Capítulo 12

Retiro tudo o que havia dito sobre as pessoas terem preconceito desnecessário contra as loiras. Certamente as loiras eram burras. Pelo menos a que eu estava destinada a trabalhar.

“Um o que?”, foi a primeira coisa que ela me perguntou.

Tive que explicar umas cem vezes para que ela entendesse, mas mesmo assim não havia funcionado. Relutante, dei o diário para que ela lesse. Eu tinha desenvolvido um tipo de afeição pelo diário. Era algo que realmente me ligava a minha mãe. E dá-lo para alguém realmente me deixava muito inquieta. Mas o dei para que ela finalmente lesse.

Barbie folheou cada página com cuidado, lendo cada pedaço com curiosidade. Parou de repente em uma que lhe chamou a atenção. Minha vontade foi de ver o que a tinha feito parar tão rápido, mas a deixar saciar com cada conhecimento que havia ali. Esperava também que ela descobrisse mais sobre o que estávamos procurando.

Até que ela soltou o ar e sua mão voou instintivamente até a cruz em seu peito. O que quer que ela tenha lido no diário a tinha feito perder completamente a fala. Ou era isso o que eu pensava até que ela olhou para mim e disse.

“Ai meu Deus. Sua avó é uma vaca.”.

Ela havia dito com tanta naturalidade, como se ela estivesse me convidando para uma festa ou coisa do tipo. Me levantei exasperada para entender o porque dessa afirmação. Barbie nem me deu tempo de dizer nada , apenas me estendeu o diário com a página que ela havia lido e me observou.

29 de outubro.

Mey já está em casa com a sua pequena Katerine, ou como a chamamos, Katy. Mas está sozinha, porque Paul foi embora ontem. Mey pode ter depressão pós-parto por causa disso. Mas eu me arrasto até a sua casa e lhe faço companhia. Mas não ajudava muito, porque me sentia do mesmo jeito. Quando eu acordei hoje de manhã, me senti vazia, solitária. No começo não havia sentido me sentir assim. Meu bebê já estava há oito meses dentro de mim e sempre me fazia completa.

Mas Peter havia sumido.

Peter e Paul foram embora, sem mais nem menos. Não deixaram bilhetes, nada. Eu sabia que estávamos felizes. E também sabia a culpa por eles terem ido embora.

Minha mãe.

Eu havia deixado eles conversando sozinhos na cozinha e fui dormir, mas se soubesse que isso aconteceria, nunca teria os deixado sozinhos . Não poderia confiar mais em ninguém? Nem na minha própria mãe?

Foi ai que eu entendi o porque da Barbie ter dito aquilo.

“Ai meu Deus. Minha avó é uma vaca.”

“Eu te falei.”, Barbie disse dando de ombros.

As peças começaram a se encaixar. Tudo. O sumiço do meu pai era por persuasão da minha avó. Me deixando órfã de pai. E também deixando a Barbie órfã de pai. Mey era a mãe da Barbie. Agora fazia sentido a morte da minha mãe e o sequestro da mãe da Katy. Eles queriam eliminar as caçadoras. Mas eu não entedia o que o Koren tinha haver com isso tudo.

Merilyn e Mey eram as mesmas pessoas, só que com idades e

preocupações diferentes.

“Porque a sua mãe e a minha não se falam? Pelo que ela conta, as duas eram unha e carne.”, percebi que estava falando mais comigo mesma do que com a Barbie. Mas mesmo assim ela respondeu.

“Sua avó foi uma verdadeira vaca com o meu pai. Minha mãe teve seus direito de ficar fula da vida.”, odiava admitir isso, mas a Barbie tinha razão.

“Como a minha mãe pôde morar no mesmo teto que essa..., essa..., não tenho palavras para descrever a minha avó no momento.”, eu disse jogando o diário na parede.

