorrindo e fazendo uma carinha de mágoa logo a seguir:

- Você demorou, sabia?

- Eu sei princesa, me perdoe.

- Desse jeito eu vou exigir que você venha direto para cá depois de sair do trabalho.

- Não, que horror Nessie, se eu fizer isso vou vir cheirando cachorro de oficina.

- Eu amo esse seu cheirinho de lobo.

Nesse segundo eu ouvi um pigarro alto e na sala, deitado com a cabeça no colo de Bella, Edward me olhava com uma cara de morte.

- Nessie, nós estamos ouvindo – gritou Emett de algum lugar da casa.

- Não liga para Emett, Jacob, ele está furioso porque dei uma surra nele durante um jogo de pôquer.

- Blá blá blá - resmungou Emett.

- Então, aproveitando que eu estou aqui, preciso falar com o resto da família. – eu disse tentando desconversar.

- Ah! – gritou Alice de um canto – Jacob quer falar com todos nós, que bonitinho, ele vai oficializar o namoro com a Nessie.

- Não – eu me apressei a dizer e senti o meu rosto queimar – Na real é outra coisa.

- Hunf, sem graça, eu louca para estrear aquela prataria grega num jantarzinho em família.

- Alice, vocês não comem em pratos.

- Ah, Jake, mas a foto ficaria linda, imagina só?

- Quando foi isso? - perguntou bruscamente Edward se levantando de repente e obviamente lendo meus pensamentos – Tem certeza?

- Jacob, boa noite - disse Carlisle saindo da biblioteca para ver a agitação – Você poderia compartilhar a informação para toda a família? Edward às vezes esquece que apenas ele pode ler pensamentos.

- Claro – neste instante Esme e Rosalie se juntaram a nós, Jasper estava sentado no outro canto da sala lendo uma revista e Alice foi sentar-se no braço do sofá próximo a Bella, Nessie me olhou com curiosidade – Na quinta-feira, Jared e Quilan estavam correndo para os lados de Camping Hill quando deram de cara com uma carcaça de cervo totalmente drenada, provavelmente coisa de vampiro. E eu desconfio que não tenha sido vocês, não é?

- Não – respondeu Carlisle – Nós não vamos lá, há muitos campistas naquela região.

- Então, para piorar, hoje cedo Sam encontrou no jornal uma notícia meio macabra, um vigia noturno foi encontrado morto em Seattle, muito ferido e supostamente sem sangue no corpo. Pelo que Sam apurou, cortando pelos montes e pela floresta ele daria mais ou menos nessa região de Forks.

- Mas eles podem não ter conexão alguma – opinou Jasper – Um vampiro que se nutre de sangue humano dificilmente teria uma dieta de sangue animal também, e um alce é herbívoro, o teor de seu sangue é totalmente diferente do de um humano. Não acho que o assassinato do vigia tenha sido pelas mãos do vampiro que matou o animal.

- Talvez eles estejam viajando juntos – disse Edward pensativo.

- De uma forma ou de outra eu estou apenas avisando, Sam destacou alguns dos novatos para patrulharem a área enquanto nós não encontramos nada e Seth estará rondando aqui por perto. Pode ser que eles já tenham partido e nem tenham se dado ao trabalho de investigar vocês ou nós mesmos.

- Não é crime viajar por aqui – registrou Carlisle – Nós não somos donos dessas terras apenas vivemos nela, além do mais, o assassinato do vigia em Seattle é apenas um dos muitos praticados por nossa espécie; somos uma minoria que se nutre de sangue animal e se eles estiverem apenas de passagem como parece não há motivo para nos alarmarmos, provavelmente não estão aqui por nossa causa.

- Em todo caso, Jacob – disse Edward – Nos mantenha informados caso aconteça alguma coisa anormal.

- Não se preocupem, também acho que não vai dar em nada.

- De qualquer maneira – comentou Alice – Eu e Jass nos afastaremos da Reserva pela manhã para eu ver se minhas visões funcionam no tranco, essas ninhadas de lobinhos acabaram com qualquer previsão que eu poderia fazer, o que me deixa absolutamente indignada.

