Caminhantes

Ponte da Despedida


Lucy POV

Depois do café da manhã, já estávamos preparando para terminar a ponte. As crianças e os exceeds arrumavam o acampamento, como desmontando barracas e limpando nossas bagunças. Afinal, não podemos ir para os lugares e deixar as coisas igual porcos.

Enquanto isso, invoquei Tauros, os homens trazendo todos os troncos para cima do cânion.

Bem no início da ponte quebrada.

Então comecei a dar instruções para Minerva manter as madeiras e os trilhos de metal com a magia dela, e os homens começaram a pregar as tábuas rapidamente. Apenas Macao-san precisava de um martelo, já que Rogue, Sting e Laxus usavam seus poderes de dragão e meio que socavam? Bem, Tauros para mostrar que era macho, também ficou esmurrando os pregos.

A construção da ponte progrediu bem rápido, o que foi surpreendente para mim. Acho que todo mundo ser jovem era algo bom, tem muita energia. Sem falar que nós, mesmo sendo magos, somos aventureiros que estamos lutando com nosso corpo, o que criou bastante estamina.

Não pude me distrair nem um pouco, ou a ponte poderia ficar com um prego a menos, uma madeira a menos e se isso acontecesse, a ponte poderia ir água a baixo assim que o trem passasse por ela.

Minha fiscalização me disse que mesmo que eu estivesse apenas olhando, foi cansativo. Ao mesmo tempo me senti grata por ter lido um livro sobre pontes alguns anos atrás e tinha sido tão interessante que lembro até hoje dos detalhes.

O mais louco dessa história é que uma ponte era para demorar meses para ser completa e estamos completando em dois dias?

Quem escutasse isso, os maiores arquitetos chorariam. Mas convenhamos que só fomos possíveis de fazer isso porque eu sei como são feitas as estruturas das pontes e quem estão construindo é a junção das duas guildas mais fortes, junto com uns dos magos mais poderosos dessas guildas?

Talvez... Terminaremos essa ponte logo depois do almoço...

— Espera, espera! Abelha estupida! Esse prego não é ai!! -gritei apavorada- Fica um pouco mais pra frente!

— Não me chame de estúpido! -mesmo reclamando ele caminhou dois passos para frente e socou o prego no lugar certo.

— Lucy, devo segurar aonde essa madeira? -Minerva ergueu o dedo indicador e uma madeira estava flutuando.

— Este tamanho ainda não, pode pegar aquele outro por favor? E coloca em horizontal bem ali - apontei para a madeira e depois para o lugar.

— LUCYYYY-SANNNN MAS VOCÊ CONTINUA AINDA COM MUITO NICE BODY!! -escutei um grito de longe.

— Obrigado Tauros, agora o prego por ali, por favor!

— Lucy! Já terminei por aqui -Macao-san gritou, ele é o mais lento, mas igualmente trabalhador. Assim que ele se levantou de sua posição abaixada, escutei um estalo vindo de suas costas e seu rosto se contorceu.

— Oh meu deus! Você está bem? -gritei, me aproximando.

— Sim, sim -ele colocou as mãos nas costelas e as espreguiçou para o lado, estalando na esquerda e na direita- Para qual lado agora?

Enquanto vi seu martelo girar em sua mão, como se me sinalizasse que ele estava bem, eu suspirei.

— Para o lado de lá agora, por favor. -apontei.

— Irmãzinha, aqui está bom? -Laxus segurou o prego entre os dedos, tem uns dois entre seus dentes também.

Isso são palitos de dentes para você!?

— Sim!! -respondi cansada.

Então eu fui para a beira da ponte, olhei para baixo, senti um friozinho na espinha por causa da altura.

— Como está aí em baixo Rogue? -gritei.

O moreno está sentado e martelando os suportes da ponte, como ele era o mais confiável, tive que explicar apenas uma vez e já soube o que fazer.

— Estou quase acabando, Lucy.

Bem, está indo tudo muito bem. Mas isso é realmente cansativo. Mapeei uma e outra vez os encaixes e o plano da ponte.

Bem, bem, parece que tudo está indo de acordo.

Então senti um pequeno puxão na minha barra da camisa. Quando olhei para baixo, vi uma pequena azulada.

— Lucy-san terminamos de arrumar as coisas -Wendy me respondeu timidamente- Devemos ajudar por aqui?

— Vocês mantiveram a fogueira e os troncos de assento ne? -perguntei. E ela assentiu com a cabeça- Então vocês podem pegar mais lenha e alguns peixes?

