Candor Lunar - Livro 1

Capítulo 28 – Quando os bravos se calam


Dizem que quando morremos a nossa vida passa diante de nossos olhos... como num filme. Mas eu descobri que não funciona deste modo, eu ouvia apenas o farfalhar das folhas das árvores ao meu redor, uma luminosidade cálida recaia sobre mim e era captada mesmo estando com os olhos fechados.

Havia um cheiro diferente no ar, algo como jasmim ou lavanda e eu sentia meu corpo confortavelmente deitado em algo macio e agradável; eu tinha certeza que estava morto porque meu corpo não doía, mas eu não estava com medo. Então, inspirei profundamente e abri meus olhos ao mesmo tempo em que me sentava e minha visão surpreendeu-se de imediato, havia uma floresta de árvores frondosas e troncos esguios e acinzentados, o sol era filtrado pelas folhas largas e milimetricamente perfeitas que balançavam suavemente ao sabor de um vento doce e quente, sob meu corpo e por toda a extensão que minha vista pode alcançar, um gramado corria perfeitamente aparado o que me deixou extasiado, afinal, era difícil um gramado tão lindo e verdejante conseguir crescer em meio à floresta e às sombras das árvores. Mas não havia umidade sob esta floresta linda e estranha e eu percebi, então, que não se tratava de uma mata qualquer e sim... de um jardim, um jardim cuidadosamente cultivado.

Levantei-me com cuidado e percebi que estava descalço e vestia roupas folgadas e macias com o tom esverdeado e cinza das árvores e sem medo comecei a caminhar pela mata em direção a uma clareira que se abria a poucos metros além... lá, o sol fulgurava sublime e desimpedido e meu coração ficou leve... algo me chamava até lá. Uma força que eu desconhecia me atraia para aquela luz dourada e sorridente, uma luz que me aquecia e que falava comigo dizendo que tudo ficaria bem e que eu estava em casa. Mas o estranho é que não me recordo de como cheguei até aqui ou de como havia morrido, uma tristeza ausente se apoderava de meu coração, mas eu não sabia explicá-la ou definir de onde vinha.

Meus passos eram abafados pela grama fofa, o céu luminoso de um azul absurdamente claro me olhava com ternura e o sol me aquecia apesar de não queimar minha pele, o vento brando sussurrava palavras felizes e todo aquele imenso jardim parecia me dar às boas vindas... era como se eu, de alguma forma inexplicável, estivesse voltando para casa.

Finalmente, atingi a claridade e sai da floresta de árvores idênticas, lá mais abaixo de onde eu me encontrava corria uma planície absoluta e o gramado verde se estendia até o horizonte... vi muitas pessoas reunidas lá em baixo e havia risos e musica. Meu coração ficou leve e eu me esqueci daquela tristeza que pesava em meu peito e comecei a lentamente me dirigir até a multidão... o firmamento, apesar de azul, também estava estrelado e a lua e o sol dividiam o céu ao mesmo tempo... era um lugar fantástico, entretanto, antes mesmo de eu dar dez passos em direção à planície, uma voz estranhamente familiar me chamou.

- Jacob Black... eu estava esperando por você!

Eu me virei automaticamente para trás e vi um rapaz alto e sorridente encostado em uma árvore, seus olhos cintilaram para mim à sombra da floresta e seu sorriso se alargou quanto parei e dei alguns passos cambaleantes em sua direção; eu o conhecia e ele me era muito caro, mas eu não recordava de seu nome... ele tinha o mesmo tom de pele que eu e seus pensamentos me eram familiares e amigáveis.

- O começo é assim mesmo, você fica desorientado... mas isso passa – tornou a dizer o rapaz.

- Sam... – eu chamei de repente – Sam Uley...

- Ah, pensei que jamais se lembraria do meu nome... – disse ele caminhando em minha direção e me abraçando com força, eu o olhei com estranheza e me perguntava se tudo não passava de um sonho estranho... o mais estranho dos sonhos.

- Nós... estamos mortos? - eu perguntei.

- Sim... – ele respondeu deixando de lado o sorriso.

- Estamos nos campos eternos?

- Ainda não, você acabou de sair do Jardim... é o começo, ali, mais adiante, ficam os Campos Eternos... onde nossos irmão agora estão reunidos.

E então, de repente, uma garota bonita se levantou olhando para nós lá à distância, seus cabelos esvoaçavam ao vento e eu percebi que ela estava sorrindo e acenando para nós...

- Leah... – eu sussurrei – E porque você está aqui e não com eles?

- Ah, eu estava esperando por você, Jake.

- Obrigado, mas acho que agora nós podemos nos juntar aos outros, não é?

- Na verdade não... – disse Sam sério – Você ainda não pode se juntar a nós, irmão, e foi por isso que esperei você aqui... na entrada. Você ainda não pode vir conosco, Jake... precisa resolver alguns problemas antes.

- Problemas? - eu perguntei estranhando.

- Renesmee – ele disse com cuidado.

Eu não me lembrei do nome que ele disse, mas algo em seu olhar me fez ficar imaginando... e então, depois de alguns momentos, eu me recordei de uma linda garota de cabelos castanho-acobreados e de expressivos olhos brilhantes... uma pele clara como a neve e uma voz melodiosa e doce. Lembrei-me de tê-la amado em uma tarde e de ter posto um anel dourado em seu dedo... me lembrei de sua voz, de suas lágrimas e de toda uma vida ao seu lado... eu me lembrei dela

- Nessie... – eu suspirei.

- Sim, Jake... agora você está se lembrando?

- O Exército... eu e você fomos mortos... e ela foi levada pelos vampiros...

- Sim, e você precisa voltar para resgatá-la... você não nasceu para morrer assim, Jacob Black e também não pode permitir que aqueles malditos levem Renesmee para longe de você... você tem que voltar Jake... ainda não pode entrar nos Campos Eternos conosco.

- Mas eu não posso voltar, Sam... estou morto.

