Caminhantes

Quem tenho em meu coração


Lucy POV

Enquanto o encarei fixamente, o rosto de Natsu estava cheia de confiança. Seu sorriso mostrou os dois caninos característicos dele, contrastando com uma expressão aonde os lábios arqueavam alegres, mas suas pupilas me fixaram gelados.

— Eu preciso ir -minha boca se moveu sozinha, saindo uma voz fria e perigosa.

Mas os olhos em ônix do homem apenas se curvaram divertidos.

— Luce -sua mão se aproximou.

Meu coração tremeu levemente ao ver seus olhos negros. Tão indiferentes e cheios de rancor.

Para a minha surpresa, ele acariciou com cuidado a ponta dos meus cabelos curtos, enquanto seu polegar esfregou a minha mascara que esconde metade do meu rosto.

Quis dizer algo, infelizmente, sou apenas um espectador.

O que quero fazer, o que penso em dizer, a expressão que era para estar estampada em meu rosto, nenhum deles pôde se realizar.

Foi como assistir um filme.

— Luce -seu sorriso se alargou na sombra da lareira crepitante- Aonde você vai?

Minha palma se moveu em um flash. O som de um tapa na mão do rosado saiu alto, estalando a ponto que pensei se ele não teria quebrado os ossos. E Natsu foi obrigado a soltar meu cabelo.

Eu sentada na cama, em um quarto tão luxuoso, com ele à minha frente, em pé e o fogo atrás dele. Sua sombra criou um ambiente estranho.

— Preciso voltar.

— Para aonde?

Seu cabelo rosado se aproximou, tão perto que fez cócegas no meu nariz. A respiração de Natsu assoprou na minha orelha. E sua voz saiu grave e baixa.

— Você não tem para quem voltar, Luce. Você sabe o que você fez. As coisas que fizeram tantas pessoas inocentes chorarem, e muitas mais te odiarem. Quem vai te acolher de volta?

— Isso... -me senti sufocada.

— Está pensando naquela mercenária? O que ela vai dizer quando descobrir a verdade?

O tom cheio de zombaria, um ódio disfarçado e risos.

Meu corpo estremeceu. Não, não era eu. Lucy Knightwalker estremeceu.

Mas eu fiquei perplexa.

Quem é esse?

Seu rosto é igual a de Natsu. Sua voz também.

Mas ele nunca faria essa cara. Ele não era um homem que diria essas coisas.

Quem é essa pessoa na minha frente?

Enquanto me distraí com as perguntas, sua mão alisou mais uma vez na minha máscara. Como se fosse algo precioso.

O rosado se distanciou para nos encararmos cara a cara.

— Apenas eu poderia te aceitar Luce.

— ...

— Fique aqui.

— ...

— Fique comigo.

Sua respiração se sobrepôs à minha. Se misturando. E pude sentir o calor emanando do mago de fogo. Tão próximo.

— Você... -minha voz saiu mais uma vez. Com uma leve vacilação- Disse que eu não tenho para quem voltar. Porque fiz coisas ruins.

O sorriso do rosado começou a se desfazer.

— Eu sou uma mulher má.

— Mas você me ama -seus olhos me encararam, sondando intensamente.

— Não.

— Luce, você me ama.

— Eu não te amo.

— Quando te chamei, você veio. Quando te pedi coisas, você fez. Não importou o que fosse, seja cruel ou horripilante, você cumpriu meus desejos.

— Isso é... -comprimi os lábios, num tom amargo- Por que eu te devo.

Nos encaramos por mais algum tempo. Então ele agarrou meu ombro, me empurrando para a colcha, afundei bruscamente na cama.

— O que você está fazendo!? -exclamei, agarrando seu pulso.

Os dedos cravados no meu ombro começou a doer.

— Me solte!

— Luce, por que você não consegue entender? -seu rosto se distorceu, sua voz se tornando um grasnado de uma besta- Além de mim, haviam mais pessoas naquela prisão. Entre todos, você não cumpriu só os meus pedidos? -sua outra mão fechou em um punho amassando a colcha ao lado do meu rosto. Pude ver as veias saltando ao longo do braço, desesperado para conter a raiva.

— Não... Eu...

— Luce, eu estou ficando louco -falou baixo e trêmulo, cheio de conflito- Eu te odeio. Quero te matar.

Seus caninos grasnaram, como um animal com rancores. As sobrancelhas do homem em cima de mim torceram gravemente.

— Quero arrancar seus malditos olhos. Te enforcar com minhas mãos. Sonhei tantas vezes com isso.

