Caminhantes

Noite de Trovões


Lucy POV

Mais um estúpido sonho... O que será que vou ver dessa vez? Será que vai ser Zeref, vindo dar mais sermões amorosos? Haaa... Só de lembrar me dá uma... Desanimação. Acho que ele deveria aprender logo em como conversar direito com as pessoas.

— Lucy... Você acha? -escutei uma voz feminina. Arregalei os olhos, me virei lentamente.

Engoli seco. Não é um pesadelo com Zeref ou um que podemos conversar... É uma lembrança do passado...

Olha, é... Lisanna, me perguntando meio receosa, puxando a eu do passado para um canto... Lembro de ter sorrido, a eu que tinha de sorrir todos os dias, engolido a vontade suprema de chorar. Estou assistindo aquele dia, o primeiro dia em que empurrei Lisanna para Natsu. É estranho, sinto e falo exatamente como me lembro, quero responder outra coisa, mas meu corpo não obedece...

— O que foi Lisanna? -perguntei.

— V... Você realmente acha que se eu chamar o Natsu... Ele vai vir!? Quero dizer... Natsu sempre faz as missões com você...

— Mas é claro!! -sorri confiante, mas minhas mãos tremulavam- Você é a amiga de infância dele! Com certeza Natsu não vai recusar!! -logo vejo o rosado vir para a nossa direção- Falando nele, olha ele aí.

Lisanna ficou meio corada e se remexia nervosa.

— LUCE!! -berrou Natsu, com um grande sorriso- VAMOS SAIR EM UMA MISSÃO!!

Eu o fitei triste por um segundo. Martelei na minha cabeça o que decidi, abri um sorriso grotesco, me sentindo estúpida.

— Desculpa Natsu, mas dessa vez não posso.

— Eeeh!? Por que não? -perguntou ele, fazendo um bico de teimosia.

Peguei os ombros de Lisanna e a coloquei na minha frente, encarei o rosado por cima do ombro da albina.

— Mas a Lisanna está livre! -falei, o Dragon Slayer do Fogo ficou meio sem reação, confuso- Então Natsu, acho que deveria ir com ela!! O que acha?

Lisanna me encarou desesperada e muito corada. Natsu olhou para mim e para a albina seguidamente.

— Mas... -ele pareceu protestar, mas eu o interrompi:

— Mas o quê!? -inflei as bochechas, soltei os ombros de Lisanna e coloquei as mãos na cintura- Eu estou ocupada!! Vai com a Lisanna! Não tem problema, certo? Nem eu ou você vamos morrer por isso.

Natsu me encarou por mais alguns segundos e abriu um grande sorriso.

— Está certo Luce -ele pegou o pulso da albina e foi arrastando-a para fora da guilda- VAMOS LISANNA!! ATÉ DEPOIS LUCE!!

Comecei a sentir dores na minha bochecha de tanto forçar o sorriso. Lisanna me encarou uma última vez com uma expressão iluminada, antes de sumir com Natsu. Meu coração se despedaçava cruelmente como se mil agulhas fossem me perfurando, tentando arrancar uma parte dele. Meus olhos marejaram, borrando tudo o que via na minha frente.

Sorria Lucy, sorria, apenas... Finja que está em um grande palco e você é uma bela marionete, tudo isso já vai passar.

— Desculpa, Lucy-san. -apareceu Wendy ao meu lado, com os olhos cheios de culpa. Me assustei e limpei minhas lágrimas rapidamente, lancei um sorriso tranquilizador e me abaixei até ficar na altura dos olhos da azulada.

— Wendy? Olhe para mim -falei, ela ergueu os olhos- Se lembra o que me disse?

Ela ficou com uma feição mais culpada ainda, assentindo com a cabeça, pesarosa, me respondeu lenta:

— “Lucy-san, Lisanna-san irá se suicidar enquanto fala o nome de Mira-san”.

Abri um sorriso maior, tentado demonstrar confiança.

— Viu? Você fez nada de errado!! Na verdade, fez muito certo! Precisava falar isso para alguém e contou para mim... Wendy, eu prometo, farei essa visão não se realizar.

Os olhos dela marejaram.

— Lucy-san... Eu... Desculpa...

