Candor Lunar - Livro 1

Capítulo 11 - O mal que espreita das sombras


Querendo ou não e por mais que você se esforce ou lute contra, é impressionante como acabamos amadurecendo com o passar dos anos. Eu sempre fui muito introspectiva e detestava quando era obrigada a fazer algo em público, aulas de educação física me eram particularmente torturantes e coisas muito chamativas – como certa Ferrari que cria pó na garagem – nunca me foram muito apreciadas. Quando me mudei para Forks há mais de dez anos atrás acabei virando sensação no colégio justamente porque nada acontecia aqui e uma aluna nova era o máximo para os alunos da Forks High School; durante algum tempo ainda pude ver meus antigos amigos da turma, mas quando se tornou evidente que eu não envelhecia tive que me “mudar” para o sul do país e nunca mais voltar.

Agora estou muito mais calma e madura ao lado de Edward – que já tem mais de cem anos – eu me porto como uma perfeita mãe de família... cuidando de meu marido e de minha filha da melhor maneira possível. Parei a tempos de ter meus ataques de intranqüilidade ou irresponsabilidades que tanto matavam Edward de preocupação. O que é uma pena, afinal, agora eu poderia muito bem me jogar de qualquer penhasco ou cair de moto que não faria mal nenhum.

Mas ser uma vampira tem suas desvantagens: todos que você conhece irão morrer mais cedo ou mais tarde... meu pai, minha mãe... os amigos Quileutes que não se transformam em lobos; a dor da perda é algo estranho para mim porque nunca perdi ninguém tão importante. A chegada de Kaori me fez perceber este outro lado, de que nossa grande família feliz possuía suas limitações quanto a ser imortal e Renesmee está no topo desta lista.

Nessie – levei anos para me render ao diminutivo de seu nome – não possui apenas a beleza e a eterna juventude dos vampiros, ela herdou a pele invulnerável e brilhante de Edward bem como sua velocidade, força, sentidos aguçados e imortalidade. De mim ela herdou a parte humana que a torna extremamente vulnerável; por fora Renesmee é praticamente inatingível, mas, por dentro, ela é tão humana quanto qualquer humano normal; seus órgãos internos são frágeis e um impacto potente poderia muito bem matá-la com alguma hemorragia interna ou algo assim. Um acidente de carro ou um golpe poderoso poderiam causar-lhe danos letais e eu me arrepio de saber dessa fragilidade em minha filha.

Por isso meu medo apenas aumenta.

Quando vi a expressão de transtorno no rosto de Alice eu não pude me segurar e atravessei correndo o quintal gramado da casa para apertá-la em meus braços; muito provavelmente depois de Edward e Renesmee, Alice era a pessoa com que eu mais me preocupava em todo o mundo... muitas vezes eu me pegava pensando nisso e ficava com a consciência pesada de coloca-la em um lugar fundamental antes mesmo de meus pais ou Jacob, mas eu não podia evitar porque eu simplesmente era louca por Alice. Nós não combinávamos em nada... eu era o extremo oposto dela e mesmo assim parecíamos irmãs de nascimento de tão bem que nos dávamos; eu amava todos os Cullen, mas Alice era especial demais para mim.

- Irmãzinha – eu comecei – Seu cabelo está cheirando a fumaça.

- Ah, havia alguns pequenos produtores de terra na fronteira com o Nebraska que estavam queimando seus campos para a plantação na primavera... vou precisar de horas no banho para tirar esse cheiro horrível.

- Vocês correram até o Nebraska?

- Bella – começou Jasper muito sério – Por favor, perguntas para depois que Alice se refizer da viajem e Edward, procure não comentar nada do que você viu em nossas mentes.

- Não se preocupe – respondeu Edward – Sam, Jared e Seth estão aqui para uma reunião e Jacob chegará dentro de uma hora no máximo.

- Ótimo.