— Bem.

E a pequena correu para baixo do cânion mais uma vez.

Olhei para o céu, o sol subindo lentamente. Como saímos para fazer a ponte quando o sol estava nascendo, daqui a pouco vai ser o almoço do meio dia, e estamos bem no meio da ponte. Falta mais metade.

— Eu já falei que é mais para a esquerda, abelha estúpida! -estou começando a me arrepender de ter trazido o Eucliffe.

— NÃO ME CHAMA DE ESTÚPIDA, SUA ESTÚPIDA!

— QUEM CHAMA OS OUTROS DE ESTÚPIDO QUE É ESTÚPIDO, SEU ESTÚPIDO! -retruquei.

— ENTÃO VOCÊ É A MAIS ESTÚPIDA!

— PAREM, EU QUERO IR EMBORA AINDA HOJE! -Minerva grasnou, a ponte tremulou por causa do poder dela.

— Se acalme Mi-chan -falei assustada- Estamos muito bem, certo abelha burra?

— Claro que sim Blondie idiota, estamos tendo apenas... -Sting me acompanhou.

— Uma discussão saudável e cheio de companheirismo! -completei rapidamente.

— Isso mesmo! Estamos fazendo isso aí que ela disse! -ele assentiu freneticamente com a cabeça.

— Tá -Minerva bufou- Continuem rápido -sua voz saiu fria.

— Já estamos a dois terços da ponte, vamos acabar logo -minha voz tremeu um pouco.

Ela se virou para continuar a levar a madeira, mas senti um brilho feroz em seus olhos... Wow, quando ela fica séria, nada pode parar a princesa dos tigres.

Suspirei aliviada, dei duas palmadas no peito para acalmar o meu coração, olhei de relance para o loiro estupido, e ele mostrou a língua para mim. Minha sobrancelha tremulou.

Ah Sting Eucliffe... Me aguarde. Me. Aguarde.

— Irmãzinha, você está na difícil, hein? -Laxus riu ao meu lado.

— Nem me fale -suspirei mais uma vez, então olhei para o plano da ponte- Felizmente essa ponte vai ser muito resistente, já repassei o plano várias vezes, está ficando perfeito.

Estou um pouco orgulhosa. Muito bem, eu.

Laxus deu de ombros. E quando pensei que estava ficando pacífico outra vez, a abelha começou a reclamar.

— Aaaaah, estou com fomeee...

— Sting, pare com isso -franzi as sobrancelhas.

— Fome, fome, tatarata -ele começou a cantarolar, enquanto socava alguns pregos- Um pão na manteiga derretida pela manhã, nyam nyam uma mortadela tostadinha. Vamos assar um pernil cheio de batatas suculenta. Oh, minha fome. Oh, meu estômago.

— STING EUCLIFFE! -gritei, começando a sentir água na boca também.

— O QUÊ!? -ele respondeu, de mau humor.

— PARA COM ISSO!

— MAS ESTOU MORRENDO DE FOME! -ele grasnou, enfiando as mãos no cabelo, como se fosse arrancá-los- ROGUE! ROGUE! ROGUINHO!

— Não me chame de Roguinho -o moreno apareceu repentinamente.

Tomei um susto e dei dois passos para o lado, ele segurou minha cintura para que eu não caísse.

— Fiu -Macao assobiou, enquanto martelava alguns pregos, seus olhos estavam divertidos- Como é bom ser jovem.

Meu rosto corou, mas fiz um semblante sério.

— Sting, estamos quase terminando a ponte, não quer ir para casa? Então para de fazer tanta birra, ainda não é a hora do almoço!

— ROGUE! ROGUE! -ele se colocou de joelhos na nossa frente, e olhou para o Dragon Slayer do meu lado, como se estivesse encarando Buda, seu salvador- POR FAVOR!!

Suas mãos se juntaram em uma súplica, olhos azuis lacrimejaram. As orbes rubi me encarou, esperando uma permissão.

— Podemos terminar sozinhos -belisquei minhas sobrancelhas.

Cheney suspirou, me soltou e sorriu.

— Já venho, vou ver como as crianças e os exceeds estão com a pescaria.

— Tudo bem -assenti, o coração de Rogue é muito mole com Eucliffe.

— OBRIGADO! -a abelha agarrou a perna dele, com uma alegria estampada.

— Sting, você tem que me soltar para que eu possa ir.

— OK, OK, OK! -ele largou rapidamente.