- Ainda não, irmão... ainda não – ele disse enquanto levantava o braço e tocava o meu ombro direito, imediatamente uma dor aguda e lancinante me tomou no ponto aonde a mão de Sam havia encontrado e eu cai para trás num misto de dor e fogo, mas antes de tocar no solo, Sam me abraçou e me segurou e sussurrou no meu ouvido – Vá para casa, irmão, um dia nós nos veremos novamente... mas não agora... não agora... e diga a Emily que eu a estou esperando aqui.

E a imagem de Sam se foi e eu caí na escuridão, nuvens de tempestade roncaram em minha mente e eu ouvia choro e gritos de agonia... a dor me queimava por completo girando minha cabeça e não me permitindo gritar. As árvores belas e o gramado fresco partiram e eu desabei em uma agonia solitária e triste, sentia calafrios percorrendo meu corpo e senti medo e tristeza... e depois disso... silêncio... mas não durou nem um segundo.

Eu ouvi minha própria voz gritar em agonia e a dor em meu ombro pareceu aumentar um milhão de vezes e eu levantei num rompante de raiva e minha visão clareou instantaneamente, minhas mãos agarraram o corpo de alguém e eu senti o cheiro do meu próprio sangue em suas vestes e logo uma voz doce e assustada tocou os meus ouvidos enquanto eu sentia mãos frias me segurarem.

- Meu Deus do céu, Jacob... você está vivo...!!!!

E eu baixei meus olhos e encarei o rosto assustado de Kaori que me olhava como se eu fosse um fantasma, com uma mão ela apoiava meu corpo e com a outra segurava uma brilhante lança prateada donde meu sangue pingava em profusão, eu sufoquei levemente e tossi algumas vezes enquanto me desvencilhava das mãos de Kaori e me encostava novamente no tronco nodoso da árvore.

- Dr. Cullen, corra aqui... Jacob está vivo – eu ouvi a voz dela gritar.

Havia uma fumaça negra no ar e um cheiro ocre de queimado, as árvores estavam cobertas de uma poeira cinza e brilhante e o sol vermelho e sanguinolento já se inclinava para o horizonte, sombras esguias se lançavam sobre o campo e eu não conseguia respirar direito.

- Jacob, você está bem? - eu ouvi a voz de Carlisle ecoar em meus ouvidos.

- Carlisle... – eu comecei – O que aconteceu?

- Bem... – ele disse com cuidado – Você morreu.

- Não sabia que a morte doía tanto – eu disse me levantando com sofrimento e Carlisle me auxiliou, percebi que em volta da minha cintura fora amarrada uma capa vermelha para cobrir a minha nudez.

- Você realmente morreu, Jacob... até que Kaori veio retirar a lança de seu ombro para libertá-lo da árvore e carregar seu corpo para perto dos... outros. Então do nada você gritou feito um louco e se levantou... quase matou Kaori de susto.

- Quanto tempo... eu fiquei morto?

- Vinte minutos eu acho – ele respondeu me olhando assustado – O seu fator de cura de Lobo foi completamente exaurido durante a batalha e não se recuperou quando a lança atravessou seu corpo e você foi atirado através do campo de encontro a esta árvore... o impacto foi grande demais, mas, de alguma forma inexplicável, o fator de cura deve ter se ativado novamente e por isso você voltou do mundo dos mortos... um verdadeiro milagre.

- Sam... – eu sussurrei do nada, Carlisle me olhava com espanto ainda – Não se preocupe... eu estou bem.

- Eu sei e fico feliz por isso, filho. – ele disse me abraçando com força – Tive medo de tê-lo perdido também.

- Onde estão todos?

- Os que sobraram estão por aí, Jake, juntando os mortos...

- Quantos? - eu perguntei mesmo não querendo saber.

- Emett, Rosalie, Ahmed... e Benjamin – disse Carlisle com o olhar devastado.

- Benjamin?

- Sim... ele caiu um pouco depois de você ser atingido e antes de Flávius Aurélius dar a ordem para a retirada...

- Edward? - eu quis saber.

- Seth está procurando por ele... – e a voz de Carlisle sumiu, mas ao menos eu soube que Seth ainda vivia.

- Os lobos...? - eu perguntei e meu coração pareceu descer até o estômago.

- Dos quarenta que vieram... apenas doze voltarão...

- Meu Deus... – eu me assombrei e tive de encostar-se à árvore novamente – Vinte e oito mortos...

- Eu sinto muito... – ele disse e depois se afastou de mim sumindo entre a fumaça que agora singrava em fiapos pelo campo de batalha.

- Sinto muito, Jake – disse Kaori me olhando com tristeza, seu rosto marcado por trincados finos em sua pele de mármore e seus olhos perdidos em pensamentos – Eles levaram Nessie...

- Eu sei... – eu respondi simplesmente.

Lentamente, eu sentia o ferimento em meu ombro se fechando... a carne cicatrizando, eu comecei a vagar sem rumo pelo campo de batalha, Carlisle, Garret e Kaori estavam atirando os pedaços dos vampiros que restavam na fogueira que ainda ardia... num canto, Esme estava ajoelhada diante de um amontoado de cinzas fumegantes, provavelmente da fogueira onde Emett e Rosalie foram atirados; Kate a abraçava enquanto Esme balançava seu corpo para frente e para trás num choro seco e mudo.

Eu caminhava devagar e as lágrimas correram pelo meu rosto no momento em que cheguei próximo a um amontoado de corpos enfileirados uns ao lado dos outros, na ponta eu me ajoelhei perto de Sam com seu corpo destroçado pelo ataque dos vampiros... ele morreu por nós todos.

- Obrigado por ter me mandado de volta... irmão. – eu sussurrei.

Ao lado de Sam descansavam Jared, Paul e Leah... a visão de Leah sem vida tirou todo o ar de meus pulmões... Quilan cresceria sem mãe... um ódio cego e potente cresceu em meu coração e eu jurei vingança eterna aos Mercadores da Morte, mas meu ódio morreu instantaneamente... eram milhares de vampiros... o que eu poderia fazer contra eles?

- Jacob – chamou uma voz conhecida e eu me virei para o jovem Ryan, ele também usava um trapo vermelho, restos das túnicas dos Mercadores em volta da cintura, um segundo depois ele me abraçou com os olhos vermelhos de lágrimas – Você está vivo... Jake.

- Ryan, onde estão os outros? - eu perguntei.