Alice passou por mim com um sorriso fraco nos lábios, nem mesmo uma sombra da garota serelepe e desinibida que sempre fora. Eu olhei para Edward e ele tinha uma expressão preocupada no rosto.

- Tão ruim assim? - eu perguntei.

- Não sei ao certo.

- Vamos ficar bem?

- Sim – ele disse beijando-me para me reconfortar – Eu jamais vou permitir que aconteça alguma coisa com você ou Renesmee.

- Hum... que é que vai acontecer comigo? – perguntou nossa filha logo atrás de mim, ela veio de nosso chalé e ficamos tão perturbados com Alice que nem a vimos chegar.

- Nada querida... vem cá – eu a puxei e a abracei e um segundo depois Edward abraçava a nós duas.

- Escutem – ele disse olhando para mim e para Nessie – Vocês duas são a minha vida.

- E você a nossa – eu respondi beijando-o e em seguida apertando Renesmee contra meu corpo.

- O que foi que aconteceu? - Nessie perguntou assustada.

- Nada, filha... nada.

Na sala, os três Quileutes aguardavam a chegada de Jacob enquanto conversavam coisas cotidianas com Carlisle, Emett e Jasper que acaba de se juntar a eles; Rosalie e Esme estavam na cozinha que exalava no ar o cheiro agradável de ervas e temperos... Kaori não estava à vista.

Edward sentou-se ao lado de Seth e eu me acomodei no braço do sofá perto deles.

- E então, menino, como anda o trabalho? - perguntou Edward ao amigo.

- Bem, muito bem, quer dizer... há dias que dá vontade de me mandar de lá mas, no geral, está bem. Ensinar a garotada sobre o costume de nosso povo na Escola Tribal é algo muito recompensador... ao menos ajudo a manter viva a tradição de nosso povo.

- Isso é muito importante, Seth. – disse Edward.

- É, bem, espero que daqui a uns dez anos eu aprenda a apostar na Bolsa de Valores e não precise mais trabalhar, assim eu poderia ser um folgado como você. – Seth respondeu cutucando Edward com o cotovelo.

- Ah, que absurdo – riu Edward – Eu já trabalhei muito nessa vida seu projeto de gente.

Os garotos continuaram seu papo informal durante muito tempo tentando não pensar no que a reunião depois do jantar traria, mas havia uma tensão no ar que era perceptível... Sam estava carrancudo apesar de sempre demonstrar simpatia quando falavam com ele e quando o Alfa de uma matilha está preocupado boa coisa não vem por aí.

Alguns minutos depois Jacob chegou para a alegria de Renesmee; ele entrou pela porta gingando aquele corpanzil enorme e acolheu minha filha em seus braços imensos, ele parecia um gigante perto dela... Jacob Black, Alfa por direito de herança e meu melhor amigo... ah, eu amava Jake como um irmão e tudo o que passamos juntos aumentava ainda mais a minha confiança nele; eu demorei a me adaptar, mas agora não consigo ver ninguém melhor que ele para ficar com Nessie, eu sei que ele faria tudo por ela... que morreria por Renesmee se fosse preciso.

Eu apurei minha audição a tempo de ouvir o chuveiro desligar no quarto de Alice, poucos minutos depois o secador de cabelos foi ligado para ela arrumar – ou melhor, desarrumar – aquele cabelo curto e picotado que ela usava. Eu esperei pacientemente ela desligar o aparelho e então me levantei dando de passagem um beijo rápido em Edward e indicando com os olhos o andar de cima. Ele confirmou com a cabeça enquanto eu subia as escadas até o andar superior da mansão.

Levemente bati na porta do quarto de Alice e Jasper e entrei. Ela estava sentada na cama e me olhou com carinho; usava um vestido lilás que ela amava e um par de sapatos baixos e verdes... não sei se era para combinar ou não mas Alice entendia de moda mais que eu. Quando eu entrei, ela suspirou e se deitou atravessada na cama enquanto seus pés permaneceram tamborilando distraidamente o chão; tirei meus tênis e subi na cama me colocando perto dela, ergui sua cabeça e a acomodei cuidadosamente em meu colo. Eu olhei para aqueles olhos dourados e tentei sorrir...

