Capítulo um de Camélia

Zínia ( Lamento sua ausência. )

Narrado do ponto de vista de Sasuke Uchiha.

Aos sete anos eu tinha a vida que hoje considero perfeita. Convivia em plena paz e felicidade com meus pais e meu irmão mais velho. Meus dias passavam na mais pacífica harmonia.

Naquela época a coisa que eu mais gostava de fazer era ir ao jardim da minha mãe e desenhar suas belas flores; acácias, açucenas, camélias, mimosas, narcisos, entre várias outras. Depois eu as entregava para minha mãe e ela sorria carinhosamente para mim. Juntos estudávamos a linguagem das flores e a cada novo dia eu lhe desenhava outra flor com um significado que eu considerava ainda mais belo que o anterior.

Aos onze tudo desmoronou. Quando estávamos voltando de carro de um passeio que havíamos feito a cidade meu pai acabou perdendo o controle do carro e caiu a colina. Não sei por quanto tempo fiquei ali preso entre as ferragens do carro esperando por socorro. Poderia ter sido apenas minutos, provavelmente horas, mas se alguém me dissesse que foram anos eu teria acreditado. Naquela época eu jurava que havia ouvido quando finalmente o último sopro de vida da minha mãe se esvaiu, como ela só soltou a minha mão quando não havia mais alternativas, quando ela havia sido obrigada a se distanciar de mim para sempre.

Quase posso sentir sua mão sobre a minha apertando firmemente enquanto murmurava que tudo iria ficar bem. Infelizmente nem tudo ficou. As semanas seguintes ao acidente em que fui o único sobrevivente não foram melhores.

Passei três semanas no hospital sendo confortado por olhares de pena vindos de estranhos e confrontado por perguntas de investigadores que queriam ter certeza que tudo não passou de um acidente.

Sempre que eu estava sozinho eu chorava e chamava por minha mãe, pelo meu irmão e até mesmo pelo meu pai, porém eu continuava ali sozinho sem nenhum conforto real.

A saída do hospital veio com um pouco de alívio. Eu tinha esperanças de que indo morar com meu tio Madara eu recuperasse o ambiente familiar. Doce engano.

Ao longo dos anos que se seguiram poucas foram às vezes em que encontrei meu tio, nenhuma delas foi agradável. Ele era um homem distante e insípido. Com o tempo percebi que a única maneira que encontraria de conseguir sua atenção seria irritando-o, aprontando e causando o maior número de confusões que pudesse arrumar.

Minhas notas que já não eram boas naquela época atingiram um nível que faria qualquer um querer se esconder em um buraco para nunca mais sair. Eu conseguia briga com todos. Sempre era expulso das salas de aula.

Em casa a situação não era muito diferente, sempre que eu tinha a oportunidade eu destruía algo. Graças a esse meu comportamento fui tachado de agressivo e acabei tendo de mudar de escolas várias vezes.

Aos treze anos meu tio perdeu a paciência. Faltam-me detalhes daquele dia, nada está muito claro apenas me lembro do principal. Uma grande reunião iria acontecer na nossa casa e era imprescindível que eu me comportasse, mas diga isso para um garoto revoltado. O que você acha que ele faria? É claro me comportei da pior maneira possível. Naquele dia eu fiz uma bela arte abstrata com os convidados, tinta era despejada por mim em cima deles. Um grande quadro cheio de azul, verde, amarelo, vermelho e vários outros tons que eu havia comprado com o dinheiro que meu tio havia me subornado para que eu me comportar-se.

Foi um bom investimento.

Foi uma boa obra.

Mas as consequências não foram tão agradáveis assim.

O colégio interno foi a melhor solução que ele encontrou para mim. Não que eu estivesse irritado com ir para longe daquele velho decrépito imundo, acho que na época a única coisa para qual liguei foi criticar a criatividade dele em me mandar para tal “inovação”.

Os anos seguintes em que passei nos colégios internos foram melhores ou ao menos era isso que a minha mentalidade juvenil afirmava para si próprio. Eu cresci no ambiente em que regras simplesmente não eram respeitadas. Aquele lugar para mim era o paraíso, havia é claro regras, mas quem é que se importava com elas? Eu certamente não. Além disso elas eram tão fáceis de ser burladas que fazia parecer que estavam lá apenas para fachada.

Com aquela liberdade eu fui a loucura. Consegui fazer a maioria das coisas que se vê nesses seriados americanos onde mauricinhos e patricinhas vivem uma vida de luxo.

Eu não vou mentir e dizer que eu me cansei daquilo, pois isso não aconteceu. Após o colegial eu me encontrei sem ter o que fazer da vida. Sem esperanças. Sem uma família real. Sem expectativas. Naquele ano eu descobri que havia mais de uma forma de sofrer por perda. Havia a perda de parentes e provavelmente essa é uma das mais dolorosas, mas ali naquele momento eu me sentia sem nada. Sem identidade. Sem futuro. Apenas uma casca vazia a procura do que? De quem? Eu não sabia.

Após o momento onde eu me sentia totalmente perdido eu tentei várias coisas para encontrar um rumo. A única coisa que funcionou foi retornar ao passado, rever todos aqueles momentos tanto os felizes quanto os tristes e nesse emaranhado de memórias eu reencontrei a minha paixão: a arte da pintura.

O sentimento de pintar traços firmes, outros mais leves. De expressar meus sentimentos através da tela. De representar as pessoas amadas e de colorir o inimaginável. Era aquilo que eu estivera buscando toda a minha vida, era aquilo que me guiava e foi graças a aquilo que eu encontrei a minha musa inspiradora.

Acredito que o nosso romance deu-se a partir do momento em que comecei a pintar meu quadro “Camélia”, nele eu desenvolvi meus sentimentos de perda. Ali eu desenhei a mulher inimaginável sofrendo pela perda do homem que fora a sua Camélia. A Camélia significa “meu destino está em suas mãos” e ali aquela representação da sua perda significava para mim o que aconteceu quando eu tinha onze anos.

Aquela obra foi o que fez a minha carreira decolar e foi graças a aquela obra que eu a conheci.