“Eu tenho.”, Barbie disse rindo. “Vaca. V.A.C.A.” Suspirei. Não havia nada o que pudesse fazer. O que está feito, está feito. E eu não posso concertar o erro da minha avó. O máximo que poderia fazer era ser uma pessoa melhor do que ela e ...

Peter? Peter era o guardião da minha mãe, não era? Minha mãe tinha se apaixonado pelo próprio guardião? Apostava que se procurasse mais um pouco veria que o tal de Paul era tanto guardião de Mey quanto pai de Katy.

Isso me fez questionar se Katy também tinha um guardião. Tinha uma boa possibilidade. Me virei para Barbie para tirar o tira-teima.

“O Kris falou com você sobre um 'guardião'?”, eu tentei parecer o mais casual possível, mas com certeza não enganou a Barbie.

“Sim. Disse que o meu guardião não fez nada para impedir. Apenas ficou ao meu lado para me proteger.”, ela parecia não ter acreditado muito nas palavras de Kris, mas também não falou que era mentira.

“É estranho que esses caras nunca tenham aparecido, mas estejam sempre perto da gente.”, estava refletindo muito sobre esse guardião nos últimos dois dias.

“Eu também acho estranho esse Kris trabalhar para os nossos pais. Ele parece ter medo de desrespeitá-los.”, Barbie tinha mais um ponto.

Porque um vampiro teria medo de um humano? Só se fosse um humano especial. Com poderes ou algo do tipo. Mas não alguma coisa estúpida tipo, super homem ou batmam. Mas, não sei, experiência em lutas e torturas.

“Já pensou na possibilidade desses 'guardiões' não serem humanos?”, refleti em voz alta, sem realmente prestar atenção nas palavras até que elas saíram da minha boca.

“Na verdade, sim. Mas isso faria nossos pais não-humanos. Por isso, eliminei essa teoria.”

Mas eu não havia eliminado. Havia caroço nesse angu. E dos bem grandes. Barbie levantou da cadeira e pegou seu casaco. Me levantei junto com ela e peguei meu casaco na porta.

“Eu vou pegar as fitas de vídeo do condomínio onde eles moram e você vai na prisão e conversa com o pobre coitado.”, Barbie disse enquanto entrávamos no carro.

“Porque eu tenho que conversar com o marido psicopata?”, eu disse arregalando os meus olhos.

Barbie colocou um mecha do seu cabelo loiro escuro atrás da orelha enquanto suspirava. “Porque você tem mais experiencia com ' relacionamentos não-perfeitos.”.

Não era uma piada como na última vez, Katy estava séria pra valer. Mas cai entre nós. Eu não gostei nada do comentário maldoso. Pelo que a Barbie dizia de mim, eu era literalmente um livro aberto. Dava para ver estampado no meu rosto que não era feliz na minha relação com Colin. Mas tudo o que respondi foi:

“Explicado.”

Enquanto íamos ao condomínio onde Nael Pecnart ( esse era o nome do infeliz) morava, Barbie ficou contando tudo o que havia descoberto na internet sobre o casal. Não era muita coisa , verdadeiramente. Como ela havia dito, os dois eram os verdadeiros Romeu e Julieta. Nunca brigavam sério, tinham bons amigos e nenhum inimigo. Eles haviam até pensado em colocá-lo em um hospício, mas já era ruim demais para ele perder a própria mulher.

“E o pior de tudo era que algumas pessoas achavam que a esposa, Liene Pecnart, estava grávida.”, Barbie terminou de contar.

Apertei minha mãos no volante. Matar uma criança inocente era muita injustiça. Quando eu pegasse aquele desgraçado de metamorfo iria fazê-lo implorar pela vida. A se ia.

Barbie ficou em silêncio por alguns instante. Até imaginei que ela estava pensando a mesma coisa que eu, quando ela tocou na minha mão e sorriu. Mais especificamente no dedo indicador, onde ficava o meu anel.

“É lindo.”, ela disse.