— Está tudo bem Wendy, tudo está bem... Só... Confie em mim, ok?

Meus olhos ardiam, desejando derramar lágrimas. Mas juntava todas as forças do mundo para impedi-las. Não caiam, por favor, não caiam. Implorava. Foi assim que descobri o quanto eu tinha me apaixonado por ele, depois disso, cada dia que passava ficava cada vez mais óbvio que eu sempre tinha amado-o, pois as lembranças de quando aquele sorriso era só meu, passaram a me perturbar cruelmente a todo momento.

Acordei desse pesadelo no salto por causa de um trovão. Engoli seco, levantei minhas mãos até minhas bochechas, estavam úmidos.

— Droga... Droga... Por... Por que estou chorando? -sussurrei.

Que estranho... Pensei que Natsu já não poderia mais me atormentar... Eu já deixei de buscar os olhos ônix... Então por quê!?

A porta bate "toc-toc", meus olhos vagam para a madeira lentamente, viro o rosto para a janela, está de noite... E tem som de chuva...

Me levantei, limpei meu rosto com a camisa para ter certeza que estava tudo certo, enquanto caminhava até a entrada do meu quarto. Respirei fundo, virei a maçaneta gelada.

Quando vi Yukino, minha mente ficou em branco pela surpresa, me esquecendo de tudo. Ela se remexia nervosa, encarando o chão. A maga usava um pijama simples, de camisa e shorts azul claro.

— Yukino!?

— Eehhhmmm... Eu sei que está tarde... Mas eu precisava mesmo vir falar com você... -ela parecia desconfortável- L... Lucy... Sobre hoje de manhã... Eu... Me... Me desculpe, acabei exaltando um pouco...

Eu a fitei com as sobrancelhas levantadas, pisquei duas vezes e sorri. Rogue estava certo, isso é engraçado.

— Está tudo bem, eu entendi que você apenas é apaixonada pelo Sting, deve ser difícil para você. -respondi, ela corou muito, então falou:

— M... Minerva me contou... Você não está atrás de Sting... É do Rogue... Me desculpe mesmo...

Agora foi minha vez de corar, acabei ficando muito sem jeito.

— B... Bom... O importante é que você está arrependida... -ela assentiu com a cabeça, mas logo Yukino espirrou, eu sorri e continuei- Acho que é melhor você voltar para cama. Está frio.

— Espe... Espero poder ser amiga sua, Lucy... -disse em tom baixo.

— Você já é minha amiga, Yukino. -falei. Ela me olhou, sorriu, então se despediu:

— Boa noite, Lucy.

— Sim. Boa noite, Yukino.

Quando a maga foi embora, eu estremeci de frio. A ideia correta seria voltar para a cama, mas agora quero um copo d’água, por isso saí do quarto e fui me aventurar nos corredores.

Hoje foi realmente um dia bem cheio. Quando finalmente me recupero, aparece Sting, depois Yukino vem falar um monte... E Minerva repentinamente fala “vamos eu e Yukino pegar um quarto”... Haaa... Quando as surpresas vão parar?

Me lembrei daquele almoço agitado, se bem que não é tão ruim estar cercada de gente.

Um trovão iluminou todo o corredor. Eu já cheguei nos degraus da escada, levando um susto.

— Essa mansão parece ter saído de um jogo de terror quando fica de noite... Principalmente quando chove e cai raios...

Desci as escadas meio temerosa, outro raio caiu, mas dessa vez, escutei um pequeno grito vindo da sala de estar. Meu coração parou, arregalei os olhos, virei o rosto lentamente para a porta fechada do lado esquerdo da escada.

Comecei a escutar murmúrios incertos, engoli seco e me aproximei da porta da sala de estar, virei a maçaneta com cuidado.

Caiu outro raio, iluminou toda a sala de estar, vi um pequeno vulto encolhido em um dos sofás, me encarando de olhos arregalados.

— GYAAAAAAAAAA!! -acabei gritando de susto, mas logo eu vi de quem pertencia a silhueta, a chamei- M... Minerva?

Minerva POV

E lá estava eu, encolhida em um canto do sofá, abraçando meus joelhos. Trêmula e murmurando coisas que nem eu sei direito, um raio caiu, eu dei um pequeno grito.