- Você está cheirando bem melhor agora.

- Demorei muito no banho?

- Um pouco – eu respondi sorrindo – Sabe, Esme vai estrear aquele aparelho de jantar que você comprou ano passado na Grécia.

- E pensar que isso me deixaria radiante em outras épocas...

- Aconteceu alguma coisa de grave, não é mesmo?

- Eu não tive visão alguma se é isso que você quer saber, mas há coisas estranhas acontecendo.

- Alice... nós ficaremos bem, eu prometo – eu disse tentando parecer mais corajosa do que era.

- Bell – só Alice me chamava assim, ela levantou-se e se sentou na cama me encarando enquanto segurava firme em minhas mãos – Você sabe o quanto eu te amo não é?

- Claro que sei irmãzinha – eu respondi arrumando uma mecha de cabelo que caia em seus olhos – E eu prometo que não importa o que aconteça, eu sempre estarei ao seu lado.

- Eu me lembro ainda do primeiro dia que nos vimos no refeitório da escola há anos atrás quando você nos viu pela primeira vez, desde aquele momento eu sabia que você seria uma das pessoas mais especiais em minha vida.

- Claro que sim... você previu tudo.

- Não, nem tudo. Mas eu sentia aqui dentro... – ela disse apontando para o coração.

- Alice – eu disse a abraçando – Nós viveremos séculos ainda uma ao lado da outra.

- Sim... – ela respondeu sorrindo – E um dia quem sabe eu melhore seu gosto por roupas...

- Não exagere.

E foi assim, abraçadas, que Carlisle nos encontrou para avisar que o jantar estava servido. Acho que Jacob, Sam, Jared e Seth se banqueteariam durante um bom tempo antes de podermos conversar... eu e Alice descemos uma enganchada na outra em direção ao térreo.

A imensa mesa de jantar de nossa família – que por sinal era raramente usada – foi quase que totalmente preenchida, ficamos tagarelando sobre coisas comuns enquanto os quatro lobos devoravam a farta refeição que Esme preparou com a ajuda de Kaori. O suflê de carne foi feito especialmente para Seth que era viciado neste prato, mas uma porção de saladas enfeitadas e uma variedade de pratos cheirosos ainda tomariam um bom tempo para serem devorados.

Procurando afastar o assunto preocupante para depois da janta, Edward passou a perguntar a Nessie como estava a escola enquanto Rosie e Esme distraiam-se conversando sobre uma possível reforma na sala de jogos da mansão. Emett e Jasper estavam quietos e Carlisle paparicava Alice para tentar fazer com que ela se animasse um pouco. Mas, apesar de todos os esforços era clara nossa preocupação, eu passei em silêncio boa parte do jantar e minha mente flutuou sem rumo por todos os meus temores e anseios... ali, naquela mesa, estava boa parte das pessoas que eu mais amava no mundo e qualquer coisa que as ameaçasse me causava um mal terrível.

Finalmente – ou seja, muito tempo depois – Jacob empurrou seu prato batendo na barriga cheia.

- Dona Esme... vou lhe contar, eu já comi muita coisa gostosa que a senhora fez, mas este suflê estava uma coisa de doido.

- Que ótimo que vocês gostaram Jacob... eu achei que tinha deixado muito salgado – riu-se Esme.

- Não, estava delicioso além da conta... acredite. – completou Seth.

Logo, o silêncio constrangedor se instalou entre nós, na mesa todos se olhavam se perguntando quem daria primeiro as más notícias até que Sam se manifestou.

- Então, a vampira que encontramos no pântano não representa ameaça no fim das contas?

- Não – respondeu Jacob – Kaori é gente fina.