E era mesmo. Era um dos presentes que meu pai enviava para mim todos os anos. Desde que eu tinha três anos ele enviava um anel para mim. Cada vez que eu crescia e o anel ficava pequeno, ele me mandava outro. Era uma das coisas que eu não saía de casa sem.

O anel era de prata pura com uma pedra exatamente da cor dos meus olhos, por isso, havia descoberto que meu pai deveria ter também a mesma cor dos meus olhos. O anel em si, era fino e de aparência muita cara. Parecia ter sido feito por encomenda.

“Obrigado. Seu cordão também é lindo.”, eu respondi me lembrando da corrente com um cruz que andava em seu pescoço recentemente. Isso a fez corar um pouco antes de responder.

“Ganhei do meu pai de aniversário. Ele envia um todo o ano. O mesmo modelo, mas de tamanhos diferente, conforme eu vou crescendo.”, ela deu de ombros e um sorriso triste apareceu em seu rosto.

Mais coincidências.

“É a mesma história do meu anel.”, me surpreendi pela minha calma. Estava tão casual quanto a Barbie no momento que disse sobre minha avó ser uma vaca. Desacelerei o carro e a encarei por um minuto. “É de prata?”

Eu já sabia resposta, mas precisava ouví-la sair de sua boca.

“Sim.”

Parabéns para mim. Acabava de descobrir que nossos pais não tinham imaginação. Ou isso, ou eles moravam juntos. Preferia a segunda opção. Porquê se descobríssemos onde um morava, o outro estaria junto.

Dois coelhos com uma cajadada só, assim como Kris havia dito. Kris. Como será que estava sendo lidar com essa situação? Será que ele estava indo bem? Indo mal? Meu guardião havia matado ele?

“Como vai a investigação, pequena Twist?”, uma voz, que eu conhecia muito bem, disse atrás de mim.

Eu e Katy demos um grito coletivo e depois ficamos ofegantes. Sua mão havia voado para a cruz em seu peito e eu tinha freado o carro , quase batendo em um Suv que estava na minha frente. Pelo espelho retrovisor vi , Kris deitado no banco traseiro do carro. Ele estava com uma suéter cinza escuro e uma calça jeans clara.

Minha vontade era de matar ele, mas era certo que ele me mataria antes. Depois de acalmar meu coração e estacionar o carro em um acostamento, dei a atenção que Kris merecia no momento.

“Você quer matar a gente?”, eu gritei me virando para encará-lo.

Tudo o que ele fez foi rir. Se contorceu de rir. Desgraçado.

“Eu vim ver se vocês estavam bem.”, ele disse tentando soar o mais inocente possível.

Reparei o qual pálida a Barbie estava. Parecia que tinha visto um fantasma ou algo do tipo. Nem quando eu havia dito com o que estávamos lidando ela ficou desse jeito. Acho que a idéia de ter um vampiro no mesmo espaço que ela a deixava apavorada.

Voltei minha atenção a Kris, enquanto ele ficava me olhando com um tipo de sorriso travesso. Meu coração ainda estava disparado por causa do susto, mas não me impediu de explodir com ele.

“Nunca mais faça isso de novo, entendeu?” , eu disse ainda respirando com certa dificuldade.

Barbie continuava sem dizer nada e sua mão ainda estava na cruz de prata. Seus olhos estavam fixos na estrada. Pensei que ela estava segurando a respiração, mas depois vi sua blusa florida subindo e descendo divagar. Ela tentava ser cautelosa em cada movimento. Nem olhava para trás, para ver Kris.

Enquanto eu estava me esforçando para não babar. Kris estava deitado no banco traseiro , apoiado em seu cotovelo e seu queixo na sua mão. Seu cabelo escuro jogado em seu rosto tampando parcialmente seus incrível olhos azuis. Demorei um tempo para descobrir que estava de boca aberta.

Pior do que a possibilidade de lutar contra um metamorfo, era um momento encarando Kris fazendo aquela pose sexy. Tirava tanto seu foco, quanto a sua concentração. Pensei tudo isso enquanto esperava Kris parar de rir.