Levemente encarei a porta, mais um raio e a ser loira berrou.

— GYAAAAAAAAAA!! -mas logo franziu as sobrancelhas e me chamou- M... Minerva?

A loira se aproximou de mim, preocupada. Eu lacei um sorriso.

— Oi Lucy, não consegue dormir?

— Pesadelos, sabe? -ela deu de ombros, mas percebi que ela ficou meio tensa.

Mais um trovão caiu, eu estremeci. A loira me olhou.

— Minerva, você tem medo de trovões?

Corei e desviei o olhar, a maga celestial me encarou incompreensiva.

— Hã!? Mas espera... O cara que você gosta... É um God Slayer do Relâmpa...

Corei mais e mais. Tenho que parecer bem, preciso mudar o rumo dessa conversa! Então abordei o assunto que queria falar tanto:

— Lucy, como anda seus progressos com o Rogue? -ela corou se lembrando de algo, a boca dela se abriu e fechou, eu lancei um sorriso sacana- Já rolou beijo?

Aí que ela ficou bem vermelha, eu ergui as sobrancelhas, surpresa.

— SÉRIO!? -exclamei, ela assentiu com a cabeça, frenética.

— Ele veio me salvar quando fui raptada... Então... Então aconteceu... -ela confessou- Você vai contar para alguém? -sua voz tremia.

— Bom, somos cúmplices, certo? Não vou falar nada. Na verdade, eu ia ficar calada pra Yukino, mas se eu não contasse que você veio pelo Rogue... -estremeci.

— P... Pensei que fosse óbvio -ela murmurou, corando mais- Digo, as coisas andam meio óbvias quando o assunto é minha vida particularmente amorosa, até você e o Sting repararam... -então o tom de voz dela virou um sussurro- Não que eu fizesse de propósito.

— Lucy... Sting é um idiota, a pobre Yukino nunca pousou nos olhos dele e ela anda frustrada por causa disso -confessei cruelmente, sem me importar em menosprezar o Dragon Slayer da Luz- Tive que falar na lata, ou mesmo que você se jogasse no Rogue na cara dela, ela ainda ia teimar que você quer o Sting.

— Nem sei o que comentar -ela respondeu, desacreditada.

— Mas então? -questionei, voltando ao assunto que interessa- Rogue já pedido para namoro!?

— N... Não! -respondeu rapidamente, surpresa. Mas logo abaixou a cabeça e corrigiu- Não... Ainda não...

— Huuumm... -sorri maroto- E você quer? -lancei a pergunta sacana, Lucy corou, desviou o olhar e não respondeu, inflando as bochechas nervosa.

Mas o olhar dela se tornou vago, a feição dela foi para uma estranha preocupação ou incômodo, algo que me diz que tem nada a ver com o beijo, fiquei um tanto preocupada.

— O que houve? Algum problema com ele?

Ela me olhou meio pesarosa, eu insisti:

— Não precisa sofrer sozinha, o que é que anda te atormentando? Pode contar para mim, talvez eu possa ajudar.

Lucy engoliu seco me olhou meio incerta, mas eu sorri para tranquilizá-la e a loira resolveu me responder:

— Eu saí da Fairy Tail porque não aguentava mais o Natsu, eu tive um amor... Bom, a palavra certa não seria amor não correspondido... -fiquei surpresa- Vim para a Sabertooth p... Por causa do Rogue... Eu não entendo!! Eu b... Beijei Rogue, realmente fiquei feliz... Mas... E... E... Eu tive um pesadelo hoje, com o Natsu e o dia em que apoiei uma outra garota a ficar com ele... -então me fitou horrorizada e confusa- S... Será que eu ainda amo tanto assim o Natsu!? Ah meu deus!! Se for verdade... É como se eu estivesse usando o Rogue para afogar minha carência!! Que coisa horrível estou fazendo!?

— C... Calma Lucy!! -exclamei me assustando- Respira fundo! Um, dois! Um, dois!

Ela respirou fundo, essa menina está com os pensamentos tão revirados, realmente, parece bastante complicado para ela... Dei um sorriso.