- Peter e Willian estão vivos, com a ajuda de John, Dennis, Bart e Jeremia estão levando os corpos dos nossos irmãos novamente para a Reserva... é uma longa viajem, eles saíram a pouco e ainda não retornaram.

- Quilan?- eu perguntei com medo.

- Está lá... com Jasper – respondeu Ryan apontando para o outro lado do campo e seu tom de voz gelou a alma.

Eu caminhei em meio fumaça enegrecida com meu corpo dolorido, Jasper estava ajoelhado no gramado e o corpo de uma criança pendia em seus braços... um medo avassalador tomou conta de mim, se Quilan estivesse morto eu jamais me perdoaria... Leah já partira para o outro mundo, se Quilan a tivesse seguido, minha alma morreria com ele. Chegando mais perto, Jasper parece ter ouvido meus passos porque se virou para mim no momento em que eu me ajoelhava ao seu lado.

- Você está vivo... – ele disse sem muita convicção, havia vários cortes em sua pele de cristal e muitas marcas de dentes... seus olhos estavam distantes e tristes, eu deveria estar assim também, hoje eu e Jasper éramos irmãos de sofrimento pois as mulheres que amávamos foram tomadas de nós.

- Quilan? - eu perguntei a ele.

- Os ferimentos são profundos e ele é muito jovem, o fator de cura dos lobos está tentando consertar os estragos, Carlisle disse que demorará muito até que ele se recupere... ele está vivo... mas muito, muito ferido. Eu não sei de que material é feito os lobos, Jacob, mas é a raça mais corajosa que já conheci; se não fosse por este menino... eu estaria morto. Minha divida para com ele será eterna.

- Quilan? Você está me ouvindo? - eu perguntei apoiando minha mão em seu rosto.

- Jake? - ele respondeu numa voz assustadoramente fina, estava pálido como um vampiro e seus olhos semicerrados me focavam com dificuldade, seu rosto estava marcado por hematomas e seu sangue empapava a túnica vermelha com que Jasper o cobrira, mas alguns cortes já se fechavam indicando que o fator de cura de seu corpo estava curando-o lentamente – Me perdoe por tê-lo desobedecido...

- Não se preocupe com isso agora, menino... – eu respondi enquanto lágrimas quentes começaram a rolar pelo meu rosto.

- Eu tinha que ajudar você a resgatar Nessie... ela é minha amiga – ele disse fracamente.

- Você ajudou, Quilan... ajudou muito e sua coragem será celebrada em nossas canções...

- Jake? Onde está a minha mãe?

- Ela está nos Campos Eternos junto dos outros... – eu respondi com minha voz falhando perigosamente – Ela está feliz e com saudades de você.

Quilan não respondeu por que havia lágrimas em seus olhos e ele adormeceu de exaustão, sua dor pela perda de Leah duraria para sempre... Volturis malditos, por causa de sua ambição desmedida uma criança cresceria sem a mãe. Eu me levantei com o peso de todas as mortes em minhas costas, quantas famílias destruídas... pais que não veriam mais seus filhos... esposas que não veriam mais seus maridos... filhos que jamais voltariam a ver os pais.

Eu estava exausto, exausto como jamais estive... ouvia o pranto dos lobos que permaneceram vivos por aqueles que haviam partido... Esme estava inconsolável pela morte de Emett e Rosalie, a lembrança de Nessie sendo levada pelos Volturi não deixava a minha mente. Eu vaguei até a borda da floresta onde Edward havia desaparecido enquanto lutava com Felix... um pouco depois Seth surgia em minha frente; ele me encarou com descrença no começo, em seguida seus olhos encheram-se de água e ele me prendeu em um abraço forte e desesperado.

- Jacob... pensei que você havia morrido.

- Eu morri... mas voltei – eu sussurrei e em seguida o afastei sem coragem de encará-lo – Seth, a morte de Leah... eu sinto muito, foi minha culpa.

- Não – ele rugiu enquanto me olhava e havia ódio em seu olhar – Não, Jacob... minha irmã não morreu por sua causa... ela morreu fazendo o que achava certo e a culpa será sempre deles... foram eles que vieram aqui com maldade em seus propósitos. A culpa não é sua.

- Seth – eu disse depois que percebi que ele trazia um trapo na mão, os restos de uma camisa que eu sabia a quem pertencera – Edward?

- Eu só encontrei isso – disse Seth com angustia mostrando o que sobrara da camisa de Edward – Eu não o localizei em lugar algum, procurei, mas o cheiro dele sumiu no rio que passa aqui por trás... eu temo que eles o tenham... desmembrado e atirado seus pedaços na correnteza... teria o mesmo efeito que o fogo.

- Eu não acredito nisso... – eu disse passando as mãos pelo rosto – Ele não pode ter morrido.

- Jacob – chamou de repente Garret que se aproximou de nós – Fico feliz que esteja vivo... o que você encontrou, Seth?

- Apenas isso... – disse Seth mostrando os restos da camisa de Edward – O cheiro dele se perde nas margens do rio.

- Meu Deus... – suspirou Garret – Bella jamais se recuperará.

- Nós estamos bem longe de rever Bella, Garret... – disse Seth com angustia.

- Não diga isso, Seth – eu falei – Nós temos que encontrar um jeito de reavê-las.

- E como você espera que façamos isso, Jake? Os lobos foram quase que praticamente dizimados, Emett e Edward estão mortos... e os malditos tem um exército gigantesco que acabou de nos aniquilar... como poderemos recuperar Bella, Alice, Quill e Nessie?

- Devemos preservar a esperança com todas as nossas forças, Seth – disse Carlisle se aproximando de nós – Ou já teremos sido derrotados.

- Me perdoe, Dr. Cullen, mas eu não consigo ver esperança quando olho para isso – disse Seth apontando com raiva o campo de batalha.

- Eu também não, Seth... mas que opção temos a não ser cultivar a fé e a esperança? - e em seguida ele retirou das mãos de Seth os restos da roupa de Edward – Você não o encontrou, não é mesmo?

- Apenas isso, eles lutaram durante muito tempo... Edward estava em desvantagem, havia dois soldados auxiliando Felix contra ele... sinto muito Dr. Cullen...