“Desculpa , pequena Twist. Pensei que você gostava de surpresas.”, ele deu um sorriso que quase me fez perder a piada.

Mas eu disse quase.

“Se essa surpresa não vier junto com um ataque cardíaco, está ótima.”, sorri também. Meus pensamento voaram para casa. Sentia saudades e queria notícias. “E como vão as coisas no mundo sobrenatural? Alguma pista do paradeiro de Mey e Koren?”

Finalmente seu sorriso debochado desapareceu e uma expressão séria tomou o seu lugar. Ele me encarou por vários segundos , franzindo os lábios, antes de suspirar e dizer:

“Não vão nada bem. Eles querem que vocês voltem. Agora.”

Naquele hora, foi a minha vez de rir. Havia algo no tom de Kris que fez seu comando parecer uma piada. Mas, um vampiro lindo, sendo pombo correio não é uma coisa que se via todo o dia. Por fim, me acalmei, ainda observando seu rosto sério, e bufei.

“Eles pensam que podem mandar na gente?”, levantei uma sobrancelha. “Então vou lhes contar uma novidades. Eles não mandam. Se quiserem continuar caçando, é o que faremos. E nada nesse mundo sobrenatural irá nos fazer mudar de idéia.”

Olhei para Barbie querendo apoio, mas tudo o que ela fez foi acenar com a cabeça. Havia algo que verdadeiramente estava a incomodando. Ela não largava a bendita da cruz , mas também não queria compartilhar o que a estava incomodando. Voltei minha atenção para o vampiro no meu banco traseiro.

“Pequena Twist, pequena Twist.”, ele balançava seu cabelo castanho. “Vocês querem me complicar com os seus guardiões?”

Então, por um momento, a fixa caiu. Estreitei meus olhos, enquanto a pergunta escapava pelos meus lábios.

“Quando se refere a 'eles', de quem exatamente está falando?”

Kris piscou algumas vezes antes de responder. Acho que uma confusão havia se formado ali e nem sabíamos.

“Seus guardiões.”, ele disse me olhando como se eu fosse louca. “Eles querem vocês por perto. E se algo de errado acontecer com vocês, eu sou um vampiro morto.”

Joguei meus braços para o ar e senti meu humor ficar negro. Já era a segunda vez que esse “guardião” estava interferindo.

“Não vamos voltar por causa de dois caras metidos aos “últimos biscoitos do pacote.” Vamos terminar o trabalho e ponto final.”, resolvi ser um pouco mais atrevida. “Se eles quiserem, que levantem os traseiros gordos e venham nos buscar.”

Isso era uma verdadeira provocação. Mas a curiosidade de saber quem eram estava me matando. Ficava fazendo especulações sobre eles o tempo todo. Se eram loiros ou morenos. Se eu conhecia e , principalmente, se eram humanos ou criaturas sobrenaturais. Perguntas e mais perguntas , mas jamais a resposta.

“Calma , pequena Twist.”, Kris disse levantando as mãos para o alto em um sinal de paz. Então um sorriso travesso apareceu em seu rosto e ele se inclinou par frente , fazendo nossos rostos ficarem bem próximos. “Sua sugestão foi anotada. Mas eu vim em paz, apenas para lhes dar um recado. Vocês tem dois dias para resolver esse trabalho, ou sua ideia de ser arrastada de volta pra casa irá ser considerada.”

Até ai eu tinha sido bastante educada. Mas minha paciência tem limite. Me atrevi a aproximar mais de Kris, até que estivéssemos a poucos centímetros um do outro e disse:

“Mande os dois irem para... “, me interrompi percebendo que estava falando com o nada.

Kris havia sumido , na minha frente. Literalmente sumido. Uma ora ele estava ali e na outra , simplesmente não. Voltei minha atenção na estrada percebendo que a Barbie já estava respirando normalmente.

“Cara, eu tenho que aprender a fazer isso.”, eu disse continuando nosso caminho até o condomínio.