Acho que Lucy está tendo umas dificuldades grandiosas com respostas que estão tão na cara... Isso é tão inocente que chega a ser engraçado.

Ah bem, acho que não importa se eu contar um segredo meu. Afinal, mesmo com tanta vergonha ela me contou o que a afligia. Comecei a narrar:

— Sabe? Quando eu era pequena, meu pai queria que eu fosse uma maga bem mais forte. Eu não passava de uma menininha assustada, papai odiava isso -respirei fundo, me lembrar daquilo não era bom... Mas agora, me parecia apenas um passado tão distante, depois dos Jogos e de tanta confusão com a Fairy Tail, sinto como se essas lembranças ultrapassadas não tivessem mais tanta força- Meu pai me abandonou na floresta, dizendo que eu poderia apenas voltar para casa depois de me tornar forte e menos chorosa.

Lucy arregalou os olhos, surpresa e horrorizada, eu apenas sorri.

— As noites daquela floresta eram assustadores, os raios viviam caindo. Eu os odiava, era como se gritassem que eu estava sozinha e abandonada, eles caiam e iluminavam a vasta solidão sem dó ou piedade, enquanto eu me encolhia dentro de um tronco, chorando desesperada, para que papai me salvasse. Mas se eu quisesse sair da floresta, precisava me tornar mais forte. Depois de um tempo, acabei conseguindo ficar a par das expectativas de meu pai. Voltei para casa. Mas os trovões, é algo que continuo a detestar.

— Q... Que crueldade de Jiemma!! -sussurrou ela sem acreditar, mas ficou sem compreender- M... Mas então por que se apaixonou por...?

— Ha ha... Por que será? -de certa forma é hilário lembrar como aconteceu- No começo, quando conheci o idiota do Orga, achei irritante por ele ser o cara que enfrenta todos sorrindo como se fossem nada. Eu vivia brigando com ele, odiava a magia dele e a cada dia era um briga pior que a outra. Mas... Teve uma vez que fui em uma missão com os Dragões Gêmeos e o God Slayer numa floresta -Lucy me olhava com bastante atenção- Fiquei bastante aborrecida, meu humor piorou quando nos separamos e eu fiquei sozinha com o Orga. Para piorar, começou a chover.

O queixo da loira caiu.

— Até parece maldição -comentou ela sendo compreensiva, eu ri.

— Pois é. Ficamos presos dentro de uma caverna, juntos, esperando a chuva passar, os raios caiam e eu ficava cada vez pior. Até o idiota do Orga percebeu, me perguntou “Você não gosta dos raios, Minerva?”, eu fiquei aborrecida, mas ele sorriu e saiu da caverna, se molhando todo. Fiquei surpresa. Perguntei o que ele estava fazendo, então... Ele gritou.

Uma pausa, a loira virou a cabeça sem compreender.

— ...? Ele... Gritou?

— É! Ele gritou “AAAAAAH!”, com uma cara toda determinada, como se competisse com os relâmpagos!

Sorri, olhei para o vácuo me lembrava direitinho daquele momento, era como se eu revisse tudo como um filme. A eu encolhida, encarando o cenário que ficava fora da caverna. Como arregalei os olhos vendo a figura de Orga Nanagear sorridente, gritando “AAAAAAAAAAH!” totalmente sem sentido para o céu, enquanto os trovões caiam.

— Fiquei muito chocada naquele momento -continuei- Então ele me disse “Olhe para mim Minerva! Eu sou um God Slayer, meus gritos podem ultrapassar todos os relâmpagos!”. Ele poderia apenas ser um idiota, mas fiquei admirada, sem saber o que falar. “Eu encontrei alguém que desafia todos, até mesmo relâmpagos”, pensei com o meu coração todo acelerado. Finalmente senti como se os raios tão assustadores poderiam ser superados.

Lucy ficou estática, sem saber o que comentar. Eu a encarei e concluí:

— Depois, pensei que poderia ser besteira, não poderia ter me apaixonado por um cara que eu odiei tanto. Mas cada vez que o via, eu ficava nervosa e meu rosto ardia... Acabei me... Me... -corei, acho que nunca tinha dito isso para alguém, nem para Yukino- Apaixonando por ele... -respirei fundo para acalmar o meu coração- E sabe, Lucy? Sobre isso que você me disse dos conflitos do coração, não adianta pensar um monte de coisas e se confundir. Apenas preste atenção no que sente ao ver Rogue Cheney. E o que sentir naquele momento, é a mais pura verdade.