- Eu ainda vou me permitir duvidar que meu filho esteja morto, Seth...

Nós permanecemos em silêncio durante um tempo, logo nos dispersamos e passamos a atirar no fogo os pedaços dos Mercadores da Morte e dos Volturi que jaziam pelo campo, meus irmãos que tombaram em batalha eram colocados ao lado dos outros mortos e eu aguardava a volta do pequeno grupo que iniciara o translado dos corpos até La Push. Nós não tínhamos outra opção, aqueles que sobreviveram tinham que se transformar em lobos e transportar nas costas nossos companheiros mortos, seria uma viajem longa e triste... Garret, Jasper, Carlisle e Kaori se dispuseram a nos auxiliar neste transporte... Esme não conseguia nem ao menos permanecer em pé... a dor pela perda dos filhos a incapacitara totalmente.

Finalmente, após algumas horas, o primeiro grupo incumbido de levar os corpos de nossos amigos retornou, Peter e Willian se transformaram para poderem falar comigo... eles ficaram felizes por eu ainda estar vivo mas as noticias que trouxeram foram devastadoras, muitos dos moradores de La Push agora choravam em prantos as mortes que aconteceram. A culpa me assolou e meu coração se encolheu só de pensar em voltar para a Reserva e encarar a todos... imagino a dor que esta batalha não estava causando a todo o meu povo.

Quando o grupo de carga estava novamente carregado com os corpos dos mortos, eles partiram para mais uma viagem... seria preciso mais uma volta para levarmos todos, Jasper foi com eles... ele passaria na mansão de Carlisle e traria uma urna para que Esme coletasse as cinzas de Emett e Rosalie.

Temendo algum ataque atrasado, eu e Seth nos transformamos em lobos para vasculhar o perímetro, até passou pela minha cabeça seguir o rastro dos malditos, mas seria impossível... o camuflador os teria escondido. Logo que assumi a forma do lobo uma tempestade de pensamentos e fragmentos de angustia me acertou em cheio, os lobos choravam através de suas memórias... nossa coletividade se tornou novamente uma só, afinal, agora eu era o único Alfa e toda a matilha compartilhava seus pensamentos comigo. Eu vi, através das memórias de Peter e Willian Fog, a dor e o pranto das pessoas em La Push... o rosto de Emily ao descobrir que Sam não voltaria terminou de destruir o que restava de meu coração; eu nem ao menos queria pensar em como Roger ficaria depois que soubesse que sua esposa estava morta e seu pequeno filho gravemente ferido.

Como previsto, não havia nem sinal dos malditos Volturis ou de seu exército da morte, eles haviam desaparecido no ar como uma névoa amaldiçoada; nunca vou me esquecer do olhar de tristeza profunda que Nessie me lançou no momento em que era levada... num segundo nossas vidas estavam completas e no outro eu me arrastava por entre as ruínas de uma batalha. O destino, realmente, é inexorável.

Depois que o sol se pôs, as estrelas surgiram límpidas e cristalinas no céu escuro... jóias belas que pareciam rir da minha miséria; Renesmee adorava as estrelas e eu me perguntei se algum dia conseguiria vê-la sorrindo novamente quando olhasse para o céu noturno. Não havia esperança... Seth tinha razão, no dia de hoje a esperança não conseguia se esgueirar para dentro de meu coração.

Os lobos voltaram junto com Jasper que trazia nas mãos uma pequena ânfora... obviamente guardada por Esme como um mero enfeite decorativo e que agora serviria de urna fúnebre para Emett e Rosalie. A perda é algo realmente interessante, uma ausência suplicante que não te permite pensar em outra coisa, uma tristeza pegajosa que te suga para baixo como uma areia movediça e que não deixa você respirar; a morte sempre me faz imaginar o quão solitário nós somos e não importa quantas pessoas te amam... você sempre morrerá sozinho.

Novos pensamentos me apunhalavam quando o grupo chegou, todos entristecidos demais... Carlisle acomodou o corpo de Sam sobre o meu e em seguida o restante dos mortos foi arrumado sobre o grupo e nós partimos rumo a nossa casa... cansados, feridos, entristecidos e derrotados.

A viagem foi uma verdadeira via crucis... andávamos em silencio, o corpo de Leah sobre Seth que caminhava atrás de mim, Paul sobre Embry e Jared sobre Peter... Rachel iria ficar arrasada... Quilian respirava com dificuldades, mas ele já estava melhorando e Jasper o carregava com cuidado. A floresta sombria nos acolhia escondendo de nós o brilho das estrelas longínquas... tudo era escuridão e eu pensei em alguns momentos que estava caminhando em um pesadelo horrível que não parecia terminar nunca.

Eu não via as horas passando, era estranho caminhar devagar e eu percebi que de repente começou a garoar e compreendi que nos aproximávamos da Península do Olympic. Um vento gelado uivava em meus ouvidos e meu coração foi deixado para trás... não, não para trás... meu coração foi levado para além do grande oceano, para uma terra desconhecida e odiosa chamada Volterra.

Eu já ouvia o choro das pessoas antes mesmo de encontrá-los, numa pequena clareira no centro da Reserva eu os vi reunidos pranteando os mortos... a medida que saímos da floresta para a claridade das tochas e da fogueira o choro aumentou ainda mais. Eu vi meu pai cobrir o rosto com as mãos e chorar copiosamente quando me viu caminhando... mas em seguida o grito desesperado de Emily me chamou a atenção, eu me deitei no chão quando ela correu e agarrou com força o corpo de Sam. Eu fiquei mudo.

Roger agarrou Quilan com força tirando-o cuidadosamente dos braços de Jasper, seus olhos recaíram sobre o corpo de Leah e ele ajoelhou-se no chão escondendo o rosto nos cabelos do filho... Claire perguntava por Quill, ela havia se transformado numa bonita garota com seus olhos brilhantes e cabelos negros como a noite, uma tristeza brotava de seu rosto emoldurado quando Carlisle informou a todos que Quill fora levado prisioneiro junto de Alice, Bella e Renesmee.