Ficamos em silêncio por um momento, apenas com o crepitar da lareira. Os olhos ônix brilhavam perigosos. Sinistramente o meu coração bateu calmo.

— ... Então... Me mate -a forma que falei, foi sem um pingo de medo.

Tão natural como se falasse sobre o que comeu no café da manhã daquele dia.

— Mas da mesma forma que eu te odeio. Também te amo.

Os fios rosados balançaram, ele está tremendo. Tremendo de raiva, de angustia, de culpa. Em um mar de sentimentos emaranhados.

— Luce, diga que você também me ama.

Desviei o rosto. Os olhos dele eram difíceis de encarar de tão intensos que são.

— Eu não posso amar. Não tenho esse direito -foi minha resposta.

— Ha...!

O riso do rosado cheio de ironia. Me olhou com zomba e incrédulo.

— Você não pode amar? Ah... Ha ha ha!

Franzi minhas sobrancelhas. Tanto eu, quanto Lucy Knightwalker tivemos a mesma reação.

Ele riu, como se uma piada estupenda fosse contada. Fiquei pasma por um tempo. Então sua mão pegou a gola da minha blusa.

— O que você está fazendo!? -gritei em pânico.

Mas o homem é mais forte do que eu, mesmo que tentei parar com as minhas duas mãos, minha roupa foi rasgada. Os trapos penderam entre os dedos do rosado. E então jogados impiedosamente no chão.

Minha roupa interior foi revelada.

Sem estar satisfeito, seus dedos puxaram o fio central do meu sutiã. Meu coração batendo em pânico, lutei, arranhando com as mãos livres, tentando empurrar o homem para longe, enquanto berrava:

— ME SOLTE! MALDITO! PARA COM ISSO! FICOU LOUCO?

Minhas pernas estavam bem fixas pelas duas coxas musculosas dele. E meu ombro agarrado por ele começou a ficar dormente.

Plac

A peça arrebentou, agora pendiam frouxamente, escondendo cada um dos meus seios.

— SEU LOUCO! STAR....!

Quando estava para conjurar um feitiço, algo quente caiu nos meus lábios. Arregalei os olhos. Congelando no lugar. Uma dor surgiu, junto com um sabor de ferro. Quando ele se afastou, pude ver uma clara raiva. Mas eu que estou com raiva! Por que me mordeu!?

Sem saber como recuperar do choque, fiquei pasma, encarando o brilho avermelhado do sangue nos lábios dele.

— Eu, Natsu Dragneel, Filho de Igneel, o dragão de fogo. Juro arriscar meu coração e vida, para implorar ao imponente dos senhores dos céus, o ancestral de todos os Dragões!

Enquanto Lucy Knightwalker franzia as sobrancelhas, sem entender o que está acontecendo... Eu soube muito bem o que era isso!

As palavras são diferentes. Mas tem o mesmo significado... Isso é...!

— Que essa pessoa possa ser amarrada à minha alma, peço pela benção dos seres alados.

Um som de trituração surgiu. O rosto do rosado sorriu à luz da lareira, com um fio de sangue escapando pelo canto dos lábios. Ele se abaixou, se posicionando bem no meio dos meus seios. Então mostrou uma língua sangrenta, lambendo levemente a pele acima do meu coração.

Meu corpo tremeu como se recebesse um choque elétrico.

— Argh! -engasguei.

Senti claramente algo invadindo no meu corpo, pressionando e abrindo caminho tiranicamente. Parecia um sonho, mas ao mesmo tempo não é. Senti a dor claramente, vívida e agonizante.

— Gasp!

Meus dedos se dobraram, meus olhos lacrimejando. Encarei os olhos ônix que me fitaram ansiosos. Ele aproximou o rosto no meu ouvido e sussurrou.

— Luce, eu te amo.

— Ugh!

— Me aceite.

— Não... -murmurei com dificuldade- O que... O que você fez...?

— Luce, você não é uma maga celestial? Não é difícil não poder invocar nenhum espírito?

— Que...? Como você sabe disso? Argh!

Comecei a suar. Minha visão embaçada e a respiração pesada dificultaram para prestar atenção ao o que está acontecendo.

— Então eu farei um contrato com você -sua voz tão gentil, poderia confundir com ele tentando acalmar uma criança.

Mas a verdade é que eu estou sendo torturada, a ponto que poderia morrer.

A inconsistência dele... De uma hora ser frio, depois violento. Em um momento me odiar e depois sussurrar que me ama.

Arrepios passaram na minha espinha.

É bizarro e estranho.

— O que você fez...!? Aaargh! -a dor atravessou, dilacerando meu coração.

— Estou me casando com você. Entrelaçando nossas almas através de um contrato ancestral, um pacto com um dragão.