Escutei Minerva suspirar ao meu lado, enquanto escondeu as pálpebras com os dedos. Laxus tampou a boca com a mão, escondendo o riso.

— Pararararapa. Como é bom ser jovem -Macao cantarolava de bom humor, continuando com o seu trabalho- O amor floresce, se pode gritar sem ter medo, e não se preocupar com a dor nas costas. Pararapararapa.

Olhei para as costas de Rogue se distanciando. Realmente, eu admiro sua paciência...

— Vamos Sting, continuemos logo enquanto o almoço está sendo feito. Podemos ir para casa mais rápido.

Quando o sol estava no alto, sinalizando um pouco depois do meio dia, Charles veio voando.

— Como estão as coisas por aqui? Wendy disse para chamar vocês para comer.

Seu nariz empinado e simbólico da orgulhosa gata me fez sorrir.

Olhei para os trabalhadores que estavam sentados no chão como se estivessem mortos. Menos Tauros quem eu já tinha enviado de volta para o mundo espiritual.

— Escutaram pessoal? -exclamei.

Eles sorriram.

— Quem você acha que somos? -riu Minerva, já recomposta, sem um pingo de suor.

— Bom, parece que é hora de dar uma ligada para nosso bom amigo Laharl -murmurou Macao se levantando e batendo a poeira das calças.

— Está na hora de comer!! -o morto Sting deu um salto, como se não estivesse deitado até agora pouco.

Rimos alegremente.

Minerva POV

O ambiente é bem humorado. Pelo menos foi até um momento atrás. Afinal a comida deliciosa de Rogue animou todo mundo.

Não me senti nem um pouco invejosa pela boa culinária dele. Nem um pouco! Meu orgulho se recusa a isso!

Agora... Tínhamos terminado de subir no cânion e esperamos chegar o trem que nos levaria de volta para nossa cidade.

— Eles devem estar aqui na proximidade -sorriu Macao, calmamente. Estreitando os olhos para o horizonte de onde deveria vir o trem. Na sua mão tinha uma lácrima que usou para dizer a Laharl que terminamos.

— B... Blondie. Você tem certeza que deu tudo certo, ne?? -Eucliffe tremeu, mordendo as unhas. De joelhos ao chão.

— Claro que sim! Acha que sou estúpida igual uma certa Abelha!? -a loira estufou o peito, orgulhosa.

Nesse segundo todos nós olhamos para suas orbes achocolatadas cheias de confiança. As pupilas dela tremularam evidentemente.

— Eu acho. -e mordeu a própria unha polegar. Se encolhendo. ISSO NÃO FOI UMA MUDANÇA DE OPINIÃO MUITO RÁPIDA?

Me senti mais nervosa.

Rogue abraçava o gato verde de olhos inocentes sorrindo sem entender a nossa tensão.

Nesse segundo, o exceed laranja caiu no chão com as patas acima do peito.

— Lector! -gritou Sting em pânico.

— Sting-kun... Estou tonto... Meu coração está batendo muito... Eu vou morrer? -sua tez estava azul. Como se sofresse de ataque cardíaco.

— NÃO! Não diga coisas tão horríveis Lector! Fique comigo! -os olhos do Eucliffe lacrimejaram.

O gato verde acionou Aera.

— Frosch -o Dragon Slayer das sombras chamou.

— Lector! -o gato não escutou e se colocou ao lado do amigo.

— F... Frosch... Isso é uma despedida... Eu sinto muito por ter sido ruim com você as vezes -sorriu o gato, com dificuldade.

E sua cabeça tombou dramaticamente.

— LECTOOOOOOR! -Sting e Frosch gritaram ao mesmo tempo, com sua voz embargada e cheia de sofrimento.

De repente senti minha cabeça doer.

— Pff -zombou a exceed branca.

— Charles! -repreendeu a Dragon Slayer do vento.

Enquanto Romeo suspirou.

Entao o chão tremeu levemente.

— Estão chegando. -Macao continuou alegre.

— Bom. -Drayer murmurou ao meu lado com um sorriso tenso, olhando para o horizonte- Agora é o momento mais emocionante -disse sarcástico.

Ou nos safamos do Conselho.

Ou vamos ter que encarar uma hora de palestra do mestre da guilda junto com trabalho escravo.

Eu engoli a seco. E todos se puseram em silêncio.

Cruzei meus braços e vi o trem frear na nossa frente, parando há alguns metros do início da ponte.

