Prólogo

Ela estava correndo.

Eu não sabia nem o porquê , mas devia ser algo muito sério.

Nunca a tinha visto tão eufórica na minha vida.

Não era a primeira vez que eu tinha esse pesadelo . Era sempre muito real e sempre acabava na mesma parte. O que sempre me deixava frustada.

Nunca a tinha visto tão jovem. Seus lindos cabelos negros caiam em ondas pelas costas e suas roupas certamente não eram desse ano.

Meu breve deslumbre do seu perseguidor veio pelas sombras.

Era alto , mais do que ela , e .... só !

Era apenas o que eu conseguia enxergar. Eu podia “ vê-lo” , mas ao mesmo tempo não conseguia. Era apenas uma sombra.

Uma sombra muito , muito estranha e assustadoramente familiar. Ela corria e nunca parava para olhar para trás. Ela podia senti-lo

se aproximando . Eu podia sentir.

Éramos a mesma pessoa no momento. Só naquele momento. Conseguia sentir o seu cansaço , mas seu instinto de sobrevivência era maior. Seguia até entrar em um beco. Tudo estava escuro , nunca iria poder enxergá-lo. Como foi burra! Corra, corra! , eu comandava , mas ela apenas se encolheu no final do beco.

Eu ainda conseguia sentir a sombra se aproximando .

Conseguia sentir o medo dela. Era aterrorizante .

Por que ela não corria? Por que se encolhia? Por que não lutava pela sua sobrevivência? Isso sempre me deixava mais horrorizada e angustiada. Então era sempre ai que eu gritava e acordava.

Mais um sonho sem significado com a minha mãe. Mas hoje eu iria relevar.

Era o enterro dela.