- Hunf – fungou Nessie e Jake revirou os olhos para ela.

- E onde ela está? - perguntou Seth.

- Bem – começou Carlisle – Kaori passou boa parte dos últimos anos sozinha e nós não quisemos abusar muito dela, por isso prometi chamá-la apenas depois do jantar, mas ela já está descendo.

Neste momento tive certeza de que Carlisle a chamou através do laço mental que uniu Kaori a nós; se dirigíssemos nossos pensamentos a ela, eles seriam ouvidos em qualquer lugar da casa.

Segundos depois, Kaori atravessou a porta para a sala de jantar, ela usava ainda o vestido que Alice lhe dera e seus olhos receosos varreram nossas faces, tenho certeza de que se ela ainda fosse humana estaria corada de vergonha. Entretanto, sua beleza não permitiu que os meninos reparassem nisso, até mesmo Sam havia levantado as sobrancelhas surpreso pela nova aparência de Kaori... Seth e Jared afogaram um suspiro.

- Bem gente – falou Jacob – Esta é Kaori... Kaori estes são Sam Uley, Seth Clearwater e o sem graça do Jared; você se lembrará deles apenas pela aparência de lobo eu creio.

- Ah, sim, eles pertencem à matilha... é um prazer conhecê-los – ela respondeu timidamente.

Os meninos foram educados e cumprimentaram Kaori com sorrisos nos lábios, Sam foi um pouco mais formal... ele realmente não se sentia confortável com vampiros estranhos em suas terras.

Kaori sentou-se ao lado de Carlisle e recebeu um sorriso de apoio, o chefe da família Cullen se levantou e olhou para todos nós com uma ruga de preocupação em seu rosto jovial... seus olhos tranqüilos revelavam um ponto de contrariedade que era realmente raro de se ver. Por fim, ele suspirou fundo dizendo:

- Bem, vamos acabar logo com isso. Alice, Jasper... vocês podem falar primeiro, porque nossos convidados também têm algumas revelações a fazer.

Quando ele disse isso eu olhei para os lobos e minha curiosidade se aguçou. O que será que Sam e as matilhas haviam encontrado ou descoberto?

Neste momento, Jasper cruzou os braços sobre a mesa e olhou para nós com uma expressão sombria, Alice fixou o olhar na parede oposta e não se moveu mais.

- Bom – começou Jasper – Acho melhor contar tudo de uma vez... como todos sabem, na noite passada nós verificamos as lembranças de Kaori e constatamos uma movimentação suspeita de três vampiros que estão acampados nos arredores de Seattle, depois disso todos ficamos certamente preocupados e Alice mais ainda. Devido ao aumento das matilhas e a presença de Nessie, sempre precisávamos nos afastar alguns poucos quilômetros para que Alice pudesse ver alguma coisa... não é mesmo, querida?

- Sim... – respondeu Alice saindo de seus pensamentos – Nos últimos anos tudo o que vi foram pequenas coisas, mas nada realmente grave: a chegada de amigos para nos visitar, a queda de Charlie no banheiro aquela vez, Nessie batendo o carro de Carlisle quando aprendia a dirigir, enfim, coisas banais do dia a dia, mas nenhum ameaça iminente.

- Então – continuou Jasper – Como sabem, nos afastávamos poucos quilômetros, no máximo até Port Angeles para que Alice tivesse suas visões; agora, entretanto, nós chegamos a cruzar a fronteira do Nebraska e nada do dom de Alice se manifestar.

- Caraca – exclamou Emett virando-se para Alice– Você não teve nenhuma previsão?

- Não – respondeu ela taciturna – Nenhuma, mas isso não é o pior. Vocês não percebem o problema real? Antes eu precisava me afastar apenas um pouco de Forks para “ver” alguma coisa e agora eu e Jass corremos até o Nebraska para nada, coisa alguma... eu sinto como se algo estivesse agindo contra mim e bloqueando minhas visões, algo obscuro como uma névoa que me impede de contemplar o nosso futuro e isso parece tão... premeditado.