Ela me encarou profundamente, corou um pouco e perguntou incerta:

— Então é assim que funciona?

— É. É assim que funciona -respondi, sorrindo- Não é simples e engraçado?

Lucy POV

Levei Minerva para o quarto dela e eu voltava para o meu.

A história dela é completamente uma surpresa. Nunca imaginei que as coisas eram desenroladas daquela forma para ela... Mas bem, foi muito bonito a forma que ela sorriu ao pensar em Orga... Então é assim que as garotas sorriem quando são honestas em dizer que amam alguém.

Ao chegar no meu quarto, outro raio cai, vejo um loiro apossando minha cama, minha boca se abre estupefato.

— Sting! -exclamo, pisando fundo em direção do folgado- Sai daí rapaz! Para de pegar a minha cama!! -tentei empurrá-lo pro chão, mas sem sucesso- P... Pesado... -arfei cansada, da onde Rogue tira força para tacá-lo no chão? É mais um grande mistério.

Eucliffe cata meu pulso e me abraça como se eu fosse um bichinho de pelúcia.

— Huum...? Esse cheiro... Blondie? -murmurou, mas continuou a dormir.

NÃO ACREDITO!! ME SOLTAAAAAAA!! PALERMA!! ME SOLTA!

O idiota pesado estava me sufocando. Com muito esforço, saí da prisão, caindo com tudo no chão. Fritei a Abelha com meus olhos, me levantei. Ele esboçava um singelo sorriso, com os olhos fechados.

— Maldita Abelha folgada. -praguejei. Dei meia volta e saí do meu próprio quarto, fechando a porta atrás de mim. Suspirei- E agora!? Vou para aonde, no meio da noite de uma mansão... Com chuva e raios!?

Meus olhos passaram pelas portas do grande corredor. Tem muitos quartos aqui... Talvez eu pegue uma nova essa noite. Fui caminhando com receio. Não gosto muito de coisas que me lembrem a mal-assombradas... Virei uma das maçanetas, arregalei os olhos ao ver um quarto bagunçado com a cama quebrada. Não posso dormir aqui! Fui abrindo quarto por quarto, todas estavam da mesma forma, destruídos. Saltei as portas que já eram ocupadas, menos uma...

Abri a porta do quarto de Rogue. Engoli seco, minha respiração aumentou nervosamente...

S... Se não posso pegar outros quartos... Tudo bem em vir para cá... Certo? Não é como se eu nunca tivesse dormido ao lado dele... Mes... Mesmo assim fico meio nervosa...

Num clique abafado, fechei a porta cuidadosamente, a quantidade de raios que caia diminuiu. Mas vi claramente o moreno dormindo profundamente, com Frosch ao seu lado.

Cheguei perto silenciosa, me abaixei para ver seu rosto melhor. Dei um pequeno sorriso. Ele fica muito bonito dormindo... Ah! Ele tem uma cicatriz em cima do nariz... Nunca tinha reparado direito... Porque... Sempre acabo me perdendo nos olhos escarlate...

Me sentei na cama com muito cuidado, Frosch está do outro lado dele, então nada nos separava, ergui minha mão e toquei na cicatriz. A feição dele formou uma leve careta por ter sido tocado, mas continuou a dormir. Senti meu rosto corar levemente.

... A textura de uma cicatriz é engraçada... Não sabia que era assim, já que eu não tenho nenhuma... M... Mas é atraente.

Uma mão minha tocava no rosto do Cheney, enquanto a outra foi para o meu peito. Meu coração está descompassado... Minerva disse para prestar atenção no que sinto ao ver o Dragon Slayer das Sombras...

... Meu coração palpitou e ficou com um ritmo rápido, meio falho... Meu rosto arde levemente, meu peito se aperta um pouco, desejando ver mais um pouco dessa feição doce dele.