- Ótimo, que bom que as notícias foram dadas, mas agora, se nos dão licença, eu vou aproveitar um pouquinho o meu namorado – declarou Nessie sorrindo.

- Vocês poderiam muito bem ficar aqui conosco, não é mesmo? - disse Edward.

Nesse momento Bella e Alice se agarraram nele, Bella gritando sorrindo.

- Corram! Nós o seguramos.

Nessie estava rindo quando me puxou para fora da casa.

- Venha, vamos nos afastar um pouco, namorar numa casa de vampiros é difícil demais, eles podem ouvir tudo.

Dito isso, ela me puxou para dentro da mata rumo a uma clareira que ficava a cerca de 2 km dali; Nessie gostava de lá, da clareira ela podia ficar olhando as estrelas enquanto se deitava na relva baixa que crescia no espaço ausente das árvores, se existia alguma garota que adorava as estrelas era Renesmee. Chegando lá eu me sentei de encontro a uma grande rocha e Nessie se aninhou em meus braços olhando para os céus.

- Trágico – declarou ela – Para variar, nublado e sem uma única estrelinha.

- Eu tenho uma estrelinha bem aqui nos braços.

- Fofo. Jacob, você me disse que não me ama apenas pela sua Impressão, não é?

- Claro que não, Nessie.

- Então – ela disse voltando seus olhos brilhantes para me olhar – O que você mais ama em mim?

- E agora? - eu ri – Tem tanta coisa, como eu vou listar apenas uma? Eu amo tudo em você, o som da sua voz, o perfume dos seus cabelos, sua pele clara como o luar, seu jeito de rir e de morder os lábios quando está nervosa ou de cruzar os braços quando está zangada, amo o modo como você me olha e como pula em mim todas as vezes que me vê, sua inteligência, o fato de apesar de ser rica você não ser uma idiota metida; amo sua boca, e outras coisas que ainda não posso dizer.

- Assanhado – ela me deu um tapinha – Você acha que o amor dura para sempre?

- Acho, olhe Bella e Edward, a cada ano os dois estão mais apaixonados.

- Eu sei, meu pai faria tudo pela minha mãe. E você, Jacob Black, o que faria por mim?

- Eu morreria por você se fosse preciso.

- Tanto assim?

- Quando um homem ama uma mulher, Nessie, não há nada no mundo que o impeça de fazê-la feliz, ou de protegê-la.

- E este lobo – ela disse apontando para mim – Ama essa vampira aqui?

- Descontroladamente.

Renesmee se virou e seu corpo ficou mais próximo do meu, estávamos entrelaçados ali no meio da floresta sob uma leve garoa que parecia evaporar quando tocava minha pele, Nessie olhou-me demoradamente com seus olhos acobreados e então sua boca encontrou a minha; não saberia dizer quanto tempo durou este beijo, mas ali, com ela sobre mim eu parecia um vulcão em erupção, seu corpo leve, delgado e fresco era a antítese completa do meu, mas, ainda assim, ela me resfriava... me equilibrava e me completava.

- Meu Jacob Black fervendo- ela ronronou no meu ouvido.

Aquilo foi demais, eu a abracei com mais força ainda e minha mão tocou sua cintura delineada - Nessie usava apenas um leve blusinha branca apesar da garoa gelada, mas ela não sentia frio tão fácil assim e junto de mim jamais sentiria – o contato com sua pele macia me virou a cabeça, eu já sentira este desejo antes por Bella, mas não se comparava ao que agora eu sentia por Renesmee. Eu a queria. Desejava o corpo dela junto do meu e percebi quase envergonhado que o as roupas apenas estavam atrapalhando.

Mas no calor do momento eu me detive, era nosso primeiro dia de namoro e eu não queria passar uma má impressão de descontrole para Nessie, apesar de que ele me vazia perder totalmente o juízo. Além do mais, e por mais ridículo e tosco que pudesse parecer, eu não queria quebrar a confiança de Edward; assim, muito a contragosto eu abrandei o beijo.

- Fiz algo de errado? - ela me perguntou sorrindo travessamente.

- Não, mas bem que você gostaria.