- Sim – recomeçou Jasper – E isso não é tudo. Alice estava decidida a correr até o fim do mundo se necessário, nós paramos no Nebraska e de lá voltamos porque algo muito estranho aconteceu. Enquanto corríamos atravessando a fronteira, passamos por campos de plantação que estavam sendo queimados para a próxima safra e a nuvem de fumaça era tão espessa quanto a neblina mais forte daqui de Forks e, enquanto corríamos, eu pude jurar que ouvi passos apressados atrás de nós.

- Espere... – espantou-se Rosalie – Vocês foram seguidos?

Notei pelo canto dos olhos os Quileutes se olharem rapidamente num entendimento mútuo, teria essa revelação algo a ver com o que eles haviam descoberto?

- Não sei ao certo – respondeu Jasper – Foi algo muito estranho, estávamos envoltos pela fumaça e o cheiro das queimadas atrapalhou meus sentidos, eu me coloquei em alerta e senti Alice nervosa ao meu lado, imediatamente procurei acalmá-la e notei que meu dom de manipular as emoções também estava sendo bloqueado por alguma coisa...

- Você também? Então isso não afetou apenas Alice... – Disse Carlisle.

- Não – afirmou Jasper – Depois disso, decidi que não seria seguro ficar ali e temi pôr Alice em risco e começamos nossa jornada de volta, quando finalmente atravessamos as áreas de queimada eu consegui encontrar um rastro... provavelmente eram dois vampiros que nos seguiam a alguma distância. Mas o pior ainda está por vir, as pegadas eram frescas com menos de algumas horas, entretanto, eu quase nem pude discernir o cheiro de vampiros nelas, como se quem passou por ali não deixasse quase marca alguma de sua presença.

- Você já viu algo assim Carlisle? Vampiros que não deixam rastros? - perguntou Edward.

- Nós já – interrompeu Sam olhando-nos de modo sombrio – Perdoe-me Carlisle, mas temo que os lobos encontraram rastros assim também pela floresta da Reserva.

- Você ter certeza? - questionou Jasper interessado.

- Sim... os rastros estavam espalhados pelo chão próximo à árvore que Kaori se escondeu durante semanas e onde estava ontem à noite quando a encontramos. Dividimos alguns grupos e cobrimos algumas milhas para tentar identificar o que era aquele cheiro, mas não tivemos sorte... era algo totalmente diferente do que sempre conhecemos; como sabem, nosso olfato é extremamente sensível ao cheiro dos vampiros, mas estes rastros eram diferentes demais, estavam lá mas pareciam não estar. Entendem?

- Você poderia nos explicar melhor, Sam? - perguntei nervosa.

- Havia os rastros e sabíamos que pertenciam a vampiros, tinha cheiro de vampiro, mas era um odor fraco como se estivesse ali há semanas mesmo as pegadas sendo muito recentes; era como se os vampiros que estiveram ali não fossem vampiros ou estivessem... camuflados.

Sam completou com um olhar interrogativo para nós.

- Camuflados... – Edward repetiu a ultima afirmação de Sam com dúvida na voz.

- Exato, como se esperassem que quem encontrasse o rastro não pudesse afirmar nada sobre ele.

- Até onde vocês puderam seguir o rastro?

- Bem, quando Jacob, Leah e Seth partiram ao encontro de vocês levando Kaori nós saímos do pântano e começamos a voltar para La Push, mas, neste momento, Paul ouviu um rumor estranho na floresta e voltamos investigar até que encontramos os rastros próximos à árvore, apesar de toda a dificuldade em discernir que as pegadas eram de vampiros sabemos que eram pelo menos três.

- Três – Emett pesou o número – São vampiros demais para estarem apenas de passagem.