Laharl apareceu, seus óculos brilhando mais intimidantes que o normal. Suas luvas brancas ajeitaram o boné em sua cabeça, como se fosse um trabalhador de trem de verdade.

— O tempo acabou -nos encarou avaliativo- É a hora de ver o quanto pesa a honra dos que chamam de melhores magos de Fiore.

E riu como um demônio, sem sangue ou piedade. Enquanto olhava friamente para a nossa ponte feita por magia.

Minhas lindas unhas pintadas arranharam levemente o meu braço. Devo confessar, ser uma maga cidadã que segue as leis... É difícil...

Ser derrotada apenas por um olhar de alguém do conselho foi um fato sufocante.

Então nos separamos. As crianças da Fairy Tail, junto com o mago pai, a gata branca, e o neto do mestre da guilda Fairy Tail na frente. Os dragões gêmeos, Lucy e os gatos no meio. E eu, a maga que pode controlar com mais facilidade caso aconteça algo com o trem, me sentei ao final.

Todos os magos tinham que estar atentos, mas infelizmente alguns magos dragões passam muito mal, tivemos que separar em grupos. Tudo para caso a ponte dar errado, vamos usar nossos poderes para prevenir um novo acidente.

Fiquei um pouco surpresa por saber que existem passageiros no trem. É uma ponte experimental, sabe?

— Não podemos atrasar nossas viagens que podem acontecer só uma ou duas vezes ao dia por causa de um talvez tudo dê errado. Tempo é dinheiro, e tem os melhores magos do país conosco.

Foi a resposta de um comerciante sentado perto da porta do vagão quando entrei.

Mas não parecia só ter mercadores. Eram compostos de pessoas comuns viajando. O comerciante na frente com duas maletas, uma senhora com um menino pequeno na cadeira ao meio, um homem grisalho no outro banco perto da mulher e filho. E logo ao meu lado, com diferença de duas cadeiras, há um jovem de aparência cansada.

Dei um suspiro. Olhei para a janela enquanto apoiei meu queixo na mão.

No segundo em que senti as rodas de ferro voltarem a correr, me senti um pouco tensa.

E logo alcançamos a ponte. Foi aqui que me concentrei ao máximo, pelo menos, era a minha intenção.

— O... O que? -escutei uma voz assustada próxima de mim.

Franzi as sobrancelhas e olhei em volta. Então meu corpo congelou.

Aqui e ali vultos brancos pousaram na frente dos passageiros. Um por um.

— Mãe? -o jovem ao meu lado deixou o queixo cair, então seus olhos marejados tremeram- Isso é um sonho?

A senhora fantasmagórica de aparência gentil sorriu e tentou acariciar os cabelos do jovem, mas não conseguiu.

— Mãe... Mãe... É tudo minha culpa... -ele chorou cheio de arrependimentos- Por favor me perdoe mãe... -fungou.

— Não é sua culpa -um sussurro suave apareceu.

O jovem ofegou e abraçou com força um colar que tinha escondido no peito, não parece valer muitas moedas, mas ele segurou como se sua vida dependesse disso.

Ao mesmo tempo, a mulher sentada um pouco mais a frente, abraçou a criança e tremeu ao ver um homem:

— Querido? -ela murmurou pasma- Você... -engasgou- Não morreu naquele acidente?

E as lágrimas caíram um por um. A criança ficou confusa com o homem, ele sorriu para os dois com tristeza e disse:

— O pequeno Jhon cresceu tanto. Eu queria poder vê-lo se tornar um grande homem.

Ela perdeu a fala por um segundo, então suas palavras saíram meio falhas:

— Você... Você se foi quando ele era um bebê! Por sua culpa... -ela soluçou, parecia zangada, mas o homem apenas sorriu tristemente- Eu o criei sozinho, pensei muitas vezes que a gente estava perdido.

— Eu sei Mary, eu sinto muito -o vulto do homem respondeu gentilmente- Você é incrível, obrigado por cuidar do nosso filho.

— Ele... -ela abaixou a cabeça, enterrando as lágrimas no topo do cabelo do menino- Se parece muito a você... Eu sinto saudades de você querido...

Ele balançou a cabeça lentamente.

— Eu te amo Mary, mas você é jovem. Por favor, siga em frente. Se não pode ser por você, pelo menos pelo nosso filho.

Ela abriu a boca e a fechou algumas vezes, decidiu não responder, abaixando a cabeça soluçando.

E ao lado, o homem grisalho apenas olhava fixamente para frente, ignorando o vulto de uma senhora que se sentava ao seu lado.