Havia roupas ali, obviamente aguardando-nos quando voltássemos... eu assumi minha forma humana e vesti apenas um par de calças jeans, havia uma camiseta branca mas eu não quis usá-la... o meu ombro ainda não se curara completamente e havia sangue no ferimento... numa peça de roupa branca chamaria ainda mais a atenção.

Meu pai me puxou junto dele e chorou no meu ombro, ele agarrou meu rosto para ter certeza de que eu estava vivo...

- Willian havia dito que você tinha morrido da primeira vez que eles vieram... – ele falou com uma voz rouca – Eu temi ter perdido você, meu filho.

- Eu estou bem, meu pai... ao menos fisicamente.

A visão de Rachel chorando sobre Paul me deixou ainda pior... Vanessa Fog abraçava os filhos enquanto o Velho Cain não tirava os olhos da fogueira... ele havia previsto esta grande desgraça, havia previsto a tempestade que caiu sobre nós, mas ele também sabia que toda esta tristeza seria inevitável.

Foi decidido, entre o pranto e a tristeza, que os nossos irmãos seriam velados na mesma noite e seus corpos cremados ao nascer do sol do segundo as nossas tradições. Numa praia em La Push seriam erguidas as piras funerárias e todos os corpos seriam enviados a eles para que suas almas não ficassem sem moradia no outro mundo. Carlisle se despediu de nós prometendo estar presente na cremação... ninguém sentia raiva dos Cullen propriamente dito mas a presença deles apenas aumentava a comoção geral, afinal de contas, a tristeza foi trazida a La Push através dos vampiros.

Eu deixei os que choravam... deixei os que estavam em luto, eu não conseguiria permanecer ali por muito mais tempo; Vanessa estava fazendo curativos nos feridos mas eu não me importei, meus ferimentos sarariam com o tempo... mas a ferida aberta em meu coração jamais se fecharia completamente. Eu abracei minha irmã e meu pai e os avisei que iria para casa, ficar ali em meio aos que sofriam não me acrescentaria em nada, afinal, eu já havia visto meus irmãos morrerem em batalha... não precisava vê-los sendo velados.

A solidão do meu quarto era impressionante, o silêncio era tão avassalador que me pareceu ensurdecedor... eu me atirei sobre a cama e ali fiquei imaginando tudo o que aquele dia havia representado e tudo o que eu havia perdido. Amigos, irmãos... minha Renesmee. Eu morri e retornei, Sam me enviou de volta para salvá-la, mas eu não via aonde conseguiria forças para poder atravessar os mares e resgatá-la... ninguém conseguiria fazer isso...

Mas então, subitamente, uma lembrança me retornou como um raio em minha mente... eu me lembrei de estar morrendo e me lembrei de um General empunhando uma lança... e me lembrei de suas palavras estranhas...

“A sua incerteza é uma certeza. Aquele a quem você julgava perdido ainda vive... ele detém o segredo necessário para que você recupere suas filhas e sua neta. Vá até onde a Voz do Mundo pode ser ouvida e você o encontrará”.

Estas foram as palavras de Flávius Aurélius para Carlisle e eu não as compreendia... mas talvez estas palavras enigmáticas contenham a salvação que nós estamos buscando, só me restava esperar o amanhecer para perguntar a Carlisle. A minha exaustão me tomou e mesmo em meu sofrimento eu adormeci num sono sem sonhos.

Antes do amanhecer eu fui despertado por Rachel... ela me chamava para levantar pois o sol nasceria em breve e o funeral aconteceria; minha irmã me abraçou com força, meu corpo quase não respondia à minha vontade e estava tão dolorido que eu preferiria ter ficado deitado... mas eu era único Alfa agora e seria um desrespeito faltar ao funeral.

- Eu fico feliz que você esteja vivo, Jacob – Rachel falou em uma voz fraca.

- Sinto muito por Paul... Rachel - eu consegui dizer, ela apenas acenou com a cabeça e saiu do quarto entre lágrimas.

Eu tomei banho para tirar o sangue e a sujeira do meu corpo, meu pai me aguardava em silencio na cozinha, eu apenas acenei para ele e me coloquei atrás de sua cadeira de rodas para conduzi-lo até o carro. Ele levantou a sua mão pousando-a sobre a minha, eu sabia o quanto ele estava sofrendo com tudo isso e por imaginar que havia perdido o único filho. Eu, meu pai e Rachel entramos no carro e seguimos através das estradas lamacentas até a praia que ficava abaixo do penhasco de Second Beach, seria lá o funeral de nossos irmãos.

O dia estava nublado, entretanto, as nuvens estavam espaçadas nesta manhã fria e triste que acabava de nascer e alguns raios de sol conseguiam perfurar o teto insuperável das nuvens altas. Havia mais carros nos acompanhando e ao chegarmos à praia eu vi todos os moradores de La Push reunidos por ali e achei irônico: a alguns anos os lobos eram um segredo até para os moradores da Reserva e agora todos sabiam da sua existência.

Eu forcei a cadeira de rodas de meu pai contra a resistência da areia da praia, o barulho constante das ondas se quebrando era hipnótico e encobria um pouco o pranto dos que cercavam os mortos.

Havia 28 piras funerárias erguidas... a de Sam Uley era a primeira. Eu me aproximava quando percebi que Carlisle, Jasper, Kaori e Garret estavam presentes... Esme, pelo visto, não tinha forças para participar de um funeral. Eu os cumprimentei com apenas um aceno de cabeça e aguardei enquanto a multidão se reunia um pouco mais distante, permitindo que a cerimônia do funeral começasse.

Eu vi quando o velho Cain Fog era aparado por seus dois netos, Peter e Willian, enquanto caminhava até perto das piras e voltava sua atenção para a multidão que aguardava, o choro foi contido, mas os soluços ainda eram ouvidos; Cain olhou uma vez para as 28 piras e com um suspiro voltou sua atenção para nós, falando numa voz forte... mas sem expressão.

- Estes serão os dias de luto e eu os nomeio o Dia da Grande Tristeza, e no futuro este dia deverá ser lembrado e nosso coração devera se entristecer pois muitos de nossos bravos guerreiros partiram deste mundo para sentarem-se diante da Fogueira Imperecível. É-me estranha a morte apesar de que ela se aproxima de mim, mas não considero natural que os velhos enterrem os jovens... isso é triste.