- Eles estavam atrás de mim – disse a voz quebradiça de Kaori.

- Sim – retornou Sam – Não tenho a mínima dúvida disso, quem quer que sejam, eles atravessaram a floresta pelo oeste até o pântano, cruzando praticamente toda a Reserva apenas para chegar lá... nós tentamos é claro rastrear os invasores mas seu cheiro fraco e seus rastros estranhos se perderam no rio.

- Eles entraram e saíram apenas por causa de Kaori? - Jacob questionou.

- Provavelmente – disse Jasper – Faz sentido porque Kaori ouviu algo que não deveria ouvir e eles a querem para silenciá-la.

- Que ótimo – suspirou Kaori.

- Calma – disse Carlisle tocando o ombro dela – Mas isso não é tudo, você nos disse que havia mais coisa quando fomos buscá-los na Reserva.

- Sim – disse Sam – E creio que está relacionado à viagem de Jasper e Alice. Hoje cedo, os irmãos Fog... Willian e Peter – que foram os últimos Quileutes a se transformarem em lobos – Estavam patrulhando o lado leste da floresta mais ou menos para o lado da casa de vocês quando encontraram um rastro fresco e com as mesmas características do que descobrimos na noite passada. Rapidamente eu fui avisado e me comuniquei com Jared que estava mais perto dos meninos, ele então se uniu aos dois e seguiu para o leste tentando identificar o rastro, alguns quilômetros depois Jared encontrou o cheiro claro e evidente de Jasper e Alice e não teve dúvidas, eles estavam sendo seguidos. Com isso, os três correram para tentar alcançá-los, mas eles já estavam longe demais e o rastro fraco dos estranhos desapareceu assim que os lobos chegaram a Ohio.

- Desconfio – continuou Jared – Que Jasper e Alice talvez tenham sido vistos assim que saíram de nosso perímetro de proteção dentro da Reserva, quando avistados eles foram imediatamente seguidos até, pelo visto, Nebraska. E acho que os estranhos devem ter percebido que Jasper os descobriu porque sumiram na hora em meio à fumaça que confundiu os sentidos dos dois.

- Não restam mais dúvidas – disse Emett conclusivo – Estamos sendo vigiados.

- Mas quem poderia estar fazendo isso? - Perguntou Nessie inocentemente e esta era justamente a pergunta que todos temíamos que fosse feita.

- Ora... eu só consigo pensar em alguém...ou melhor, num punhado de “alguéns”.

- Nós ainda não temos certeza disso, Emett.

- Ah qual é, Carlisle... quem mais teria interesse em nós?

- Carlisle tem razão, Emett – disse Alice temerosa – Nós ainda não sabemos de nada.

- Vocês estão apenas com medo de admitir a verdade da coisa – respondeu Emett e ele não deixava de ter razão – Ou vocês acham realmente que eles se esqueceram do que aconteceu dez anos atrás?

- Emett – Edward falou – Antes de qualquer coisa precisamos ter certeza para nos prepararmos.

- Eu não quero ser chato, maninho, mas da última vez só nos salvamos porque Alice previu a chegada deles o que não é o caso agora. Contra estes caras nós não teremos tempo de nos prepararmos e vocês sabem que tenho razão.

- Mas... de quem estamos falando? - tornou a perguntar Renesmee com impaciência.

- Aro, Caius e Marcos – respondeu Jasper sombrio.

Meu coração se comprimia todas as vezes que eu ouvia estes nomes. A tríade de irmãos formava a temida família Volturi que constituía basicamente a realeza dos vampiros; eles eram governantes de nossas leis cujas qual a maior parte fora criada por eles mesmos. Há dez anos nós quase fomos destruídos por esta família e acho que fomos ingênuos demais pensando que eles deixariam de se vingar algum dia.

- Mas o que eles iriam querer de nós agora? - perguntou Esme.

- O que sempre quiseram, querida – disse Carlisle – Poder.