Seus olhos exibiram um terno carinho, acariciando meu rosto.

— O quê!? -gritei pasma. O suor escorrendo, meu corpo inteiro tremendo.

Enfrentando a dor, me virei de lado, arrastando para fora da cama. Incrivelmente o rosado não me impediu.

— Argh! -uma mão minha segurou os trapos restantes da minha camisa para esconder minha nudez.

Caí no chão de joelhos.

— Urg... -tão doloroso que comecei a tremer e não consegui me levantar, vendo um borrão da porta que me levaria para fora do quarto.

Estando tão perto, mas minha mão não alcançava, mesmo a estendendo em desespero.

Logo a porta foi coberta por um par de pés. O homem está à minha frente e se abaixou com um sorriso inocente e feliz.

— Por que você está fazendo isso? -murmurei.

Antes da resposta vir, seus lábios caíram novamente. Saboreando um gosto de sangue residual, que em vez de repudiar, ele começou a lamber. O calor do corpo dele, é vibrante, assim como uma chama. E seus movimentos foram gentis.

Nesse momento o coração de Lucy Knightwalker bateu para um lado.

E ao mesmo tempo, como se a mana invasora estivesse esperando por isso, se enrolou nela. Bem fundo, no lugar mais frágil e importante de um corpo humano.

Quando a respiração ficou estável, e meu corpo parou de tremer e suar, Natsu se afastou para olhar para meus seios... Mais precisamente, na pele entre meus montes. Quando segui para ver, havia uma tatuagem de dragão vermelho flamejante.

Ele sorriu satisfeito e alegre para mim.

— Luce, agora você não pode mais mentir para mim.

— O que é isso? -murmurei.

O sentimento de Lucy Knightwalker foi de uma premonição intensa, lágrimas molhando a máscara prateada. Sem conseguir tirar a visão daquela tatuagem vermelha flamejante.

— É a prova que você me ama.

— Não...

— Luce.

— Por favor...

— Luce, olhe para mim.

Meus olhos que estavam focados na tatuagem, finalmente se ergueram. Fitando os olhos ônix. Sua mão que uma hora esmagou meu ombro cruelmente, estava segurando minha palma, fazendo círculos gentis com o polegar. A outra mão ergueu até minha máscara, a retirando com cuidado.

Quando minha pele foi exposta, minha respiração parou por um segundo.

Mas como se as forças me abandonassem, não pude fazer nada além de abrir e fechar os lábios. Encarando estupidamente.

A expressão dele se tornou mais gentil quando olhou para meu rosto nu. Se abaixou e beijou ligeiramente o canto dos meus olhos que derramavam lágrimas.

— Agora você é minha. Estamos ligados -falou feliz.

— Natsu, por favor... -minha voz quebrada tentou implorar.

E ele riu baixinho.

— Você finalmente chamou pelo meu nome, Luce. Faça isso mais vezes... Afinal, a primeira noite de um casamento de dragão é longa...

Então despeitei. Arregalando os olhos. Sugando uma grande quantidade de ar pela boca.

Em pânico, olhei ao redor.

A dossel luxuoso sumiu. A lareira crepitante desapareceu. Não há peles caras enfeitando o chão ou as paredes..

No lugar, há uma cama simples. Um chão arenoso. Os lençóis ásperos.

É a tenda.

Sim, a tenda dos mercenários Turtle Shetyw.

Ergui minha mão cheia de cicatrizes, e percebi que estou tremendo. Fechei a palma em um punho. Então me sentei.

Algo caiu no meu colo. E quando a peguei, uma pedra vermelha brilhando intensamente pousou calmamente na minha mão.

Há uma corrente feita de fibras negras transformando ela em um colar.

— Uma estranha pingente que surgiu do nada?

— Não é do nada -uma voz apareceu.

— WHA!? -arregalei meus olhos, encarando em volta.

— O que você está tão surpreso?

— Quem está aí?

— Ha... -um suspiro aborrecido surgiu.

Então um bater de asas, um corvo apareceu na minha linha de visão.

— Um... Corvo falante...? -murmurei, franzindo minhas sobrancelhas.

Já tinha visto gatos falantes que voam. E eram cinco gatos diferentes. Então um corvo falante não foi tão impressionante.

— Coff. Lucy, você está sentindo dor em algum lugar?

O encarei com espanto. Espera, como ele sabe meu nome?

Não... Por que essa voz me parece familiar?

— Ze... ref...?

— Bem, sim -o corvo que pousou no meu colo e olhou para cima, assentiu.

— Espera, o quê!? O que aconteceu com você?