- Mas vejam – ele continuou apontando para as piras – Estes são os Grandes Lobos que tombaram em batalha, estes foram Guerreiros da Poderosa nação Quileute e nós devemos saudá-los pois eles impediram uma grande invasão de Frios. A tempestade caiu sobre nós e trouxe consigo um manto de escuridão e tristeza, mas devemos nos sentir gratos, pois estes guerreiros afastaram a tempestade... e agora correm felizes nos Campos Eternos.

- Eu sou Cain Fog, filho de Eremias Fog e neto De Cain Fog Sênior... e declaro que o dia de hoje será conhecido como o Dia da Grande Tristeza.

Então, um a um, os parentes dos mortos se aproximaram das piras para acendê-las... a Rachel foi dada, pela mãe de Paul, a oportunidade de enviar o corpo de Paul ao seu espírito no outro mundo; era uma honra muito grande. Eu vi quando Roger deixou Quillan - que já se recuperara muito de seus ferimentos – nos braços de Sue e caminhou com lágrimas nos olhos para acender a pira de Leah.

Emily parou por um momento e então veio em minha direção com a tocha acesa, meu coração de um salto e eu não consegui encará-la.

- Sam Uley foi um Alfa, Jacob Black – ela disse – E ele ficaria honrado se outro Alfa enviasse seu corpo para os Campos Eternos.

- Eu não mereço esta honra... Emily – eu respondi envergonhado.

- Você lutou ao lado de Sam... e ele o amava. – ela disse me passando a tocha e eu não pude recusá-la, mas, antes de seguir pela praia até a pira de Sam eu abracei Emily sussurrando em seu ouvido.

- Ele pediu para lhe dizer que a está esperando... do outro lado.

Emily apertou os braços ao redor do meu corpo e então me soltou e foi caminhando para perto de Claire que olhava tudo com lágrimas brilhantes nos olhos; eu tomei fôlego e caminhei até a pira de Sam, os meus passos moendo a areia cascalhenta da praia, as ondas quebrando-se ritmicamente e a espuma do mar salpicando tudo ao redor.

Sam estava deitado sobre uma pilha considerável de lenha, o cheiro de querosene se alastrava por todos os lados e eu sentia o calor insuportável das outras piras que queimavam ali perto, o sol se escondeu novamente atrás das nuvens e minha tristeza ao contemplar a face sem vida de Sam me corroeu como um fogo interno.

- Adeus irmão, eu vou voltar a ver você... mas não agora... não agora.

E dito isso eu atirei sobre a pira funerária a tocha que trazia nas mãos, a lenha estalou e uma fumaça densa se precipitou aos céus lançando o corpo de Sam ao seu espírito que aguardava no outro mundo. As 28 piras funerárias agora ardiam num fogo alto e constante, nossos irmãos partiam para o outro mundo e nos deixavam entristecidos com sua ausência, meu coração partira com eles, eu tive um vislumbre dos Campos Eternos e sabia que todos estavam bem, mas isso não aplacava minha dor.

Após o funeral, as pessoas começaram a voltar para suas casas e seu luto, eu caminhei em direção a Carlisle, mas no meio do caminho senti um pequeno corpo abraçando minhas pernas, olhei para baixo e vi Quillan com lágrimas nos olhos, eu me abaixei e o peguei no colo apertando-o com força.

- Jake... eu sinto muito.

- Não sinta... você lutou com coragem e sua mãe estará orgulhosa.

Eu soltei Quillan e ele correu novamente para o pai, Roger não me olhou... ele jamais me perdoaria, não compreendia o que os Lobos significavam ou o significado de ser um lobo, mas eu não o culpava, sua esposa estava morta e seu filho pequeno cresceria órfão de mãe.

Carlisle me cumprimentou, assim como Jasper e Garret e Kaori me deu um abraço apertado, a multidão desviava-se de nós e não ousava chegar perto dos vampiros, mas nenhum deles se importou.

- Eu não os culpo – disse Carlisle – Eles têm todo o direito de sentir apreensão por vampiros, ainda mais agora.

- Você também não tem culpa, Carlisle. – eu disse.

- Mas ainda assim, nossa família será a responsável, Jake... afinal, se não tivéssemos vindo para cá os lobos não existiriam... mas também muita coisa não teria acontecido.

- Como está Esme?

- Inconsolável... como todos nós.

- Eu sinto muito...

- Todos sentimos, Jacob... aliás, hoje a noite enterraremos as cinzas de Emett, Rosie, Ben e Ahmed... gostaríamos que estivesse presente.

- Eu estarei lá, mas não seria melhor enviar as cinzas de Benjamim a Amun?

- A afeição de Amun para com Benjamin se estendia mais ao dom do que à pessoa. Amun sentirá falta do poder de Ben e não de sua presença... ele morreu por nós assim como Ahmed e será enterrado conosco.

Eu não pensei muito durante o dia todo, meu corpo... assim como a minha alma pareciam amortecidos e sem vida, a imagem de Renesmee não me saía da cabeça e a dor pela sua perda me queimava como brasa incandescente. Eu imaginava como poderia tê-la novamente, ou como poderia resgatá-la... assim como Bella e Alice, mas a esperança não tinha lugar no dia de hoje, não havia como ser otimista.

Estranhamente, as nuvens de chuva se afastaram durante a tarde revelando o brilho glorioso do sol, mas mesmo o céu azul e límpido não foi capaz de aplacar a minha tristeza; a raiva sempre vinha num rompante e eu me enfurecia para um segundo depois silenciar novamente... preferi ficar sozinho, sentado no meio da floresta... amaldiçoando os Volturi e seu exército da morte.

Tudo a minha volta era miséria e dor... minhas forças eram sugadas para o interior da terra e eu me sentia inútil diante das perspectivas sombrias do futuro, as perguntas sem respostas ecoavam em minha mente e o massacre do dia anterior não me permitia descansar. Eu estava exausto, enfurecido, entristecido e perdido.