- Poder? Mas que poder nós temos a não ser...

- Nossa família – Carlisle completou a frase da esposa.

- Querendo ou não há cinco vampiros especiais nesta família- disse Edward astutamente – E apenas nós já conseguiríamos fazer frente à guarda pessoal de Aro, Caius e Marcos. Imagine se eles realmente não teriam interesse extremo em nos coletar como exemplares em sua coleção bizarra. Além do mais, eles temem a competição... somos um clã grande demais.

- Eu não sei o que vocês acham, mas isso está fedendo... – disse Seth.

- Nem fala... – completou Jacob.

- O que faremos agora? - questionou Rosalie.

- Bem, talvez seja hora de você telefonar para os seus conhecidos... – Edward disse se dirigindo a Carlisle.

- Não... nós não sabemos ainda o que está acontecendo, vamos tentar descobrir e então podemos pensar em uma reunião mais ampla.

- Nós estamos no escuro aqui – Edward rebateu referindo-se a Alice.

- Eu sei, filho, mas não posso reunir um monte de vampiros sem antes saber o que está havendo.

- Bem – interrompeu Sam – De uma forma ou de outra eu e Jacob já deixamos as matilhas em alerta, eles vão começar a guardar o perímetro noite e dia.

- Sim – disse Jacob – Eu, Seth, Leah, Quilan, Embry e Quill iremos nos revezar para guardar a Mansão e sempre estaremos vasculhando a área para evitar surpresas.

- Eu não quero vocês em perigo – murmurou Esme.

- Não esquente Dona Esme... – respondeu Jake – Nós precisamos entrar em forma novamente. Ficamos parados tempo demais.

- Jacob – chamou Carlisle – Não quero que ninguém da sua matilha ou da de Sam deixem de suas obrigações para nos proteger.

- Não se preocupe Dr. Cullen – disse Sam – Agora há lobos o suficiente para podermos revezar, enquanto alguns trabalham ou estudam outros estarão vigiando. Faremos isso em turnos e não teremos problemas.

- Bem, eu não vou deixar que os lobos se divirtam sozinhos – bradou Emett – O que me dizem... Jass, Ed? Vão ficar em casa esperando alguma coisa acontecer?

- Claro que não – respondeu Jasper com um sorriso diabólico no rosto – Estaremos investigando junto com os lobos, podemos cobrir o perímetro também.

- Sim – disse Edward – Pelo visto estamos em alerta uma vez mais.

- Beleza – rugiu Seth erguendo o braço por sobre a mesa com o punho fechado em direção a Edward – Somos nós na parada de novo, meu velho.

- Eu acho que sim, meu amigo – respondeu Edward tocando o punho fechado de Seth com o seu.

- Por favor – choramingou Esme – Tenham cuidado.

- Ah, não esquenta não mamãe – Emett levantou-se e foi apertar Esme num abraço – Não acontecerá nada conosco. E aí, vamos embora meu povo? Vou dar uma carona para os lobos até La Push e volto mais tarde.

Os lobos se levantaram agradecendo o jantar a Esme, Renesmee ficou chateada por que queria namorar um pouco com Jacob, mas Edward fora irredutível: Nessie precisava descansar assim como Jacob. Eu sabia que meu marido não deixaria esses acontecimentos destruírem a rotina que construímos a tanto custo; e Nessie sempre fora obediente ao pai, por sorte ela não se transformou em uma adolescente super rebelde como tantas por aí.

Kaori começou a juntar os pratos da mesa para lavá-los, Alice e Esme a ajudavam e eu fiz menção de me oferecer para os serviços, mas fui dispensada com um sorriso de Esme, mesmo sendo vampira elas ainda achavam que eu era desastrada; Jasper subiu para tomar banho porque ele também estava cheirando a fumaça e Rosalie acabou cancelando a seção de filmes com Nessie devido aos acontecimentos da noite e porque minha filha bocejava de sono. Por conta disso, eu e Edward também cancelamos nossa noite sozinhos em casa, mas não tinha problema... eu não estava no menor clima para romance mesmo.