Agora, Lucy, se lembre do sonho. Repentinamente me foi tomado pelo sentimento de estupidez, humilhação. Meus olhos marejaram.

Aaaah... Entendi, Minerva...

Eu não estou mais apaixonada assim pelo Natsu... Apenas as minhas lembranças de como eu fiz uma coisa que não queria como um manequim para um grande show de teatro, me envergonham... Eu choro por pura vergonha. A humilhação de sorrir quando não estou feliz, a idiotice de mentir para a honestidade, um ódio secreto contra mim mesma por atuar e apenas perceber que amava Natsu depois de decidir me afastar dele... De como eu tive a coragem de sacrificar o que deveria ser tão importante para mim, sem pensar duas vezes e não me arrepender. De como me coloquei na ratoeira e agonizava em silêncio.

... Pensando agora... Minha vida estava bem vazia, sem significados, assistindo os outros serem felizes...

— O que está fazendo, Lucy? -uma voz me chamou, retirando-me dos pensamentos. Puxei minha mão imediatamente.

Olhei para o rosto que estive acariciando um segundo atrás, vi os olhos vermelhos me encararem, uma feição um pouco corada, preocupada e tímida tomava o rosto de Rogue.

Me virei escondendo minhas lágrimas, as limpei rapidamente e sorri para o moreno.

— Desculpa, eu te acordei?

— ... De certa forma, sim. -ele respondeu, eu corei.

QUE PERGUNTA BESTA LUCY!! SE FICAR TOCANDO NA CARA DOS OUTROS ASSIM, É CLARO QUE VÃO ACORDAR!!

— Não consegue dormir? -ele perguntou. Eu me recuperei, então lembrei de um certo acontecimento.

— Sting -falei dentre os dentes- Ele roubou o meu quarto. Tentei pegar um novo, mas todos estavam uma bagunça e com camas destruídas.

Ele bateu na testa com a mão, foi se levantando e eu arregalei os olhos.

— A... Aonde vai? -perguntei, ele me olhou confuso.

— Indo acordar o Sting, por quê?

— A... Aah... -fiquei um tanto decepcionada.

— ...? O que foi? -ele perguntou. Eu corei, devo perguntar? Ish, e agora? Eu quero tanto pedir para poder ficar aqui...- Lucy, você está bem? Seu rosto está bem vermelho... -ele franziu as sobrancelhas, então perguntou temeroso, erguendo a mão para minha testa- P... Por acaso você pegou febre de novo?

— Hein!? N... Não!! Eu acho... -como assim “acha” Lucy!? Você não pegou febre!!- N... Na verdade... Eu me perguntava se... Se...

— Se...?

— Se eu poderia ficar aqui essa noite... -eu mexia minhas mãos nervosamente, meus olhos mostravam desespero, timidez e muita mas muita vergonha. NÃO CREIO!! VOCÊ PERGUNTOU MESMO!!

Ergui os olhos e Rogue parecia surpreso, corado mas muito surpreso. Eu me apressei em inventar alguma desculpa.

— Sa... Sabe? Está tarde, não precisa ir acordar o Sting no meio da madrugada... M... Mas terá algum problema... -minha voz foi sumindo, se resumindo em um sussurro- Em eu dormir aqui hoje...?

Ele piscou umas vezes, me encarou e respondeu:

— Aahm...? N... Não, tudo bem... Pode ficar.

E se deitou abruptamente, nem acredito que o Frosch não acordou. Entrei dentro do cobertor lentamente e me deitei ao seu lado.

— Lucy, amanhã vamos pegar uma missão, ok? -ele falou, com o rosto virado para o outro lado, me impedindo de vê-lo. Lembrei da promessa que fizemos de quando peguei uma febre.

— Sim. -sussurrei.

A noite está fria e chuvosa, acabei me aconchegando para mais perto dele, uma mão grande foi em minha cabeça me puxando para mais perto do peitoril do moreno.

Ergui os olhos e o rosto dele estava virado pro outro lado, mas a orelha dele está levemente vermelha. Enquanto eu fechava meus olhos, escutei o som do coração de Rogue. Está descompassado... Por alguma razão, isso me acalma... E o cheiro leve de chuva dessa noite está muito boa.