A noite se aproximou lentamente e Seth veio até minha casa para irmos juntos à mansão de Carlisle... eu não sabia o quão dolorido seria a visão daquela casa e imagino como Esme se sentia vendo-a completamente vazia agora. Afinal, da família original restaram apenas Carlisle, Esme e Jasper...

Como previsto, meu coração silenciou quando eu avistei a mansão, aquela casa imensa onde tantas alegrias ocorreram... tantas festas e risos, agora estava completamente morta e sem vida. Eu jamais conseguiria ir até a casa de Bella e Edward... o cheiro de Nessie estaria lá e eu sabia que não conseguiria dar um passo a mais se sentisse o perfume dela solto pelo ar... eu já lutava com todas as minhas forças para me manter em pé e continuar. Acho que Seth percebeu a minha súbita depressão e bateu em meu ombro me encorajando a prosseguir.

Carlisle, Esme, Jasper, Kaori, Kate e Garret aguardavam do lado de fora... Carlisle segurava uma urna nas mãos, assim como Jasper... Esme segurava duas e eu soube que eram Emett e Rosalie.

Nós caminhamos em silêncio até o quintal e o atravessamos sem qualquer problema, as estrelas faiscavam e a lua cheia fulgurou prateada no céu, não havia sequer uma nuvem para macular o firmamento negro. A tristeza nos acompanhava como uma constante companhia... parecia que o silêncio também nos fora imposto porque não dizíamos sequer uma palavra.

Caminhamos até o rio que dividia as terras de Carlisle e eu temi ter que me aproximar do chalé que agora não continha nenhum de seus habitantes... Bella, Edward e Nessie talvez jamais retornassem para aquela casa elegante e romântica no meio da mata. Mas, por sorte, nós não atravessamos o rio e apenas seguimos pela margem rumo a um pequeno jardim selvagem que Alice e Esme cultivavam um pouco mais distante da mansão... o brilho da lua caiu sobre cinco túmulos quando chegamos ali.

Havia quatro lápides sobre quatro pequenos buracos no chão que foram abertas debaixo de um lindo e frondoso pé de abeto e seria o local aonde as urnas seriam depositadas... eu soube mais tarde que as lápides haviam sido talhadas por Garret naquela mesma tarde.

A primeira pertencia a Emett e a pedra de granito trazia escrita: “Emett, caro irmão e amado filho, seu riso fará falta no silêncio de nosso lar”.

Ao lado de Emett seria sepultada Rosalie e uma pedra de igual cor também talhava “Rosalie, filha e irmã amada... sua beleza e ternura jamais serão esquecidas.

Um pouco mais distante estava a lápide com o nome de Benjamin: “Grande amigo que nos auxiliou no momento preciso... nosso eterno agradecimento por dar sua vida por nós”.

Ainda ao lado de Ben, descansaria Ahmed e seu nome também fora lapidado numa pedra branca e polida: “Ahmed que chegou à ultima hora e morreu por nós, jamais o esqueceremos”.

Havia ainda outra pedra de mármore... mas esta nada cotinha escrita e também não havia um buraco.. eu sabia que este tumulo pertenceria a Edward... mas não perguntei porque ele não havia sido aberto.

Não houve palavras, nem qualquer outra homenagem, as urnas foram depositadas ali e enterradas com tristeza... Esme, em silêncio cobriu de terra as cinzas de Emett e Rosalie e em seguida, auxiliada por Kate, voltou para casa completamente desolada.

Eu fiquei ali, ladeado por Seth e sem conseguir dizer uma palavra... até que finalmente Seth não se conteve e virou-se para Carlisle...

- Porque o tumulo de Edward ainda não está aberto?

- Eu não acredito que ele tenha morrido, Seth. – respondeu Carlisle.

- Você precisa considerar isso, Dr. Cullen.

- Eu sei, meu amigo... eu sei. Mas Edward já me surpreendeu muito em todos estes anos em que vivemos um ao lado do outro... e acredite, eu ainda acho que ele possa me surpreender uma vez mais. Então, a lápide dele só será erigida quando eu tiver certeza que ele não voltará para casa.

Voltamos a ficar em silêncio, eu olhei para o céu e as estrelas faiscavam ainda mais forte agora, o ar estava gelado e a lua resplandecia numa luminosidade prateada e triste, havia um imenso alo luminoso ao redor dela... como uma coroa de muitos quilômetros de extensão, era um fenômeno peculiar e que não acontecia muito ocasionalmente em Forks.

- É o candor lunar... – Disse Carlisle.

- Nas lendas de meu povo... – falou Seth – Isso acontece quando as almas dos mortos se reúnem para dizer adeus aos vivos...

- É lindo... – suspirou Kaori.

- Sim... uma pena que aconteça numa ocasião tão triste – eu completei.

- O que você pretende fazer agora, Carlisle? - Garret fez a pergunta que todos esperávamos.

- Temos uma longa e sombria jornada pela frente... e não posso obrigar ninguém a vir conosco. – ele respondeu taciturno.

- Eu vou com você – eu disse sem pensar – Não permitirei que Nessie fique nas mãos daqueles malditos... e tenho muitas mortes a vingar.

- Eu também tenho mortes a vingar... – disse Seth – Eu vou com você.

- Eu sempre estarei ao seu lado, Carlisle – disse Jasper.

- Bem... obviamente eu ainda serei de ajuda... estou com vocês... – disse Garret.

- Eu também vou junto – falou Kaori com sua voz farfalhante surpreendendo a todos.

- Querida – disse Carlisle voltando-se para ela – Esta possivelmente será uma viajem sem esperanças, há um exercito há nossa frente e um palácio a ser invadido... nossa morte é mais certa que nosso êxito.

- Eu não vou passar me escondendo, Carlisle – Kaori respondeu com firmeza – Bella, Nessie e Alice também são minha família e eu vi os lobos morrerem em meus braços... não vou ficar para trás desta vez. A morte não mais me assusta.

- E há algum plano? - tornou a perguntar Garret.

- Um que eu jamais imaginava... – disse Carlisle misteriosamente.

- Alguma coisa relacionada ao que o General lhe disse no campo de batalha? - eu perguntei tendo em mente as palavras do vampiro romano.

- Sim... – respondeu Carlisle.

- Do que estão falando? - quis saber Jasper.