Despedidas foram feitas e Nessie deu um beijo muito mais comportado em Jacob desta vez, eu a abracei e juntas seguimos Edward pelo jardim contornando a casa e saindo através do quintal para a floresta fechada, atravessamos o rio com pulos graciosos e nos esgueiramos silenciosos até nosso chalé.

- Ah – resmungou Nessie olhado para o céu – Imagine se ainda haveria alguma estrela...

Eu olhei para o alto a tempo de ver a cobertura de nuvens pesadas se fechando sobre nós e bloqueando o brilho das estrelas, algo completamente normal em Forks.

Em casa, Renesmee desejou-nos boa noite e foi para seu quarto... Edward fechava a porta de entrada enquanto eu já me esticava em nossa imensa cama. Eu ainda nem havia começado a enjoar de nosso quarto, afinal, foi aqui que minha vida familiar começou com Edward e Nessie. Era um recanto totalmente isolado do mundo onde eu era apenas eu mesma, onde a antiga Bella permanecia inalterada com todos os seus sonhos, medos e desejos... apesar da lataria nova.

Edward parou na porta me olhando esticada na cama e sorrindo veio se sentar perto de mim, ele se se encostou à cabeceira e eu me acomodei em seus braços.

- Ainda não consigo ler seus pensamentos...

- Posso baixar o escudo se quiser.

- Prefiro que você me diga – ele falou beijando meus cabelos.

- Apenas com medo de perder tudo.

- Isso não vai acontecer Bella...

Eu fiquei em silêncio porque antes de responder ouvimos a porta do quarto de Nessie se abrir e um segundo depois ela parou na porta de nosso quarto com seu pijama rosa e nos olhou envergonhada...

- Hum... – ela gemeu – Será que vocês se importariam se eu dormisse aqui com vocês hoje?

- Ah, minha filha – eu disse olhando para ela – Mas é claro que não, venha cá...

Renesmee trazia um pesado cobertor – presente de Charlie que ela adorava mesmo não precisando, caminhou em nossa direção e eu me sentei na cama e Nessie preencheu o espaço aberto entre eu e Edward. Ela se encostou ao pai e me olhou meio encabulada.

- Desculpem... mas hoje não conseguirei dormir sozinha por causa de... bem vocês sabem.

- Está tudo bem, querida – disse Edward rindo – Além do mais, você não faz isso há uns cinco anos.

- Vergonhoso não é? - ela suspirou.

- Querida... – eu disse beijando-a – Quando você tiver duzentos anos eu e seu pai ainda vamos adorar que você faça isso.

- Quando eu dormir vocês podem sair para fazer outra coisa.

- Nessie, nós estaremos aqui quando você acordar... pode dormir tranqüila e com bons sonhos.

- Obrigada, mãe – ela disse sorrindo.

Eu a cobri com o cobertor e ela me beijou aninhando-se novamente no colo de Edward, me acomodei também e o braço de meu marido me acolheu protetoramente... eu o olhei e ele sorriu para mim e em seguida virou seu rosto jovem para o teto e se perdeu em seus pensamentos enquanto sua mão mexia carinhosamente em meus cabelos.

Eu olhei em direção à janela e lá fora as nuvens de chuva já tinham bloqueado completamente o céu, no horizonte distante eu ouvi os trovões retumbarem em meio às colinas e florestas... os relâmpagos iluminavam as silhuetas das árvores tornando a noite clara como o dia. Eu estava ali no meu quarto com meu marido e minha filha, deveria ser a pessoa mais feliz da face da Terra, mas eu não conseguia sentir nada a não ser apreensão.

Afinal, eu sabia que em algum lugar das florestas profundas, em algum lugar nas sombras da noite... o mal nos espreitava.