- Jacob Black, está insinuando alguma coisa?

- Não, princesa, é claro que não. Ficar com você é a única coisa que eu estou insinuando neste momento.


Depois, quando cheguei à minha casa e antes de me deitar para dormir eu fiquei um tempão pensando em o quanto o tempo voa quando você está com a pessoa que você ama, as horas tornam-se minutos e os minutos segundos e quanto mais você espera que o tempo demore a passar, mais ele anda depressa para te provocar. E ficamos assim, juntos em meio à relva e a chuva, juntos sem ninguém para se opor a nós e até a mata fechada estava silenciosa presenciando nosso jovem amor. Até que finalmente o celular de Nessie tocou. Ela tirou o aparelho do bolso e rindo virou o visor para mim e lá, daquela pequena tela, a palavra “PAI” piscava incontrolavelmente.

- Polícia Familiar – eu disse rindo.

- Oi pai, sim, não, claro que não, sim, eu sei. Estou indo.

- Muito tarde?

- Não, passa um pouco da meia-noite. Mas, para meu pai, eu já fiquei fora muito tempo.

Caminhamos de mãos dadas e sem pressa – eu ainda gostava de irritar Edward um pouco, afinal, velho hábitos nunca se perdem totalmente – a floresta quieta respirava a chuva que agora caia um pouco mais forte, eu e Nessie sorríamos como dois bobos, mas é algo normal, apenas os bobos sorriem de paixão.

Chegando próximo a casa ela me deu um comportado beijo de despedida, procurando não pensar muito na noite.

- Eu terei de fazer um trabalho de literatura amanhã de noitinha na casa de uma amiga, você poderia me buscar lá.

- Claro que sim. A que horas?

- Acho que até as sete horas nós já terminamos tudo, te mando uma mensagem pelo celular com o endereço, eu não lembro agora, mas sei que anotei em algum lugar.

- Tudo bem, princesa. Amanhã eu passo lá, agora acho melhor você ir porque se não me engano aquela é a cara feia do seu pai.

- Beijo? Ótimo, agora posso ir, te amo lobinho.

- Eu também te amo.

Eu acenei para Edward, ele fez uma careta e eu entrei na mata rindo por pensamento, eu sabia que ele estava ouvindo mesmo; logo, tirei minhas roupas e amarrei-as do melhor modo que pude em volta do corpo, num segundo já corria para casa galopando entre as árvores e a chuva. Eu estava feliz.

Os segredos que o coração esconde são tantos que nem somos capazes de imaginar, quando um homem ama uma mulher então, o mundo parece se transformar e se moldar ao sentimento que existe entre os dois. Quando um lobo ama uma vampira, as coisas parecem ainda mais fantásticas e tórridas.

Então eu ouvi uma risada alta em minha mente. Seth.

Alguma novidade?” – eu perguntei tentando parecer sério.

Desculpe atrapalhar os seus pensamentos. Sim, encontrei um cheiro de vampiro numa árvore um pouco além do nosso território, mas estava fraco por causa da chuva e se perdeu no pântano que fica mais para baixo na porção leste da Reserva. Não sei dizer se é antigo ou não, eu segui mais um pouco, mas não encontrei nada, na verdade ele parece ir para três lugares diferentes.”

“Estranho, ou ele fez vários caminhos indo e voltando ou é mais de um vampiro, mas não se arrisque sozinho, Seth, além do mais o cheiro não parece ser fresco; se precisar me avise imediatamente.”

“Certo, chefe.”

“Seth, não me chama de chefe.”

“Desculpe, chefe, eu esqueço sempre.”

Com isso corri para casa para voltar a ser eu mesmo e poder ter meus pensamentos apenas dentro da minha própria cabeça. Eu me sentia bem apesar de tudo, tudo o que me aconteceu, tudo o que vivi e tudo o que sofri, no fim das contas eu me saí bem eu acho; consegui me estabelecer em La Push, tinha um emprego, terminei a escola a um tempinho e agora namorava a garota mais linda do universo. Eu às vezes não acreditava na minha própria historia.

Afinal, quem diria?

Um lobo e uma vampira se amando.