- No fim da batalha, quando Jacob foi ferido... Flávius Aurélius veio até mim me trazer uma mensagem...

- Mensagem de quem? - perguntou Seth.

- Eu não sei – disse Carlisle olhando a lua pensativamente – Eu não sei... quando ele veio, pensei que seu intuito fosse me matar mas, ao contrario, mandou que seus Mercadores da Morte girassem as lanças para que o ruído não permitisse que suas palavras chegassem aos ouvidos dos Volturi.

- Ele quis esconder algo dos Volturi? - perguntou Jasper duvidoso – Mas porque faria algo assim? Pensei que ele fosse lacaio daqueles malditos.

- Ah, mas obviamente Flavius Aurélius ainda serve aos Volturi... mas sua atitude é um mistério para mim tanto quanto para vocês – disse Carlisle – E eu ainda estou pensativo com relação à mensagem que ele me trouxe.

- O que ele disse? - perguntou Seth impaciente.

- “A sua incerteza é uma certeza. Aquele a quem você julgava perdido ainda vive... ele detém o segredo necessário para que você recupere suas filhas e sua neta. Vá até onde a Voz do Mundo pode ser ouvida e você o encontrará”.

- O que isto significa no fim das contas, Carlisle?

- Desconfio que Flavius se refira ao único vampiro que até hoje conseguiu escapar das catacumbas de Volterra... um mestre-ancião chamado Erestor. Pelo que minha lógica conseguiu discernir, Alice, Bella, Nessie e Quill serão mantidos prisioneiros em Volterra e para que nós não precisemos passar por todo o exército dos Volturi... teríamos que encontrar Erestor e extrair dele os segredos para entrar em Volterra em total sigilo.

- E você conhece este vampiro? - quis saber Jasper.

- Mais ou menos, ele escapou de Aro quase na mesma época em que eu morava com eles... ninguém sabe como, ao certo. As prisões e as masmorras de Volterra não são trancadas com cadeados ou trancas, afinal, obviamente, nenhum metal ou porta do mundo conseguiria aprisionar um vampiro; as celas são trancadas com encantamentos poderosos que apenas Aro conhece.

- Encantamentos? - assoviou Garret – Então Aro Volturi é um vampiro-feiticeiro?

- Ah, não – disse Carlisle – Aro não é um bruxo e nunca foi ou se interessou por estas artes que ele próprio considera herege... mas há muitos séculos atrás uma família de bruxos servia aos Volturi e Aro percebeu que poderia aprisionar alguns vampiros utilizando de magia para encarcerá-los. Em todos os séculos e dentre todos os prisioneiros que há nas masmorras dos três irmãos, Erestor foi o único, até hoje, que conseguiu escapar de Volterra.

- Mas como? - eu perguntei espantado.

- Aí está o mistério... ninguém sabe. Aro, supostamente, é o único Mestre das Tradições que habita Volterra e o único dos três irmãos que conhece os encantamentos das masmorras... então, teoricamente, ele é o único capaz de abrir ou fechar as celas das prisões. Erestor fugiu há tempos atrás e eu pensava que já estava morto... mas, por alguma razão, duvidava disto... ele foi um vampiro muito ardiloso e escorregadio.

- Porque ele foi preso? - perguntou Kaori.

- Não sei, mas provavelmente por algum capricho de Aro. Erestor tinha um talento especial, era muito parecido com o de Alice, mas funciona só para ele e por alguns instantes... Erestor consegue ver o futuro alguns minutos à frente e por isso tornou-se um mestre na arte das fugas.

- E ele nos auxiliará? - perguntou Seth.

- Não sei – respondeu Carlisle pensativamente – Mas é a nossa única chance de entrar em Volterra sem ter que bater na porta da frente...

- E onde ele está? - eu quis saber, estava começando a ter uma luz de esperança.

- É aí que entra a segunda parte do enigma de Flávius Aurélius... “Vá até onde a Voz do Mundo pode ser ouvida e você o encontrará...” ele disse. Bem, pelo que eu sei, ao noroeste da Nicarágua, na América Central, existe um poderoso vulcão que ainda está ativo tanto que cuspiu lava e entrou em erupção em 1998... este vulcão tem o nome de San Cristóbal... mas também conquistou a alcunha de a ‘Voz do Mundo’, pois seu estrondo é tão grande quando ativo que os nativos acreditam se tratar do grito que vem do interior da terra.

- Então, teremos que ir até a América Central... encontrar Erestor... fazê-lo confessar os segredos necessários para entrar em Volterra e só então partir para resgatar Alice, Nessie, Bella e Quill? - perguntou Seth.

- Sim... – respondeu Carlisle simplesmente.

- E o que estamos esperando? - disse Garret com energia renovada.

- Edward... – sussurrou Carlisle.

- Carlisle... – eu disse colocando a mão em seu ombro – Talvez ele não volte...

- Eu me recuso a crer nisso, Jacob... – ele respondeu olhando o tumulo que pertenceria a Edward – Tudo o que peço é que me deem mais três dias... três dias para esperar sua volta e então nós partiremos rumo à Nicarágua para encontrar Erestor.

- Você terá seus três dias, Carlisle... – eu disse acenando para ele.

Então, ali reunidos, nós concordamos em esperar por Edward... não tínhamos muitas esperanças de que ele continuava vivo mas fizemos isso por Carlisle. Em três dias nós partiríamos para encontrar aquele que supostamente era o único vampiro vivo que conhecia os segredos para entrar em Volterra, e só então poderíamos voltar nossa atenção para a Itália e à libertação de Bella, Nessie, Alice e meu amigo Quill.

Eu ergui meus olhos para o céu escuro e admirei o candor lunar... estrelas cintilaram como joias distantes e eu senti uma nova esperança ramificar-se em meu coração, era pequena e frágil mas ainda assim estava lá.

Eu rezei para que elas estivessem bem... e para que Edward estivesse vivo em algum lugar.

E com os olhos na lua gigantesca e prateada eu sussurrei no espaço escuro e frio...

“Não se preocupe, Nessie... eu estou indo buscá-la”.

FIM DO LIVRO UM

Este é o último capítulo disponível... por enquanto! A história ainda não acabou.