— Esposo -ela sussurrou, como o sopro de uma gentil avó- Esposo. Eu sinto muito por ir antes de você.

Mas ele não respondeu, olhando para frente, inabalável.

— Mas sabe, você não deve ir assim e acabar com tudo, não é o momento de me acompanhar. Volte para a nossa casa. Viva o seu tempo.

Nesse momento, os olhos enrugados caíram lágrimas.

— Eu me sinto sozinho -ele respondeu com sua voz vaga, ainda sem olhar para ela.

— Eu sei -ela sorriu- Mas ainda não deve. Nós temos uma linda netinha que você não conheceu. Volte para casa. Ela vai aparecer e você precisa ajudá-la. Ela canta músicas bonitas, é uma linda garota alegre de cabelos negros.

Ele ficou em silêncio por alguns segundos.

— É a filha do nosso menino, aquele que saiu de casa e você nunca pôde se desculpar por brigarem.

— Estou tão arrependido -suas lágrimas caíram mais e mais.

— Nossa netinha cantou no rádio, você a escutou. Ainda não é tempo de nos reencontrarmos, esposo.

Ele então assentiu levemente, finalmente olhando para ela. A velha senhora sorriu.

E no início do vagão, o comerciante está completamente congelado. Olhando para uma jovem garota de sete anos.

A menina ria e usava um lindo vestido branco.

— Margareth? -ele suspirou, seus óculos grossos tremeram na ponta do seu nariz.

— Papai! Veja, agora eu posso correr! -ela riu girando e mostrando os pés descalços até os joelhos.

As sobrancelhas dele franziram, mas não demorou muito para os olhos encharcarem.

— Por isso -ela colocou as mãos na cintura e repreendeu o pai- Papai não pode mais se sentir culpado!

A boca dele abriu e fechou, tremendo.

— Papai -ela bufou ao olhar para as malas- Você anda trabalhando demais de novo! Quando eu não estava olhando, você estava trabalhando muito de novo!

As lágrimas do comerciante caíram.

— Papai, você está dormindo bem e comendo direito né? Eu sempre tive que cuidar de você! Mas agora você está fazendo isso direito sozinho? -seu tom era preocupado.

Nesse momento, o comerciante abaixou a cabeça e se escondeu nas mãos calejadas. A pequena menina ficou de joelhos e olhou para cima, tentando espiar entre os dedos dele.

— Papai -ela sorriu- Papai? Você pode me escutar?

Assentiu com a cabeça levemente.

— Margareth... Seu pai é um incompetente... Papai fez tudo errado. Eu... Não tinha dinheiro para curar você. Eu não passei tempo com você o suficiente Margh, te deixei tanto tempo sozinha... E...

— Papai! -ela interrompeu a divagação dele. Ele se calou e continuou escondido entre as mãos, como se estivesse envergonhado de encarar a menina- Sabe papai, você é a pessoa maaaaaais importante da minha vida!

Ela falou isso muito alegremente, e só pude escutar o soluço do homem.

— Por isso, você tem que comer bem, dormir bem! Entendeu papai?

Ele ficou parado alguns segundos e assentiu debilmente.

— Eu te amo papai -ela sussurrou, o encarando com um triste sorriso.

E nesse momento em que me distrai olhando para esse fenômeno estranho e bizarro. Escutei uma voz:

— Mimi.

Congelei. Meus olhos se voltaram lentamente para fora do trem. Para a janela.

O trem parecia correr tão rápido, a ponte parecia tão pequena, mas o estranho acontecimento pareceu durar por muito tempo. E ainda estamos em cima da ponte, atravessando o cânion.

Mas há uma outra figura parada fora do trem. Olhando para mim.

Ele era um homem mau. Um mago que fez muitas coisas ruins para muitas pessoas. E para mim também.

Mas nesse momento, ele me olhou com olhos arrependidos e relutantes. Com medo de se aproximar. Apenas ali, flutuando longe da janela.

"Mimi"

Era meu nome. Um apelido carinhoso que há muito, muito tempo não era dito.

Meus lábios se separaram e sussurrei:

— Papai.

O homem sorriu, era estranho e desconhecido sorriso. Sem malícia, sem nenhum desejo sombrio. Apenas com uma pitada de saudade.

Mas que apertou meu peito como se tentasse me sufocar.

As lágrimas caíram dos meus olhos arregalados.

E então a ponte acabou, junto, todos os vultos evaporaram. Deixando apenas os soluços dos vivos para trás.